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2. DE QUE MODO O RECONHECIMENTO JURÍDICO DA ENTIDADE FAMILIAR

2.3 O STF e o julgamento da ADPF 132 e ADI 4277

2.3.1 As consequências da decisão no âmbito da adoção e do casamento

eficácia erga omnes, ou seja, para todos, os demais órgãos do Judiciário e da Administração Pública estão obrigados a reconhecerem que a união homoafetiva constitui uma família e não uma sociedade de fato.

Nesse sentido, tal equiparação à união estável heterossexual, não obstante as divergências pontuais de alguns ministros deve beneficiar os casais homoafetivos que almejam adotar, afinal, o art. 42, §2º do Estatuto da Criança e do Adolescente permite a adoção conjunta para os adotantes casados civilmente ou em união estável, desde comprovada a estabilidade da família.

Anteriormente, conforme já explicitado, as decisões judiciais que vetavam a adoção por pares homossexuais, tinham como fundamentação a concepção de que a adoção deveria ser feita por um casal formado por um homem e uma mulher, visto que somente a diversidade de sexo configurava a união estável.

A partir da decisão do Supremo Tribunal Federal, sobretudo, por conta da possibilidade jurídica de converter união estável em casamento73, diversos Estados brasileiros

73 A lei 9.278 de 1996, que disciplina a união estável, dispõe em seu artigo 8º: "Os conviventes poderão, de

comum acordo e a qualquer tempo, requerer a conversão da união estável em casamento, por requerimento ao Oficial do Registro Civil da Circunscrição de seu domicílio".

começaram a permitir o casamento civil de pares homoafetivos, conforme pode ser visto na imagem 74 abaixo.

É em meio a esta onda de casamento civil igualitário, que no dia 15 de maio de 2013, uma importante decisão ocorre. Pondo fim as disparidades entre os estados, o Conselho Nacional de Justiça aprovou, por maioria de votos dos conselheiros - 14x1 - a Resolução n° 175, que autoriza, de uma vez por todas, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, seja por meio de habilitação direta, seja por meio da conversão de união estável, em todo o território nacional,conforme pode ser averiguado abaixo:

Art. 1º - É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo.

Art. 2º - A recusa prevista no artigo 1º implicará a imediata comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis.75

Salienta-se que sob o argumento de que o CNJ se apropriou de prerrogativas do Congresso por ter aprovado uma norma que não passou pelo processo legislativo o Partido

74 A Justiça destes Estados publicou provimentos que autorizam o casamento civil para homossexuais em qualquer cartório, com as mesmas exigências e deveres dos casais heterossexuais. Ainda faltavam 14 Estados para o Mapa ficar completamente colorido. Este mapa foi criado pela comunidade Homofobia Não, do Facebook. Disponível em: http://ongrevida.blogspot.com.br/p/casamento-civil-igualitario.html. Acesso em 18/07/2013

Social Cristão (PSC) contestou a resolução, impetrando mandado de segurança n º 32.077, o qual foi extinto pelo Ministro Luiz Fux em 28 de maio 2013.76

De acordo com o Ministro, a resolução qualifica-se como uma “lei em tese”. Em outras palavras, tem caráter normativo abstrato e impessoal. E, nestes casos, a Súmula 266 do STF não permite que a regra seja atacada por meio de Mandado de Segurança.77 Por fim, ele

aduz que o próprio Supremo já reconheceu o poder normativo do CNJ, conforme pode ser visto em parte da ementa transcrita:

(...)2. A Resolução nº 175 do CNJ, enquanto dotada de generalidade, abstração e impessoalidade, não se expõe ao controle jurisdicional pela via do mandado de segurança, nos termos da Súmula nº 266 do STF. 3. O Supremo Tribunal Federal, nos autos da ADC nº 12, Rel. Min. Ayres Britto, reconheceu o poder normativo do Conselho Nacional de Justiça, para inovar na ordem jurídica a partir de parâmetros erigidos constitucionalmente. 4. O Conselho Nacional de Justiça pode emitir juízos, ex ante e in abstracto, acerca da validade ou invalidade de determinada situação fática concreta. 5. Mandado de segurança extinto sem resolução de mérito. 78

E assim, o Brasil se torna o 15º país a aprovar79 o casamento homoafetivo, conforme

verificado na tabela80 abaixo:

1º Holanda

Em 1988, institui a união civil aberta aos homossexuais e em abril de 2001 passa a autorizar o casamento civil com iguais direitos e deveres dos cônjuges heterossexuais, entre eles o da adoção.

2º Bélgica

Os casamentos entre homossexuais são autorizados desde junho de 2003, tendo os casais homoafetivos os mesmos direitos que os casais heterossexuais. Em 2006, conquistaram o direito a adotar.

3º Espanha

Em julho de 2005, o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi autorizado. Estes casais, casados ou não, também têm a possibilidade de adotar.

4º Canadá A lei sobre o casamento de casais homossexuais e o direito a adotar

76

HAIDAR, Rodrigo. Fux extingue processo que contesta casamento gay. Disponível em:

http://www.conjur.com.br/2013-mai-28/luiz-fux-extingue-processo-psc-contesta-casamento-gay Acesso em 28/05/2013

77 Ibidem.

78 Julgamento disponível em http://s.conjur.com.br/dl/fux-extingue-processo-contesta.pdf. Acesso em 28/05/2013

79 Cumpre esclarecer que o legislativo ainda não regulamentou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Todavia, este vem sendo o posicionamento do Tribunais Superiores

80 Tabela adaptada das informações obtidas em: PRESSE DA France. Veja quais países já aprovaram o

casamento gay (.G1mundo online,14/05/2013). Disponível em http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/05/veja- quais-paises-ja-aprovaram-o-casamento-gay.html. Acesso em 28/05/2013.

entrou em vigor em julho de 2005. Anteriormente, a maioria das províncias canadenses já autorizava a união entre pessoas do mesmo sexo.

5º África do Sul

Em novembro de 2006 se tornou o primeiro país do continente africano a legalizar a união entre duas pessoas do mesmo sexo através do casamento ou da união civil.

6º Noruega

Uma lei de janeiro de 2009 põe em pé de igualdade os casais homossexuais, tanto para o casamento e adoção de crianças quanto para a possibilidade de beneficiar-se de fertilização assistida. Desde 1993, contavam com a possibilidade de celebrar união civil.

7º Suécia

A Suécia permite a casais homossexuais se casarem no civil e no religioso. Desde 1995 eram autorizadas a se unir por união civil. Foi pioneira no direito de adoção, desde maio de 2009.

8º Portugal Em junho de 2010 uma lei modifica a definição de casamento, ao suprimir a referência a "de sexo diferente". Exclui o direito à adoção. 9º Islândia

Em 27 de junho de 2010 passa a vigorar lei que legalizou os casamentos homoafetivos. Até então eles podiam se unir legalmente, todavia, a união não era um casamento real.

10º Argentina

Em 15 de julho de 2010, se tornou o primeiro país da América Latina a autorizar o casamento homossexual, tendo os casais os mesmos direitos que os heterossexuais, inclusive podendo adotar.

11ºDinamarca

O primeiro país a permitir que casais homossexuais oficializassem uniões civis em 1989 e, mais tarde, deu aos homossexuais o direito de terem estas uniões reconhecidas pela Igreja. Uma nova lei de 2012 define seu direito a uma cerimônia religiosa.

12ºUruguai

Em 10 de abril de 2013, se tornou o segundo país latino-americano a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, após a Câmara dos Deputados ratificar o projeto de lei do "matrimônio igualitário". 13ºNova

Zelândia

A Lei que reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo no país foi aprovada em 17 de abril de 2013. O país foi o primeiro da região Ásia-Pacífico a reconhecer esse direito.

14º França

Em 23 de abril de 2013, deputados franceses aprovaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que polarizou a sociedade do país. Na segunda e última leitura do texto na Assembleia Legislativa, 331 deputados votaram a favor e 225 contra.

 EUA

A legislação sobre o casamento gay é dividida entre os estados. Dos 50, 12 permitem a união homossexual: Connecticut, Iowa,

Massachusetts, Maryland, Maine, New Hampshire, Nova York, Vermont, Washington, Delaware, Rhode Island e Minnesota, além do Distrito de Columbia.

Conforme averiguado, o obstáculo da impossibilidade jurídica do pedido, já foi superado. Contudo, outro desafio ainda é imposto aos casais homossexuais que almejam a adoção: mostrar que sua orientação sexual não fere o princípio do melhor interesse da criança, consagrado no art. 43 do ECA, conforme se buscará explicitar no capítulo seguinte.

3. A ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS, POR SI SÓ, FERE O PRINCÍPIO DO O

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