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AS CATEGORIAS DE ANÁLISE

O estudo proposto está relacionado com as questões da mediação pedagógica do professor alfabetizador. Entende-se por mediação como sendo a função associada aos paradigmas vygostkiano, quando se refere à idéia de que a relação dos homens com o mundo é mediada por instrumentos simbólicos construídos pela cultura ao longo da história filogenética e ontogenética. Dessa forma, a relação pedagógica de ensino e de aprendizagem possui caráter mediador estabelecido entre professor-aluno-conteúdos de ensino e a própria história político- social da construção humana.

Nesse trabalho, o termo mediação refere-se à possibilidade ou não do professor alfabetizador ser capaz de produzir uma intervenção didática na qual o aluno possa construir suas hipóteses e/ou concepções acerca da lecto-escrita, mediando esse campo do conhecimento.

As categorias construídas caracterizam-se como segue:

Mediação pedagógica refletida: são formas de intervenção pedagógica nas quais o professor pensa na ação e sobre a ação, isto é, ele reflete sobre as repercussões dessas mediações na aprendizagem do aluno; a organização, o planejamento prévio e a rotina pedagógica pressupõem o processo de reflexão e sua repercussão na interação junto aos alunos. A mediação pedagógica refletida poderá se fazer presente no momento na qual o professor organiza um conjunto de atividades7 que irá propor aos alunos.

Assim sendo, Altet (2000) diz que:

(...) os professores geralmente planificam as suas aulas em função de um programa e de uma progressão. Eles reúnem a documentação, definem objetivos, escolhem um método, optam por determinadas estratégias e determinado material e, antecipadamente, constroem um cenário, sem verem que este determina já as interações que se irão desenrolar nas aulas (p.113).

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Atividade nesse contexto está referindo-se a um conceito vygostkiano (ver na fundamentação teórica no item que se refere à atividade).

Pensar nesse cenário é fundamental para a organização do trabalho pedagógico, o que pressupõe uma mediação pedagógica previamente planejada, ou seja, refletida.

Mediações pedagógicas cotidianas: são formas de intervenção pedagógica planejada ou não previamente. O professor poderá pensar ou não no processo de organização do trabalho escolar, bem como nas tarefas que irá propor em sala de aula. As situações de ensino caracterizam um aluno que reproduz tarefas, sem que o professor evidencie se houve ou não aprendizagem. Nesse contexto, acontece a organização de um conjunto de tarefas, tendo como ênfase a reprodução e a cópia.

Assim, Altet (2000) revela que “existe, pois uma dependência funcional entre os atos pedagógicos dos professores e os atos de aprendizagem dos alunos: o que os professores fazem determina o que os alunos fazem e a forma como aprendem” (p.129).

Logo, essa forma de intervenção poderá produzir efeitos nos aprendizes que o professor não conseguiu antecipar a organização das situações de ensino.

Mediações pedagógicas improvisadas: são as formas de intervenções didático pedagógicas sobre as quais o professor não reflete sobre a ação que irá realizar e não planeja como poderá desenvolver as atividades. Nesse tipo de mediação o professor não avalia qual a repercussão existente no processo de aprendizagem do aluno. A mediação improvisada é aquela que, muitas vezes, permite ao professor, em situação espontânea, retomar suas concepções, idéias, sem, contudo, transformar a organização do trabalho pedagógico.

Nesta perspectiva, Altet (2000) faz referência que:

Em determinadas situações, as ações do professor dependem de juízos instantâneos e de decisões rápidas baseadas na compreensão imediata da situação. São decisões imediatas, intuitivas, rápidas. Durante a aula, o professor defronta numerosas situações inesperadas: a aula se desenrola como o previsto, os alunos apresentam dificuldades que não foram consideradas, as atividades da turma são interrompidas por inesperados acontecimentos exteriores, etc. Tais situações exigem respostas imediatas e apropriadas de forma a minimizar a desorganização da turma e os problemas encontrados (p.116).

Portanto, o improviso tem relevância no processo de ensino; é através dessa ação circunstancial que o processo pedagógico poderá avançar ou não durante a aula.

Assim sendo, o estudo proposto teve também como intenção a observação e compreensão das ações das professoras durante as atividades realizadas junto aos alunos em sala de aula. É importante esclarecer que qualquer pessoa que assista a uma aula e observe o ato de ensinar fica impressionada pela variedade das ações e das atividades, bem como, pela forma como estas são oferecidas e direcionadas aos alunos. Fica clara a idéia de que todo o ato pedagógico tem uma função, ou seja, é intencional (ALTET, 2000).

Nesse sentido, salienta-se que todos os atos pedagógicos podem ser denominados como os modos de ação dos professores realizarem suas mediações pedagógicas que se desenrolam de maneira metódica, organizada, em função da finalidade e das estratégias que ele determina e das condições impostas pelas situações, vividas em sala de aula.

Nesta perspectiva, em seus estudos, Altet, (2000) diz que para analisar o processo de aprendizagem dos alunos, precisa-se ter em mente que os modos de ação pedagógica dos professores são induzidos como reação aos atos dos aprendizes, isto é, as funções de ensino realizadas pelo professor podem ser introduzidas a partir das atividades de aprendizagem do aluno. O professor precisa desempenhar o papel de mediador ao tornar-se suporte ou andaime para que o aluno estruture e construa saberes.

Segundo Altet (2000), diante do ato de aprender, o professor pode colocar o aluno: em um sistema de reprodução/efetivação do saber, que acontece quando ele cria situações de aprendizagem nas quais o aluno é consumidor de conhecimentos e os adquire por instrução; ou em um sistema de expressão-produção, realizando situações de aprendizagem nas quais o aluno é o próprio produtor dos conhecimentos e se apropria deles pela ação.

As aprendizagens escolares passam pela comunicação, isto é, pelas interações verbais e não-verbais entre professor e alunos. Mas o que caracteriza de fato a comunicação pedagógica é que não se trata de uma simples emissão ou difusão de mensagens, mas de uma troca finalizada em uma aprendizagem, por meio de um processo interativo e mediacional. É importante referendar que o que caracteriza a interação é a reciprocidade e que a interação é um processo de comunicação interpessoal por ser um fenômeno social mediado pela cultura.

Assim, ao analisar algumas situações das mediações pedagógicas, compreendeu-se que as mesmas são caracterizadas por um número de componentes que as definem como refletidas, cotidianas e improvisadas.

É importante ratificar, que as categorias foram criadas pela pesquisadora anteriormente à análise das cenas de sala de aula. Entretanto, foi significativo esse movimento de construção e reconstrução, pois uma pesquisa etnográfica caracteriza-se por ser aquela em que o pesquisador, ao olhar a realidade, precisa ter uma postura flexível em relação a mesma, isto é, necessita rever suas idéias e concepções. Este movimento se consolidou de fato, pois na construção das analises a primeira categoria não foi evidenciada nas práticas de alfabetização acompanhadas.

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