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CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.5 Pensamento e linguagem

É significativo abordar a temática pensamento e linguagem, referindo-se ao aspecto cultural da teoria vygoskyana na qual afirma que a linguagem está envolvida pelos meios socialmente estruturados, e afirma também que a sociedade organiza as tarefas que as crianças desempenham no seu processo de desenvolvimento. Vygostky (1988) refere-se que um dos instrumentos básicos inventados pela humanidade é a linguagem e deu ênfase especial ao papel da mesma na organização e no desenvolvimento dos processos de pensamento. Ele ainda ressalta que a linguagem é um dos instrumentos que o homem utiliza-se para dominar seu ambiente e seu comportamento, isto é, a linguagem segundo Vygostky carrega consigo os conceitos generalizados que são importantes fontes do conhecimento humano.

Vygostky (1994) afirma que a linguagem é um sistema dos grupos humanos e representa um salto qualitativo na evolução da espécie. A linguagem permite a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento, garantindo assim a organização do real. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas em diferentes culturas. É através da cultura que o indivíduo se apropria de sistemas simbólicos de representação do mundo real, proporcionando aos seus membros o processo de recriação e reinterpretação de conceitos e significados.

Nesse sentido, Bolzan (2002) traz contribuições quando diz que:

(...) podemos dizer que a linguagem apresenta duas dimensões: sentido e significado. O sentido está ligado ao contexto da comunicação e ao próprio contexto do qual se fala, ou seja, os aspectos sobre os quais se desenvolve a comunicação. O significado é a parte descontextualizada da linguagem. Sua natureza conceitual permite a reflexão abstrata, interferindo nas atividades que exigem pensamento dirigido. Assim, sentido e significado são complementares, atuando simultaneamente, para definir a estrutura da interpretação do discurso (p.45).

Logo, a linguagem é que permite ao ser humano, a reorganização dos processos cognitivos, pois através dela se tem a possibilidade de regular ações próprias, individuais. Portanto, é evidente que a interação entre os pares e entre o professor como mediador faz-se necessária durante as atividades escolares.

Vygostky (1994) também chama a atenção para o aspecto acima, aponta que os instrumentos culturais especiais, dentre eles a escrita, podem expandir o poder do ser humano, tornando a sabedoria do passado revisitada no momento presente e quem sabe passível de aperfeiçoamento no futuro.

As discussões abordadas pela teoria vygostkiana acerca do pensamento e da linguagem são significativas para o embasamento teórico a respeito do processo de alfabetização. Percebe-se essa idéia em Vygostky (1994) quando em sua teoria aborda estudos sobre a pré-história da língua escrita, reunindo fenômenos como gestos, brincadeiras simbólicas, os desenhos e a escrita infantil na tentativa de mostrar que estes são passos no processo de controle do simbolismo e convencionalismo, essenciais para o desenvolvimento da língua escrita.

Assim sendo, a convencionalidade e o simbolismo dos signos para Vygostky são importantes características da atividade humana. Portanto, segundo ele o conceito de atividade é a atualização da cultura no comportamento individual. Exemplifica este aspecto através da construção de conhecimentos em relação à escrita, que é uma apropriação individual e que se dá no coletivo, através das interações sociais.

Neste sentido, percebe-se que toda ação do sujeito mediatizada pela cultura é internalizada pelo indivíduo, tornando-se uma atividade da cognição. O ponto de partida dessa discussão é que o aprendizado das crianças começa antes delas freqüentarem a escola. Assim, o aprendizado e o desenvolvimento estão inter- relacionados desde o primeiro dia de vida da criança. O aprendizado escolar produz algo fundamentalmente novo em seu desenvolvimento, para tanto, é importante discutir o conceito de zona de desenvolvimento proximal. Esse processo de construção da atividade pressupõe o desenvolvimento e a aprendizagem do sujeito, logo o professor necessita estar atento para potencializar, através do trabalho pedagógico, esse mesmo processo.

O aprendizado deve ser combinado com o nível de desenvolvimento da criança. Porém, não se pode limitar meramente a determinação de níveis de desenvolvimento se o professor quiser descobrir as relações reais entre o processo de desenvolvimento e a capacidade de aprendizado. Dessa forma, o aprendizado para Vygotsky (1994) se dá de forma dialética, onde influências socioculturais contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento do indivíduo como um todo, que acontecem do interpessoal para o intrapessoal.

Para melhor explicitar a importância das interações sociais no desenvolvimento cognitivo, retoma-se o conceito de zona de desenvolvimento proximal cunhado por Vygotsky (1994). Do ponto de vista da instrução, esse conceito compreende os aspectos centrais da sua teoria. É por meio dele que Vygotsky (1994) demonstra como um processo interpessoal (social) se transforma em um processo intrapessoal (psíquico). Ao descrever essa passagem do social para o individual, ele destaca a importância da experiência compartilhada, da comunhão de situações, do diálogo, da colaboração, concebendo, desse modo, o aprendizado como um processo de trocas e, portanto, verdadeiramente social.

Vygotsky (1994) acredita que as possibilidades no ensino não podem ser definidas a partir de condições de aprendizagem manifestadas pelas crianças, ou seja, com base naquilo que estas podem resolver sozinhas. Para equacionar essa problemática, ele propõe um segundo nível de desenvolvimento que se refere a aprendizagens realizáveis mediante ajuda de outras pessoas, qual seja, o nível de desenvolvimento potencial, a distância entre o que a criança aprende espontaneamente (nível de desenvolvimento real) e aquilo que ela realiza com o auxílio do meio (nível de desenvolvimento potencial), caracterizando o que denomina zona de desenvolvimento proximal. Mais uma vez é importante referir que esse é um conceito potencialmente útil para os educadores, uma vez que, por meio dele se, pode identificar o desenvolvimento mental, tanto retrospectivamente (pelos ciclos já completados), quando prospectivamente (pelos processos cognitivos em formação). Portanto, a zona de desenvolvimento proximal consiste em um instrumento que permite entender o curso interno do desenvolvimento e, assim, atuar sobre as possibilidades imediatas da criança.

Sendo assim, é relevante que o professor tenha conhecimentos acerca desses estudos como um dos subsídios para o desenvolvimento do trabalho pedagógico junto aos alunos.

Nesse sentido, vale ainda referir que para que a escola possa potencializar a zona de desenvolvimento proximal, é interessante que seus profissionais colaborem na análise dos processos internos (em formação), os quais deverão ser estimulados ao longo do ensino. As funções psicológicas que se encontram em condições potenciais de desenvolvimento podem ser ativadas e completadas a partir dos esforços diretos da instrução e ou mediação.

Davidov et al. (1988) afirmam:

Um ensino que se apóia apenas nas funções psicológicas já desenvolvidas não é nem produtivo, do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo global: todo bom ensino é aquele que se dirige para as funções psicológicas emergentes, em processo de se completarem. Assim, o ensino deve incidir sobre a zona de desenvolvimento potencial, estimulando processos internos maturacionais que acabam por se efetivar, passando a constituir a base para novas aprendizagens (p.5).

Cabe salientar a importância da escola, propiciar as interações sociais como propulsora no avanço das zonas de desenvolvimento.

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