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AS BLUE CHPS E O PROCESSO DE DESCONTINUIDADE EMPRESARIAL

3 AS BLUE CHIPS E O PROCESSO DE DESCONTINUIDADE EMPRESARIAL FRENTE À SUA ESTRATÉGIA DE INVESTIMENTO

3.2 AS BLUE CHPS E O PROCESSO DE DESCONTINUIDADE EMPRESARIAL

Historicamente, o termo Blue Chips surgiu nos cassinos, onde era usado no jogo de pôquer para representar as fichas azuis, que eram as mais valiosas.

Com base na definição dada no livro “Mercado de capitais: o que é, e como funciona”, da Comissão Nacional de bolsas, serão tratadas as ações de empresas bem estabelecidas, de grande

porte, nacional e internacional, com comprovada lucratividade e grande liquidez, apresentando intensa procura no mercado por parte dos investidores em ações.

As Blue Chips são uma formalização histórico-econômica que guarda como alicerces o processo de imperialismo e o processo de evolução das Sociedades anônimas, assim como o advento dos grandes grupos econômicos oriundos de fusões e aquisições que, após a década de 60, passaram a dominar 60% de todo o capital transacionado no mundo. Atualmente, grupos como os Keiretsu dominam vastos ramos da economia, além de influenciar políticas e formas de gestão dos países onde atuam.

As macro-empresas ou Blue Chpis dominam o mercado de capitação de recursos e influenciam de forma preponderante a bolsa de valores e o mercado de balcão, via subscrição ou compra de novas ações, podendo fazer processos de alavancagem ou Take over para com as outras empresas.

Atualmente, o poder de decisão que essas empresas possuem na esfera governamental e de mercado detém importância crucial no desenvolvimento do setor, ou até do país, onde as mesmas estão engajadas. Tais empresas se caracterizam por ter uma vasta capacidade produtiva, atrelada a ganhos quantitativos e qualitativos de escala e escopo, via especificação e forte incremento técnico ao logo da cadeia produtiva.

Além dos incrementos de ordem própria, tais empresas se caracterizam por serem propulsoras do dinamismo econômico, dado que atraem indústrias satélites e incrementam o nível de mão-de- obra absorvida pelo setor, gerando dessa forma incrementos gradativos na demanda e acarretando uma atitude cíclica que culmina em ganhos de produtividade, aumento do rendimento, investimento, nível de contratação, entre outros.

No aspecto do balanço de pagamento do país, atuam de forma preponderante no nível de exportação, importação de máquinas e equipamentos e na capitalização de divisas via subscrição de ações, ou seja, o impacto da entrada de uma macro-empresa numa dada economia não se dá apenas no que diz respeito ao nível local ou setorial, tendo vultuosos rebatimentos na economia como um todo.

Cabe salientar que o Know How que tais empresas carregam consigo propiciam uma maior visibilidade e notoriedade para os países que as recebem, assim como uma “marca” de qualidade, solidez, solvência de suas obrigações, entre outros, propiciando uma alta margem de investimento em seus ativos. Não existe uma lista dessas ações, tendo sempre empresas que entram ou saem, mas, ações como as da Petrobras e Vale Do Rio Doce sempre figuram no topo, como pode ser observado na tabela que considera as variações na participação de cada um dos papéis na composição total do índice Ibovespa. Juntas, as ações dessas empresas são responsáveis por 25,9% do comportamento das transações em bolsa e volatilidade dos ativos, sendo 12,7% referente a Vale do Rio Doce e 13,17% referente a Petrobras.

Essas empresas, por possuírem grande notoriedade, são alvo do problema referente à teoria das massas, conforme apresentado por Gustave Le Bon, escritor francês que estudou sobre a teoria das massas e estabeleceu que, para se elaborar pareceres e conjecturações sobre tendências de mercado, dever-se-ia, ex-ante, analisar a característica psicológica dos investidores, à medida que a massa é inerentemente “emocional, impulsiva, violenta, inconsistente, extremada e descuidada”.

Le Bon define a massa como um conjunto qualquer de indivíduos com mentalidade coletiva diversa daquela que tem como pessoas. Ao se agrupar como uma massa o ser humano: (i) perde a personalidade consciente; (ii) adquire sensação de grande poder; (iii) dá vazão a instintos; (iv) perde noção de responsabilidade; (v) comunica-se por contágio; (vi) aumenta a impetuosidade; (vii) é facilmente sugestionável; (viii) intelectualmente inferior; (ix) tem idéias contraditórias ao mesmo tempo e (x) aceita frases curtas como soluções para seus problemas. (LE BON apud COMISSÃO, 2005. p. 214)

Vale salientar que tais empresas são fruto desses comportamentos, pois, são verdadeiros centros de absorção de investimentos, haja vista que pessoas leigas preferem comprar ações das tidas Blue chips por conta da experiência retida com as pessoas com as quais convivem.

Desta forma, o gráfico do fluxo de caixa das Blue Chips configura-se, de forma quase eqüinane, ao gráfico de volatilidade dos ativos da bolsa na qual subscreve. Um dos exemplos a serem referendados são os gráficos dos fluxos de caixa das empresas como Petrobras e Vale, que são praticamente iguais, em termos de variação, com os da Bovespa.

Uma vez que o mercado se encontra altamente desregulamentado e interligado, passou-se a aumentar a propagação das crises em virtude dos mecanismos de ancoragem, que foram criados com o intuito de diversificar os fatores de risco e incrementar a probabilidade de rentabilidade positiva. (WOLF, 2009)

Os derivativos são exemplos claros desse contexto atual, pois possibilitam que seus donos optem pela ancoragem desejada, sendo muitas vezes atrelados a mais de dois ativos, podendo um investidor comprar uma ação da IBM que está ancorada nas ações do Lehman Brothers que, por sua vez, apresenta parte de suas ações atreladas ao complexo automotivo Estadunidense. Com efeito, em virtude deste cenário de desregulamentação financeira global, como ficou claramente exemplificado com a crise de 2008, fatos isolados ganham preponderância internacional. Esta fragilidade financeira, que no caso das Blue Chips toma dimensões alarmantes por conta do já supracitado efeito massa, impacta fortemente na estrutura da empresa, tanto em aspectos produtivos como estratégico-administrativos.

Para compreender como tais danos são processados dentro do contexto interno das empresas, deve-se partir do pressuposto razoável de que estas apresentam uma formulação planejada no que tange o escopo de seus gastos e investimentos projetados, ao menos pelos próximos cinco anos,

como forma de manter uma administração focada nos resultados. Planejamento este que se configura como um agente norteador das decisões e enfoques estratégicos.

Variáveis como: (i) nível de contratação; (ii) taxa de crescimento esperada; (iii) incremento dos custos fixos e variáveis; (iv) aporte financeiro com P&D; (v) market share projetado; (vi) cursos e treinamentos disponibilizados; (vii) relatórios de metas projetadas de venda, cotação, compra, tempo de distribuição; dentre outros são normalmente parametrizadas.

Parte-se da concepção básica da Escola Técnica que por Teoria de Dow o fluxo de caixa das Blue Chips é relativamente dependente do mercado de capitais. (DOW, Charles apud COMISSÃO, 2005. p. 215)

Desta feita, quando ocorre um diferencial de preços abruptos e de grande amplitude na bolsa de valores, acarreta o problema da descontinuidade empresarial. Esta se caracteriza por ser a quebra de programação econômica por parte da empresa, ou seja, uma modificação abrupta das diretrizes antes traçadas pela mesma, em decorrência de um processo coercitivo de adequação econômica às incongruências do ambiente externo.

Esta anomalia das projeções econômico-administrativas por quais passam as empresas impacta na grande maioria das vezes, em setores importantes como: o setor de suprimentos; investimento e almoxarifado em primeira instância, em virtude de serem estes os mais eficientes em redução de custos de forma imediata, acarretando, em uma segunda instância, na remodelagem do layout organizacional da empresa e na forma e na inserção da mesma no mercado.

Adicionalmente, cabe apresentar os impactos desse processo: no campo produtivo, comercial e no âmbito da estratégia de captação das empresas.

Ao passar por contextos de grandes GAP’s, as empresas passam a configurar uma atmosfera de risco para seus investidores, uma vez que a probabilidade de remodelagens de layout organizacional se torna uma realidade próxima. Como essas modificações reavaliam e modificam suas variáveis empresariais, a exemplo de nível de contratação, posicionamento do mercado, incremento dos custos, etc. e influenciam significativamente a cotação de suas ações em bolsa, a chancela da empresa passa a ser abalada, além de seu ativo intangível passar por momentos de queda, haja vista que re-configura a expectativa de lucro da empresa.

Cabe mencionar que, conforme estabelecido pela Comissão Nacional de Bolsas, o preço de uma ação é fundamentado na expectativa de lucro futuro da empresa e na projeção que seus investidores fazem acerca do comportamento representativo da referida ação no mercado.

No campo produtivo, como já estabelecido, as empresas passam a focar suas ações estratégicas nos setores de suprimentos, investimentos e almoxarifado. Desta feita, os gastos no processo de suprimentação de produtos são suprimidos; perde-se em capacidade logística, mesmo que temporariamente; os sistemas de gerenciamentos são reavaliados em função das modificações dos limites de compra por gestores; aumentam-se as carteiras de insumo a serem contadas por cada analista, assim como, sua meta de produtividade.

Os investimentos em termos de contratação, treinamentos, benefícios e gratificações, gastos com materiais de escritório, desenvolvimento de novas tecnologias e processos, são diluídos de forma drástica. O nível de estoque referente ao setor de almoxarifado é reduzido, haja vista que sua função é manter uma margem de segurança, tanto para os produtos demandados pela empresa, quanto pelos que são requeridos pelos seus clientes.

Numa atmosfera de crise e conseqüente redução da demanda, o custo benefício de manter certas margens de estoque se tornam impeditivos, culminando, a depender da gravidade da crise, na

demissão dos encarregados e auxiliares do setor. Caso a crise seja longa, a próxima saída será a demissão dos analistas e paralisação de alguns setores de produção, que, numa última instância, gerará uma reformulação da composição dos agentes deliberativos da estratégia da empresa, passando pela demissão de gerentes e diretores.

Um exemplo deste contexto de quebra de programação econômica foi o da Vale Do Rio Doce, que havia projetado os investimentos até 2012, uma vez que estudos comprovavam que a partir deste período a economia começaria seu estágio de declínio. No entanto, em função do problema dos ativos podres do subprime americano, essa tendência foi adiantada para 2008, pegando-a despreparada. Tal fato culminou na seqüência dos eventos supracitados, acarretando na demissão de mil e trezentos funcionários.

Vale ressaltar que, se tomarmos como base a tabela 3, referente ao Produto Interno Bruto, segundo atividades econômicas no período de 1995 até 2008, observar-se-á que o setor de transformação no ano de 1995 apresentou uma participação de 18% em relação ao PIB, só sendo recuperada em 2003, apresentando nova queda no ano de 2008. Isso ratifica as conseqüências restritivas da reestruturação produtiva, em função dos grandes GAP’s da história brasileira, os ocorridos entre 1990 até 1995, em virtude do cenário nacional conturbado e do processo de estabilização e o de 2008 referente à crise dos títulos podres americanos.

No âmbito da estratégia de captação das empresas, estas passarão pela problematização que pode- se denominar de Restart Time, que significa tempo de reinício, caracterizando-se por ser o tempo que a empresa optará por não capitanear recursos via subscrição de ativos para não efetivar as perdas apresentadas pelo GAP. Logo, quanto maior o GAP maior o Restart Time, tanto para as empresas, como para seus acionistas.

No que tange às empresas, estas apresentarão um custo benefício impeditivo para a captação de recursos via subscrição, em decorrência dos custos oriundos da efetivação das perdas do GAP. Já os acionistas, segurarão as ações até voltarem à cotação pelas quais foram compradas, como forma de não integralizar suas perdas.

A transação só será efetivada antes do Restart Time se, e somente se, a expectativa de perda anualizada superar o custo-benefício da integralização das perdas, tanto para os investidores como para as empresas, que levarão em consideração variáveis estruturais e conjecturais como balizadoras da decisão.

3.3 ESTRATÉGIAS DE INVESTIMENTO DAS BLUE CHPIS: UMA ANÁLISE

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