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AS CAUSAS DA POBREZA

No documento A pobreza do homem (páginas 115-160)

A pobreza, como fenômeno histórico e socialmente situado, tem sido analisada como conseqüência de vários fatores. Ela já foi considerada um fenômeno causado por elementos sobre-humanos e como resultado da própria natureza.109 Como resultado das relações humanas, ela tem sido analisada como conseqüência de fatores estruturais e conjunturais, e agravada pela conjunção de ambos. Juntamente com o seu caráter social, ressalta-se o seu “viés individual”, ou seja, também tem sido entendida como conseqüência de uma falta de investimento e vontade individuais. A pobreza tem sido analisada, especialmente, como negativa, mas há quem ressalte sua positividade, como visto no capítulo anterior.

Não tratarei de causas da pobreza relacionadas à opção ou à fé. Tampouco discutirei a visão que já a colocou como resultado de um estado da natureza, isto é, como aspecto inerente de uma dada ordem de relações humanas imutáveis. Deter-me-ei em apresentar autores que discutem o aspecto social do fenômeno, ou seja, como sendo conseqüência de relações sociais historicamente situadas – mesmo que em alguns casos seja ressaltado um “viés individual” como causa –, particularmente a partir da consolidação do capitalismo. Estes autores, como já frisado, são aqui definidos como social-democratas.

No modo de produção capitalista, o elemento que se torna central na caracterização do “pobre”, é o trabalho. É a condição de ser trabalhador, ou não, que se coloca, em primeiro plano, para estabelecer quem é e quem não é pobre. Digo em primeiro plano porque o fato de ser trabalhador não colocava, e não coloca, necessariamente, alguém numa condição de detentor dos meios necessários para viver dignamente, conforme os parâmetros estabelecidos. Mas, ser trabalhador era, e é, um requisito para sair de uma condição desfavorável, ou seja, que não permita suprir as “necessidades básicas” e, ao mesmo tempo, pensar em alcançar patamares mais altos de consumo e participação social.

109 Isso não significa dizer que não tais causas deixaram de ser apresentadas como justificativa. A primeira,

Como foi apontado anteriormente, com base em Castel (1998), enquanto que em meados do século XVI o problema era a ausência de um mercado de trabalho, no início do século XIX, o pauperismo foi produzido pela “liberação selvagem” desse mercado de trabalho”. Na metade do século XIV, a peste negra tornou os trabalhadores algo raro, colocando-os na condição de exigir melhores salários. Essa condição se seguiu até o início do século XVI, quando ocorreu uma retomada do crescimento demográfico. Foi também a partir da metade deste século – marcado pelo grande número de mortes causadas pela peste ou pelas guerras – que mudanças no modo de governabilidade da sociedade foram implantadas, principalmente relacionadas à organização do trabalho. Nesta época, os códigos de trabalho passaram a exigir a fixação do trabalhador em seu território e em sua condição (de camponês ou de trabalhador industrial).

Castel parte da análise das corporações como um sistema que, de certa forma, era responsável por uma estabilidade. O estabelecimento de uma relação salarial cessava quando o “companheiro” se tornava “mestre”, passando a ter as prerrogativas sobre o ofício. Segundo o autor, o objetivo mais evidente da comunidade de ofícios era assegurar o monopólio do trabalho nas cidades, não permitindo a concorrência externa, bem como impedir o estabelecimento de uma concorrência interna entre seus membros. Este sistema impedia a livre circulação de mercadorias – o que impedia a concorrência e o aumento da produção – , e a existência de um “mercado de trabalho” – não havia liberdade para a contratação nem para a circulação dos trabalhadores.

O sistema das comunidades de ofício entra em crise, segundo Castel, já no século XIV, diminuindo as possibilidades de um aprendiz chegar a mestre. Esta possibilidade ficaria reservada aos filhos dos mestres. Aqueles que não conseguissem chegar a essa posição, acabavam se tornando assalariados ou trabalhavam em casa. Estes últimos eram perseguidos impiedosamente.110 Esta situação foi alterada com o fortalecimento e desenvolvimento do mercantilismo. Segundo o autor,

a estrutura artesanal dificultou o desenvolvimento de produtores que investissem na produção em si para transformar a empresa e dar-lhe um caráter capitalista industrial. Sem dúvida existe, desde o século XIV e, em todo caso, desde o século XVI, um ‘espírito capitalista’ no sentido que lhe dá Sombart: caracterizado pelo gosto do lucro, pelo sentido do cálculo e da racionalidade, pela vontade de acumular riquezas (ibid., p.161, grifo meu).

O autor explica porque o elemento “progressista” que a sociedade do século XVIII buscou fez do livre acesso ao trabalho, a nova questão social. O livre acesso ao trabalho era uma bandeira dos “partidários e artesões” do iluminismo, mas traria conseqüências devastadoras para a questão social. Como salienta o autor, “apesar de pretender ser uma resposta global e definitiva à questão social, o livre acesso ao trabalho representará, historicamente, apenas uma etapa de sua reformulação no século XIX, sob a forma da questão da integração do proletariado” (ibid., p.212). A partir do século XVIII111, a concepção de “trabalho” é transformada, passando, o trabalho, a ser considerado a fonte de toda a riqueza.

Buscando ressaltar a relação da pobreza com as dinâmicas sociais, Huberman (1986) aponta as guerras do período112 como uma das causas do aumento da miséria generalizada que se estabelecia. Uma outra causa apontada que, segundo o autor, desempenhou um papel indireto, mas importante, foi o Novo Mundo. A retirada de ouro e prata das Américas, riqueza transferida para a Europa – a partir da Espanha – fez com que acontecesse, nesta última, um grande aumento dos preços. Os mercadores são apontados como os que ganharam muito com a alta dos preços. Por outro lado, os governos foram prejudicados em função do aumento das despesas em relação à receita, e os trabalhadores, considerados os grandes perdedores. Conforme Huberman (1986, p.102),

um período de alta de preços é quase sempre também um período de elevação de salários, e portanto seria de esperar que no fim tudo desse certo. Mas há um senão importante nisso: é que os salários jamais acompanharam a elevação dos preços. Os aumentos salariais geralmente têm de ser conquistados com luta. São obtidos por uma ação coletiva deliberada que encontra resistência, ao passo que os preços são elevados pelas operações do mercado. O trabalhador era contra isso. Em fins do século XV o salário de um dia do trabalhador na França correspondia a 4,3 quilos de carne; um século depois valia apenas 1,8 kilo.

111 O autor chama a atenção para a questão demográfica a partir do século XVIII. Baseado em Labrousse, Castel

(1998) lembra que o aumento demográfico se constituiu num problema dessa época. Um mercado de trabalho saturado levou muitos a essa condição de miserabilidade. Essa expansão demográfica, aliada a uma diminuição da fome e a uma libertação das epidemias levou a um aumento do número de pobres. Esta situação pode ser estendida a toda Europa.

Essa alta dos preços levou os trabalhadores a tomarem algumas atitudes como apertar o cinto, lutar por salários compatíveis com o custo de vida maior, ou mendigar. Segundo Huberman, ocorreram as três coisas, em conseqüência da revolução dos preços.113

Os proprietários de terras, sentindo a necessidade de “arrancar” mais dinheiro da terra para acompanharem a alta dos preços, usaram duas estratégias, segundo Huberman: o fechamento das terras114 (que aconteceu, principalmente na Inglaterra), e a elevação dos arrendamentos. Mas, segundo o autor, uma medida que prejudicou milhares de pessoas foi o cercamento de terras para a criação de ovelhas, tendo em vista o aumento do preço da lã, principal produto de exportação da Inglaterra.115

Enquanto para o senhor isto significava mais dinheiro, significava também a perda do emprego e do meio de vida dos lavradores que haviam ocupado a terra que passara a ser cercada. Para cuidar de ovelhas é necessário um número de pessoas menor do que para cuidar de uma fazenda – e os que sobravam ficavam desempregados. Muitas vezes, o senhor achava que para reunir numa só área as várias propriedades espalhadas tinha de expulsar os arrendatários de cujas terras necessitava. Assim fazia, e mais gente perdia seu meio de vida (ibid., p.104).

Huberman registra que religiosos e estudiosos denunciavam essa ambição dos senhores de terras por ter como resultado o aumento do número de desocupados e mendigos. Ele cita a “Oração dos Senhores de Terras”, criada na época, que diz o seguinte:

‘Sinceramente pedimos que eles (que possuem terras, pastos e locais de residências) não possam elevar os arrendamentos de suas casas e terras, nem impor taxas ou pagamentos absurdos. ... Fazei que se possam contentar com o que é suficiente e não juntar casa com casa ou terra com terra para o empobrecimento dos outros ...’ (ibid., p.107).

Mas, segundo o autor, as orações não sustaram o processo. Continuaram as expulsões e aldeias inteiras passavam fome, começando a roubar e mendigar nas estradas. Como as orações não foram suficientes, também foram baixadas leis com o objetivo de sustar o despovoamento das aldeias, já que o exército era recrutado, em grande parte, entre

113 O autor aponta outros seguimentos sociais que perderam com a alta dos preços, a exemplo daqueles que

viviam de rendas fixas.

114 As terras eram cercadas de modo a facilitar o trabalho e aumentar a produtividade. Neste caso, tanto o

agricultor pobre como o rico, se beneficiaram.

115 O autor atenta para o fato de isto já ocorrer antes da “revolução dos preços”, sendo que houve um estímulo

camponeses e pequenos proprietários. Mas estas leis, segundo o autor, não eram cumpridas, visto que foram reeditadas várias vezes.116

Huberman destaca que o fechamento das terras provocou muito sofrimento, mas que, por outro lado, ampliou as possibilidades de melhorar a agricultura. Destaca, também, que quando a indústria capitalista necessitou de trabalhadores, encontrou-os, pelo menos parte, entre os infelizes desprovidos de terra, que a partir daí haviam passado a ter apenas a sua capacidade de trabalho para ganhar a vida.

As causas apontadas, pelos estudiosos da época, para a persistência da indigência, bem como para a possibilidade, sempre constante, de seu aumento estão relacionadas, principalmente, com a condição do trabalhador. Por exemplo, Valban, citado por Castel (1998), se reportou à organização do trabalho para explicar a miséria de parte da população. Ele a atribuiu aos baixos salários, à instabilidade do emprego, às ocupações provisórias, e ao tempo de trabalho e de não trabalho, intermitente.

Em tempos mais atuais, muitos estudos sobre o tema da pobreza foram desenvolvidos e, à medida que apresentam os números das desigualdades, apresentam também as causas e as possíveis soluções para o problema. A principal causa da pobreza, apontada na maioria dos estudos, é a má distribuição de renda. No entanto, elementos mais amplos também são apontados, tais como: “problemas estruturais”117; ausência do Estado no que diz respeito à implantação de políticas sociais; as crises; a globalização como causa desestruturadora; aplicação do receituário neoliberal que impossibilita os países dependentes de vivenciarem um crescimento econômico e de promoverem uma maior distribuição de renda – mesmo que pautada no oferecimento de políticas públicas – em função da canalização da maior parte do PIB para o pagamento da dívida pública (interna e externa); supremacia do capital financeiro no atual momento do capitalismo, com conseqüente diminuição do capital industrial, causando uma diminuição do emprego e, consequentemente da renda e do acesso a alguns benefícios vindos do trabalho formal; falta de cidadania e de poder político por parte do pobre; e estrutura social incompatível com a possibilidade de dar sustentação, principalmente de forma equânime, ao nível de consumo que vem se estabelecendo a cada época.

116 Segundo Huberman (1986), a primeira lei neste sentido foi baixada em 1489 e depois, várias outras durante

todo o século XVI.

117 O termo “problemas estruturais” aparece na literatura de forma pouco especificada, o que dificulta entender

De modo geral, esses são os elementos que têm dado o tom no debate sobre as causas da pobreza. Elementos que afetam todo o globo; elementos que afetam de maneira mais intensa os países ditos “em desenvolvimento”. São elementos que, dificilmente, podem ser abordados de forma isolada e, por isso, acabam sendo citados na maioria dos estudos, mesmo que seja dada ênfase a algum ou alguns em particular. Estudar cada um deles demandaria tempo e muito trabalho, apesar de, em muitos estudos, termos como globalização, capital financeiro, Estado, crise, entre outros, serem utilizados sem nenhuma especificação. Este me parece um grande problema, pois o tratamento dado a estes conceitos/categorias analíticas acabam provocando problemas de análise e compreensão.

Neste item dialogarei com autores já citados e com outros cujos trabalhos não apresentaram um destaque em relação à definição de pobreza, mas se detiveram nas causas e nas soluções. Todos estes autores tomam a pobreza como “falta”. Na busca por uma definição de “pobreza”, foram ressaltadas duas dimensões: uma “econômica” (falta de recursos materiais básicos), e outra “política” (falta de cidadania). Como já foi frisado anteriormente, não são dimensões excludentes, mas que ganham níveis de prioridade diferentes a depender da análise. É necessário lembrar que, na minha visão, esta hierarquização dificulta a compreensão do fenômeno. Porém, a constatação de que isto ocorre, não poderia ser ignorada. Também apresentei uma “visão diferenciada”. Esta mesma categorização se mantém para a apresentação das causas.

1 – A ênfase na “dimensão econômica”.

Os autores aqui apresentados apontam uma série de causas para a criação e manutenção da pobreza. Essas causas giram em torno de uma causa central que é a questão econômica. Aponto, então, como autores que enfatizam a “dimensão econômica”, todos aqueles que se utilizam, prioritariamente, da compreensão de pobreza como “falta de recursos materiais básicos” para ter uma vida cujo padrão está acima daquele definido como linha de pobreza. Estes autores põem na expressão econômica (ou material) do fenômeno o peso maior para a sua compreensão. Como já foi frisado, isto não significa que ignorem a “dimensão política” ressaltada pelo outro grupo de autores que será apresentado no próximo item. Também é necessário adiantar que alguns se dedicam a uma análise local e regional e outros a uma análise global. Se, a princípio, possa parecer que as análises locais ou regionais

dificultem a apreensão do fenômeno como fenômeno global, isto não acontece, tendo em vista que, mesmo tomando questões peculiares, a análise, tanto local como regional é permeada por elementos globais, o que expressa uma compreensão de conjunto a respeito do fenômeno em si, independentemente da focalização do estudo.

Segundo Abranches (1987), referindo-se à década de 1980, no Brasil conviviam duas formas de pobreza: uma de natureza estrutural, tida como arraigada e persistente e que estava associada historicamente ao padrão de desenvolvimento; uma outra, de natureza cíclica, agravada pela crise de desemprego, queda da renda, concentração crescente da renda e aceleração da inflação.

Para este autor, os pobres não melhoram sua situação porque têm menos oportunidades, não lhes sobrando tempo e espaço para acumular, mesmo que de forma gratuita, os recursos que possibilitariam uma melhor condição de vida. Isto acontece, segundo o autor, porque os pobres, em função de sua sobrevivência, gastam mais horas trabalhando ou em busca de qualquer trabalho, inviabilizando o investimento em educação, em cuidados com a saúde, no exercício da criatividade, na ação política, no lazer, e na busca de melhores opções de trabalho e renda. Neste caso, “a dimensão física, biológica mesmo, da pobreza é inescapável, ainda que a ela estejam associadas outras dimensões, sociais, políticas e culturais, também relevantes” (ibid., p.17, grifo meu).118 A destituição é resultado da ação de mecanismos estruturais na economia119 que causam a privação, cíclica ou continuada, dos meios de trabalho e vida de parte da população. Apesar de o capitalismo produzir riqueza crescente, produz em meio a desequilíbrios e descompassos que determinam surtos recorrentes de destituição.

Em certo sentido, Abranches vai ao encontro a alguns liberais como Ul Haq (1978) e Galbraith (1979), principalmente quando este segundo assevera que a própria pobreza dos países pobres nega, à população pobre, os meios que poderiam proporcionar melhoramento. Isto me parece o mesmo que dizer que os pobres não melhoram sua situação porque têm menos oportunidade. Uma diferença entre os dois reside no fato de que Galbraith reforça, um pouco mais, o aspecto individual na busca pela saída da condição de pobre, o que é um pressuposto liberal. Abranches destaca o aspecto social que, de certa forma, enquanto ênfase, aparece como um diferencial da social-democracia.

118 Estas outras dimensões, por sua vez, no meu entender, dariam conta de uma compreensão subjetiva da

pobreza, referida por Salama e Destremau (1999), bem como referencia o que foi denominado como “dimensão política” a partir de Demo (1996), Costa (1998), Fernandes (1998) e Telles (2001).

Barros, Henriques e Mendonça (2000), fazendo uma análise da realidade brasileira, afirmam que a principal causa da desigualdade e da pobreza no país é a “perversa” desigualdade na distribuição de renda, bem como das oportunidades de inclusão econômica e social. Partem do pressuposto que “o Brasil não é um país pobre, mas um país com muitos pobres” (ibid., p.123). Os autores fazem sua análise utilizando, exclusivamente, a dimensão de insuficiência de renda, o que leva a apresentar dois determinantes imediatos da pobreza, ou seja, “a escassez agregada de recursos” e a “má distribuição dos recursos existentes”.

Em relação à “escassez de recursos”, os autores concluíram que a pobreza no Brasil não deve ser associada prioritariamente a este aspecto, visto que o país não pode ser considerado um país pobre. Num estudo comparativo com a situação de outros países, os autores concluem que, na média, o nível de pobreza no Brasil é significativamente maior do que nos países com renda per capita semelhante a nossa. Isto coloca a “má distribuição dos recursos” como o ponto central da explicação da pobreza no Brasil.

Os autores assumem, como ponto de vista, que “a distribuição perfeitamente eqüitativa dos recursos, produzindo uma sociedade de indivíduos idênticos no que se refere à renda, não necessariamente é justa, nem desejada.” (ibid., p.129). Mas fazem um exercício de construção de um estado da natureza hipotético para estimar o volume de recursos necessários para erradicar a indigência e a pobreza no país. Utilizando a renda familiar per capita, concluem que uma transferência de 7% da renda das famílias seria o suficiente para retirar toda a população excluída da pobreza.120 Portanto, partindo deste entendimento, defendem que a pobreza poderia ser solucionada a partir da distribuição de recursos, como veremos, mais detalhadamente, no próximo capítulo.

Rocha (1995) afirma que a crise dos anos de 1980 causou grande frustração à sociedade brasileira que via o país caminhar, a passos largos, rumo à riqueza e à modernidade. A renda per capita decaiu 8%, de 1980 a 1992, o que “rompeu a tradição brasileira de forte crescimento e acentuada mobilidade que permitiam a convivência com desequilíbrios estruturais que, embora indesejáveis, eram aceitos como inevitáveis e passageiros” (ibid., p.221). Esse declínio da renda aumentou os conflitos distributivos.

Segundo a autora, em 1990, a população pobre no Brasil era de 30%, cerca de 42 milhões de pessoas. A pobreza brasileira tem um forte componente regional, sendo maior no norte e no nordeste, reduzindo-se em direção ao sul. Outro elemento importante, apresentado

120 Os autores utilizaram os dados relativos às linhas de pobreza da Região Metropolitana de São Paulo no

pela autora, é que a pobreza no Brasil é bem mais elevada em áreas rurais. Porém, tomando toda a população e considerando a urbanização, mais de dois terços dos pobres são pobres urbanos (metropolitanos ou não-metropolitanos).121 Os indigentes representavam 12% da população brasileira, cerca de 16,6 milhões de pessoas em 1990.122

Em relação à pobreza rural e urbana, Soares (2004) reforça a tendência do aumento da pobreza urbana. Segundo o diagnóstico feito para o Projeto Fome Zero123, citado pela autora, em termos absolutos, não havia uma concentração da pobreza e da fome nas áreas rurais do nordeste. A estimativa em 2001 era que a metade dos pobres encontravam-se em áreas urbanas não-metropolitanas que, somados aos das regiões metropolitanas, representavam 74% dos pobres do país. A autora afirma, citando dados da CEPAL124, que esse diagnóstico coincide com a tendência de aumento da pobreza urbana em toda a América Latina nas últimas duas décadas. Mesmo que a pobreza rural continue superando a urbana em

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