CAPÍTULO IV O monte da Penha e os seus valores turísticos
4.3. As diferentes áreas de ocupação do monte da Penha
Área florestal
Apesar de surgirem indicações que até 1909 o monte da Penha era uma área praticamente desprovida de vegetação devido ao seu pastoreio intensivo, a crescente e contínua expansão florestal realizada a partir de 1927, ter-se-á alargado a toda a área culminante do monte, predominando essencialmente as espécies Quercus robur, Acacia melanoxylon, Olea europea e Eucalyptus globulus. Na década de 80 seria introduzido o Castanea sativa, Platanus, Juglans e uma continuidade do Quercus robur. Já na década de 90, a introdução e reforço do Pinus pinaster, Castanea sativa e Quercus robur.
A mata da Irmandade da Penha constitui a área de gestão de carácter florestal com maior qualidade, uma vez que é um espaço acompanhado por uma entidade que se responsabiliza por todas as ações de manutenção e gestão que permitiram que as espécies existentes se desenvolvessem de uma forma saudável. Este acompanhamento é feito há algumas décadas,
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o que também permitiu um controlo da incidência de fogos e infestantes permanente e assíduo, ao contrário daquilo que aconteceu nas restantes unidades florestais da encosta noroeste do monte da Penha (Carvalho, 2014).
Área agrícola
Nos últimos 60 anos, com as atividades levadas a cabo pelo homem, o desenho da paisagem do monte da Penha foi aos poucos tomando forma naquilo que hoje em dia conhecemos. As áreas agrícolas encontravam-se na altura no sopé do monte e nos vales, pois eram as zonas com melhores condições e de maior valor para a agricultura, ocupando uma boa mancha nesta área e sendo uma fonte de rendimento e trabalho.
Com o aumento da população, as zonas agrícolas começaram a sofrer uma diminuição não só com a necessidade de expandir os limites de povoações, provocando a fragmentação dessas zonas e consequentemente o abandono agrícola. Além disso o próprio declive que o monte da Penha apresenta, não permite haver reposição dessas mesmas áreas em outros locais, associado a uma enorme dificuldade de mecanização. A falta de apoios locais e nacionais, o aumento do custo de vida e a necessidade de procurar melhor fonte de rendimento ditou significativamente o abandono das atividades agrícolas e agroflorestais, restando atualmente pequenas áreas agrícolas (Fig. 5).
Legenda
A - Espaço agrícola abandonado (uso múltiplo).
B - Espaço agrícola cultivado (uso múltiplo).
C - Faixa agrícola (espaços agrícolas). D - Espaço agrícola e florestal (uso múltiplo).
E – Monte da Penha (Santuário da Penha).
Fig. 5 - Atualidade do espaço agrícola no monte da Penha. Fonte: CMG (adp.).
27 Área urbana
Com o aumento da densidade populacional dos subúrbios de Guimarães, é evidente o crescimento da área urbana em volta do monte da Penha, principalmente nas freguesias de Mesão Frio, Costa e Urgezes, seja a partir do que já existia, seja através de novas áreas. Verifica-se que a encosta voltada para a cidade de Guimarães é a mais edificada devido à proximidade com a cidade, ficando estas freguesias incluídas no chamado perímetro urbano.
Legenda
Fig. 6 - Representação da densidade populacional por freguesia do concelho de Guimarães. Fonte: CMG, Censos 2011 (adp.).
A urbanização na primeira freguesia (Mesão Frio) já invade o monte da Penha pelo lado norte, ao longo de uma linha de festo, podemos assim considerá-la como uma freguesia urbana, tal como Urgezes. De modo geral, todos os aglomerados desenvolveram-se em direção aos aglomerados vizinhos na envolvente do monte da Penha. Para além do aumento da área urbana no sopé do monte, nota-se que existe atualmente uma ocupação mais efetiva nos limites nascente do vale da Ribeira da Cabra (Fernandes, 2014).
Freguesia de Urgezes Freguesia de Mesão Frio
28 Área religiosa
Desde o séc. XVI que o impacto da Penha, como ícone religioso, está patente através da construção de lugares sagrados como as capelas de Santa Catarina e Nossa Senhora do Carmo da Penha, as grutas e abrigos transformados para veneração a Santo Elias, Nª Senhora de Lurdes, Nª Srª do Carmo, S. Sebastião, Cristóvão, Nª Srª do Ar e a Nª Srª do Mar (braga.360portugal).
A primeira intervenção remonta ao século XVIII, aquando da colocação de uma imagem da Nossa Senhora do Carmo da Penha na capela de S. Cristóvão, a mando do eremita italiano Guilherme Marino. Nos anos 80 do século XIX, foi construída uma capela e uma torre no cimo dos penedos que abrigavam a ermida, sendo doravante visível da cidade o local onde se situava a ermida de Nossa Senhora, capela que se tornaria, em meados da década 30 do século XX, a capela de São Cristóvão. A vivência da fé, no alto do monte da Penha, começava a expandir-se cada vez mais com as pessoas em busca deste local para alimentar a sua fé e o seu bem-estar espiritual. Para corresponder a esta procura, foi criada uma comissão de melhoramentos que organizou uma romaria ao alto da Penha, a 29 de agosto de 1886, para angariar fundos para a criação de infraestruturas que respondessem às necessidades dos romeiros (Novais, 2012).
A partir da segunda metade do século XIX, surge a intenção de valorizar os valores religiosos do monte da Penha e é criada então a Irmandade da Nossa Senhora do Carmo da Penha, composta por devotos, onde são oficializados os estatutos da mesma a 21 de julho de 1872 (Pinto e Barroso, 2005). A 18 de Junho de 1882, em comemoração da aprovação do dogma da Imaculada Conceição, foi lançada a primeira pedra de uma estátua em honra do Papa Pio IX no monte da Penha.
Já no início do século XX, mais propriamente em 1923, o local seria classificado como estância de turismo.
Símbolo de fé e farol de Guimarães, o Santuário da Penha é um monumento de singular beleza, valia arquitetónica e ainda um exemplar único da arquitetura religiosa de Marques da Silva. Em 1930, o reconhecido arquiteto ficou incumbido do projeto e da escolha do local de implantação, os trabalhos de regularização do terreno começaram a 6 de agosto do mesmo ano, sendo inaugurado em 1947. Na capela, os azulejos parietais de Policarpo de Oliveira Bernardes merecem uma especial referência tal como o púlpito e a imagem da Nª Srª da Penha.
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Hoje em dia, a Irmandade da Nossa Senhora do Carmo da Penha é proprietária de cerca de 60 ha e todos os anos realiza uma grande peregrinação anual que se realiza no 2º domingo de setembro.
Área de lazer
O monte da Penha conta com 60ha de área, sendo uma grande parte dela preenchida por paisagem verdejante e uma mata secular onde o granito impõe a sua presença. Nesse mesmo granito podemos descobrir penedos, grutas onde pequenas capelas foram criadas, miradouros naturais e até áreas de repasto como uma adega regional.
Um parque frondoso com fontes e um parque de merendas com mesas em pedra para encontros entre famílias e amigos, podem ser uma ótima escolha para um piquenique, aproveitando a sombra natural e a paisagem em redor, onde podemos admirar e ter uma vista privilegiada não só sobre o Santuário da Penha, mas também da própria cidade de Guimarães. Ainda é possível passear nas ruas ajardinadas do monte da Penha e outras áreas, onde um simples percurso se pode tornar num livro aberto para aprender algo mais sobre este local, seja histórico, ambiental ou paisagístico.