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CAPÍTULO 3 – ANÁLISE E IMPACTOS NO TRABALHO DOCENTE NO

3.2 AS CATEGORIAS DO MUNDO TRABALHO

A concepção de trabalho em Marx aponta para a noção de produção da riqueza, transformação da natureza e apropriação subjetiva do mundo. Dessa forma, o indivíduo se insere socialmente a partir do que produz. Ele determina e é determinado pelo seu modo de produção. O que vai desde a sua distinção dos demais animais até a sua percepção do mundo em que vive.

A maneira como os homens produzem seus meios de existência depende, antes de mais nada, da natureza dos meios de existência já encontrados e que eles precisam reproduzir. Não se deve considerar esse modo de produção sob esse único ponto de vista, ou seja, enquanto reprodução da existência física dos indivíduos. Ao contrário, ele representa, já, um modo determinado da atividade desses indivíduos, uma maneira determinada de manifestar sua vida, um modo de vida determinado. A maneira como os indivíduos manifestam sua vida reflete exatamente como são. O que eles são coincide, pois, com sua produção, isto é, tanto com o que eles produzem quanto com a maneira como produzem. O que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais de sua produção (MARX, ENGELS 1998, p.11).

A problematização contemporânea a respeito da centralidade do trabalho se dá em decorrência das mudanças na forma de apropriação da mais-valia, que engloba desde os impactos da divisão do trabalho em voga, em franca expansão pelos setores considerados não produtivos, na acepção de Marx, até o novo processo da revolução técnico científica, da informatização e mecanização do modo de produção.

Os críticos à Marx avalizam na crescente subjetivação da sociedade audiovisual, nas trocas simbólicas, na informação instantânea e na observação de movimentos sociais que expressam reivindicações de ordem não econômicas a hipótese ou de superação da dicotomia capital- trabalho, ou, ao menos, de seu declínio na organização social vigente. Visam minimizar a estrutura de valor de uso como propriedade de determinado objeto para, o que é determinado

nas relações sociais, como valor de troca, classificando de estrutural para conjuntural, dentro do contexto do modo de produção do capitalismo industrial do século XIX. Tal defesa já refutada por Marx é abordada por Antunes:

Portanto, a tendência apontada por Marx - cuja efetivação plena supõe a ruptura em relação à lógica do capital deixa evidenciado que, enquanto perdurar o modo de produção capitalista, não pode se concretizar a eliminação do trabalho como fonte criadora de valor, mas, isto sim, uma mudança no interior do processo de trabalho, que decorre do avanço científico e tecnológico e que se configura pelo peso crescente da dimensão mais qualificada do trabalho, pela intelectualização do trabalho social. (ANTUNES, 2002, p.57)

A reafirmação do caráter da relação capital-trabalho não implica, pois, na não observação das mudanças ocorridas no mundo do trabalho, na sua diversificação, especialização e complexificação. Pelo contrário, faz desta, objeto de reflexões, condicionadas dentro da compreensão das categorias de produção de mais-valia, trabalho produtivo, trabalho improdutivo, divisão de classe, divisão social do trabalho. Trata-se de esboçar as possibilidades de tal processo histórico na influencia de cada elemento modo de produção. Faz-se, portanto, distinção epistemológica da crítica, sobretudo, pós-moderna, porém, assimila o diagnóstico que aponta para peso maior das relações simbólicas junto ao sistema de troca. Estaria não como um estatuto diferenciado da estrutura social como propôs Weber, visto no capítulo anterior, mas como elemento de análises dentro do processo histórico.

Destarte, a lógica do sistema de atos e procedimentos expressivos não pode ser compreendida independentemente de sua função, que é dar uma tradução simbólica do sistema social "como sistema de inclusão e de exclusão", segundo a expressão de McGuire28, mas também, significar a comunidade e a distinção transmutando os bens econômicos em signos e as ações orientadas para fins econômicos em atos de comunicação (que podem exprimir inclusive a recusa de comunicar). De fato, nada mais falso do que acreditar as ações simbólicas (ou o aspecto simbólico das ações) nada significam além delas mesmas: na verdade, elas exprimem sempre a posição social segundo uma lógica que é a mesma da estrutura social, a lógica da distinção (BOURDIEU, 2007, p.17).

Marx aponta na divisão social do trabalho a construção de interesses difusos, de um setor ao outro, a formação de toda uma gama de subdivisões do trabalho. Tal característica se observa como fonte alimentadora de um conjunto de valores simbólicos que fazem distinção intraclasse para os trabalhadores. Além, de ser demonstrado diretamente como um dos fatores que propiciaram a mudança na organização social do trabalho para o modo toyotista (ANTUNES, 2002).

A divisão do trabalho no interior de uma nação gera, antes de mais nada, a separação entre trabalho industrial e comercial, de um lado, e trabalho agrícola de outro; e com isso, a separação entre a cidade e o campo e a oposição dos seus interesses. Seu desenvolvimento posterior leva a separação do trabalho no interior dos diferentes ramos constata-se, por sua vez, o desenvolvimento de diversas subdivisões entre os indivíduos que cooperam em trabalhos determinados. A posição de cada umas dessas subdivisões particulares em relação às outras é condicionada pelo modo de exploração do trabalho agrícola, industrial e comercial (patriarcado, escravatura, ordens e classes). Essas mesmas relações aparecem quando as trocas são mais desenvolvidas nas relações entre nações. (MARX, ENGELS 1998, p.12).

Dentre as divisões contemporâneas do trabalho uma das consequências é mudança no perfil da classe trabalhadora, tem-se neste aspecto uma caracterização cada vez diversa, heterogênea. A definição dos trabalhadores desloca da noção do operário e passa a contar cada vez mais com subempregados, desempregados, trabalhadores informais, dentre outros.

Estes elementos que apresentamos nos permitem indicar que não há uma tendência generalízante e uníssona, quando se pensa no mundo do trabalho. Há, isto sim, como procuramos indicar, uma processualidade contraditória e multiforme. Complexificou-se, fragmentou-se e heterogeneizou-se ainda mais a classe-que-vive-do-trabalho. Pode-se constatar, portanto, de un lado, um efetivo processo de intelectualização do trabalho manual. De outro, e em sentido radicalmente inverso, uma desqualificação e mesmo subproletarização intensificadas, presentes no trabalho precário, informal, temporário, parcial, subcontratado etc. Se é possível dizer que a primeira tendência - a intelectualização do trabalho manual - é, em tese, mais coerente e compatível com o enorme avanço tecnológico, a segunda – a desqualificação - mostra-se também plenamente sintonizada com o modo de produção capitalista, em sua lógica destrutiva e com sua taxa de asso decrescente de bens e serviços (Mészáros, 1989: 17). Vimos também que houve uma significativa incorporação do trabalho feminino no mundo produtivo além da expressiva expansão e ampliação da classe trabalhadora através do assalariamento do setor de serviços. Tudo isso nos permite concluir que nem o operariado desaparecerá tão rapidamente e, o que é fundamental, não é possível perspectiva nem mesmo num universo distante, nenhuma possibilidade de eliminação da classe-que-vive-do- trabalho (ANTUNES,2002, p.62).

Aparece ainda, além de dificultador da organização política dos que vivem do trabalho como fonte de novas subjetividades e formatações de novas identidades no campo da classe trabalhadora.

Os procedimentos de conduta, cultura expressos em determinadas classes sociais estão entendido nessa proposição mais como efeito do que como causa. Isto é, são derivados das relações de poder do processo econômico e não causa deles. O que leva ao problema de que

mesmo sendo produto da relação econômica que estes mesmos componentes culturais e ideológicos poderiam se reproduzir e produzir economicamente através da forma de capital cultural, conforme descrito por Bourdieu (1984).