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CAPÍTULO 3 – ANÁLISE E IMPACTOS NO TRABALHO DOCENTE NO

3.1 A CONTEXTUALIZAÇÃO DO MÉTODO

O início desse percurso refletirá sobre as análises marxianas em relação ao trabalho dentro do ambiente industrial capitalista do século XIX. A contextualização do trabalho compreende o processo histórico, a sociedade de classes e a reflexão filosófica como atividade de intervenção na sociedade.

O problema de saber se o pensamento humano pode alcançar uma verdade objetiva não é um problema teórico, mas sim um problema prático. É na prática que o homem deve provar a verdade, ou seja, a realidade e o poder do seu do seu pensamento. A conversa em torno da realidade ou irrealidade do pensamento - isolado da prática - é um problema puramente escolástico (MARX, 1974, p.08).

A nova reflexão materialista se distinguiria pela negação do homem como paciente, produto das circunstâncias e afirmando-o enquanto sujeito. A observação crítica de Marx sob Feuerbach inclui a abstração do processo histórico e a idealização do homem como individuo, isolado. A distinção da obra de Marx da tradição filosófica moderna é bem resumida na seguinte assertiva: "Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de modos diferentes; o que importa, porém, é transformá-lo." (MARX, 1974, p.11). Assim, sob essas bases Marx e Engels produzem teoricamente a partir dos marcos do materialismo histórico dialético baseado na utilização e na crítica ao modelo dialético de Hegel.

Cabalmente, o sistema representa, em todos os filósofos, o que é efémero, e isto precisamente porque brota de uma imperecível necessidade do espírito humano: a necessidade de superar todas contradições. Mas quando se superam, de uma vez para sempre, todas as contradições, chegamos à chamada verdade absoluta, a história do mundo terminou e, no entanto, tem de continuar a existir, ainda que já nada tenha que fazer, o que, como é óbvio, representa uma nova e indissolúvel contradição. Assim que descobrimos - e, ao fim e ao cabo, ninguém nos ajudou mais que Hegel a descobri-lo - que a tarefa da filosofia, assim apresentada, significa apenas pretendermos que um só filósofo nos dê aquilo que apenas a humanidade inteira na sua trajetória de progresso nos pode dar; assim que descobrimos isto, toda a filosofia, no sentido tradicional desta palavra, acaba. (MARX, 1974, p.30-31).

A dualidade do sistema Hegeliano colocava a ideia em posição privilegiada, sendo que, esta se encontrava a priori, da matéria. A realidade consistiria ainda, na medida dos sistemas idealistas, como distorção de uma verdade absoluta, calcada no racionalismo delimitaria aquilo que é real, palpável. Essa característica do materialismo Hegeliano é que, sobretudo, opunha Marx ao sistema de Hegel.

Enquanto, para o materialismo, a natureza é o único real, no sistema hegeliano ela representa somente a alienação da ideia absoluta, algo de semelhante a uma degradação da ideia; de qualquer modo, neste sistema o pensar e o seu produto discursivo, a ideia, constituem o primário, sendo a natureza o derivado, aquilo que, no geral, só pode existir por condescendência da ideia. E, ao redor dessa condição, davam-se voltas e mais voltas, melhor ou pior, conforme era possível (MARX, 1974, p.30-31).

A contradição do sistema Hegeliano, entre a ideia absoluta e a natureza, apontava, para Marx, o que em primeiro momento proporcionou vigor em sua teoria, baseado, sobretudo, na grande influencia da política e da religião para, no segundo momento, o esvaziamento, proporcionado principalmente pelo favorecimento do materialismo ao desenvolvimento das ciências naturais e da indústria. Não é com certa ironia que se pode observar que a perda de influencia do sistema Hegeliano se deu pela “força material” do materialismo.

Durante este longo período, desde, Descartes até Hegel e desde Hobbes até Feuerbach, os filósofos, embora o acreditassem, não avançavam apenas graças ao impulso dado pela força do pensamento puro. Pelo contrário. O que na realidade os impelia era, precisamente, os formidáveis e cada vez mais rápidos progressos das Ciências Naturais e da indústria. Nos filósofos materialistas, tal influência era bem patente, mas também os sistemas idealistas se foram enchendo cada vez mais de conteúdo materialista, esforçando-se por conciliar panteísticamente a antítese entre o espírito e a matéria; até que, por fim, o sistema de Hegel não representava já, pelo seu método e conteúdo, senão um materialismo que se apresentava invertido de uma maneira idealista. (MARX, 1974, p.46).

Este apontamento caracteriza a força do que é materialmente estabelecido para além do que é concebido idealisticamente. Dessa forma, para Marx, a história dá vazão às concepções que conjugam seus propósitos com as relações materiais existentes. É, portanto, característica do método histórico dialético e elemento de sua análise. Trata-se da precedência da matéria sobre a ideia e sobre o espírito.

...de que o mundo material e perceptível através dos sentidos, de que nós, homens fazemos parte, e a única realidade, e de que a nossa consciência e o nosso pensamento por muito transcendentes que pareçam, são produto de um órgão material, físico: o cérebro. A matéria não é um produto do espírito: o próprio espírito não é mais que o supremo produto da matéria. Isto é, naturalmente, materialismo puro. (MARX, 1974, p.48).

É no diálogo com as teses Feuerbach que Marx trata de outro elemento fundamental de sua produção materialista: a História. Se existe a precedência da matéria sob a ideal e que a última se toma como produto do desenvolvimento das forças materiais é a história que proporciona o movimento dialético entre os dois polos apontados. Dessa forma, Marx ao refletir sobre o

desenvolvimento das ciências naturais “isenta” Feuerbach do não apontamento da relação do homem com sociedade, para além da relação deste com a natureza.

Feuerbach não teve pois culpa de que lhe pusessem ao alcance a concepção histórica natureza, concepção que agora já é factível e que supera toda a unilateralidade do materialismo francês. Em segundo lugar, Feuerbach tem toda a razão quando afirma que, embora o materialismo puramente naturalista seja o cimento sobre o qual repousa o edifício do saber humano, ele não constitui o próprio edifício. Com efeito, o homem não vive apenas na natureza, mas também na sociedade humana, e esta, tanto quanto a natureza, possui, de igual modo, a história da sua evolução e da sua ciência. Tratava-se pois de estabelecer a harmonia entre a ciência da sociedade e a base materialista, reconstruindo aquela a partir desta; isto é, o conjunto das chamadas ciências históricas e filosóficas. Mas não foi dado a Feuerbach fazê-lo. (MARX, 1974, p.55).

A investigação sobre as coisas brotava, pois, da compreensão dos objetos como prontos e acabados, ou de sua idealização a priori. Dessa forma, pouca importância se tinha sobre o estudo dos processos, identificando o estudo dos objetos em si como prioritário. O conhecimento das coisas, então abstrato, é também, estanque, já que parte da noção da forma como as coisas são. O componente histórico traz a noção do movimento dialético do estudo das coisas e a desmitificar a noção do conhecimento abstrato como conhecimento do real.

...teremos, em todos os momentos, a consciência de que todos os resultados que obtemos são forçosamente limitados e se encontram condicionados pelas circunstâncias nas quais os obtemos; mas já nos não infundirão respeito essas antíteses consideradas irredutíveis pela velha metafísica, ainda em voga: o verdadeiro e o falso, o bom e o mau, o idêntico e o diferente, o necessário e o fortuito; sabemos que tais antíteses apenas têm um valor relativo, que aquilo que hoje consideramos verdadeiro encerra também um lado falso, oculto de momento, mas que virá à luz mais tarde, do mesmo modo que aquilo que agora reconhecemos como falso mantém o seu lado verdadeiro, graças ao qual foi, anteriormente, acatado como verdadeiro; que aquilo que se afirma necessário é composto de toda uma série de meras casualidades, e que aquilo que se julga fortuito não é senão a forma por trás da qual se esconde o necessário, e assim sucessivamente. (MARX, 1974, p.58).

Cabe aqui, a retomada da concepção da filosofia como instrumento de transformação da sociedade. Marx refuta a tese de acaso histórico. O encadeamento do processo histórico se dá pela ação humana. Mas a partir de uma gama de fatores históricos que podem levar à aparência do acaso. Também a história pode ser apreendida a partir de atos dos homens individualmente, marcados pela propriedade moral de suas ações, boas ou más. Resguardada a importância da história coube a Marx a problematização dos determinantes do processo

histórico. Assim análise que traz a problematização do trabalho entende, na visão marxiana que o desenvolvimento histórico depende do processo do desenvolvimento material, das forças produtivas, o que no capitalismo significa da relação capital-trabalho, da relação estabelecida no meio de produção, da sociedade classes.

Se é, pois, o materialismo histórico e dialético o método concebido para análise da realidade, o trabalho e o mundo que o cerca encontra-se em posição central de análise, pois está, intrinsecamente ligado ao que o homem apreende materialmente da natureza, lhe modifica e lhe atribui valor.