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DO TRABALHO DAS PROFESSORAS

G. I: Eleonora.: A separação entre a licenciatura e o bacharelado é

3.1 As Dialéticas do Feminino como sentido teórico

As Dialéticas do Feminino compõem uma das categorias propostas nesta pesquisa, com a finalidade de discutir a condição feminina e como ela se relaciona no contexto capitalista, com o trabalho pedagógico das professoras de Educação Física. Abordar a categoria supõe considerar a mulher na sociedade capitalista, a historicidade da sua inserção nas fábricas e como desde então, em uma ordem social hegemônica, as mulheres têm garantido seu espaço como trabalhadoras, no embate com manifestações diversas do social, como a opressão feminina, as relações patriarcais, a naturalização da hegemonia masculina, inclusive no âmbito da Educação Física, campo em discussão nesta pesquisa. Então, a categoria “Dialéticas do Feminino” considera articulações possíveis entre o materialismo histórico-dialético e a organização da mulher no capitalismo. Encontra-se no plural porque são múltiplas as dialéticas possíveis, pois no entorno da compreensão do conceito, existem as histórias que constituem determinados grupos de mulheres e a expressão de intencionalidades que dão sentido às compreensões dessas mulheres sobre o trabalho que produzem e a constituição da sua vida em sociedade.

As Dialéticas do Feminino se fundamentam no materialismo histórico e dialético, como se interligam e dispõem indícios para compreender os movimentos que concebem a categoria em estudo. Nessa proposta, categorias marxistas como trabalho, divisão do trabalho, antagonismo de classe estariam vinculadas com categorias as dialéticas do método, associando-se à condição feminina e às relações de gênero, que implicam na formulação de uma mulher que vislumbra sua capacidade emancipatória em contraposição à lógica capitalista e partem do materialismo histórico e da Economia Política enquanto realidade objetiva da sociedade.

3.1.1 A (re)construção do conceito de gênero na dialética materialista: considerações sobre as mulheres trabalhadoras

A definição de uma compreensão para a condição feminina, a questão da mulher, que contribua para a formulação das Dialéticas do Feminino e suas análises, passa pela compreensão dos sentidos atribuídos ao gênero na sociedade capitalista.

O gênero é bastante discutido na perspectiva do materialismo histórico-dialético. Retoma-se a discussão da apresentação da pesquisa, de abordar a questão feminina, articulando-a como eixo de pesquisa, pois a análise da condição das mulheres na perspectiva dialética supõe outros elementos às relações de gênero e dominação masculina. O gênero para muitos autores marxistas trataria de uma abordagem mais abstrata, sendo que a dialética materialista considera fenômenos concretos, como a mercantilização feminina, as repercussões na divisão social e sexual do trabalho. Nesse aspecto, Vianna (2006) no artigo “Método dialético e a questão da mulher” analisa que perceber o feminino diz respeito à forma de se relacionar na totalidade, que é a sociedade capitalista.

Sobre o conceito de gênero, Donna Haraway (2004) no artigo “Gênero para um dicionário marxista” afirma que é uma construção moderna, os escritos de Marx e Engels ofereceram subsídios importantes para que ocorressem teorizações posteriores sobre gênero. Porém, as raízes do significado moderno estão em Simone de Beauvoir e nos fatos históricos após a II Guerra Mundial, os quais organizaram o coletivo de mulheres. Segundo Haraway (2004), o gênero possui impacto na compreensão política e histórica de como se estruturaram as diferenças entre feminino e masculino que possuem caráter sistêmico.

Gênero é um conceito desenvolvido para contestar a naturalização da diferença sexual em múltiplas arenas de luta. A teoria e a prática feminista em torno de gênero buscam explicar e transformar sistemas históricos de diferença sexual nos quais “homens” e “mulheres” são socialmente constituídos e posicionados em relações de hierarquia e antagonismo (HARAWAY, 2004, p.211).

Haraway (2004) aprofunda o conceito de gênero e analisa como ele se integra historicamente com as relações de produção. Marx e Engels teorizaram a mulher a partir da relação econômica e a subordinação em termos das relações capitalistas de classe e não de uma política sexual entre homens e mulheres (HARAWAY, 2004). A política sexual admite, em certa medida, a presença de um sexo dominante, situação que limita o desenvolvimento das “Dialéticas do Feminino”, uma vez que existem mais perspectivas de avanço no processo, que extrapolam a busca pela igualdade. A conquista da igualdade não garante a superação da opressão e pode, no contexto capitalista, servir de justificativa para possíveis adequações da mulher nos modos de produção.

Partindo dessas constatações, as lutas de classe são elementares na construção da categoria “Dialéticas do Feminino”. Saffioti (2013) analisa que o capitalismo acirra a disputa e aprofunda a desigualdade entre os sexos. O capitalismo foi impactante para propagar historicamente as desigualdades. Existe um movimento constante na superestrutura, como resultado do metabolismo do capital.

Em oposição à desigualdade, Mariatégui (2011) na “Defesa do marxismo”, atenta que, apesar da democracia burguesa não efetivar o comunismo, “criou involuntariamente as condições e premissas morais e materiais para a sua realização. Valorizou a mulher como elemento produtor, fator econômico, ao fazer seu trabalho ter a cada dia um uso mais amplo e intenso” (p.203). Ao trabalhar, a própria mulher passou a ter uma percepção diferente de si mesma. Como afirma Maritégui (2011), aconteceu uma mudança drástica da mulher na vida, que, atualmente, antes de tudo, destina-se ao trabalho.

Seguindo o debate, Saffioti (1999) em “Primórdios do conceito de gênero”, critica o estudo sobre gênero abordado por Beauvoir (1970), por considerar a universalidade das mulheres, enquanto um grupo alegava que ela deveria ter analisado as condições específicas do contingente de mulheres. Observou muito mais a dominação masculina, sem perceber a igualdade entre homens e mulheres presentes em algumas sociedades.

Contribuindo para a constatação do contingente feminino, Viana (2006), no capítulo “Método dialético e a questão da mulher”, analisa que a condição da mulher varia historicamente e, com o surgimento da sociedade de classes, a situação social da mulher sofreu diversas mudanças, porém manteve a opressão como elemento comum a todos os períodos históricos.

Souza-Lobo (1991) na reconhecida obra “A classe operária tem dois sexos”, apresenta debates sobre gênero, classe social, ação política, com a observação: o “gênero se institui como problemática da relação social que atravessa a história e o tecido social, as instituições e as mentalidades, objeto interdisciplinar por excelência” (p.191). As relações de gênero são sociais e históricas, e por isso, a pertinência das lutas e resistências. Como Souza-Lobo (1991) argumenta, não é um campo à parte das relações sociais, se inserem em um contexto de contradições e disputas.

No âmbito da escola, assim como na totalidade das relações sociais, as condições se manifestam, existe um modelo de mulher que mesmo com

determinados avanços, que se perpetua em certos aspectos, e se estende ao universo feminino que se encontra na escola, sejam alunas, professoras, ou a percepção que o masculino possui sobre o feminino que circula nas instituições educativas. As mulheres contemporâneas conquistaram muitos espaços, porém seguem com muitas lutas e opressões a serem superadas. Por isso, segundo Souza-Lobo (1991, p.191) a necessidade de discutir a condição feminina como um “objeto interdisciplinar”, pois os sentidos atribuídos à condição feminina, situações como a opressão, a submissão e a naturalização, frequentemente são reforçados na escola. Não necessariamente pelas intencionalidades dos sujeitos, mas porque transitam sentidos que se perpetuam e reproduzem historicamente sobre a mulher na sociedade.

Louro (2000) argumenta sobre as pedagogias da sexualidade, a ação pedagógica que se embasa em critérios específicos que definem lugares sociais para meninas e meninos, sendo que à escola concerne observar o quanto cada sujeito se aproximaria ou não de um padrão estipulado que embora não estivesse marcadamente presente nos planejamentos, serviria de norma para reforçar determinados sentidos atribuídos às mulheres. Louro (2000) defende que “marcas” do feminino e do masculino são reforçadas por práticas hegemônicas que são comuns na escola. Com a ressalva de que os sujeitos são ativos nesse processo, muitos sentidos são evidentes e conscientes. Entre os sentidos mencionados por Louro (2000), se encontra uma situação bastante comum nas escolas, que é a dispensa das meninas das aulas de Educação Física durante o período menstrual. Apesar de ser uma indicação de domínio popular, ainda é recorrente na escola.

É significativo constatar que as compreensões sobre a condição feminina se manifestam na constituição do pedagógico. Pode ocorrer de forma sutil ou não, porém em uma abordagem dialética materialista há de se conjecturar que os sentidos que se referem ao feminino e o influenciam, perpassam a estrutura social, surgem de uma produção histórica, contraditória e mediada, a qual pode impulsionar a superação da situação social anterior ou alimentá-la, reproduzindo dessa forma também no âmbito pedagógico, a hegemonia que justifica o lugar social da mulher.

No enfoque dessa pesquisa, o gênero somente tem sentido quando articulado à luta de classes. Nas palavras de Marx (2008), a luta que envolve a contraposição entre opressores e oprimidos, e encaminha a transformação da sociedade e o declínio do vencido. No cerne dessa luta de classes estão as mulheres, as quais

constroem os sentidos da produção da vida particulares, por sua condição, ao mesmo tempo em que integram a classe trabalhadora.

Assim sendo, torna-se esclarecedor compreender como na sociedade capitalista o feminino se manifesta no pedagógico e encaminha as ações de professoras e o trabalho por elas produzido. Esses aspectos serão ampliados e discutidos na sequência da pesquisa, ao serem apresentados por autores que discutem a organização do trabalho feminino na sociedade capitalista.

3.1.2 Implicações da divisão do trabalho na força produtiva feminina

O trabalho que embasa a abordagem está presente em “O Capital”, sendo que Marx (2013) o apresenta como uma atividade de interação entre sujeito e natureza. “O processo de trabalho nessas condições, possibilitaria a concretização de um projeto que anteriormente existira somente na imaginação do trabalhador” (p.242). O trabalho em condições emancipatórias proporcionaria aos sujeitos o conhecimento de seu desenvolvimento em um tempo histórico, na percepção de uma perspectiva dos desafios e possibilidades a serem alcançados com a conscientização do seu Eu social.

Assim, torna-se necessário compreender que o trabalho na perspectiva ontológica requer uma interação do sujeito com a natureza. Nesse sentido, busca-se como a mulher se constituiu como trabalhadora na sociedade capitalista. Haug (2006) no artigo “Para uma teoria das relações de gênero”, objetiva apresentar uma crítica da economia política de gêneros, a partir das relações entre masculino e feminino. Essa abordagem apresenta indicativos a serem considerados na elaboração das Dialéticas do Feminino. Entre eles, comenta:

[...] as relações de gênero se convertem em relações reguladoras fundamentais em todas as formações sociais que conhecemos e são absolutamente centrais para perguntas referidas à divisão trabalhista, dominação, exploração, ideologia, política, lei, religião, moral, sexualidade, corpos-sentidos, linguagem, etc., ao mesmo tempo em que transcendem cada um desses âmbitos (HAUG, 2006, p.314).

No propósito desta investigação, perceber como a mulher se insere na sociedade capitalista, se situa como trabalhadora e estabelece no campo das relações sociais é de grande importância, pois a regulação que interfere na formação social como totalidade, controla as atividades das mulheres, inclusive na

constituição do seu trabalho pedagógico. Há de se considerar que na sociedade de classes para além da luta travada entre burgueses e proletários, existe entre outras lutas, a das mulheres.

Haug (2006) acrescenta que abordar as relações de gênero no contexto das relações sociais de produção, implica em “construir os conceitos de maneira a permitir reconhecer que a questão está em movimento e, portanto, sujeito a trocas” (p.314). Mais do que compreender o gênero em si, como uma divisão biológica entre mulheres e homens, supor a variabilidade de relações existentes na estruturação do gênero em questão, considerando como as intencionalidades transitam tendo como pano de fundo as forças produtivas e a natureza do trabalho realizado. Reconhecer e problematizar a condição feminina nesse ínterim, é perceber seus movimentos na sociedade, como se deu a sua inserção no mundo do trabalho e quais as circunstâncias em que se expressa a divisão do trabalho, a regulação e controle da força produtiva feminina.

Em “O Capital”, Marx (2013) ao discutir a divisão do trabalho e da manufatura, refere-se a uma “divisão natural do trabalho” (p.416) a qual leva em conta diferenças entre sexo e idade, algo que por considerar as características de cada integrante das tribos, posteriormente das famílias, proporcionou que diferentes modos de produção e subsistência encaminhassem a troca de produtos, a paulatina transformação desses em mercadoria e o estabelecimento de relações entre ramos interdependentes no campo da produção social. Marx (2013) acrescenta que:

Quando a divisão fisiológica do trabalho constitui o ponto de partida, os órgãos particulares de um todo unificado e compacto se desprendem uns dos outros, se dissociam, sob a influência da troca de mercadorias com outras comunidades, e tornam-se independentes até o ponto em que a conexão entre os diversos trabalhos se processa por intermédio dos produtos como mercadorias (MARX, 2013, p.407).

Ao comentar sobre a divisão fisiológica do trabalho, Marx (2013) indica a existência de particularidades no trabalho que constituem o conjunto de um modo de produção social. Com a ressalva de que o trabalho fisiológico é um pressuposto e não define por si só a divisão social do trabalho, além da divisão de atividades, a divisão fisiológica do trabalho diferencia trabalho de mulheres e homens, com condições históricas diferenciadas para sua composição. Supõe o agrupamento da força de trabalho no interior de um mesmo grupo, inserindo dessa maneira, as mulheres em um espaço específico dos meios de produção, criado em função da

necessidade de manutenção da função principal da mulher, a procriação e a complementação da força de trabalho de uma determinada família. Por esse caminho, percebe-se que a inserção da mulher como força de trabalho que expande um grupo maior, atende a necessidade prioritária do incremento da mais-valia, apresentando a estreita associação do trabalho feminino com o trabalho social, que se constitui em uma determinada forma social de trabalho. Embora o trabalho na concepção marxiana possua um sentido muito mais abrangente, a força de trabalho feminino possui um espaço determinado em contexto maior que integra o sistema de produção social capitalista.

Entre as obras que fornecem indícios para a compreensão para o lugar destinado à mulher no espaço das relações sociais de produção está “A Ideologia Alemã”, em que Marx; Engels (2008) ao mencionarem as condições para “fazer história”, a atividade social, as quais envolvem a produção de formas para o atendimento de necessidades, a produção de novas necessidades materiais, quando são sanadas as primeiras e a renovação constante da vida ao se autoproduzirem e reproduzirem. Deste modo, Marx; Engels (2008) comentam a família como a primeira das relações existentes na história da humanidade. Também especifica que é uma “relação entre homem e mulher, pais e filhos” (p.23). Esse detalhe demonstra que a relação social que repercute nas forças produtivas, possui de certa maneira, um caráter sexuado. A família que se modificou no decorrer dos tempos históricos como consequência de mudanças sociais e econômicas, não se distanciou do padrão pai, mulher, filhos, estrutura que influenciou também a divisão social do trabalho, tornando-a ainda, uma divisão sexual do trabalho.

Produzir a vida, tanto a sua vida própria vida pelo trabalho, quanto a dos outros pela procriação, aparece como uma dupla relação: por um lado como relação natural, por outro como relação social – social no sentido em que se estende com isso a ação conjugada de vários indivíduos, sejam quais forem suas condições, formas e objetivos (MARX; ENGELS, 2008, p.23).

Compondo-se a família como o primeiro núcleo social e histórico, manifesta em si as contradições, mediações de um modelo social maior. O trabalho que teve sua distribuição natural na família, se organizou no modo de produção capitalista, conforme a subordinação sexual que existia nas famílias. Dessa forma, reforçou-se a característica complementar da força produtiva feminina. Nesse sentido, Marx; Engels (2008) argumentam que a divisão do trabalho nas formas posteriores, tinham como pressuposto a divisão do trabalho primitiva, que considera a natureza de

mulheres e homens. Discute que nos tempos primitivos, a escravidão ainda que em sua forma rudimentar, mesmo que velada, aparece na família. “A mulher e os filhos são escravos do homem” (MARX; ENGELS, 2008, p.27). Ao mesmo tempo em que os diferentes sujeitos que compunham essas famílias primitivas, possuíam forças produtivas variadas, definidas pela idade, pelo sexo e outras definições, surgia também o conflito que é inerente à divisão do trabalho, por estratificar os sujeitos.

As aproximações entre as relações sociais de produção e as forças produtivas encaminham a reflexão sobre como se configurou a força produtiva feminina. Assim, existiu um trabalho específico realizado pela mulher na família que foi transposto para as fábricas posteriormente. Partindo desse pressuposto, nas tribos e nas famílias, a mulher contribuía com sua força produtiva, buscando formas para obter os bens materiais necessários para a sua subsistência. Com isso, o modelo de trabalho feminino configurado na família embasou o trabalho das mulheres nas fábricas pelo caráter complementar à força de trabalho masculina.

Também se pode inferir que o trabalho feminino na família, caracterizado como doméstico, seria uma forma de trabalho improdutivo, por não produzir mais- valia. No entanto, possui importância para o capital aquele trabalho que produz o valor excedente, conforme comenta Marx (2013, p.231) “a mais-valia se origina de um excedente quantitativo de trabalho, da duração prolongada do mesmo processo de trabalho, de todo o processo de produzir valor”. O trabalho que a mulher realizava na família, cuidado com a manutenção da casa e outras demandas, integra o conjunto de forças produtivas da família, porém por não produzir um valor direto está presente, porém diluído no processo de trabalho. Nos casos em que o trabalho não produz diretamente o capital, quando a produção ocorre na forma de serviços que não alteram diretamente a forma econômica (MARX, 2013). Historicamente, o trabalho que a mulher realiza em casa e os afazeres domésticos têm valor diminuído quando comparados a outros trabalhos que também se situam no campo dos improdutivos. Marx (2013) ao tratar o trabalho improdutivo, contraria a definição dos capitalistas, por assumir que todo o trabalho que direta ou indiretamente contribui para desenvolver uma força produtiva que objetive transformar a natureza em bens materiais, atividade consciente a qual incremente a si próprio e o meio social em que se insere.

Haug (2006) tece considerações sobre a forma breve como a relação feminino-masculino se manifesta nos escritos de Marx e Engels, fato percebido ao

analisar os estudos da área. Dentre os estudos, Engels (1980) ao inquirir sobre os “Caracteres da Monogamia”, refere-se aos fundamentos presentes no manuscrito inédito realizado em 1846 (Ideologia Alemã) e acrescenta:

O primeiro antagonismo de classe que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia, e a primeira opressão de classe coincide com a opressão do sexo feminino pelo sexo masculino (MARX; ENGELS; LENIN, 1980, p.22).

A análise de Engels (1980) considera as transformações que ocorreram na sociedade, na organização nas famílias e que acompanhou o desenvolvimento econômico, o surgimento da propriedade privada e o trabalho servil. Ainda reforça que não se refere aos casos de monogamia em que “a vida conjugal transcorre segundo a transcrição do caráter original da família, mas naqueles casos em que a mulher se revolta contra a dominação do homem” (MARX; ENGELS; LENIN, 1980, p.25). Os casamentos sanguíneos foram substituídos por outras formas de união, porém nesses casos, mencionados por Engels (1980) não eram decididos pelos cônjuges, pois ao nascer já eram estabelecidos seus pares. “O casamento, segundo a concepção burguesa era um contrato, um negócio de direito, e o mais importante de todos, porque teria a duração de toda uma vida” (ENGELS, p.31). Os casamentos burgueses eram formas de relação capitalista, pois envolviam dinheiro das famílias em acordo. E nesses acordos, muitas mulheres e homens acabaram unidos principalmente pelo patrimônio envolvido na união, diga-se nesse entendimento, negociação. No interior dessas relações, estabeleceu-se também a dominação masculina, aliada à condição de propriedade e preponderância econômica. Esse modelo de família, e de relação entre mulher e homem que marcou o princípio do capitalismo, se reproduziu nas fábricas quando da introdução da mulher nas linhas de produção e seus vestígios ainda repercutem na realização do trabalho feminino.