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2.2 INSTRUMENTOS E TRATAMENTO DOS DADOS

2.2.2 As categorias

No caso desta investigação, procedeu-se a adoção de uma categorização a priori, para tanto, apoiamo-nos em nossas escolhas teóricas. Assim, a macrocategoria constituída com base no quadro teórico foi: eventos e práticas de letramento. Aquela encontra-se referenciada por estudos do letramento de abordagens sociais, mais especificamente, em contribuições conceituais cunhadas por Heath (1983) e Street (1984), sobre as quais discutiremos ao longo do capítulo seguinte. Com base nessa macrocategoria, foram realizados desdobramentos e a adição de subcategorias, necessárias à compreensão do nosso objeto e a realização da empiria. A síntese das categorias empregadas no estudo, bem como os indicadores para a análise de conteúdo, ficou conforme podemos observar no Quadro 1, posto na sequência:

Quadro 1 - Categorias e indicadores da Análise de Conteúdo (AC)

CATEGORIAS TEMÁTICAS INDICADORES 1. EVENTOS E PRÁTICAS DE

LETRAMENTO

1.1 Inserção de TIC em eventos e práticas de letramento dentro e fora da esfera escolar. 1.2 Valoração das práticas letradas apoiadas

ou intermediadas pelas TIC.

 Engajamento em eventos e práticas letradas dentro e fora da esfera escolar;  Letramentos dominantes nos contextos

investigados;

 Usos de artefatos digitais em práticas letradas;

 Opiniões dos (a) discentes sobre as práticas letradas apoiadas ou intermediadas pelas TIC;

Fonte: Acervo da pesquisa, 2013.

Nesta pesquisa, como explicitado anteriormente, optamos por fazer uma análise temática dos dados. Isso significa dizer que, do ponto de vista operacional a mesma ocorreu mediante “a contagem de um ou vários temas ou itens de significação, numa unidade de codificação previamente determinada” (BARDIN,

2011, p. 77). Todavia, buscamos não nos deter apenas às regras de enumeração (Idem), ou seja, na computação de dados de caráter unicamente quantitativo, e sim, procurando entender os dados e interpretando-os a partir das categorias delimitadas e com ancoragem no referencial teórico que dá sustentação ao estudo.

Não obstante, na realização de uma análise de conteúdo é possível partir de categorias a priori, ou seja, aquelas previamente definidas com base no referencial teórico, as quais podem ser chamadas também de categorias analíticas e, após a exploração do corpus incluir categorias empíricas emergentes da fase exploratória. Outrossim, para a construção das categorias empíricas, durante o processo de codificação dos dados, elegemos como unidade de registro o tema. Na visão de Bardin (2011, p. 134), a unidade de registro “é a unidade de significação codificada e corresponde ao segmento de conteúdo considerado unidade de base, visando à categorização e a contagem frequencial”.

Conforme apontado por Bardin (2011, p. 135) o tema é “geralmente utilizado como unidade de registro para estudar motivações de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças, de tendências etc.”, tornando-o pertinente, uma vez que na presente pesquisa, investigamos concepções dos discentes sobre as seguintes temáticas: Inserção de artefatos digitais em práticas de escrita no contexto escolar e fora deste, usos desses artefatos nesses contextos e valores sociais atribuídos às práticas letradas apoiadas ou intermediadas por suportes digitais.

Por sua vez, cada tema ou conjunto de temas foi alocado em unidades de contexto, as quais ajudaram a “compreender a significação exata da unidade de registro” (BARDIN, 2011). O processo de unitarização, ou seja, de recorte do texto em unidades de registro e unidades de contexto foi realizado com vias de sua categorização. No quadro 2, apresentado na sequência, exemplificamos a construção de uma Unidade de Contexto (UC) do estudo com suas respectivas Unidades de Registro (UR):

Quadro 1 - Unidade de contexto (UC) usada na unitarização dos dados

UNIDADE DE CONTEXTO (UC)

Sobre a introdução de TIC nos eventos e práticas letradas da esfera escolar

I1

UNIDADES DE REGISTRO (UR)

[...] tudo fica mais organizado.

[...] se você escrever, por exemplo, no programa WORD ele vai corrigir os seus erros, aí para mim é uma contribuição, você vai aprender com a escrita digital.

[...] se você colocar um papel e uma caneta e colocar um computador, acho que a maioria vai escolher digitar pelo computador e não escrever no papel e na caneta, então acho que isso trouxe mudança por ser mais fácil.

[...] você pode muito bem no computador dar “copiar e colar”, se você for fazer no papel e na caneta vai ser sua opinião, seu jeito. Não uma coisa do computador.

I2

[...] no computador, às vezes, demora um pouco e você não memoriza o que você está escrevendo. [...] no computador a escrita envolve, assim, um processo mais lento para aprender a colocar a pontuação.

[...] quando você vai escrevendo no computador, ele vai lhe corrigindo, até em palavras que você não sabe, ou até desconhece e a partir do computador você vai conhecendo mais.

I3

[...] quando eu erro a escrita, ele corrige e isso é muito importante porque você não vai cometer esse erro novamente.

[...] você vai aperfeiçoando mais e mais, ele corrige seus erros ortográficos e você não vai cometer novamente.

[...] porque você digitando, você não vai mais ter aquela habilidade de escrever a mão. [...] ajuda a pessoa a digitar mais correto e como corrigir a escrita.

[...] às vezes quando eu faço redação, depois eu jogo no Microsoft e vejo o que eu estou escrevendo errado para melhorar a minha escrita.

[...] eu acho que facilitou mais.

I4

[...] eu acho melhor a do computador, que além de eu ser mais rápido no computador que escrevendo, eu acho que flui mais o psicológico da pessoa para escrever.

[...] vamos enriquecer nosso vocabulário.

[...] ter o vício de linguagem, como eu tinha falado, tipo abreviações, preguiça de escrever a palavra inteira, essa seria uma desvantagem.

[...] tem muitos alunos que só chegam na Internet e copiam. [...] trouxe, como eu tinha dito, vício de linguagem.

I5

[...] o pessoal digita de forma abreviada, então acaba atrapalhando o estudo.

[...] na forma escrita você se preocupa ao máximo em escrever as palavras certas, corretas, na forma digitada você não se preocupa com isso, você digita por digitar, como se fosse prazer de digitar.

[...] o computador mostra como a palavra deve ser digitada porque tem aquele dicionário no computador mesmo que vai mostrar como é que é a palavra.

Fonte: Acervo da pesquisa, 2013.

Com efeito, os processos de unitarização dos dados e seu reagrupamento foram operacionalizados de modo que pudéssemos construir as categorias. No Quadro 2, a seguir, apresentamos uma das subcategorias utilizadas neste estudo com suas respectivas unidades de análise e medidas frequências. A construção desse tipo de quadro, durante o processo analítico, permitiu a organização dos dados brutos em cenários propícios à realização de inferências por parte do investigador, uma vez que as categorias consistem em “um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns destes elementos” (BARDIN, 2011, p. 147), deste modo, cada grupo representou as categorias demandadas pela análise nesta pesquisa.

Quadro 2 - Sistematização de dados de uma subcategoria

Subcategoria: Inserção de TIC em eventos e práticas e letramento dentro e fora da esfera

escolar

Unidade de Contexto (UC) Sobre a introdução de TIC nos eventos e

práticas letradas da esfera escolar –Índice

de referência - Percentual: 22 – 100% Alusões positivas: 59% Alusões negativas: 41% I1

Unidades de Registro (UR) Unidades de Registro (UR) Unidades de Registro (UR)

[...] tudo fica mais organizado.

[...] se você escrever, por exemplo, no programa WORD ele vai corrigir os seus erros, aí para mim é uma contribuição, você vai aprender com a escrita digital.

[...] se você colocar um papel e uma caneta e colocar um computador,acho que a maioria vai escolher digitar pelo computador e não escrever no papel e na caneta, então acho que isso trouxe mudança por ser mais fácil.

[...] você pode muito bem no computador dar “copiar e colar”, se você for fazer no papel e na caneta vai ser sua opinião, seu jeito. Não uma coisa do computador.

[...] tudo fica mais organizado.

[...] se você escrever, por exemplo, no programa WORD ele vai corrigir os seus erros, aí para mim é uma contribuição, você vai aprender com a escrita digital.

[...] se você colocar um papel e uma caneta e colocar um computador acho que a maioria vai escolher digitar pelo computador e não escrever no papel e na caneta, então acho que isso trouxe mudança por ser mais fácil.

[...] quando você vai escrevendo no

computador, ele vai lhe corrigindo, até em palavras que você não sabe, ou até desconhece e a partir do computador você vai conhecendo mais.

[...] quando eu erro a escrita, ele corrige e isso é muito importante porque você não vai cometer esse erro novamente.

[...] você vai aperfeiçoando mais e mais, ele corrige seus erros ortográficos e você não vai cometer novamente.

[...] ajuda a pessoa a digitar mais correto e como corrigir a escrita.

[...] às vezes quando eu faço redação, depois eu jogo no Microsoft e vejo o que eu estou escrevendo errado para melhorar a minha escrita.

[...] eu acho que facilitou mais.

[...] eu acho melhor a do computador, que além de eu ser mais rápido no computador que escrevendo, eu acho que flui mais o psicológico da pessoa para escrever. [...] vamos enriquecer nosso vocabulário. [...] na forma escrita você se preocupa ao máximo em escrever as palavras certas, corretas, na forma digitada você não se preocupa com isso, você digita por digitar, como se fosse prazer de digitar.

[...] o computador mostra como a palavra deve ser digitada porque tem aquele dicionário no computador mesmo que vai mostrar como é que é a palavra.

[...] você pode muito bem no computador dar “copiar e colar”, se você for fazer no papel e na caneta vai ser sua opinião, seu jeito. Não uma coisa do computador.

[...] no computador, às vezes, demora um pouco e você não

memoriza o que você está

escrevendo.

[...] no computador a escrita envolve, assim, um processo mais lento para aprender a colocar a pontuação. [...] porque você digitando, você não vai mais ter aquela habilidade de escrever a mão.

[...] ter o vício de linguagem, como eu

tinha falado, tipo abreviações,

preguiça de escrever a palavra inteira, essa seria uma desvantagem. [...] tem muitos alunos que só chegam na Internet e copiam. [...] trouxe, como eu tinha dito, vício de linguagem.

[...] o pessoal digita de forma abreviada, então acaba atrapalhando o estudo.

I2

[...] no computador, às vezes, demora um pouco e você não memoriza o que você está escrevendo.

[...] no computador a escrita envolve, assim, um processo mais lento para aprender a colocar a pontuação.

[...] quando você vai escrevendo no computador, ele vai lhe corrigindo, até em palavras que você não sabe, ou até desconhece e a partir do computador você vai conhecendo mais.

I3

[...] quando eu erro a escrita, ele corrige e isso é muito importante porque você não vai cometer esse erro novamente.

[...] você vai aperfeiçoando mais e mais, ele corrige seus erros ortográficos e você não vai cometer novamente.

[...] porque você digitando, você não vai mais ter aquela habilidade de escrever a mão.

[...] ajuda a pessoa a digitar mais correto e como corrigir a escrita.

[...] às vezes quando eu faço redação, depois eu jogo no Microsoft e vejo o que eu estou escrevendo errado para melhorar a minha escrita.

[...] eu acho que facilitou mais.

I4

[...] eu acho melhor a do computador, que além de eu ser mais rápido no computador que escrevendo, eu acho que flui mais o psicológico da pessoa para escrever. [...] vamos enriquecer nosso vocabulário. [...] ter o vício de linguagem, como eu tinha falado, tipo abreviações, preguiça de escrever a palavra inteira, essa seria uma desvantagem.

[...] tem muitos alunos que só chegam na Internet e copiam.

[...] trouxe, como eu tinha dito, vício de linguagem.

I5

[...] o pessoal digita de forma abreviada, então acaba atrapalhando o estudo. [...] na forma escrita você se preocupa ao máximo em escrever as palavras certas, corretas, na forma digitada você não se preocupa com isso, você digita por digitar, como se fosse prazer de digitar.

[...] o computador mostra como a palavra deve ser digitada porque tem aquele dicionário no computador mesmo que vai mostrar como é que é a palavra.

No capítulo a seguir, apresentamos para o leitor o quadro teórico que tomamos como válido para dar sustentação a esta investigação. Nele trazemos e explicamos conceitos oriundos de abordagens críticas do letramento, com ênfase em perspectivas teóricas dos NLS. Tais estudos inauguram outro olhar sobre a aquisição e difusão da tecnologia da escrita na sociedade, contribuindo para desconstruir algumas visões deterministas sobre os usos e funções daquela.

Os NLS são revisitados neste estudo com o intuito de problematizarmos a inserção de tecnologias digitais, com ênfase na sua presença em práticas de escrita ocorridas no contexto escolar e fora deste. Assim, partimos do entendimento que “toda escrita e toda leitura de mundo têm, por trás de si, não o domínio de um suporte de expressão, mas um elenco de postulados que definem intenções de leitura e de expressão” (SENNA, 2005, p. 74), diante disso, procuramos nos distanciar de visões de letramento e de tecnologia pautadas simplesmente pela lógica técnico-instrumental, fortemente arraigada em tradições grafocêntricas ou em perspectivas exclusivamente técnicas sobre o papel das TIC na sociedade.

3 PERSPECTIVAS TEÓRICAS NORTEADORAS DA PESQUISA: LETRAMENTO COMO PRÁTICA SOCIAL

“[...] a escrita é importante na escola, porque é importante fora dela, e não o contrário” (FERREIRO, 2001, p. 33)

Neste capítulo, buscamos inteirar o leitor em relação ao quadro teórico que norteou reflexões e decisões durante a realização desta pesquisa, a qual se propôs a conhecer a valoração presente no discurso discente acerca de práticas letradas apoiadas ou intermediadas por suportes digitais realizadas no contexto escolar e fora deste, tendo como tela de fundo uma política pública de inserção de tecnologias digitais em escolas da rede estadual de Pernambuco, sobre a qual discorreremos mais adiante.

Acreditamos que as abordagens teóricas trazidas pela corrente conhecida como Novos Estudos do Letramento, NLS, foram de grande valia na construção de cenários explicativos construídos neste estudo, pois tais abordagens propõem o redirecionamento e a ampliação do debate sobre o fenômeno do letramento e também sobre o papel dos artefatos digitais nas práticas letradas, frente à complexidade dos contextos nos quais circulam os sujeitos na atualidade, procurando a superação de visões centradas em aspectos meramente formais ou técnicos da escrita ou dos artefatos digitais.

Os NLS consideram a existência de letramentos diversos, os quais sofrem variações de natureza histórica, social, cultural, entre outras, e que são contestados nas relações de poder existentes na sociedade. Dito de outra forma, essas perspectivas ampliam o foco de interesse para a diversidade dos contextos sociais, históricos e culturais nos quais as práticas letradas se desenvolvem e questionam, por exemplo, como diante da existência de inúmeras práticas, aquelas associadas a “uma variedade particular veio a ser considerada como o único letramento” possível, adquirindo uma posição de prestígio e poder frente às outras (STREET, 2014, p. 121), influenciando, inclusive, a forma como os sujeitos se reportam as suas experiências com o escrito, em particular quando essas, não emanam, por exemplo, de tradições acadêmicas ou institucionalizadas.

Desta forma, os NLS levam em conta, sobretudo, a dimensão social do fenômeno, ampliando seu entendimento através do reconhecimento da variedade de

letramentos que existem em diferentes instâncias da vida social, a saber, a casa, o trabalho, a rua, as comunidades, etc.; problematizando-os em vez de ignorá-los.

Dito isso, ao nos empenharmos na investigação dos valores presentes no discurso de estudantes do ensino médio público ao se reportarem às próprias práticas letradas, quando apoiadas ou intermediadas por artefatos digitais, pretendemos focar as práticas sociais que lhes conferem sentido e que, afinal, exercem influências não só nos usos da escrita e dos artefatos digitais durante o engajamento, mas também na construção de discursos inerentes aos mesmos.

Dividimos este capítulo em quatro seções: a primeira traz uma introdução geral ao conceito de letramento, destacando sua inserção em estudos sobre o processo de aquisição da língua escrita, difundidos no Brasil a partir da segunda metade de década de 80.

Na segunda seção, apresentamos a corrente que ficou conhecida como Novos Estudos do Letramento (New Literacy Studies – NLS), destacando sua importância para a construção de abordagens críticas do fenômeno. Por sua vez, na terceira seção, destacamos dois constructos teóricos trazidos por Street (1984), a saber: o modelo autônomo e o modelo ideológico de letramento, os quais representam ancoragens conceituais importantes para refletirmos sobre letramento como prática social.

Por fim, na terceira seção, discutimos os conceitos de eventos e práticas de letramento, cunhados por Heath (1983) e Street (1984), os quais são utilizados como Macrocategoria neste estudo.