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As dificuldades e as propostas de mudanças no fornecimento para o PNAE

3. PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR HISTÓRIA,

3.3. COOPERATIVA DE PRODUTORES AGROPECUÁRIOS DE SÃO PEDRO (COOPAMSP)

3.3.3. As dificuldades e as propostas de mudanças no fornecimento para o PNAE

As primeiras dificuldades apresentadas por nossos interlocutores com relação à participação no PNAE se relacionam às questões burocráticas (como a interpretação da lei ou o atendimento dos requisitos administrativos da chamada pública).

As dificuldades maiores que a gente passou no começo eram de interpretar a legislação, parte da documentação, essa parte de DAP, mas hoje a gente tem tudo na ponta da língua, então fomos aprendendo... não tinha aonde perguntar, ninguém sabia. (DA.Coopamsp).

Efetivamente o lançamento de chamadas públicas específicas para a agricultura familiar não é totalmente dominado por diferentes setores das prefeituras. De fato, trata-se de exigências relativamente novas, diferenciando-se do processo licitatório, que é o comum nas compras públicas. Como já mencionado, os critérios de escolha de fornecedores no âmbito do PNAE não se baseiam unicamente no preço, como nas licitações.

E ai a dificuldade do pessoal na parte de licitações e os advogados... é essa também. Eles não sabem diferenciar essas coisas (entre chamada pública e licitação) e não está escrito também essas coisas (DA.Coopamsp).

O desconhecimento da lei por parte de técnicos de prefeituras, no que se refere à exigência de aquisição de no mínimo 30% de produtos da agricultura familiar dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação foi mencionado como um entrave:

Tem prefeitura hoje que nem sabe, prefeitura que a gente conversou o ano passado que (...) elas nem sabiam que tinha que gastar esse dinheiro, esses 30%, ela (nutricionista) nem sabia que vinha, diz ela que a prefeitura não passava para ela ou, como ela falou, talvez a prefeitura nem sabia que tem que fazer isso (DA.Coopamsp).

Nesses dois casos, de desconhecimento dos procedimentos para a realização da chamada pública ou das exigências da Lei nº 11.947 de 2009 ̶ estabelecendo que “do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações” ̶ a cooperativa parece atuar de forma decisiva. Nossos interlocutores mencionam que acabam ajudando para que as prefeituras cumpram as determinações legais. Assim, a cooperativa muitas vezes propõe seus produtos para prefeituras via PNAE. Havendo interesse de compra por parte da prefeitura, os membros da Coopamsp disponibilizam um modelo do documento para estruturar a chamada pública, permitindo a compra pública de seus produtos.

Com efeito, evidencia-se uma falta de eficiência do poder executivo federal para assegurar a efetivação da referida lei. Depois de dez anos desta mudança legal, muito municípios desconhecem a obrigatoriedade de aquisição de produtos da agricultura familiar com os recursos que lhes são repassados pelo FNDE.

De todo modo, observa-se uma pró atividade da cooperativa, para efetivação da Lei nº 11.947, com intervenção no nível das práticas das prefeituras. Dessa forma as cooperativas acabam tendo uma função de carreadoras na propagação e ampliação desta modalidade de compra pública favorável à agricultura familiar.

Evidentemente, nossos interlocutores consideram que um maior envolvimento dos técnicos das prefeituras, apropriando-se de todas as potencialidades existentes no PNAE, seria altamente desejável.

Da parte das prefeituras, acho que mais aquela coisa deles estarem mais inteirados na coisa de como funciona o PNAE. Porque cai na mão deles para eles fazerem, mas eles não sabem fazer, não tem onde procurar (DP.Coopamsp).

Portanto, a busca de alternativas de envolvimento e cooperação dos atores relacionados ao processo torna-se relevante, apresenta-se como uma alternativa para lidar com eventuais dificuldades e podendo ser favorável à efetivação das compras públicas da agricultura familiar no âmbito do PNAE.

Nesta perspectiva, as chamadas públicas deveriam se ajustar a oferta dos agricultores locais, como mencionado por um dos diretores entrevistados. Por exemplo, existem épocas de pedido de folhosas muito restrito, mas essas compõem grande parte da produção de hortaliças, o que provoca menor escoamento desses produtos. Assim, a nutricionista da prefeitura deve se incumbir de conhecer a produção local para contribuir mais adequadamente na formulação da chamada pública.

A elaboração de cardápios compostos por produtos que são competência agrícola da região e por produtos de época torna-se favorável a uma resposta adequada dos produtores familiares. Quanto mais antecipadas forem as solicitações de produtos, mais os agricultores podem planejar suas produções de acordo com o desejado, evitando desperdícios e consequentemente perda de seus investimentos, tanto financeiros, quanto de tempo e dedicação.

Quanto as melhorias na própria cooperativa, a única menção se refere, por parte de um diretor, a um maior envolvimento dos cooperados. Este interlocutor acredita que o PNAE pode favorecer esse maior envolvimento, uma vez que os cooperados se beneficiam diretamente do aumento das vendas dos produtos:

O que eu vejo ai é um pouco mais de envolvimento. Falta um pouco de envolvimento do cooperado. [O PNAE] favorece. Por que se o PNAE aumentar né, você vai ter uma venda maior, vai gerar um lucro maior, esse lucro você vai repassar para o produtor e isso faz com que ele se interessa mais né?! (DA.Coopamsp). De fato, foi mencionado pela diretora de produção da Coopamsp, que houve grande envolvimento dos cooperados no período inicial de fornecimento para a alimentação escolar:

Para os produtores, nossa, eles ficavam... tinha produtor que vinha até ajudar na época, por que daí a gente tinha que fazer mutirão (...). Então eles ajudavam, estavam bastante empolgados nessa época. Dai depois saiu Piracicaba e deu uma caidinha. Dai agora empolgou de novo, por que está com a proposta do queijo já quase saindo (DP.Coopamsp).

Trata-se de princípio fundamental do espírito cooperativo. O maior envolvimento dos cooperados é, portanto, muito relevante para a cooperativa. O papel do PNAE neste sentido ocorre e deve ser mais focalizado.