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As Dimensões da Desigualdade Federativa: Produção e Impostos.

DESIGUALDADE FEDERATIVA E SUAS DIMENSÕES

2.3 As Dimensões da Desigualdade Federativa

2.3.2 As Dimensões da Desigualdade Federativa: Produção e Impostos.

Um dos elementos mais importantes no que concerne ao estabelecimento de uma federação é a repartição das receitas e a cobrança de impostos. Em O Federalista, Publius discute a importância da União (ou de uma federação) para o aumento das rendas da nação, principalmente em decorrência do fato que uma federação possibilita a regulação mais eficaz do comércio e da coleta de impostos. “A capacidade de um país em pagar impostos

deve ser proporcional em grande medida à quantidade de dinheiro em circulação e à celeridade com que ele circula” (MADISON, 1987: 134). No contexto de O Federalista, o argumento é baseado na eficácia de um sistema único de coleta de impostos e de regulação de comércio para a consolidação da União.

Estes fatores estão vinculados diretamente com a autonomia dos entes subnacionais e também com seu desenvolvimento econômico. O estabelecimento do pacto federativo e de seu arranjo institucional pode influenciar sobremaneira este aspecto, mas não é possível ignorar o fato de que a evolução econômica das unidades regionais pode ocorrer devido a fatores que não estão circunscritos à esfera institucional. Se não é possível ignorar que a evolução econômica dos entes subnacionais possui um componente extraconstitucional, não se pode omitir o fato de que o arcabouço institucional relacionado a estruturas de arrecadação e repartição é um dos componentes mais importantes de todas as federações. A repartição de receitas está vinculada ao arranjo institucional da federação e com os valores e normas subjacentes, implícitos ou explícitos de cada uma delas. (COUCHERNE, 2003)

As estruturas fiscal e tributária e de transferências governamentais são ferramentas importantes para a dinâmica econômica, seja para a diminuição das desigualdades inter- regionais ou, de maneira oposta, para produzir oportunidades diferenciadas para alguns membros da federação. Um dos desafios num contexto de internacionalização acentuada dos fluxos de comerciais, financeiros e informacionais é produzir estruturas que ao mesmo tempo ofereçam oportunidades para cada membro específico e, ao mesmo tempo, não permitir que estas oportunidades tenham como conseqüências o aumento das disparidades regionais o que, em casos extremos, poderia levar a processos de fragmentação da federação.

Paulatinamente, a interface tradicional das relações econômicas entre as nações em termos das relações econômicas internacionais está dando lugar a uma série de interfaces regionais-internacionais ou subnacionais-internacionais. Ainda neste contexto, não é possível ignorar que os processos em curso, a partir dos anos 50, de integração econômica regional podem contribuir também para o crescimento desigual ou para o aprofundamento das disparidades econômicas entre as subunidades de uma federação. (COUCHERNE, 2004: 32-34).

As estruturas fiscal e tributária e os instrumentos para a repartição de receitas estão associados diretamente ao arranjo institucional de cada federação; contudo, no âmbito desta tese, estas estruturas são concebidas como um dos componentes da dimensão Economia, Impostos e Produção da Desigualdade Federativa. Não se trata aqui de determinar como é que ocorre a relação entre a estrutura fiscal e tributária e o desenvolvimento econômico seja da federação, seja de uma unidade específica, o que por si só seria um outro campo para estudos, mas sim chamar a atenção para o fato que as estruturas fiscal e tributária são um dos componentes decisivos para a compreensão do funcionamento das federações e para a sua dinâmica econômica e por isso, são objetos constantes de barganha por parte dos entes regionais ou do governo central.

É necessário ainda, ressaltar o fato de que no contexto atual cada vez mais os entes subnacionais vêm adquirindo relevância no ambiente econômico internacional em virtude do fato que estes operam como unidades econômicas e não apenas como unidades políticas, o que lhes permitiu adotar uma orientação ligada estreitamente à lógica da competição econômica global. A conseqüência disso é que cada vez mais estes entes que estão, de certa forma, intimamente ligados aos fluxos internacionais de comércio e de finanças buscam ampliar seus espaços no contexto institucional da federação.

Componentes importantes dessa dimensão são os indicadores econômicos voltados para a produção e desenvolvimento econômico da federação como um todo e de cada ente regional em particular. Indicadores como Produto Interno Bruto, dados específicos sobre produção industrial e agrícola oferecem informações relevantes sobre a evolução econômica da federação e de seus membros o que permite construir um quadro da abrangente das transformações econômicas.

Outro aspecto que deve ser ressaltado na dimensão Produção e Impostos são as transformações ocorridas no decorrer do século XX, no qual as concepções desenvolvimentistas e de bem-estar social do Estado deram lugar a concepções liberais que têm como pressupostos básicos a rigidez fiscal, a eliminação do déficit público, necessidade de reformas voltadas para o mercado e orçamentos cada vez mais restritos. Estes princípios produzem impactos nas relações federativas no sentido que, novamente, acentuam as desigualdades regionais e produzem oportunidades diferenciadas para cada membro da federação. (REZENDE &AFONSO, 2002).

De forma esquemática os componentes da dimensão Produção e Impostos podem ser apresentados da seguinte maneira:

a) Instrumentos de Repartição de Receitas: Política fiscal e tributária da federação para os entes constituintes definidas no texto constitucional. b) Produção Econômica: São os indicadores de evolução econômica dos

entes subnacionais em separado e da federação como um todo, principalmente aqueles voltados para produção industrial e agrícola e da área de serviços.

c) Instrumentos de Equalização: Mecanismos constitucionais que oferecem prerrogativas especiais, do ponto de vista econômico, fiscal e tributário para unidades subnacionais específicas.

No contexto desta dimensão, o mais importante a ser ressaltado é que o processo econômico, mesmo sendo incentivado ou constrangido pelos arranjos institucionais e pelas estruturas fiscal e tributária, é dinâmico no decorrer do tempo, gerando a cada momento interesses específicos para cada um dos membros da federação. A transformação das características econômicas, fiscais e tributárias apresentam-se como fatores de barganha constantes no decorrer do tempo.

2.3.3 As Dimensões da Desigualdade Federativa: Aspectos Populacionais e Étnico-