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As concepções maternas sobre o desenvolvimento infantil: relevância para a

CAPÍTULO II: A Perspectiva da Interação Social dos Estudiosos da Linguagem

2.3 As concepções maternas sobre o desenvolvimento infantil: relevância para a

As interações diádicas entre mãe e filho são pautadas pelas concepções parentais, que consistem no conhecimento dos pais sobre o desenvolvimento infantil. De acordo com Seidl de Moura et al. (2004), o conhecimento acerca do desenvolvimento infantil está diretamente

relacionado ao sistema de crenças parentais, influenciando de forma decisiva na interação estabelecida entre os pais e os filhos. O conhecimento dos pais diz respeito às crenças sobre os períodos mais indicados para a aquisição de determinadas habilidades, como as habilidades motoras, perceptivas e cognitivas.

A dimensão cultural, através da compreensão sobre a natureza infantil, sobre a estrutura e o significado do comportamento humano, está relacionada ao emprego atual do conceito de crença sobre o desenvolvimento infantil (Sachetti, 2009). No entanto, de acordo com Ribas, Seidl de Moura e Ribas Junior (2003), não há um consenso sobre a melhor forma de definir as cognições parentais e as crenças. O que se sabe é que essas crenças e cognições são mediadores que influenciam as práticas de assistência e cuidado às crianças. Logo, quanto mais conhecimento sobre as cognições sociais ligadas à criação e educação dos filhos, melhor será a compreensão sobre como lidar com estes e melhor será o entendimento sobre os processos relacionados ao desenvolvimento infantil.

A relação entre a compreensão das crenças maternas e os cuidados que são estabelecidos com as crianças também está relacionada a alguns aspectos sociais, como a escolaridade materna. Segundo Ribas Junior, Seidl de Moura e Bornstein (2007), os estudos comprovam que esta é uma variável que está associada ao conhecimento materno sobre o desenvolvimento infantil. Portanto, mães que apresentam uma escolaridade mais completa, apresentam também mais conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil e, consequentemente, tendem a estabelecer relações sociais mais favorecedoras ao desenvolvimento de forma geral. Para Sachetti (2009), a mãe é a pessoa que mais vínculo estabelece com a criança e com os cuidados no dia-a-dia, sendo fundamental o entendimento da forma com que ela pensa sobre as habilidades infantis, haja vista a possível relação que pode existir entre ambos.

Conforme ressaltado ao longo do presente estudo, quando se trata de uma criança com necessidades educativas especiais, o desenvolvimento irá percorrer um caminho diferente em relação às crianças com desenvolvimento típico, isto é, segue uma ordem própria (França- Freitas & Gil, 2012). As diferenças na interação da mãe com a criança deficiente visual quando comparada com as mães de crianças com desenvolvimento típico podem ser resultantes do não conhecimento materno acerca do potencial da criança ou até mesmo pelo fato da mãe, no momento em que recebe o diagnóstico, passar por uma fase de desajuste emocional. Cunha e Enumo (2003) atentam para a importância de conhecer as representações que os pais e demais familiares têm sobre as dificuldades da criança, haja vista que essas representações influenciam a forma de interagir com a criança.

Turiel (2010) relata que boa parte do tempo das crianças é transcorrido em interações familiares, sendo necessário compreender a influência familiar no desenvolvimento infantil, através de práticas de cuidado e proteção. Todavia, essa compreensão não é uma tarefa fácil, posto que com as experiências e mudanças culturais, as ideias dos pais sobre a forma de criar os filhos podem se modificar.

Conforme visto, um motivo responsável pelo atraso no desenvolvimento da criança com deficiência visual diz respeito às condições familiares que não fornecem possibilidades aos deficientes visuais incrementarem seus potenciais. Para a criança com deficiência visual, a ausência da visão como função perceptiva responsável pela integração e formação de imagens, representações e conceitos, além de interferir no desenvolvimento motor, também influencia na relação estabelecida com o adulto.

No caso de crianças com deficiência visual, concorda-se com Souza (2003) quando afirma que as mães precisam estar ainda mais atentas para as novas aquisições e os novos comportamentos, cientes da importância do seu papel no estabelecimento de oportunidades que possibilitem à criança o desenvolvimento de suas habilidades. Todavia, pela crença de

que a criança deficiente visual tem algumas limitações e características diferenciadas quando comparada à criança vidente, muitas das oportunidades que estas crianças precisariam para a aquisição das novas habilidades, deixam de ser propiciadas, e o atraso no desenvolvimento acaba acontecendo, não estando, portanto, diretamente relacionado à ausência visual.

De acordo com Hekavei e Oliveira (2009), o conhecimento das percepções maternas, considerando o fato da mãe ser a principal cuidadora da criança nos primeiros anos, é relevante para o planejamento de intervenções socioeducativas com crianças com necessidades educativas especiais, sendo importante atuar junto às mães no que diz respeito aos valores que possuem. Portanto, é fundamental compreender como acontece o desenvolvimento das habilidades infantis em crianças com deficiência visual, especialmente quando se considera a interação estabelecida com a mãe, cuja atuação verbal e não verbal será primordial para a aquisição motora, linguística e social da criança.

Ademais, as interações iniciais são o ponto de partida através das quais serão organizadas as relações subsequentes. Para os pais de crianças com deficiência, especificamente as crianças deficientes visuais, serão relevantes os programas de intervenção que visem facilitar a comunicação inicial adulto-criança com deficiência visual, a partir de estratégias que demonstrem as reais capacidades infantis e a importância do estabelecimento de condições que favoreçam o pleno desenvolvimento, através de ações que permitam a exploração do ambiente e as constantes trocas interativas. De acordo com Chalhub (2004), as crianças com sentimentos de segurança e de independência apresentam maiores capacidades de explorar o ambiente, acarretando, assim, em novas competências nos aspectos sociais, cognitivos, emocionais e linguísticos.

Faz-se necessário estudar o desenvolvimento da criança com deficiência visual, especificamente os comportamentos comunicativos, considerando que há, dentro dessa população, variáveis responsáveis pela grande heterogeneidade no que diz respeito ao

diagnóstico, às causas e sobretudo à forma com que o adulto interage com a criança, facilitando ou dificultando o aprimoramento das suas habilidades. De acordo com Valmaseda (2004), as características do desenvolvimento das crianças com deficiência visual (cegueira) bem como o planejamento de intervenções educacionais são dependentes das trocas entre a criança e os contextos nos quais está inserida, o que, por conseguinte, promove o seu desenvolvimento e a sua aprendizagem.

Diante destas considerações, são expostos os objetivos do presente estudo e logo em seguida são caracterizados os aspectos metodológicos, com ênfase no tipo de estudo, na caracterização dos participantes, nos instrumentos utilizados bem como nos procedimentos de coleta e análise dos dados, além dos preceitos éticos adotados.

OBJETIVOS

Geral:

- Analisar, longitudinalmente, a interação mãe-criança com deficiência visual e identificar o desenvolvimento linguístico infantil a partir das habilidades sociocomunicativas das crianças, incluindo o vocabulário expressivo.

Específicos:

- Identificar os comportamentos comunicativos maternos na situação de brincadeira livre e na situação de brincadeira estruturada;

- Identificar as estratégias comunicativas maternas presentes na situação de brincadeira livre e na situação de brincadeira estruturada;

- Verificar e analisar os comportamentos comunicativos infantis;

- Analisar a ocorrência de episódios interativos, através da identificação de cenas de atenção conjunta;