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Capítulo 2 – Categorias de Análise

4.1 Um paralelo acerca das teorias

Apesar de Adam e de Bronckart apresentarem bases epistemológicas em alguns aspectos diferentes, propomo-nos, também neste capítulo, identificar os elementos/traços linguísticos semelhantes que complementaram e auxiliaram na análise das produções textuais. Destacamos que, um desses pontos, constitui-se no conceito de formação discursiva (cf. FOUCAULT, 2008) cuja definição é de mecanismos que moldam os conhecimentos dos membros de uma mesma formação social, de forma particular, que incide sobre as condições históricas do aparecimento de enunciados efetivos. O propósito do autor é tomar os acontecimentos discursivos, ou seja, acontecimentos que consistem em relacionamentos entre si que se façam presentes em relações entre grupos de enunciados estabelecidos, relações entre enunciados e grupos de enunciados e acontecimento de uma ordem diferente (técnica, econômica, social política).

Esse conceito, segundo Adam (2008), até então com uma noção imprecisa, é redefinido por Pêcheux, que o toma como conceito importante para a escola francesa de

Análise do Discurso, compreendido como o estabelecimento de uma ligação entre os gêneros e as formações sociodiscursivas (esse conceito também é um dos avanços recentes da análise do discurso). Adam apropria-se desse conceito redefinido para inseri-lo em sua teoria dos protótipos, conforme palavras do autor: “é nos gêneros do

discurso que localizaremos essa „estabilização pública e normativa’ que opera no

quadro do sistema de gêneros de cada formação discursiva.” (ADAM, 2008, p.45). Já em Bronckart (2007), o conceito é compreendido numa dimensão mais ampla, referindo-se a questões essenciais de estatuto e metodologia das ciências humanas, mas que se inclui no projeto ao qual o autor adere. Ele observa que o conceito de formação discursiva designa, em alguns casos, unidades da ordem da frase, produções verbais acabadas da ordem do texto, formas específicas de semiotização em funcionamento nas formações sociais e aos produtos observáveis em diferentes níveis de arquitetura textual. Ainda segundo o autor, a vertente processual das formações discursivas pode ser denominada de formações sociodiscursivas, porque ele designa à expressão as diferentes formas que toma o trabalho de semiotização em funcionamento nas formações sociais. Ao referir-se à vertente do produto, Bronckart (2007, p. 141) afirma

que “ela transcende claramente as diferenciações entre gêneros de textos, ela pode ser

reanalisada nos diversos níveis dos tipos de discurso e dos mecanismos enunciativos.” O conceito de formação discursiva em Foucault é redimensionado nas teorias de Adam e de Bronckart; compreendemos, contudo, que o texto nas duas vertentes teóricas não é visto como unidade isolada. Ele está inserido numa formação sociodiscursiva em que a língua é atravessada pelos valores e ecos de outros usos de palavras em um texto, a língua por si só não forma enunciados, mas estes são formados num contexto.

Um segundo ponto de semelhança que destacamos, consiste em observar a sequência narrativa atravessando o tipo de discurso narração. De acordo com Bronckart (2007) os tipos de discurso constituem-se em formas de organização linguística, em número limitado, em que se compõem todos os gêneros textuais em diferentes modalidades. O autor define também atividade narrativa como o processo em funcionamento em todo discurso da ordem do NARRAR no tipo de discurso narração, constrói-se um mundo autônomo em relação a esses mesmos parâmetros. Já as sequências, segundo o mesmo autor, são formas de planificação convencional, também em número limitado, que podem ser observadas no interior dos tipos de discurso.

Acerca disso, para os relatos interativos e as narrações, este último objeto de nosso interesse para a pesquisa, a planificação do conteúdo temático pode apresentar-se em três modalidades alternadas ou combinadas de múltiplas formas: o script, a sequência narrativa e a sequência descritiva. Enquanto o script organiza o conteúdo temático em uma ordem que reflete a cronologia efetiva dos acontecimentos narrados, a sequência narrativa e a sequência descritiva constituem formas de planificação convencionais em que os acontecimentos são organizados em fases e sustentáveis por uma operação de caráter dialógico. Segundo Bronckart (2007), a sequência narrativa sobrepõe à cronologia dos acontecimentos em uma dimensão causal ou interpretativa; esses acontecimentos encontram-se organizados em um todo coerente, reconfigurados ou clarificados, e essa proposição de clarificação originada do texto constitui a base que o destinatário é capaz de empreender uma tentativa de compreensão das questões da atividade humana.

Enfatizamos que a teoria de protótipo narrativo de Adam, que tomamos como base, será complementada pelo tipo de discurso narração de Bronckart. Essa complementação é base para a análise das produções textuais construídas por alunos de 6º ano, porque, apesar de algumas diferenças em ambos os autores, identificamos aspectos que nos auxiliaram nessas análises.

4.2 As categorias de análise - Adam vs Bronckart

As teorias de Adam e de Bronckart, ao tratarem dos tempos verbais, o primeiro na sequência narrativa e o segundo no tipo de discurso narração, tomam por base Benveniste e Weinrich. Bronckart (2007) afirma que sua abordagem dá continuidade aos trabalhos dos autores já citados, que tratam acerca dos tempos verbais nos mundos ou planificações das enunciações. Os tempos verbais do pretérito perfeito e imperfeito do indicativo são enfatizados por Adam e por Bronckart como tempos característicos do universo diegético; esses tempos marcam contrastes aspectuais que apresentam maior destaque em Bronckart. Além dos tempos já citados, reconhecemos outros tempos verbais, destacado por ambos os autores, o pretérito composto e o mais-que-perfeito simples e composto.