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As contribuições e intervenções do Psicopedagogo

AS CONTRIBUIÇÕES E INTERVENÇÕES DO

PSICOPEDAGOGO RUMO AO APRENDIZADO

Como anteriormente foi apresentado neste trabalho monográfico, a função de um psicopedagogo em relação ao aprendizado do aluno na escola, vem entre tantas premissas, a de orientar e intervir para que o professor se sinta seguro e capaz de conduzir uma situação problemática que envolva a criança e o seu possível transtorno e também ser o facilitador pela busca do contexto histórico dessas relações, que envolvam a família, o aluno e a escola. Facilitador este, que indicará caminhos para que a família e o aluno encontrem meios através de ajuda de profissionais específicos, que possam somar para que hajam resultados satisfatórios, através de um tratamento adequado e seguro.

Para sermos mais plausíveis no envolvimento do psicopedagogo em relação a aprendizagem, é preciso entender, em primeiro lugar, que ele atua a favor da criança em todas as instâncias que lhes são atribuídas através das observações adquiridas em suas relações sociais, seu histórico familiar e genético.

A partir da idéia de se obter melhorias no aprendizado da criança, é preciso entender a inteligência, o desejo e a significação simbólica que a criança expressa, para poder entender o que realmente pode estar acontecendo. Essa relação do desejo inconsciente e a inteligência tem sido objeto de estudo, como explica Fernández:

O psicopedagogo, a partir do confronto com a resolução do problema de aprendizagem, objetivo alheio tanto ao psicanalista como ao epistemológico, encontra o terreno ideal para observar a inteligência submetida ao desejo, não podendo desconhecer nem a um nem ao outro, facilitando-se-lhe a compreensão do tipo de relações

que se estabelecem entre uma estrutura de caráter claramente genético, que vai se autoconstruindo, e uma arquitetura desejante, que, ainda que não seja genética, vai entrelaçando um ser humano que tem uma história. (1981 – p.67)

Verificamos então o elo correspondente ao conhecimento e o desejo, onde segundo a autora, fazem parte dos “quatro níveis que intervêm necessariamente em todo processo de aprendizagem: organismo, corpo, inteligência e desejo”(1991 – p.68) . Ao caso que, a inteligência como estrutura lógica citada em sua obra e brilhantemente destacada pela teoria de Piaget, está referenciada a “estrutura genética”. Sendo, neste caso, a inteligência diferente do conhecimento. Assim, Fernández traz em contribuição a idéia de Piaget quando diz que: “A estrutura lógica, segundo Piaget, é uma estrutura genética. O conhecimento se constrói. O humano deve passar por um processo, fazer um trabalho lógico para chegar ao mesmo.” (1991 – p.70). Onde todavia, para a psicanálise, o inconsciente seria o enlace necessário para o desenvolvimento dos estudos sobre as dificuldades do aprendizado.

Ocorre-nos que o Psicopedagogo deve estar atento para essas divisões comuns ao sujeito, onde em muitos casos, o comportamento do aluno e a dificuldade do mesmo podem estar atrelados a uma dimensão maior, que se diz respeito ao seu processo interativo ao meio social, mas também deve atentar para a inteligência do indivíduo, como dito antes pela teoria de Piaget, a “estrutura lógica”. Em sua obra Fernández nos faz refletir quando destaca a importância dada a essa questão,

...um psicopedagogo, cujo objeto de estudo e trabalho é a problemática de aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre a inteligência e os desejos inconscientes.

Quando falamos da inteligência, referimo-nos a uma estrutura lógica, enquanto que a dimensão desejante é simbólica, significante e alógica. (1991 – p.70)

Na verdade, percebemos esse dualismo bem conectado ao processo do desenvolvimento do sujeito em seu aprendizado de forma que, compreendemos a ligação do conhecimento adquirido pelas ações apresentadas ao indivíduo e o que ele processa em seu organismo para desenvolver a sua subjetividade em forma de equilíbrio.

Quanto ao Psicopedagogo nas instituições educativas e suas possíveis intervenções diante das diferentes particularidades de cada sujeito envolvido, deve ter em seu posicionamento a certeza de que, antes mesmo de se regulamentar uma situação “problema” nas escolas, deve permitir que através de ações positivas, se desenvolva um trabalho preventivo educacional. Mas, se for o caso de se encontrar diante de uma situação que precise de apoio e orientação, o psicopedagogo deverá intervir junto ao espaço escolar e a família para que sejam amenizadas essas questões. De forma a esclarecer esse pensamento, Fernández explica que:

Para resolver o fracasso escolar, quando provém de causas ligadas à estrutura individual e familiar da criança (problemas de aprendizagem – sintoma ou inibição), vai ser requerida uma intervenção psicopedagógica especializada: grupo de tratamento psicopedagógico à criança, grupo de orientação paralelo de mães, tratamento individual psicopedagógico, oficina de trabalho, recreação e expressão com o objetivo terapêutico, entrevistas familiares psicopedagógicas, etc. (1991 – p. 82)

No entanto, além do fator do sintoma e inibição destacada acima, Fernández nos faz compreender que há também os fatores que correspondem

a “estrutura psicótica” e também de “deficiências orgânicas” e que em diferentes situações haverá algum tipo de comprometimento do aprendizado. Desta forma, Fernández diz que: “Em ambas as situações, em geral, ainda que por diferentes causas, não pode a criança estabelecer uma comunicação compreensível com a realidade, quer dizer que terá dificuldades para aprender.” (1991 – p. 82). E neste caso é possível compreendermos que a busca por profissionais especializados, ou seja, fonoaudiólogo, psicólogo entre outros, serão de grande importância para somar e agir de forma a tratar da patologia em questão.

O psicopedagogo, quando diante de motivações peculiares ao não aprendizado da criança, deve procurar informações e estar atento com um olhar diferenciado para a família, de forma a transparecer o que, de fato, pode estar oculto por traz de um comportamento inadequado e/ou a dificuldade do aluno em aprender. Assim, a eficácia de um possível diagnóstico será o resultado de um conjunto de possibilidades observadas junto à criança. É o que nos permite entender Fernández nessa dimensão, onde nos fala que:

Todo ser humano acha-se transversalizado por uma rede particular de vínculos e significações em relação ao aprender, conforme seu grupo familiar. Circunstância que se destaca facilitando a observação, ao encontrar-se o paciente em um quadro onde divide momentos com todo grupo, outros com seus irmãos e outros somente com o terapeuta. (1991 – p.92 - 93)

Enquanto atuante de suas funções de psicopedagogo, a escuta e o olhar devem ser prioridades iniciais, não como monólogo onde só a criança fala, mas dando a oportunidade da criança se expressar e demonstrar os seus interesses, opiniões, significações e suas manifestações em diferentes situações. Para tanto, o psicopedagogo não deve aprisionar o seu olhar para uma única escuta e sim levantar inúmeras possibilidades de fazer transparecer

o que ainda possa estar oculto. Nessa direção de pensamento, Fernández afirma que:

A intervenção do psicopedagogo, no primeiro momento da relação com o paciente, supõe escutas-olhar e nada mais. Escutar não é sinônimo de ficar em silêncio, como olhar não é de ter os olhos abertos. Escutar, receber, aceitar, abrir-se, permitir, impregnar-se.

Olhar, seguir, procurar, incluir-se, interessar-se, acompanhar.

O escutar e o olhar do terapeuta vão permitir ao paciente falar e ser reconhecido, e ao terapeuta compreender a mensagem. (1991 – p.131)

Diante da procura por uma consulta, a partir de um determinado motivo as entrevistas devem ocorrer, segundo Fernández, onde todos estejam situados em diferentes possibilidades: a família sem a criança, a criança com a família, a criança sozinha, o brincar, o jogar e a suas ações diante dos diferentes materiais oferecidos para a “dinâmica da aprendizagem” que permitirá alcançar os enlaces que de alguma forma tem causado o bloqueio em seu processo do aprendizado. Para Fernández,

A hora de jogo psicopedagógica supera a dicotomia testes projetivos-testes de inteligência e, principalmente, ajuda a observar, em seu operar, aqueles aspectos que tradicionalmente foram estudados de forma isolada e somente em seus produtos (através dos testes de performace, de psicomotricidade, de maturidade visomotora, de dominância lateral, etc.). A hora do jogo permite observar a dinâmica da aprendizagem. (1991 – p.,168)

Conforme essa idéia, a intenção é desenvolver um ambiente propício ao despertar das manifestações obscuras pelos fatos, que a princípio eram ditos

como notórios e que ao decorrer das entrevistas serão lapidados e estarão, de alguma forma, desmitificados ou comprovados pela suspeita inicial. Para tanto, certamente o psicopedagogo, como falado anteriormente, deverá estar atento para todas as vertentes que posicionam o caso.

Percebemos que quando uma família procura ajuda de um psicopedagogo, precisa de respostas para o seu problema, mas é preciso cautela no desenrolar de uma consulta deixando fluir os pensamentos de forma gradual e espontânea do paciente e da família, já que, em muitos casos, a reclamação é justamente a falta do pensar. Seguindo essa linha de pensamento, Fernández nos diz que:

Destaco a palavra pensar, pois estamos trabalhando especialmente com pacientes trazidos por esta dificuldade; então, será de suma importância devolver aos pais a possibilidade de pensar sobre o que está acontecendo com seus filhos, e em que medida eles estão implicados. É imprescindível que os pais, os irmãos, comecem a compreender de que se trata, e sejam participantes, junto com o paciente, da cura. (1991 – p.229).

Dito isto, podemos refletir que não há uma fórmula milagrosa, aonde os pais chegam ao consultório procurando respostas e soluções imediatas. Ocorre que há sim um processo mútuo, onde a família e os profissionais juntos irão viabilizar maneiras eficazes ao tratamento. Além disso, é desnecessário atribuir a culpa disso ou daquilo à família, pois a mesma já se encontra em situação de desconforto diante de um problema e está em busca de orientação e ajuda. Fernández nos traz em contribuição a essa idéia, que:

A atitude bastante comum de considerar os pais culpados não ajuda, já que eles também são pessoas que sofrem, e devemos pensar que, ainda antes de ser

pais, ele queriam seus filhos. Em geral, os pais comparecem achando que fracassaram, que não fizeram as coisas bem, vêm com essa carga e as diferentes defesas contra essa angústia; nós trataremos de demonstrar que, em algum lugar de seu ser, amam a esse filho. (1991 – p.230)

Verificamos com isso, que é preciso desenvolver uma estratégia que deixe a família e o paciente confortáveis e abertos para a demonstração das suas relações afetivas e dos percalços vivenciados em família. A partir disso, resgatar a certeza que o agir de maneira segura pode resultar em transformação. Assim, desenvolver um trabalho onde a família e a criança se tornem capazes de avançar pela busca de possibilidades, para atingir o aprendizado. Afinal, quando há o compromisso de todas as partes, haverá a chance de um viver melhor.

Na verdade, concretizando a ação do psicopedagogo, segundo Fernández,

Se for “devolução” entendemos recuperação do pensar, dos afetos sepultados, circulação do conhecimento e do saber, reencontro com os aspectos sadios, devolução em um espelho da identidade do paciente, e não o caracterizamos como entrega diagnóstica onipotente, podemos continuar usando o termo devolução. Sabendo que o que tentamos é ajudar a recuperar o prazer esquecido de aprender a viver. (1991 p.231)

Quanto a isso, nos faz refletir que o envolvimento de um psicopedagogo pode e deve alcançar fronteiras guardadas bem no fundo da identidade do sujeito, onde envolve suas relações familiares, seu organismo como fato biológico, seus desejos, seus bloqueios, suas limitações, sua história de vida e

muito mais. Assim, a intervenção psicopedagógica inclui diversos posicionamentos e procedimentos que valorizam a superação.

CONCLUSÃO

Como podemos observar, muitas são as motivações que levam a criança a desenvolver o fracasso escolar. Muitos são os fatores externos que interferem no aprendizado do aluno. Fato que, a família tem em especial o seu fundamental papel na formação inicial da criança. Isso porque, foi possível compreender que o contexto histórico social influência direta ou indiretamente para que o indivíduo adquira em seu processo de aprendizagem, simbolismos que podem ser favoráveis ou não a sua identidade educacional. Desta forma, foi possível compreender que situações conflitantes, resultantes de fatores externos, como por exemplo emocionais, econômicos, perdas afetivas entre outras, podem provocar alterações e desencadear bloqueios desfavoráveis ao seu aprendizado.

Vimos que há também fatores associados aos transtornos neurológicos que podem contribuir para a desordem funcional do aprendiz. Porém, se identificado o transtorno e tratado com responsabilidade, possivelmente será controlado e o indivíduo poderá adquirir uma boa socialização e bom desenvolvimento cognitivo dentro de suas limitações.

Conclui-se ainda que o papel do psicopedagogo, quando identificada uma situação problema, deverá ser contribuir para que se ofereça ao aluno um ambiente favorável a sua socialização e ao seu aprendizado. Dito que, o psicopedagogo poderá ser o facilitador, o orientador e em casos que se perceba alterações de possíveis transtornos neurológicos, intervir junto a família para que a criança seja encaminhada a um profissional especializado e só então realizado um diagnóstico seguro.

As considerações apresentadas foram de fundamental importância para aprofundar nossos estudos, desenvolver um olhar diferenciado sobre as relações que envolvem o aluno, deixando de lado o pré-conceito sobre

determinadas situações. Um olhar diferenciado para a atuação do psicopedagogo, suas competências junto ao processo educacional, em parceria com profissionais específicos como fonoaudiólogo e psicólogo e também de forma a mobilizar a família para a busca da ajuda necessária ao sucesso da criança, seja em seu aprendizado, seja na socialização, seja na afetividade, seja para derrubar barreiras, seja apenas para ser feliz.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Alves, Rubem. Educação dos sentidos e mais..., Campinas, SP 2005.

Ariés, Philippe. História social da criança e da família. 2. Ed Rio de Janeiro: LTC< 1981.

Barbosa, Laura Monte Serrat. Artigo da Revista da Associação Brasileira de

Psicopedagogia. Nº 69 . 2005

Brasil / Rio de Janeiro: Câmara Municipal, 1996. Estatuto da criança e do

adolescente: Justiça da infância e juventude do Rio de Janeiro

Fernández, Alicia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre. 1991.

Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática

educativa. (1996)

Guia de Orientação a Professores: Manejo Comportamental de Crianças

com Transtornos do Espectro do Autismo em Condição de Inclusão Escolar – Supervisão editorial: Silvana Santos - © Programa de Pós-

graduação em Distúrbios de Desenvolvimento da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP, 2014.

Pires,K.M. Os seus, os meus, os nossos. IN: A&E Atividades e

Experiências- Especial Família. 2009.

Portal da Educação. Histórico do desenvolvimento da infância desde a

idade média até os dias de hoje. 2013

Souza, Flávia Nayara Magalhães. Artigo 19 – Criança Hiperativa: a

importância do contexto familiar. Belo Horizonte, 2008.

Vigotsk,L.S. A Formação Social da Mente: O desenvolvimento dos

processos psicológicos superiores. (2007)

BIBLIOGRAFIA CITADA

Alves, Rubem. Educação dos sentidos e mais..., Campinas, SP 2005.

Ariés, Philippe. História social da criança e da família. 2. Ed Rio de Janeiro: LTC< 1981.

Barbosa, Laura Monte Serrat. Artigo da Revista da Associação Brasileira de

Psicopedagogia. Nº 69 . 2005

Brasil / Rio de Janeiro: Câmara Municipal, 1996. Estatuto da criança e do

adolescente: Justiça da infância e juventude do Rio de Janeiro

Fernández, Alicia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre. 1991.

Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática

educativa. (1996)

Guia de Orientação a Professores: Manejo Comportamental de Crianças

com Transtornos do Espectro do Autismo em Condição de Inclusão Escolar – Supervisão editorial: Silvana Santos - © Programa de Pós-

graduação em Distúrbios de Desenvolvimento da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP, 2014.

Pires,K.M. Os seus, os meus, os nossos. IN: A&E Atividades e

Experiências- Especial Família. 2009.

Portal da Educação. Histórico do desenvolvimento da infância desde a

idade média até os dias de hoje. 2013

Souza, Flávia Nayara Magalhães. Artigo 19 – Criança Hiperativa: a

importância do contexto familiar. Belo Horizonte, 2008.

Vigotsk,L.S. A Formação Social da Mente: O desenvolvimento dos

processos psicológicos superiores. (2007)

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO AGRADECIMENTO DEDICATÓRIA RESUMO METODOLOGIA SUMÁRIO INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – Contextos familiares e suas implicações na formação de uma criança.

CAPÍTULO II – Fatores externos que comprometem o desenvolvimento cognitivo do aluno e contribuem para o fracasso escolar.

CAPÍTULO III – Dificuldades e transtornos do aprendizado.

CAPÍTULO IV – As contribuições e intervenções do Psicopedagogo rumo ao aprendizado.

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BIBLIOGRAFIA CITADA

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