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2. OS ALIMENTOS AVOENGOS

2.2 As consequências do inadimplemento da obrigação alimentar

A ação de alimentos tem rito especial, previsto na Lei 5.478/68. Ao ser ajuizada esta ação, de logo, o juiz fixará os alimentos provisórios, nos termos do artigo 4º desta lei. Após, será designada audiência de tentativa conciliatória, e, caso inexitosa, passa a fluir o prazo contestacional, como ocorre nas demais demandas. O foro competente para ajuizamento da ação é o domicilio do alimentando, conforme artigos 53, inciso II; 516, inciso II e parágrafo único; e 528, §9º do Novo Código de Processo Civil, e deverá haver intervenção do Ministério Público quando houver interesse de menor na lide, nos termos do artigo 9º da Lei de Alimentos.

A legislação brasileira prevê a ação de execução destes alimentos quando, encerrado o processo de ação de alimentos, o devedor não efetuar o pagamento, então poderá ser ajuizada ação executória, a fim de obter o pagamento da pensão alimentícia. Existem algumas formas de sanções para o devedor inadimplente, previstas nos artigos 528, §3º e §8º e 529 do Novo Código de Processo Civil, como a penhora, a prisão civil e o desconto em folha de pagamento do executado em favor do exequente.

O elemento declaratório faz coisa julgada material e não o quantum, que poderá ser revisto a qualquer momento desde que se altere o binômio necessidade X possibilidade. O

doutrinador Arnaldo Rizzardo (2004, p. 822), refere que a ação de alimentos faz coisa julgada formal e material, vejamos:

[...] a sentença, em matéria de alimentos, de modo geral obedece os princípios legais que regem as demais sentenças. Estando uma ação julgada, não pode aparecer outra com identidade das mesmas partes da anterior, o mesmo pedido e igual causa de pedir. Há, é de notar, o que se denomina ‘coisa julgada formal’, com a impossibilidade de ser submetida a demanda a novo julgamento, por esgotadas as vias recursais utilizadas, ou por decorrido o prazo decadencial da ação rescisória; e a ‘coisa julgada material’, que prende-se ao elemento declaratório da sentença, o qual passa a ser imodificável ou imutável.

O Código de Processo Civil admite duas possibilidades executórias, que é a execução contra devedor solvente e a coação pessoal, expressa também no artigo 5º, inciso LXVII da Constituição Federal. A primeira, prevista no artigo 528, §8º da legislação processual, ocorre quando o devedor não cumpre sua obrigação de prestar alimentos, então é ajuizada ação de execução de alimentos, a fim de obter o pagamento da dívida através da penhora, que tem por prioridade o dinheiro e depois os bens móveis e imóveis.

Nesta modalidade executória, o devedor é citado para pagar a dívida em 03 dias, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de não ter pago, podendo ainda oferecer bens à penhora. A penhora, prevista no artigo 528, §3º do Código de Processo Civil, é uma execução de quantia certa e não precisa apresentar caução como garantia.

Trata-se de modalidade especial de execução por quantia certa contra devedor solvente, que em nada se distancia dos clássicos modos de execução do desconto em folha de pagamento; cobrança de aluguéis ou outros rendimentos do devedor; da expropriação de bens do executado e da coerção pessoal. (MADALENO, 2013, p. 1047).

A segunda modalidade executória é a coação pessoal, prevista no artigo 528, §3º do Código de Processo Civil, que poderá ser ajuizada concomitantemente com a modalidade anterior, em autos apartados, com o intuito de cobrar as parcelas em atraso da dívida alimentar. Este modo executório traz como sanção a prisão civil do executado em caso de inadimplência. Como o artigo 805 do Código de Processo Civil traz expresso que a providência executiva deverá ser feita da forma menos gravosa ao devedor, a prisão civil será de um a três meses, em regime fechado. No entanto, como o Novo Código de Processo Civil não revogou o artigo 19 da Lei de Alimentos, discute-se ainda a respeito do prazo da prisão, de 60 dias ou três meses.

Quanto ao prazo da prisão civil, há jurisprudência que faz a seguinte distinção: se se trata de alimentos definitivos ou provisórios, o prazo máximo de duração é de sessenta dias, previsto no art. 19 da Lei de Alimentos de rito especial; em caso de falta de pagamento de alimentos provisionais, o prazo máximo é de três meses, estipulado no art. 733, § 1º, do Código de Processo Civil. (GONÇALVES, 2011, p. 569).

Assim, mesmo com a entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil, não se resolveu o problema da duplicidade de tratamento quanto ao prazo de prisão, pois o código processual vigente, em seu §3º do artigo 528, apenas repete o que o anterior já dispunha, ou seja: a prisão de um a três meses. Ocorre que a problemática continua, pois apesar do Novo Código Processual Civil, em seu artigo 1.072, inciso V, ter revogado os artigos 16 a 18 da Lei de Alimentos, deixou incólume o artigo 19 desta lei.

O vigente Código de Processo Civil prevê expressamente em seu artigo 528, §3º e §4º que o não cumprimento da obrigação alimentar ajuizada poderá resultar em prisão civil do devedor, em regime fechado e separado dos presos comuns. Surge então, uma colidência entre normas, princípios e garantias aos indivíduos envolvidos nesta situação em relação ao Estatuto da Criança e do Adolescente, ao Estatuto do Idoso e a Constituição Federal.

A finalidade da prisão civil não é apenas prender o executado, mas forçar que ele salde a dívida alimentícia, pois certamente almeja sua liberdade, e esta modalidade executória poderá ser decretada de ofício ou a requerimento do credor.

A prisão civil decorrente de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentar, em face da importância do interesse em tela (subsistência do alimentando), é, em nosso entendimento, medida das mais salutares, pois a experiência nos mostra que boa parte dos réus só cumpre a sua obrigação quando ameaçada pela ordem de prisão (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 700).

Assim também o entendimento jurisprudencial:

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. INVIABILIDADE DA ALTERAÇÃO DA FORMA PROCEDIMENTAL. 1. Sendo a dívida alimentar líquida, certa e exigível, não restando demonstrada a impossibilidade absoluta do devedor de pagar os alimentos devidos e não sendo ponderáveis as justificativas por ele apresentadas, é cabível o decreto de prisão civil. 2. A prisão civil do devedor de alimentos não constitui medida de exceção, senão providência idônea e prevista na lei para a ação de execução de alimentos que tramita sob a forma procedimental do art. 733 do CPC. 3. A execução de alimentos, na modalidade coercitiva, prevista no art. 733 do CPC, abrange as três últimas parcelas vencidas à data do ajuizamento da ação e, também, todas aquelas que se vencerem no curso da lide. Inteligência do art. 290 do CPC. Conclusão nº 23 do Centro de Estudos do TJRGS. 4. Não é possível promover, de ofício ou a pedido do devedor, a alteração da forma procedimental da execução

de alimentos para que a forma coercitiva seja meramente patrimonial. Recurso desprovido. (RIO GRANDE DO SUL, 2016p).

Quanto ao desconto em folha de pagamento, o artigo 529 do Novo Código de Processo Civil, o artigo 16 da Lei de Alimentos nº 5.478/68 e os artigos 3º, 5º e 45 do Decreto nº 2.784/98, tem eficiência na prática, e a finalidade de assegurar a continuidade e permanência do pagamento da pensão alimentícia. As parcelas atrasadas podem ser descontadas também da folha de pagamento do devedor, dependendo do entendimento de cada magistrado.

Em se tratando de devedor que exerça cargo público, militar ou civil, direção ou gerência de empresa, bem como emprego sujeito à legislação do trabalho, a execução de alimentos será feita mediante ordem judicial de desconto em folha de pagamento (art. 734). (THEODORO, p.559).

O Tribunal de Justiça Gaúcho entende que:

EXECUÇÃO. ALIMENTOS VENCIDOS. DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO. POSSIBILIDADE LEGAL. ADEQUAÇÃO DO QUANTUM. 1. Mesmo que as prestações alimentares devidas não sejam recentes, é possível estabelecer a penhora de parte da remuneração do devedor para garantir o pagamento da dívida de alimentos, até que a dívida seja integralmente solvida, operando-se a execução nos moldes do que dispõe o art. 734 do CPC. 2. Com isso, resta garantido o adimplemento da obrigação alimentar, solvendo a pendência, e o alimentante não fica privado do seu próprio sustento (art. 732, parágrafo único, CPC). 3. A finalidade da penhora levada a efeito é garantir o pagamento da dívida, mas sem inviabilizar o sustento do devedor, pois de nada adiantaria ao credor que o alimentante viesse a deixar o seu emprego, o que poderia ocorrer caso a sua remuneração se tornasse insuficiente. Recurso parcialmente provido. (RIO GRANDE DO SUL, 2016q).

A empresa empregadora deverá cumprir a determinação judicial, caso contrário, será devedora solidária, podendo responder pelo crime do artigo 18, inciso XIV do Decreto Lei nº. 201/67. Ainda, o artigo 17 da Lei de Alimentos prevê que é possível o desconto dos alugueres que pertencem ao executado quando não for possível o desconto em folha de pagamento. A falta de pagamento está relacionada ao crime de abandono material, previsto no artigo 244 do Código Penal e no artigo 532 do Código de Processo Civil.

[...] O Direito Penal atua de forma subsidiária com o propósito de suprimir possível insuficiência da compulsão cível contra uma deliberada atitude de subtrair-se da obrigação de atender às necessidades alimentares do sujeito passivo, não podendo ser desconsiderado que eventual aplicação de pena de prisão do alimentante irá agravar sua situação econômica. [...]. (MADALENO, 2013, p. 957).

Existem duas modalidades de cobrança alimentar: extrajudicial e judicial. A primeira, está presente no artigo 911 a 913 do código processual civil, e ocorre, por exemplo, quando há

a dissolução da união estável com escritura pública, cumulada com partilha de bens, fixação de alimentos. No caso de haver inadimplemento da prestação alimentar, poderá o alimentado ensejar a cobrança dos alimentos não pagos com a execução, momento em que o juiz protestará a divida em cartório e o devedor será intimado a pagar o débito. A modalidade judicial, regida pelos artigos 528 e seguintes do Código de Processo Civil vigente, ocorre quando há homologação do juiz em processo judicial, e cabe ao alimentado pleitear, com fulcro no artigo 292, §1º deste mesmo código, as parcelas vencidas e vincendas da prestação alimentar.

Como já supramencionado, a execução ocorre em duas formas: convencional e especial. A execução convencional se dará para o cumprimento da sentença condenatória em quantia certa, nos termos do artigo 523 do Código de Processo Civil, e atinge o patrimônio do executado com base legal nos artigos 528, §7º deste código e Súmula 309 do STJ, referente às três últimas prestações não pagas.

Na execução especial, o devedor será intimado pessoalmente para pagar a dívida ou justificar porque não o fez, no prazo de 03 dias, sob pena de lhe ser decretada a prisão civil. O exequente somente poderá cobrar as três parcelas anteriores à data do ajuizamento da execução e as que por ventura vencerem durante o processo.

O habeas corpus não é recurso cabível para recorrer da decretação da prisão civil, pois somente é admissível quando a prisão for ilegal, pois a prisão civil é legal e está regulada no Código de Processo Civil. Assim, o recurso oportuno seria o Agravo de Instrumento, conforme artigo 1.019, inciso I do Código de Processo Civil, devendo ser pleiteado seu efeito suspensivo.

É o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. ALIMENTOS. EXECUÇÃO PELO RITO DO ART. 733 DO CPC. AUSÊNCIA DE PROVA DE QUITAÇÃO DA DÍVIDA INADIMPLIDA. LEGALIDADE DA ORDEM. PRISÃO EM CURSO MANTIDA. É incompatível com o rito do habeas corpus o debate acerca de matéria de fato e de direito relativa à obrigação de alimentos. Não havendo prova cabal da quitação da integralidade do débito alimentar objeto da execução, não é possível conceder a ordem. HABEAS CORPUS DENEGADO. (RIO GRANDE DO SUL, 2016r).

Assim, no próximo item, será trabalhado acerca da (im)possibilidade destas medidas executórias em relação aos avós, bem como possíveis alternativas e o posicionamento dos tribunais, principalmente em relação a não decretação da medida restritiva de liberdade dos avós.

2.3 A (in)possibilidade de decretação de prisão domiciliar em caso de

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