• Nenhum resultado encontrado

As diferentes crenças religiosas influenciam da mesma

CAPÍTULO VI: APRESENTAÇÃO DOS MODELOS ORGANIZADORES DO

2. Análise das perguntas da pesquisa

2.3. As diferentes crenças religiosas influenciam da mesma

de sexualidade?

Para atender a esta terceira e última pergunta de nossa pesquisa, realizaremos uma análise comparando os resultados relativos às questões 01 e 05 dentro dos três grupos religiosos entrevistados: católicos, adventistas e espíritas.

Os dados que nos auxiliam na busca pela resposta a este questionamento foram apresentados ao longo de toda a análise efetuada até agora, de modo que faremos referência a eles, sem a necessidade de expô-los na íntegra novamente.

Para iniciar, apenas retomaremos os dados mais significativos para a análise da pergunta, referentes a cada uma das três religiões consideradas.

Católicos: Neste grupo, encontramos nas respostas dos sujeitos uma forte influência das crenças religiosas nos modelos organizadores aplicados, tanto na Questão 01 (72%) quanto na Questão 05 (92%). Como conseqüência, a maior parte dos sujeitos manteve o mesmo raciocínio em ambas as questões consideradas; assim, enquanto que apenas 20% dos sujeitos aplicaram modelos organizadores diferentes ao se posicionarem diante de temáticas de sexualidade nas questões 01 e 05, a maioria (80%) fez uso do mesmo modelo organizador nas duas respostas. O grupo de católicos foi, assim, o único em que a quantidade de sujeitos que mantém o raciocínio nas questões analisadas foi maior do que aqueles que alteraram de alguma forma a organização do pensamento.

Adventistas: No grupo referente à religião Adventista, a quantidade de sujeitos que respondeu à Questão 01 fazendo referência a elementos explicitamente religiosos (12 sujeitos, ou 48%) é quase a metade daqueles que assim fizeram diante da Questão 05 (22 sujeitos, ou 88%). Apesar disso, é possível dizer que há uma influência considerável das crenças religiosas na organização do pensamento dos adventistas. Quanto à distribuição dos sujeitos que mantiveram ou alteraram seu raciocínio diante das questões 01 e 05, é possível perceber neste grupo um grande equilíbrio: 48% aplicaram o mesmo modelo organizador nas duas respostas, enquanto que 52% utilizaram raciocínios diferentes.

Espíritas: Neste grupo, identificamos pouca influência das crenças religiosas nas respostas dos sujeitos à Questão 01: apenas 7 deles, ou 28%. Já na Questão 05, o quadro se transforma, e essa quantidade passa a

corresponder a 76% dos sujeitos, que aplicaram os Modelos 1 (princípios religiosos tradicionais) ou 2 (relação sexual exige responsabilidade). Dentre os grupos religiosos, é junto aos espíritas que encontramos a menor quantidade de sujeitos que mantiveram o mesmo raciocínio ao responderem às questões 01 e 05 (6 sujeitos, ou 24%). A maioria, 19 deles, aplicou modelos organizadores diferentes ao responderem a ambas as questões, implicando uma grande mudança de raciocínio no grupo como um todo.

Como vemos a partir do que acabamos de colocar, a influência das crenças religiosas no pensamento dos sujeitos de cada uma das três religiões consideradas deu-se de forma diferenciada, e isso pode ser claramente confirmado se observarmos as distribuições apresentadas nos Gráficos 6 (pág. 156) e 8 (pág. 164) colocados anteriormente neste capítulo. Embora os modelos organizadores aplicados por toda a amostra tenham sido os mesmos, a distribuição dos sujeitos dentro de cada uma das religiões aqui discutidas ao responderem às questões 01 e 05 foi bastante desigual, e reflete o fato de que as crenças religiosas diferentes não influenciaram da mesma maneira – e com a mesma intensidade – a organização do pensamento dos sujeitos.

Diante disso, há alguns fatores, pensamos, que devem ser considerados na compreensão de nossos resultados. O primeiro deles diz respeito aos elementos religiosos vinculados ao nosso contexto cultural. Como já colocamos anteriormente, nossa cultura foi, no decorrer da História, influenciada pelos elementos religiosos vinculados ao Catolicismo. Com relação ao tema da sexualidade, tais elementos são, de certa forma, também os mesmos pregados pela Igreja Adventista: a relação sexual enquanto criação e bênção de Deus ao casal; o matrimônio como condição para realização do ato sexual; o sexo com o objetivo de procriação. Como tais elementos não se fazem presentes de maneira tão intensa quando enfocamos o Espiritismo, não podemos deixar de considerar a possível influência de nosso contexto cultural no pensamento dos sujeitos, reforçando ainda mais o pensamento religioso dos católicos e dos adventistas, o

que não ocorre no caso dos espíritas. Este pode ser um dos motivos que fizeram com que, por um lado, o grupo católico refletisse uma grande quantidade de sujeitos mantendo o mesmo raciocínio, influenciados por suas crenças e, por outro lado, os sujeitos do grupo espírita apresentassem uma menor influência dos elementos religiosos ao responderem ao questionário.

Além disso, também é preciso colocar que o Espiritismo parte do princípio de que o ser humano é livre para pensar e agir, mas que deve estar preparado para assumir as conseqüências de seus atos. A religião Espírita é, em sua essência, aberta ao diálogo, ao respeito às diferentes crenças, ao estudo e à busca de esclarecimentos, pois prega a liberdade com responsabilidade. Portanto, não se constitui como uma religião que se fecha em seus dogmas, o que, do nosso ponto de vista, confere, aos espíritas, princípios e crenças menos rígidos do que aqueles que encontramos no Catolicismo ou mesmo na religião Adventista.

Este fato conduz-nos a um outro ponto, relacionado a uma dimensão mais subjetiva do ser humano: o vínculo estabelecido pelos sujeitos para com suas crenças. Este vínculo, de acordo com o que já foi abordado anteriormente, está relacionado à forma como as crenças são internalizadas e conservadas pelos sujeitos. Assim, podemos dizer que quanto maior o vínculo do sujeito com suas crenças religiosas, quanto mais estas crenças estão enraizadas em sua individualidade, maior a coerência que este tende a manter na organização do pensamento diante das situações da vida cotidiana (Frijda & Mesquita, 2000; Krüger, 1993). Talvez este seja um dos fatores que levou o grupo católico a apresentar uma grande quantidade de sujeitos que conservaram o mesmo raciocínio diante das duas questões apresentadas.

Acerca deste último ponto, pensamos que um dos caminhos que nos permite aprofundar neste tipo de discussão esteja nos estudos sobre as relações entre as crenças e a afetividade, tema que abordamos de maneira bastante sucinta em nosso quadro teórico (cf. pág. 74) e que, na presente pesquisa está referenciado pelos trabalhos de Frijda, Manstead & Bem (“Emotions and Beliefs” / “Emoções e Crenças”, 2000). Contudo, acreditamos ser este um ponto que

merece um estudo mais cuidadoso, e devemos reconhecer que nossos dados não nos permitem realizar, na presente pesquisa, este tipo de aprofundamento.

Para concluirmos a análise da última pergunta que compõe nossa pesquisa, podemos dizer, a partir de nossos dados, que as diferentes crenças religiosas não influenciaram da mesma forma o pensamento dos sujeitos diante de temáticas de sexualidade. Cada um dos grupos religiosos aqui entrevistados configurou perfis diferentes, tanto se levarmos em conta a distribuição dos modelos organizadores aplicados quanto se considerarmos a freqüência de sujeitos que alteraram ou aplicaram o mesmo raciocínio em suas respostas às duas questões analisadas.

Diante disso, levantamos alguns fatores que podem estar relacionados a estas diferenças, e que dizem respeito à forma como cada uma das crenças relaciona-se ao nosso contexto cultural, e também à força com a qual tais crenças religiosas são subjetivamente aceitas e conservadas pelos sujeitos, dentro de cada um dos grupos.

Levando-se em conta o primeiro ponto, temos que o grau de influência das crenças religiosas na organização do pensamento dos sujeitos parece ter sido maior nos grupos em que o conteúdo de tais crenças fazia-se coerente com as idéias difundidas em nosso contexto cultural – caso principalmente dos sujeitos pertencentes à religião Católica, como vimos.

Com relação ao segundo fator que destacamos, é preciso dizer que quanto maior o vínculo estabelecido pelo sujeito ou grupo para com determinada crença, maior a influência que esta parece exercer na organização de seu pensamento.

Estes dados levam-nos a considerar que nem todos os aspectos culturais internalizados pelos sujeitos acabam por influenciar da mesma maneira, e em todos os contextos, sua forma de ser, pensar e atuar no mundo. No caso especificamente das crenças, pudemos verificar que aspectos relativos ao conteúdo de tais crenças e o vínculo ou motivação (Krüger, 1993; Martins & Branco, 2001) a elas relacionados são alguns dos fatores que podem interferir no grau de influência das crenças no raciocínio dos sujeitos. Ou seja, crenças

diferentes influenciam de formas diferentes a organização do pensamento humano.