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As configurações climáticas no Sul do Brasil e suas influências na pluviosidade

1.2 VARIABILIDADE CLIMÁTICA E PLUVIOSIDADE: FUNDAMENTOS TEÓRICOS,

1.2.2 As configurações climáticas no Sul do Brasil e suas influências na pluviosidade

A configuração climática de um determinado local é condicionada por elementos e fatores do clima, os quais, em permanente interação, estipulam a dinâmica da atmosfera sobre os diferentes lugares. Diante deste contexto, o Brasil apresenta uma considerável tipologia climática, em decorrência da sua extensão territorial, da conjunção entre os elementos atmosféricos e das suas particularidades geográficas. Estes processos refletem-se do ponto de vista dos regimes pluviométricos ao longo do país, atrelados, sobretudo, à atuação e à sazonalidade dos sistemas convectivos de macro e mesoescala (MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2007).

No sul do Brasil o posicionamento geográfico em médias latitudes e as configurações do relevo associados aos centros de ação e massas de ar atuantes conferem à região uma condição de zona de transição climática (NIMER, 1979; NOGAROLLI, 2007; NASCIMENTO JUNIOR, 2013), com a predominância da tipologia C (Climas Temperados Chuvosos e Moderadamente Quentes), especificamente Cfa (Clima Subtropical Úmido) e Cfb (Clima Temperado), segundo a classificação de Köppen (ALVARES et al., 2013) – FIGURA 05.

O Clima Cfb caracteriza a área de estudo desta dissertação, apresentando verões amenos, chuvas uniformemente distribuídas, temperatura média do mês mais quente inferior a 22ºC e geadas severas e frequentes (IAPAR, 2000; JORGE, 2015). Trata-se de um clima zonal nitidamente subtropical (MONTEIRO, 1968), cujas

principais características são as estações do ano bem definidas, a regularidade nos regimes pluviométricos (ainda que mais significativos no verão), amplitudes térmicas acentuadas e baixas temperaturas no inverno, com ocorrências frequentes de geadas e, eventuais precipitações em forma de neve (NIMER, 1979; GRIMM, 2009a).

Os sistemas atmosféricos tropicais e polares atuam na configuração desta unidade climática (FIGURA 05), quais sejam: Massa Polar Atlântica (mPa - originária

do Anticiclone Migratório Polar – fria e seca), Massa Tropical Atlântica (mTa - originária no Anticiclone Semifixo do Atlântico – quente e úmida) e Massa Tropical Continental

(mTc - originária da Depressão do Chaco – quente e seca). Além disso, a Massa Equatorial Continental (mEc - originária do Anticiclone da Amazônia – quente e úmida) também apresenta atuações, particularmente, na caracterização da estação de verão, com influência da Zona de Convergência do Atlântico Sul – ZCAS, marcada por uma banda de nebulosidade entre a região Norte e Sudeste-Sul do país (MONTEIRO, 1968; MENDONÇA, 2000; MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2007; CARVALHO e JONES, 2009; BORSATO E MENDONÇA, 2014).

FIGURA 05 - CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA: TIPOLOGIA, CENTROS DE AÇÃO E SISTEMAS ATMOSFÉRICOS NO BRASIL

As condicionantes de um clima de transição fazem com que se verifiquem regimes pluviométricos unimodais, bimodais e trimodais (GRIMM, 2009a), sendo que na maior parte do Estado do Paraná e de Santa Catarina a estação chuvosa ocorre nos trimestres de dezembro-janeiro-fevereiro e janeiro-fevereiro-março.

Do ponto de vista da gênese das chuvas no Estado do Paraná, autores como Nimer (1979), Troppmair (1990), Mendonça (2000), Mendonça e Danni-Oliveira (2007), Nogarolli (2007; 2010) e Nascimento Junior (2013) evidenciam que os sistemas produtores de chuva são antagônicos em suas gêneses e características termofísicas, bem como são influenciados pela geomorfologia.

Dessa forma, no verão o aquecimento da superfície e os aportes de umidade que adentram o continente e instabilizam a atmosfera se destacam, de modo a intensificarem as ciclogêneses e as precipitações convectivas (rápidas e concentradas). Em contrapartida, no outono e no inverno predominam as oposições entre a Massa Tropical Atlântica (mTa – quente e úmida) e a Massa Polar Atlântica (mPa – fria e seca), culminando no favorecimento de chuvas frontais, marcadas por continuidade temporal e longas extensões espaciais (MONTEIRO, 1968; NIMER, 1979; TROPPMAIR, 1990; NOGAROLLI, 2007; GRIMM, 2009a; JORGE, 2015).

Além disso, nas estações de transição os Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM’s), atrelados aos jatos subtropicais de altos níveis (JAN), ganham relevância, com deslocamentos de oeste para leste na região, sendo responsáveis por grande parte das precipitações no período (GRIMM, 2009a). De acordo com Dias et

al. (2009) tratam-se de fenômenos de mesoescala com alta atividade convectiva da

atmosfera, sendo marcados por um agrupamento de nuvens do tipo Cb (Cumulonimbus).

Para Monteiro (1968) e Nimer (1979) os sistemas frontais, caracterizados pelo encontro de massas de ar com características térmicas e higrométricas distintas, são os principais agentes produtores de chuva no sul do país durante o ano todo, com destaque para os meses de inverno, nos quais as incursões das frentes (frias) são mais expressivas. Neste sentido, autores como Mendonça (2000) e Mendonça e Danni-Oliveira (2007) reiteram que quando esse sistema não é responsável diretamente pela gênese das chuvas, ele atua de maneira indireta, dinamizando as linhas de instabilidade e promovendo associações com os ciclones extratopicais e vórtices ciclônicos em altos níveis.

Cavalcanti e Kousky (2009) destacam médias de 30 a 45 passagens anuais de sistemas frontais no sul do Brasil. De modo semelhante, dados dos relatórios do Climanálise (INPE/CPTEC) apontam para uma média climatológica de 6 passagens mensais de sistemas frontais no Brasil entre as latitudes 35ºS e 25ºS, sendo mais expressivos nas porções litorâneas, devido a formação de frontogêneses no oceano e aos bloqueios atmosféricos no continente (JORGE, 2015) – FIGURA 06.

FIGURA 06 – MÉDIA ANUAL DA PASSAGEM DE SISTEMAS FRONTAIS NO SUL DO BRASIL (1997 – 2011)

FONTE: Jorge (2015)

Do ponto de vista da variabilidade espacial da pluviosidade no Paraná, Maack (1981), Nery et al. (1997), IAPAR (2000) e Nogarolli (2007) realizaram regionalizações das chuvas, evidenciando tanto as variações espaço-temporais, como as regiões homogêneas de pluviosidade no Estado. De modo conjugado, os referidos estudos

também permitiram constatar relações das chuvas com a dinâmica dos sistemas atmosféricos e com o relevo, bem como maiores aportes pluviais nas porções do litoral e do sudoeste do Estado (FIGURA 07).

FIGURA 07 - REGIONALIZAÇÃO DAS PRECIPITAÇÕES NO ESTADO DO PARANÁ

FONTE: Nascimento Junior (2013) baseado em Maack (1981), Nery et al. (1997), IAPAR (2000) e Nogarolli (2007)

Nery et al. (1997; 2002) e Silva (2006) reiteram que as precipitações, sobretudo, na porção leste são reguladas pela orografia e pela brisa marítima, de modo que se notam volumes mais expressivos de chuva em maiores altitudes, associadas à ascensão da umidade nas barreiras topográficas, destacando a relevância do relevo nos regimes pluviais, assim como também evidenciaram estudos de Boin (2000).

Neste sentido, nota-se que estas condicionantes climáticas apresentam reflexos do ponto de vista da área de estudo desta dissertação, sobretudo, no que tange a proximidade com a Serra do Mar, a qual desempenha um papel relevante do ponto de vista do regime pluvial da porção leste da região Sul (MARQUES et al., 2008), principalmente, na planície litorânea e primeiro planalto, no contexto paranaense.

Ademais, cabe ressaltar ainda, que autores como Grimm et al. (1998), Grimm (2009a; 2009b); Nascimento Junior (2013), Jorge (2015), Pinheiro (2016), entre outros, também destacam a influência de variabilidades interanuais e interdecenais como moduladoras das chuvas no Estado e na área de estudo, cujos conceitos e dimensões são discutidos no item a seguir.

1.2.3 Variabilidades interanuais e interdecenais: ENOS e ODP como moduladores das