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AS COMPETÊNCIAS DO MUNICÍPIO NO ESTADO FEDERAL

No documento 2018JanainaOliveira (páginas 56-60)

CAPÍTULO II – AUTONOMIA DO MUNICÍPIO BRASILEIRO

3.2 AS COMPETÊNCIAS DO MUNICÍPIO NO ESTADO FEDERAL

A Constituição de 1988 ao preceituar o sistema de Estado Federal, preconiza a descentralização e, diante disso, passa a contar com um sistema de repartição de competências e a definição das autonomias dos seus entes.

146

Constituição Federal de 1988. Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado (BRASIL, 1988).

147

SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2017. p. 859.

148

MORAES, 2017. p. 295.

149

Por meio da repartição de competências, norteia-se todo o estado federal, podendo ser considerada componente elementar para sua configuração150. É a Magna Carta a responsável por delinear o que cabe a cada um dos entes federativos.

Assim, é crucial compreender que a Constituição Federal rege todo o estado, prevendo as competências aos entes federados, que compartilham de poderes estabelecidos no ordenamento. Desse modo, “a autonomia e seus elementos essenciais (auto-organização e autogoverno) implica uma repartição de competências legislativas e administrativas

constitucionalmente assegurada (no âmbito da Constituição Federal)”151.

A priori, quanto às competências, concerne esclarecer seu significado, podendo, para

isso, serem observados os ensinamentos de José Afonso da Silva, o qual esclarece que “competências são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções”152.

As competências, portanto, estão dispostas na Magna Carta e são divididas entre os ntes da federação através de diferentes formatações, afinal nenhuma federação é igual a outra. Nessa conjuntura, esse arranjo pode assumir configurações variadas, que vão desde formas residuais até as competências inerentes a cada ente153.

Cumpre destacar que essa descentralização, através da repartição de competências, “é um pressuposto para que, pela autonomia dos entes, venha a concretizar-se o Estado federal”154

. Assim, a partilha de competências é feita de dois ângulos distintos, definidos na doutrina por sistema vertical ou horizontal. De forma condensada, pode-se afirmar que o sistema vertical prevê as competências concorrentes e o sistema horizontal é aquele que enumera as competências de cada ente, tratando assim das competências privativas.

Ou seja, o sistema horizontal abrange as competências que são consideradas exclusivas de cada um dos entes federados, enquanto na repartição vertical há uma competência concorrente para União, Estados-membros e Distrito Federal, à medida que, para o município, uma competência legislativa complementar.155

150

DOMINGUES, Rafael Augusto Silva. A competência dos Estados-membros no direito urbanístico: limites da autonomia municipal. Belo Horizonte: Fórum, 2010. p. 83.

151

SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2017. p. 861. (grifou-se).

152

SILVA, 2013. p. 483.

153

STRECK; MORAIS, 2001. p. 160.

154

BOFF, Salete Oro. Reforma tributária e federalismo: entre o ideal e o possível. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005. p. 70.

155

A distribuição das competências também observa o princípio da predominância do interesse. E, por esse ângulo, Giovani da Silva Corralo esclarece:

A repartição de competências segue no Estado federal brasileiro a lógica da predominância de interesse, cabendo à União os assuntos de interesse geral da Federação; aos estados, o interesse regional e, aos municípios, o interesse local; ao Distrito Federal, por sua vez, cabe o acúmulo das competências estaduais e municipais156.

Destarte, há de se destacar a predominância do interesse, que vai nortear a divisão das competências dentre os entes da federação, configurando o chamado federalismo cooperativo. Seguindo esse contexto, Alexandre de Moraes leciona que “pelo princípio da predominância

do interesse, à União caberá aquelas matérias e questões de predominância do interesse geral,

ao passo que aos Estados referem-se as matérias de predominante interesse regional e aos municípios concernem os assuntos de interesse local”157.

As definições de competência estão explícitas na Constituição Federal de 1988, e podem ser observadas da seguinte forma: os arts. 21158 e 22159 estipulam as competências da União; observando os arts. 29160 e 30161 da Magna Carta, constata-se as competências dos municípios, sendo reservada as competências residuais para os estados-membros.

Porém, cabe esclarecer que as competências não se restringem somente às supracitadas, uma vez que o ordenamento constitucional ainda prevê a presença da chamada competência comum, a qual é uma espécie de competência coletiva entre todos os entes.

156

CORRALO, Giovani da Silva. Curso de direito municipal. São Paulo: Atlas, 2011. p. 50.

157

MORAES, 2017. p. 322. (grifou-se).

158

Constituição Federal de 1988. Art. 21. Compete à União: I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais; II - Declarar a guerra e celebrar a paz; III - assegurar a defesa nacional; IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal; [...] (BRASIL, 1988).

159

Constituição Federal de 1988. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II - desapropriação; III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V - serviço postal; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; VIII - comércio exterior e interestadual; IX - diretrizes da política nacional de transportes (BRASIL, 1988).

160

Constituição Federal de 1988. Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos (BRASIL, 1988).

161

Constituição Federal de 1988. Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual (BRASIL, 1988).

Nesse ponto, “são competências comuns entre outras, zelar pela guarda da constituição, das leis e das instituições democráticas; conservar o patrimônio público; cuidar da saúde, da assistência pública, da proteção e da garantia das pessoas portadoras de deficiência [...]”162

.

Ainda, vale destacar que as competências possuem diversas classificações, pois, “o regime de competências pode ser classificado quanto à forma, ao conteúdo, à extensão e à origem”163

. Aliás, essa repartição de competências tem como escopo garantir o equilíbrio federativo164.

Em síntese, diante do exposto, pode-se afirmar que as competências participam de duas divisões, sendo elas: 1) Divisão horizontal, onde podem ser enumeradas (exclusiva ou privativas) ou remanescentes; e 2) Divisão vertical: comum ou concorrentes.

Diante desse contexto, as chamadas competências enumeradas estão claramente elencadas na Constituição, são taxativas, enquanto as remanescentes, por sua vez, são aquelas que “sobram para uma entidade após a enumeração das competências de outra entidade federativa”165

.

Quanto às competências e suas divisões, Giovani da Silva Corralo destaca a forma de como elas são ordenadas na Constituição vigente, referindo assim:

[...] o texto constitucional enumerou competências à União e aos Municípios, recaindo aos Estados a denominada competência residual ou remanescente. A mesma logicidade está presente quando se tem por base as competências comuns e concorrentes166.

Já, no campo da extensão, as competências alcançam quatro formas, as quais podem ser concorrentes entre todos os entes, comuns, privativas ou exclusivas. As chamadas concorrentes são aquelas que respeitam a hierarquia dos entes, ou, nas palavras de Rafael Augusto Silva Domingues, “consistem na possibilidade que mais de um ente tem de dispor ao mesmo tempo sobre determinada matéria”167.

Em sequência, cumpre explicar que as competências comuns são aquelas que, respeitando os preceitos constitucionais, os quatro entes federativos podem legislar,

162 BERNARDI, 2011. (grifou-se). 163 CORRALO, 2014. p. 179. 164 BOFF, 2005. 165 DOMINGUES, 2010. p. 93. 166 CORRALO, 2011. p. 51-52. 167 DOMINGUES, 2010. p. 102.

objetivando uma harmonia nacional168, enquanto por “competência privativa, deve-se entender aquela exclusiva para desempenhar certas atribuições”169

.

Em suma, as competências podem ser divididas de forma administrativa e legislativa. O artigo 30 da Constituição confere um rol de competências dos municípios, além daquelas que forem de interesse local. Já, no âmbito legislativo, ao município fica determinado perante o artigo 30, I, II da Magna Carta, também a competência suplementar, isto é, a que “consiste na autorização de regulamentar as normas legislativas federais ou estaduais, para ajustar sua execução a peculiaridades locais [...]”170.

Coerente com isso, pode-se afirmar que “a repartição de competências é um pressuposto para que, pela autonomia dos entes, venha a concretizar-se o Estado Federal”.171 Destaca-se também que a repartição das competências é feita com base no interesse, que pode ser nacional, regional ou local172.

Por fim, diante de todo o contexto descrito, também se faz de suma importância esclarecer que a competência para criação de municípios é dos estados-membro, mas cabe ao município a competência para se organizar173, conforme previsto na própria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 30.

Após o entendimento e a compreensão das competências dos entes federativos, em especial as relativas aos municípios, cabe, na continuidade, o estudo das autonomias municipais, verificando o contexto de cada uma concomitantemente com o disposto no atual ordenamento constitucional.

No documento 2018JanainaOliveira (páginas 56-60)