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Social dos Irmãos

TEMPO DE VERÃO

4.2. As Diferentes Categorias

Nesta comunidade sui generis, constamos que havia quatro categorias de pessoas: os noviços, os terceiros de fora ou serventes, os entrevados e os congregados de pleno direito, podendo estes últimos ser sacerdotes ou leigos.

Todo aquele que pretendesse ser filho da Ordem Terceira de S. Francisco e entrar na santa Congregação, primeiro seria visto e examinado.

Se o candidato fosse sacerdote devia ter comportamento comprovado, exemplar, de boa naturalidade10 e espírito. Se fosse leigo, que pretendesse ser sacerdote, devia saber latim, ser brando, humilde e devoto. Caso esse leigo fosse para servente, procurar-se-ia saber se tinha modo e actividade para o serviço de algum ministério da supracitada Casa. Alegamos o exemplo do leigo Serafim Ferreira que, aos 21 de Setembro de 1701, entrou a título de servente na Congregação de graça por ser pobre e de préstimo, onde foi enfermeiro e tomou o hábito preto de corista aos 4 de Novembro de 1726.

Os Estatutos determinam ainda que uns e outros não tenham uma doença contagiosa; que não sejam casados ou comprometidos (obrigados por promessas de futuro), não tenham algum crime pelo qual possam ser presos ou dívidas pelas quais possam ser demandados e que não tenham raça de judeus ou mouros, ou de qualquer outra infecta nação.

Todo aquele que não corresponda aos requisitos exigidos e não esteja em consonância com os Estatutos da Casa, mesmo que tenha entrado já no noviciado, seria logo despedido e lançado fora da Congregação. Se o pretendente tivesse as partes e requisitos necessários seria - lhe transmitido o modo de viver e os Estatutos; se se obriga a todos os encargos inerentes à sua entrada; obrigações da ordem; bem como deveria fazer uma petição com os nomes dos pais e avós, com declaração da parte ou lugar donde são ou foram naturais. Todas estas informações sobre o pretende seriam feitas por dois irmãos da Casa ou por outras pessoas

9 SANTOS, Cândido Augusto Dias dos -A Congregação de Oliveira. In História de Gaia. Vila Nova de Gaia:

Câmara Municipal de V.N.G., 1995. Fase. 10, p. 420.

10 Na Congregação não seriam recebidos judeus, mouros, mulatos ou candidatos de outra qualquer infecta nação. 11 A.D.P., sec. mon., cart, do Convento da Congregação de Oliveira (Gaia), Lv. 2063, de 1805-1830, p. 73. 12 Id. Ibid.,\. p. 35.

13 Id. Ibid.,\. p. 35. Efectivamente, na Crónica da Congregação constatamos que a maior parte dos irmãos

Capítulo todos os padres e irmãos professos que tivessem voto nele.

O estado regular, status regularis, adquirido pela profissão religiosa, professio religiosa, isto é, por um voto solene pronunciado entre as mãos do superior da ordem, voto que tem sempre como intenção a pobreza, a obediência e a castidade, poderia desenvolver-se segundo as exigências especiais da ordem.

Exige-se do religioso que quer fazer profissão um noviciatus (noviciado), isto é, um tempo de experiência. Um prova de, pelo menos, um ano para impedir, por um lado, demasiada precipitação por parte do noviciado e, de outra parte, para permitir à ordem afastar sujeitos considerados indignos.

Verificamos que um dos indivíduos - João da Costa Porto - não chegou a professar, porque foi excluído aos 6 meses de noviciado em 24 de Agosto de 1719.16 No entanto, desconhecemos o motivo da dita exclusão.

Na Congregação de Oliveira, se o noviço fosse aceite seria posto na hospedaria durante vinte dias sem mudar de veste e não faltando a nenhum dos exercícios da Congregação, devendo servir a tudo aquilo que lhe fosse mandado. Após esse breve período de experiência, tornava-se a fazer Capítulo na sobredita forma e não se encontrando defeitos no entrante seria dado-lhe o hábito de noviço.

Alegamos o seguinte exemplo: Termo da aceitação do pretendente Manoel da Cunha depois dos 20 dias e de se tirar 400$000 reis para se fazer torre do rellogio que elle dava desta Cazapara sua sustentação.

"Aos dois dias do mês de Agosto de I746 mandou o Muito Reverendo Padre Ministro António Rodrigues convocar a comunidade para a Coza do Capitólio para se tirarem os vottos ao pretendente Manoel da Cunha, depois de ter tomado os vinte dias de experiência, e por escrutínio sahio aceite pella mayor parte dos vogais da comunidade para que pudesse

tomar o nosso santo hábito. E logo no mesmo dia propôs o padre Ministro a todos os vogais que de hum conto de reis que o dito pretendente dava para sua sustentação se podia tirar

14 DICTIONNAIRE ENCYCLOPÉDIQUE DE LA THEOLOGIE CATHOLIQUE, rédigé par les plus savants

professeurs et docteurs en théologie d'Allemanhe Catholique Moderne, Tomo XVINABAJOTH-OZIAS. Pans - Gaume Frères et J. Duprey éditeurs, 1862, p. 406.

15 Id. Ibid., p. 406.

16 Vide Apêndice Documental III - Os Indivíduos - 54° Indivíduo. 17 Id. Ibid.,\. p. 35.

Um dos ofícios existentes nesta Congregação era o de Mestre dos Noviços, o qual teria que estar preparado para dirigir espiritualmente os noviços e lhes ensinar as cerimónias, obrigações da regra e a estrutura dos próprios Estatutos. Também, deveria admoestar a que Façam a sua confissão geral com o confessor que eles elegerem dentro do ano de seu noviciado; fazendo também o seu testamento.19 Portanto, antes de professarem os noviços fariam os seus testamentos conforme o Capítulo 9o da sua regra confirmada pelo papa Nicolau IV, os quais seriam entregues ao irmão Ministro.

Alguns indivíduos não necessitavam de tomar hábito, nem de professar. Tal foi o caso de António de Sousa, o qual, por ter sido Ministro da Ordem Terceira Secular de Setúbal, não tomou hábito nem professou. Aos 30 de Abril de 1696 entrou para a Congregação a título de corista.21

Esta Congregação aceitava irmãos de fora, ou seja, todo aquele irmão que desejasse praticar uma vida religiosa sem pertencer necessariamente à ordem religiosa de S. Francisco, poderia entrar nesta Congregação. Nesta sequência, foi a partir do ano de 1747 que se iniciou o ensino de filosofia e de teologia na Congregação de Oliveira. Foram aceites para a aula de filosofia padres de fora, nomeadamente os padres António da Silva e Jozé da Silva, sobrinhos do vigário desta freguezia, e João Gomes, estudante assistente em Garfaens desta mesma jreguezia. Portanto, além dos irmãos sacerdotes e leigos, todos aqueles irmãos ou irmãs que,

a uma légua em redor, quisessem ser filhos dessa Ordem Terceira poderiam ser, mediante certas condições. Estes seriam entendidos como os terceiros de fora.23 Eram indivíduos que viviam nas suas próprias casas e habitantes da freguesia de Oliveira do Douro que fariam as suas petições ao Irmão Ministro, o qual se informava da limpeza do sangue e dos costumes da vida de cada indivíduo.24 Se as informações fossem boas, com os votos dos deputados de Mesa, os candidatos poderiam ser aceites e recebidos pelos irmãos. Salientamos ainda que o

A.N.T.T. - Ordem dos Frades Menores (OFM), Congregação de Nossa Senhora da Conceição de Oliveira do Douro, Livro 3, de 1700-1823, p. 21.

19 A.D.P., sec. mon., cartório do Convento da Congregação de Oliveira (Gaia), Lv. 2063, de 1805-1830, Cap.

XIX, p. 19.

20 Vide Apêndice Documental III - Os Indivíduos - 22° Indivíduo.

21 A.D.P., sec. mon.,, cart, do Convento da Congregação de Oliveira (Gaia), Lv. 2063, de 1805-1830, v. p. 56. 22 Id. Ibid., v. p. 171.

23 Vide Capítulo VIII dos Estatutos sobre os Irmãos Terceiros de Fora.

24 Tal como previam os Estatutos da Ordem Terceira de S. Francisco da cidade do Porto no ano de 1751. Vide

Quanto aos entrevados, o padre Bartolomeu Ribeiro26 refere que esta instituição religiosa destinava-se a prestar hospitalização médica e espiritual aos eclesiásticos, vítimas de doenças crónicas e incuráveis, não contagiosas. Como tal, na enfermaria da Congregação seriam recolhidos os sacerdotes deste Bispado do Porto, que "forem (sic) segos ou entrevados, ou de alguma doença habitual achaquados, contando que não seja contagiosa; estes serão sacerdotes que sempre procederam em sua vida com bom exemplo de (sic) veriude e ião sofridos e mortificados que não sirvam de perturbação, aquietação e silêncio que se pretende nesta Casa" Portanto, para os indivíduos serem acolhidos na enfermaria da Congregação teriam de ser necessariamente sacerdotes, vítimas de doenças crónicas e incuráveis, desde que não fossem contagiosas. Além disso, deveriam ser sacerdotes do Bispado do Porto. Este último requisito era somente válido para a aceitação de indivíduos na enfermaria da Congregação. '

Destacamos que qualquer indivíduo que pretendesse entrar para a Congregação de Oliveira e ordenar-se poderia ser proveniente do Bispado do Porto, do Bispado de Lamego, do Bispado de Coimbra ou até mesmo do Arcebispado de Braga; logo, não era condição sine qua non ser do Bispado do Porto para serem congregados.

Temos ainda os congregados de pleno direito que viviam na Congregação, tendo os seus ofícios, deveres e obrigações bem definidos.

Por fim, nesta Congregação também encontramos referência à entrada de indivíduos menores de idade. Um deles era João de Sousa e mais tarde, por sua devoção, João do Sacramento, menor idade, com licença de seus pais ( e m 10 de Junho de 1686) tomou o hábito de leigo, entrou ser pobre a título de mestre rebocador.28 Era natural da aldeia do

Carvalho da freguesia de Oliveira e recebeu o hábito da mão do Reverendo Visitador Fr. Pantaleão do Sacramento, guardião de S. Francisco por se achar em visita à Congregação. Professou no ano de 1687, no dia do Espírito Santo, sendo então Ministro o fundador.29

Na Congregação havia indivíduos relativamente novos, nomeadamente João de S. Francisco que, no dia 13 de Junho de 1709, veio para moço da Congregação e sendo de

25 Vide Apêndice Documental - III - Os Indivíduos - Indivíduo n.° 130.

Os Terceiros Franciscanos Portugueses - Sete séculos da sua História. Braga: Tip. "Missões Franciscanos",

1952, p. 274.

27 A.D.P., sec. mon., cart, do Convento da Congregação de Oliveira (Gaia), Lv. 2063, de 1805-1830,

v. p. 13.

28 Vide Apêndice Documental - III - Õs Indivíduos - Individuo n." 12 e 6" leigo.

título de corista™ Este irmão tinha 17 anos quando entrou para a Casa. Morreu no dia 16 de Dezembro de 1763 com 70 anos.

4.3. A forma de sustentação e gestão dos bens