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6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.3 A FORÇA QUE IMPULSIONA ENFRENTAR AS ADVERSIDADES DA

6.3.2 As crenças transcendentes

Todas as mulheres entrevistadas afirmaram possuir vínculo com alguma crença transcendente. A ideia de transcendência, segundo Watson (2002), representa ações para o verdadeiro crescimento humano, ao considerar-se e, aos outros, com respeito e dignidade, como seres espirituais, capazes de contribuir para a evolução individual e da humanidade.

As expectativas de melhora e cura aparecem frequentemente agregadas ao contexto religioso. Ter uma crença parece encorajar as mulheres com câncer de mama, influenciando positivamente a atitude diante de todo o percurso de adoecimento. As crenças pessoais contribuem para dar sentido ás situações de sofrimento.

Eu acredito em Deus, eu acredito no espiritismo, Eu vou à igreja de vez em quando, mas eu rezo muito em casa. Eu acho que cultivo minha espiritualidade. Procuro fazer a minha rotina, normalmente ter boas atitudes. Procuro ir às igrejas, e quando vou acendo velas. (FL4)

Minha irmã que é evangélica me pediu se podia levar o pastor lá na minha casa. Foi aí que eu tive muita força. Até hoje, eu dou graças a Deus por eles terem aparecido na minha vida. (FL6)

Comecei a frequentar um centro espírita. Eu fazia atendimento individualizado, Reik, cromoterapia, passe magnético, ouvia a doutrinária. Passei a fazer isso depois da cirurgia, e sempre que possível junto com a quimioterapia e a rádio. (FL10

Eu vou à missa também, não sempre, não acho que eu tenho que estar sempre dentro da igreja. Deus, ou esta força superior está em todos os lugares, a gente nunca está sozinho. (FL11)

Eu tomava passe de um médium. Parece que depois que eles iam embora eu sempre me sentia melhor, eu chorava, mas era um choro tão bom, parecia que tinha tirado todo o peso das costas, do que tu estavas carregando e nem sabia. Parecia que tu ficavas leve. (FL12)

Nessa subcategoria, as entrevistadas falam do transcendente, do ser e do estar no mundo. A crença manifestada através da religião/espiritualidade pode ser considerada uma estratégia positiva, para enfrentar e superar o longo período que envolve o diagnóstico e a recuperação do adoecimento por câncer de mama, como observado nos relatos, pois ajuda a promover uma nova ressignificação dos fatos, fornecendo apoio espiritual e emocional, mediante as situações consideradas difíceis.

O ser humano possui uma disposição a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, que pode ou não incluir uma prática religiosa. Nesse sentido, a religião apresenta-se como uma estratégia para atender às necessidades essenciais do ser humano, permitindo a criação de uma identidade de conformidade entre as pessoas em meio à busca de sentido e de significado para a vida. A religião ajuda no enfrentamento das dificuldades e permite novas esperanças na luta pela sobrevivência, diante de situações de adoecimento (OTANI; BARROS; MARIN, 2015; ARAÚJO et al., 2015).

É sabido que o envolvimento religioso habitualmente está associado à melhor saúde mental (MOREIRA-ALMEIDA; LUCCHETTI, 2016). Em pesquisa realizada com pacientes oncológicos, a qual objetivava investigar o enfrentamento religioso (religiosidade e espiritualidade/ resiliência) com o processo de qualidade de vida de pessoas com câncer, os resultados confirmaram a possibilidade de que a fé influencia positivamente a saúde e qualidade de vida desses pacientes. A busca por significado e o suporte emocional foram os atributos que mais se destacaram. Os pacientes oncológicos consideram que existe influência da espiritualidade na resiliência para enfrentar o

adoecimento e tratamento (FORNAZARI; FERREIRA, 2010; SORATTO et al., 2016).

Nesse sentido, Rodrigues (2012) defende que a religiosidade e a espiritualidade podem ser importantes aliados para pessoas doentes, porém, são as consequências do enfrentamento religioso que determinarão se o impacto da espiritualidade foi positivo ou negativo. As estratégias positivas são aquelas que melhoram a saúde mental, que

promovem o crescimento espiritual e reduzem o estresse. As estratégias negativas são aquelas que resultam em piora da qualidade de vida e da saúde; como por exemplo, quando o indivíduo não adere ao tratamento por acreditar na cura divina.

Ainda, Rocha e Ciosak (2014) em estudo sobre a espiritualidade no manejo da doença crônica do idoso, salientam que a espiritualidade/religiosidade/fé interferem de inúmeras maneiras, de forma positiva no enfrentamento dos obstáculos e dificuldades da vida, fortalecem e promovem resiliência, melhor qualidade de vida e o controle da doença crônica.

As estratégias apontadas como orações e devoção promovem sentimento de gratidão, e bem estar, dando suporte e estímulo no decorrer do tratamento, promovem um nível elevado de bem-estar espiritual como observado nos relatos. A espiritualidade aparece na importância dada às orações, a frequência com que as participantes frequentam às missas e igrejas e na presença da fé religiosa em santos e imagens, como forma de expressar e se conectar com a fé e a religião.

De acordo com o exposto, Zenevicz e Santos (2013), em estudo sobre crença em símbolos espirituais no processo de envelhecimento, descrevem que o ser humano ao fazer uso desses elementos sagrados, consegue expressar sua espiritualidade de várias maneiras, religiosas ou não, utilizando metáforas, imagens, rituais, poesia, arte e música. A espiritualidade pode ser experimentada dentro ou fora das crenças religiosas. Pargament, (2001) afirma que, as pessoas encontram em Deus a explicação para o que não compreendem e a religião se torna um recurso universal. Nesse sentido, toda religião pertence, ao menos em parte, à espiritualidade, mas nem toda espiritualidade é, essencialmente, religiosa.

Ainda, em estudo (SICA; ROCHA; FLECK, 2011) com objetivo de avaliar a qualidade de vida e importância dada a espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais em adultos com e sem problemas crônicos de saúde os resultados sugerem que as crenças precisam ser consideradas como um fator importante no processo saúde-doença. A espiritualidade necessita ser levada em conta quando do planejamento da assistência com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes (SORATTO et al., 2016).