• Nenhum resultado encontrado

O SETOR DE TRANSFORMAÇÃO E A DEPENDÊNCIA DO MERCADO DE CAPITAIS

3 AS BLUE CHIPS E O PROCESSO DE DESCONTINUIDADE EMPRESARIAL FRENTE À SUA ESTRATÉGIA DE INVESTIMENTO

3.1 O SETOR DE TRANSFORMAÇÃO E A DEPENDÊNCIA DO MERCADO DE CAPITAIS

O intuito desse capítulo é analisar a relação de dependência produtivo-financeira do setor da indústria de transformação, atrelada à volatilidade dos ativos transacionados no mercado de capitais.

Partindo do fato que a metodologia utilizada na presente monografia, no que concerne o aspecto dos movimentos dos ativos na bolsa de valores, baseou-se no Ibovespa, apresentar-se-á a composição das ações que compreendem o índice Bovespa. A tabela a seguir considera as variações na participação de cada um dos papéis na composição total do índice apuradas para a abertura do dia.

Como pode ser observado na tabela, mais da metade das empresas que transacionam de forma contínua e com grande envergadura são referentes ao setor de transformação, cujos insumos são commodities. Para a melhor compreensão, cabe a conceituação do termo commodities, que são as mercadorias produzidas em larga escala e comercializadas em nível mundial, sendo negociadas em bolsa de mercadorias. Logo, seu preço é definido a nível global.

Por serem produtos homogêneos, as commodities apresentam-se mais vulneráveis às variações de produção e aos aspectos da conjuntura, dado que são facilmente substituídas por outros produtores. Portanto, como a maioria das empresas cotadas na Bovespa tem essa característica, inevitavelmente o mercado brasileiro de capitais se apresenta como um dos mais voláteis e

vulneráveis do mundo, daí o grande interesse dos especuladores em explorar G.A.P’s abruptos e com grande amplitude.

Tabela 2 - Composição das ações do índice Bovespa

Com base no referencial de Paulo Bastos Tigre em seu livro Gestão da Inovação, a dinâmica setorial do Brasil segmenta-se nos seguintes grupos: (i) produtores de commodities; (ii) setores tradicionais; (iii) produtores de bens duráveis; (iv) setores difusores de progressos técnicos e (v) serviços.

Bastos (1999) escreve o seguinte sobre as commodities:

As commodities são caracterizadas pela relativa homogeneidade dos produtos e pelas altas escalas de produção. São produzidas através de fluxos contínuos em processos produtivos altamente integrados, a exemplo dos produtos petroquímicos, siderúrgicos e da celulose. As plantas são intensivas em capital e operam em grandes volumes, resultando em elevada concentração de mercado. [...] O investimento inicial na construção da planta condiciona as estratégias tecnológicas subseqüentes, pois os custos irrecuperáveis associados aos investimentos realizados em processos dedicados precisam de um prazo longo para serem integralmente amortizados. (TIGRE, 1999, p. 124).

A caracterização apresentada por Tigre é importante para entender o respectivo posicionamento deste setor no que tange o aspecto competitivo e tecnológico. Com efeito, o enfoque não poderá ser em diferenciação, haja vista que seu produto é homogêneo, cabendo-lhe o enfoque em custo e escala.

Como o aporte financeiro é expressivo e o pay back do investimento é alto, as estratégias em termos de ganhos em economia de escala e aglomeração deverão ser agressivas. Logo, as empresas apresentarão tendência de formar complexos industriais para viabilizar externalidades internas e externas tais como: aumentar agilidade da logística de distribuição; dirimir custos de transação; aumentar as possibilidades de investimentos integrados em P&D; e deter poder de barganha para pleitear reduções de preço com fornecedores e compradores.

Apresenta-se com um exemplo típico da situação descrita acima a formalização de contratos abrandados de prestação de serviço de energia, em função da construção, manutenção e

desenvolvimento de complexos industriais nas regiões brasileiras, assim como, na questão da tributação, onde muitas vezes as empresas ficam isentas da sua contraprestação ao Estado em troca da criação dos complexos industriais, sendo alvo muitas vezes de guerras fiscais. A explicação para tal fato é a sua grande importância para dinâmica econômica, como pode ser observado na tabela a baixo:

Tabela 3 - Estrutura do Produto Interno Bruto – Segundo Atividades Econômicas 1995 – 2008

Fonte: IBGE, 2010

Primeiramente, cabe salientar que a metodologia para obtenção desses valores é de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mais especificamente do Departamento de pesquisas Econômicas, ligado ao CONAC (Coordenação de Contas Nacionais). No entanto, os dados consolidados têm um tempo para sua ratificação de dois anos, sendo disponíveis só até o ano de 2007. Assim, o ano de 2008 foi projetado com os dados conseguidos na Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (S.E.I).

Entre 1995 e 2008, o setor de transformação foi responsável por cerca de dezessete por cento do Produto Interno Bruto brasileiro, sendo, dos setores em específico, o que mais impactou no PIB. Ademais, o próprio é responsável pela dinamização de várias empresas satélites que, em virtude da instalação de uma planta industrial ou complexo, passam a se instalar próximo à indústria, com a finalidade de prestar serviços de suporte como: logística; manutenção; venda de produtos, maquinários e peças; etc. Desta monta, o percentual observado ao longo desses anos apresenta o que foi valor adicionado somente naquele setor, mas o ganho produtivo gerado no agregado, contando com o valor adicionado indireto, foi mais expressivo.

Desta feita, a pormenorização das características e estratégias de atuação desse setor serão de grande valia para o entendimento das suas reverberações no campo do mercado de capitais e do investimento produtivo.

A indústria, conforme apresentado por Alexis Dantas, Jacques Kertsnetzky e Victor Prochnik no livro de Economia Industrial, é definida pelo “grupo de empresas voltadas para a produção de mercadorias que são substitutas próximas entre si, fornecidas a um mesmo mercado, guardando uma correlação técnico-produtiva”.

Cabe salientar, contudo, que por conta do já citado pay back alto, na grande maioria das vezes financiados pelo mercado de capitais e dos custos irrecuperáveis expressivos, a indústria, passou a ser definida como interdependência entre os agentes do mercado, com maior integração e coordenação entre as atividades, mantendo um padrão ao longo da cadeia de produção. Trata-se de um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os insumos, originando assim os complexos industriais, que são a reunião de várias unidades fabris numa delimitação territorial comum, com o intuito de propiciar economias de aglomeração.

Com base na concepção de estratégia apresentada por Freeman (1997), o setor de transformação brasileiro adota uma postura estratégica defensiva, à proporção que as empresas agem seletivamente em relação à introdução da inovação, objetivando dirimir as incertezas e erros comuns no aspecto estratégico das empresas pioneiras, a partir da concepção de aprendizagem com os erros e facilidades de mercados geradas pelo primeiro entrante, oferecendo soluções mais seguras e consistentes.

Diante desse contexto, a engenharia reversa ganha corpo neste setor como peça chave dentro desse processo de crescimento condicionado.

As empresas brasileiras também atuam de forma inovadora, mas, por se localizarem em um mercado ainda incipiente em termos de demanda, infra-estrutura e qualificações técnicas, terminam por adotar postura conservadora no que tange o aspecto da inovação. Atrelado a este contexto, nem todas as técnicas são passiveis de serem englobadas ou melhoradas pelo setor, uma vez que as empresas, por apresentarem aportes gigantescos em infra-estrutura, ficam dependentes de suas escolhas técnico-administrativas passadas, isso porque a relação custo benefício de se alterar um processo ou fase da cadeia é crescente a cada investimento realizado.

A solução para uma indústria que apresenta barreiras à entrada, vinculadas ao investimento inicial e à existência de uma boa rede de distribuição, inviabiliza uma grande margem das empresas potencialmente entrantes e cria dependências para as já existentes, levando à formação de um mercado oligopolizado. Isso leva, em razão de fatores internos e estruturais, a uma atuação em complexos e redes para terceirizar processos de inovação e desenvolvimento que apresentam relação custo-benefício elevada.

Partindo do pressuposto que esse setor necessita de uma escala de produção elevada para diminuir seus custos fixos e variáveis, as empresas passam a adotar o processo de verticalização,

objetivando incremento da escala, redução do custo de transação com fornecedores, diminuição do tempo de entrega e dos erros de especificações.

Cabe salientar que o crescimento produtivo não ocorre de forma contínua, à proporção que os investimentos em novos equipamentos trazem consigo a problematização da análise discreta, pois os equipamentos têm coeficientes técnicos fixos (em sua maioria), levando à implementação estratégica do processo de horizontalização, focado na diversificação de produtos para que haja economias de escopo. Estas economias diminuem o risco com a atuação em novos mercados e solucionam o problema da análise discreta dos maquinários, fazendo com que as empresas não se tornem refém de uma demanda compatível com o incremento produtivo referente à introdução de um novo maquinário.

No entanto, por se tratar de produtos homogêneos e das circunstâncias condicionadoras de seu processo de produção, seus ativos apresentam alta instabilidade atrelada ao fluxo da produção global, reforçando mais uma vez a co-dependência entre o mercado de capitais e o setor de transformação. Isso porque o primeiro apresenta grande parte da sua volatilidade atrelada ao setor e o segundo, por necessitar de investimentos elevados e processo de captação ágil, não pode ficar subjugado às nuâncias e condicionantes do processo de financiamento bancário.

Documentos relacionados