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Capítulo 2 – Categorias de Análise

4.2 As categorias de análise Adam vs Bronckart

nosso interesse para a pesquisa, a planificação do conteúdo temático pode apresentar-se em três modalidades alternadas ou combinadas de múltiplas formas: o script, a sequência narrativa e a sequência descritiva. Enquanto o script organiza o conteúdo temático em uma ordem que reflete a cronologia efetiva dos acontecimentos narrados, a sequência narrativa e a sequência descritiva constituem formas de planificação convencionais em que os acontecimentos são organizados em fases e sustentáveis por uma operação de caráter dialógico. Segundo Bronckart (2007), a sequência narrativa sobrepõe à cronologia dos acontecimentos em uma dimensão causal ou interpretativa; esses acontecimentos encontram-se organizados em um todo coerente, reconfigurados ou clarificados, e essa proposição de clarificação originada do texto constitui a base que o destinatário é capaz de empreender uma tentativa de compreensão das questões da atividade humana.

Enfatizamos que a teoria de protótipo narrativo de Adam, que tomamos como base, será complementada pelo tipo de discurso narração de Bronckart. Essa complementação é base para a análise das produções textuais construídas por alunos de 6º ano, porque, apesar de algumas diferenças em ambos os autores, identificamos aspectos que nos auxiliaram nessas análises.

4.2 As categorias de análise - Adam vs Bronckart

As teorias de Adam e de Bronckart, ao tratarem dos tempos verbais, o primeiro na sequência narrativa e o segundo no tipo de discurso narração, tomam por base Benveniste e Weinrich. Bronckart (2007) afirma que sua abordagem dá continuidade aos trabalhos dos autores já citados, que tratam acerca dos tempos verbais nos mundos ou planificações das enunciações. Os tempos verbais do pretérito perfeito e imperfeito do indicativo são enfatizados por Adam e por Bronckart como tempos característicos do universo diegético; esses tempos marcam contrastes aspectuais que apresentam maior destaque em Bronckart. Além dos tempos já citados, reconhecemos outros tempos verbais, destacado por ambos os autores, o pretérito composto e o mais-que-perfeito simples e composto.

Os tempos verbais apresentam-se em Adam na diegetização autônoma, que é equivalente à enunciação histórica de Benveniste, como a ancoragem de acontecimentos em que a trama temporal está afastada da situação de enunciação. Dessa forma, o enunciado apresenta seus pontos de referência internalizados no mundo construído pelo texto. Em Bronckart o tipo de discurso narração apresenta-se como autônomo em um mundo a parte do mundo ordinário. Essa construção de mundos permite que determinados tempos verbais, como os já citados, caracterizem as estruturas apresentadas sob a forma de sequência narrativa e de narração. Destacamos, porém, o tempo verbal pretérito perfeito, que Benveniste denomina de aoristo quando o mesmo se apresenta na terceira pessoa do singular, como recurso em que os fatos narram-se por si. Esse tempo verbal caracteriza um texto como pertencente ao mundo do NARRAR. Bronckart, ao trata do tempo verbal no texto, denomina de primeiro plano a construção textual do mundo do narrar, em que o pretérito perfeito é ressaltado, e de segundo plano o pretérito imperfeito do indicativo. Esse contraste em ambos os planos consiste em colocar um processo como quadro de fundo do qual emerge uma figura, outro processo. Além disso, destacamos a função de temporalidade primária denominada de referência temporal e classificada em isocrônica, retroativa e projetiva.

Para efeito de organização, traçamos um paralelo entre Adam e Bronckart, identificando semelhanças em ambos e a complementação de alguns aspectos da teoria de Bronckart para a análise da categoria tempos verbais. Vejamos no quadro a seguir:

ADAM

 Universo diegético

 Diegetização autônoma ou enunciação

histórica

 Tempos verbais da narrativa: pretérito

perfeito simples e composto, imperfeito, mais-que-perfeito simples e composto

BRONCKART

 Diegese  Narração

 Tempos verbais da narração: pretérito

perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito simples e composto

 Contraste global: primeiro plano e

segundo plano

 Referência temporal: isocrônica,

retroativa e projetiva

QUADRO 07: COMPARATIVO DA CATEGORIA TEMPOS VERBAIS A nomenclatura é diferente, remete, no entanto, aos mesmos aspectos estudados, conforme podemos observar no universo diegético vs diegese, diegetização autônoma vs

complementação à categoria: o contraste global (primeiro plano e segundo plano) e a referência temporal (isocrônica, retroativa e projetiva) que auxiliam na análise do significado do tempo verbal no texto narrativo. Segundo Bronckart (2007):

A função de contraste global pode interagir com as sequências narrativas [...] constituídas geralmente pelas cinco fases principais: situação inicial, complicação, ação, resolução e situação final. Por definição, a fase de situação inicial e a de situação final apresentam e organizam processos relativamente estáveis ou equilibrados (estado de coisas anterior e posterior às peripécias da história), enquanto as fases de ação e de resolução, ao contrário articulam processos são dinâmicos, de movimento ou de progresso. Decorre daí que, nas fases iniciais e finais os processos são quase que, de facto, postos em segundo plano, enquanto as fases de ação e de resolução são quase, de facto, postas em primeira plano, caracterizando-se a fase de complicação, frequentemente, por uma oposição entre dois planos. (BRONCKART, 2007, p. 293-294).

Os organizadores temporais assim como os tempos verbais assumem uma função na construção temporal do texto. Porém, Adam (1997) afirma que nem todo texto que há uma sucessão de acontecimentos a desenrolar-se no tempo é, necessariamente, uma narrativa. Apesar dessa observação, os organizadores temporais complementam os tempos verbais e caracterizam o texto narrativo. Para Adam, há uma variação entre os índices temporais que podem se apresentar como indicações temporais absolutas (precisas ou imprecisas), indicações relativas à situação de fala ou de escrita e indicações relativas ao cotexto. Elas constituem-se em marcas linguísticas, conforme observamos, que fazem o texto progredir e caracterizam melhor a temporalidade juntamente com os tempos verbais.

De acordo com as teorias utilizadas na pesquisa, compreendemos que a teoria de Bronckart complementa as colocações de Adam, situando os advérbios e as conjunções como mecanismos de textualização denominados de conexão que se apresentam de modo privilegiado no mundo do NARRAR. Esses mecanismos de conexão explicitam- se em relações entre diferentes níveis de organização textual que se dividem de acordo com o nível em: segmentação, demarcação ou balizamento, empacotamento, ligação e encaixamento. Destacaremos, entretanto, para nossa análise o balizamento que está num nível englobante inferior e constitui estrutura pertencente ao discurso teórico e à narração, este objeto de nosso interesse, bem como encaixamento que são mecanismos que articulam duas ou várias frases sintáticas subordinadas em uma só frase gráfica. Neste mecanismo, as estruturas subordinadas que estão relacionadas à temporalidade, bem como advérbios que assumam o mesmo valor temporal serão destacados em nossa

análise. Além disso, Bronckart classifica algumas expressões iniciais no tipo de discurso

narração que são denominadas de fórmulas convencionais como “Era uma vez, um dia etc.” Conforme o quadro anterior, faremos um paralelo dessa categoria. Vejamos a

seguir:

ADAM

 Referência temporal absoluta (histórica/ vago)

 Referência temporal relativa (no

cotexto – enunciado, no contexto – situação)

BRONCKART

 Conexão  Balizamento

 Encaixamento (subordinação)

 Fórmula convencional (Era uma vez,

um dia)

QUADRO 08: COMPARATIVO DA CATEGORIA ORGANIZADORES TEMPORAIS A última categoria a ser contemplada na análise são os pronomes que têm como objetivo dar continuidade referencial e assegurar retomadas de elementos introduzidos na memória. Conforme Adam (2008), os pronomes são lexemas que podem ser denominados de fiel e de infiel. Em nossa pesquisa, faremos uso da denominação de anáforas pronominais fiéis por não indicarem nenhuma nova propriedade do objeto e anáforas demonstrativas que indicam a identificação, operando uma reclassificação do objeto. Já em Bronckart, o mecanismo nominal trata dessa questão pronominal e complementa a proposta de Adam com as funções de introdução e retomada. Bronckart também apresenta duas categorias pronominais, mas destacaremos somente as anáforas pronominais que são compostas de pronomes pessoais, relativos, possessivos e reflexivos, além da inclusão da marca Ø (zero) que significa a transformação de apagamento. Podemos compreender assim que as definições de anáfora pronominal em Adam e Bronckart respaldam à análise desses elementos que estarão ligados as categorias mencionadas anteriormente. Vejamos o quadro que traça um paralelo em ambos:

ADAM

 Anáforas pronominais (reto/oblíquo)  Anáfora fiel e infiel

 Anáforas demonstrativas

BRONCKART

 Anáforas pronominais: pronomes

pessoais, relativos, possessivos, demonstrativos e reflexivos.

 Marca Ø (zero)

Algumas categorias mencionadas como tempos verbais, organizadores temporais e pronomes, são complementadas pela teoria de Bronckart que contribui para as análises das produções textuais nos dois momentos da construção dos textos (PI e PF). Consideramos que a complementação, entre ambos os autores, enriquecem as análises no sentido de ampliar e conciliar as duas abordagens.