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2.4.   A educação superior 24

2.4.3.   As categorias de IES no Brasil 30

De acordo com a legislação da educação superior vigente no Brasil, as IES são classificadas como públicas ou privadas e organizadas academicamente em cinco grandes grupos: universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades isoladas e centros tecnológicos (Decreto No 3.860, 2001). As IES públicas podem ser municipais, estaduais ou federais. Já as privadas, subdivididas em: com fins lucrativos ou sem fins lucrativos. A composição dessa classificação no Brasil está ilustrada na Figura 5.

Figura 5. Classificação das IES de acordo com o Ministério da Educação.

Embora útil do ponto de vista administrativo e organizacional, essa classificação dificulta a comparação entre IES, uma vez que produz 25 possíveis combinações de tipos de IES [CGrupos,Públicas + CGrupos,Privadas; onde: C = combinação, Grupos = 5 (universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades isoladas e centros tecnológicos), Públicas = 3 (municipais, estaduais e federais), Privadas = 2 (com fins lucrativos e sem fins lucrativos); C5,3 + C5,2 = 25]. Essa classificação torna ainda mais complexa a escolha do estudante que, muitas vezes, não entende as diferenças ou similaridades entre os tipos de IES. Dificulta também que se analise de maneira coerente o mercado educacional superior brasileiro. Isso porque existem IES privadas, por exemplo, que poderiam ser comparadas a IES públicas; centros universitários comparados a universidades; faculdades comparadas a centros universitários; entre outras possibilidades, considerando nosso país de dimensões continentais com características diversas entre os estados da federação. Dessa forma, é importante a composição de uma categorização adequada das IES à realidade do país, que possibilite captar as nuanças internas do setor, além de unir características gerais de cada IES.

Sem fins lucrativos Com fins lucrativos

Estadual Federal Municipal

Pública

Privada

Universidades

Centros universitários

Faculdades integradas

Faculdades isoladas

Centros tecnológicos

Sem fins lucrativos Com fins lucrativos

Estadual Federal Municipal

Pública

Privada

Universidades

Centros universitários

Faculdades integradas

Faculdades isoladas

Centros tecnológicos

Statt (1997) cita que o mercado, de modo geral, não possui uma característica homogênea e, nesse contexto, salienta que a categorização das marcas existentes no mercado é uma estratégia adequada para se entender similaridades e diferenças entre os produtos e serviços ofertados. Para o caso das IES, não se encontra na literatura critérios específicos para a sua categorização, em especial no Brasil. Com o objetivo de suprir esta lacuna na literatura, Alfinito e Torres (2007) apresentaram uma proposta de categorização para as IES brasileiras, sendo cada uma delas conceituada como uma marca existente no mercado, com base em variáveis geográficas e demográficas da educação superior.

No estudo desses autores, foram analisadas 1859 IES constantes no Censo da Educação Superior 2003, administrado pelo Inep (Inep, s.d.b). Dessas, 45 (2,4%) foram excluídas por não disporem de informações completas. Os dados foram tratados por uma análise de cluster, por ser uma técnica que permite revelar a estrutura e relações existentes entre os dados (Anderberg, 1973). Trata-se de uma técnica exploratória de análise de dados quantitativos, delineada para revelar agrupamentos naturais dentro de um conjunto de dados, com a tarefa fundamental de categorizá-los ou separá-los (Advanced Statistical Analysis Using SPSS, 2006).

Para os dados específicos analisados, foi aplicada uma análise multivariada de

Cluster Two-Step, um algoritmo desenvolvido por Zhang, Ramakrishnan e Livny (1996),

para o agrupamento de dados provenientes de bases de dados grandes, com variáveis categóricas e contínuas ao mesmo tempo. As variáveis utilizadas referiam-se a dados de cursos de graduação presenciais das IES e foram: número de estudantes matriculados em turno diurno, número de estudantes matriculados em turno noturno, número total de docentes mestres e doutores, número de candidatos por vaga ofertada, número de estudantes por docente, tipo de rede da IES (pública ou privada) e região geopolítica (norte, nordeste, sul, sudeste e centro-oeste).

Foram encontradas três categorias de IES, cada uma com as seguintes características: (1) com 45% das IES brasileiras enquadradas neste grupo (819), nele estão as IES de pequeno e médio porte, com 1200 estudantes matriculados em média. São todas instituições privadas, localizadas na região sudeste do país e com baixa concorrência no vestibular (em média 1,4 candidatos por vaga); (2) com 14% das IES nesta categoria (250), nela ficaram as instituições de grande porte, com 9000 estudantes matriculados em média. Apesar de todas as IES públicas terem ficado neste cluster, 49 instituições privadas também se enquadraram nele, demonstrando características comparáveis às IES públicas do país. A distribuição delas entre as cinco regiões geopolíticas foi bastante similar a

distribuição populacional do país. Quanto à concorrência no vestibular, essas IES apresentam os maiores níveis de concorrência do país, em média 7,5 candidatos por vaga; (3) neste grupo ficaram 41% das IES brasileiras. São instituições de pequeno e médio porte, porém, com número médio de estudantes matriculados menor que as instituições da categoria 1 (900). São todas privadas, concentradas no sul (33,3%) e nordeste (32,5%) do país e com níveis de concorrência baixa no vestibular, tal qual a categoria 1.

Os resultados deste estudo permitem que sejam feitas comparações coerentes entre as IES com classificações distintas de acordo com o MEC, mas com características similares por cluster ou categoria. Destaca-se que o estudo considerou algumas variáveis ligadas às IES, mas podem ser desenvolvidos estudos futuros com variáveis complementares, inclusive àquelas ligadas a qualidade dos cursos de graduação ofertados por cada IES, bem como aos cursos de pós-graduação. Isso permitiria uma avaliação mais completa do mercado de educação superior, considerando o grande crescimento recente do número de IES no Brasil. Questão importante também seria replicar o estudo para os próximos Censos da Educação Superior, relembrando que os dados do estudo preliminar foram de 2003, o que possibilitaria verificar a evolução do mercado educacional superior ao longo dos anos.

A seguir, serão apresentados estudos sobre educação superior, desenvolvidos para o Brasil, que possibilitarão conhecer melhor o contexto de educação superior no país.