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AS DIMENSÕES DA INTUIÇÃO EM PESTALOZZI E O MÉTODO INTUITIVO

No documento TA79 (páginas 193-197)

Monique Louise Cassimiro Inácio

3.4 AS DIMENSÕES DA INTUIÇÃO EM PESTALOZZI E O MÉTODO INTUITIVO

Intuição /u-i/ substantivo feminino 1. faculdade ou ato de perceber, discernir ou pressentir coisas, independentemente de raciocínio ou de análise. 2. FILOSOFIA forma de conhecimento direta, clara e imediata, capaz de investigar objetos pertencentes ao âmbito intelectual, a uma dimensão metafísica ou à realidade concreta.

Pestalozzi não foi o primeiro pedagogo a colocar a intuição como ideia central de estudo e reflexão. Desde Comenio (1592 – 1670, República Checa), passando por Locke e Rousseau, a intuição sempre esteve no centro do pensamento pedagógico de muitos educadores. Pestalozzi, no entanto, diferente de seus antecessores, passou a pensar a intuição como realidade experimentada, tanto do ponto de vista material como moral (PEÑA, 2008).

Segundo Brum (2014), a capacidade intuitiva a que se refere Pestalozzi está vinculada à capacidade de pensar e de organizar o conhecimento por meio das informações e do sentimento, pela capacidade reflexiva, isto é, o conhecimento imediato empírico que se dá pela observação atenta de um objeto, conhecimento esse que pode ser pelos sentidos ou pelas experiências internas imediatas da nossa percepção.

Para Pestalozzi, a intuição não se limitava à mera visão passiva dos objetos e à contemplação das coisas, mas incluía a atividade profissional, intelectual e moral por meio da qual eram criados os objetos. A atividade profissional refere-se ao aprender trabalhando, fazendo, relacionando conhecimentos e atividades práticas, sendo indispensável para o desenvolvimento de habilidades exteriores, exercitar os sentidos e os membros. Da mesma forma, a atividade intelectual, que necessita de exercício especial da mente. Por fim, a educação moral ou religiosa, considerada pelo autor a de maior significado na formação do ser humano, consiste na formação de valores e modos de agir coerentes, sendo que seu fim “não é outro que o aperfeiçoamento, o enobrecimento interior, a autonomia moral” (ZANATTA, 2012).

Na sua obra “Como Gertrudes ensina seus filhos”, Pestalozzi trata da formação intelectual, física e moral dos sujeitos e como a intuição é alicerce para esta formação integral, afirmando que “todo conhecimento parte da intuição e a ela tem que poder ser remetido” (PESTALOZZI, 1978).

Nesta mesma obra, também diferencia os tipos de intuição: interna (innere

anschauungen) e externa (äussere anschauungen). A intuição externa se relaciona aos

sentidos e às impressões que se recebem do mundo, possíveis de serem construídos pelas faculdades sensoriais. A intuição interna, por sua vez, se refere ao sentimento e ao juízo que se produz como reação às impressões externas reconhecidas pelos órgãos sensoriais. Para Pestalozzi, a intuição externa é a fonte para a intuição interna, mas só a intuição interna é capaz de dar valor humano à intuição externa e à função que ela carrega. A intuição externa fornece “dados”, mas só a intuição interna é capaz de dar valor e sentido a eles, sendo este o ponto fundamental para a formação moral (PEÑA, 2008).

Pelas palavras do próprio autor (PESTALOZZI, 1978):

“Os sentimentos, a partir dos quais resultam as primeiras sementes sensitivas da moralidade de nosso gênero, são fundamentos essenciais de nossa intuição interna, e por ela, há a formação elementar para o amor, a gratidão e a confiança; e a formação elementar da intuição interna, nada mais é do que a formação elementar para a moralidade, que em sua essência, se baseia nas leis da natureza sensitiva, a partir do qual está construído o essencial da formação elementar intelectual e física do sujeito.”

Assim, no método intuitivo o sujeito é concebido como um organismo que se desenvolve de acordo com leis definidas e ordenadas e contém em si todas as capacidades da natureza humana. Essas capacidades se revelam como unidade da mente, coração e mãos, e devem ser devolvidas por meio da educação intelectual, profissional e moral, respectivamente, estreitamente ligadas entre si (ZANATTA, 2005).

A partir destes princípios, também fica evidente a importância da educação afetiva no lar. Para Pestalozzi, o contato afetivo e amoroso com a criança durante seu desenvolvimento, permite a construção de uma intuição baseada em bons sentimentos, e a partir daí, a criança se organiza no mundo sob esse ponto de vista, já familiarizado com princípios morais elevados, sendo capaz de diferenciar e julgar os fenômenos externos que constroem sua realidade objetiva (PEÑA, 2008).

De fato, o coração, retratando o aspecto moral do homem, foi um dos conceitos que Pestalozzi mais se preocupou em seu método, pois acreditava que o homem

só seria capaz de desenvolver-se se conhecendo verdadeiramente. Portanto, suas práticas pedagógicas eram imersas de amor, respeito e cultivo aos valores essenciais à formação do ser humano. Trazia as concepções de que a sala de aula deveria ser como uma grande família e entendia que toda mãe é a primeira educadora de seu filho. Para ele, a educação moral não se consiste numa instrução ou na ilustração da moral, mas sim na convivência de valores formados a partir de suas práticas e modos de agir coerentes (ARAÚJO, 2011).

Como comentado anteriormente, o método de Pestalozzi parte das primeiras observações da teoria de Rousseau, até então individual, na busca de aperfeiçoá-la no meio social, para atender às necessidades do processo ensino aprendizagem da época. Com seu método chamado “lição das coisas” que envolveu exercícios de aprendizagem de forma, número e linguagem trata da linguagem como elemento que deve estar ligado à observação do objeto ou conteúdo. Entre outras ideias avançadas, destaca-se a importância de as crianças trabalharem em grupos em certas atividades, uma ajudando a outra (BRUM, 2014).

Neste sentido, na prática do método intuitivo, Pestalozzi também estimulava a presença de colaboradores, ou monitores, recrutados entre os alunos mais adiantados. Numa carta escrita em 1799 a um de seus amigos sobre o orfanato de Stans, Pestalozzi detalhava a importância deles em seu dia-a-dia (WANTUIL; THIESEN, 1998):

“Logo encontrei ajuda entre meus próprios alunos, e na diferença de capacidade de cada um deles. Servia-me dos mais adiantados para fazê-los ensinar aos seus colegas o que eles mesmos sabiam. Esta distinção dava prazer; excitava neles pura e louvável emulação; consolidavam o que tinham aprendido, ao repeti-lo para os outros (...).”

Do ponto de vista teórico-pedagógico e considerando as dimensões da intuição para Pestalozzi, existem três fatores elementares que compreendem a atividade intuitiva: a assimilação das formas, a formação do número e a comunicação. Assim, a intuição como forma de representação sensitiva da realidade, apreende do objeto sua forma, assimila sua unidade/multiplicidade e o faz relacionar-se numericamente e, pela fala, o faz comunicável mediante à linguagem. Esses fatores elementares estão relacionados a atos básicos (PEÑA, 2008), conforme demonstrado na Figura 16.

Consequentemente, Pestalozzi procura evitar que a linguagem chegue até o educando como um instrumento desconstruído de sentido e significado para ele, presumindo portanto, que o conteúdo deva prescindir a linguagem, para que essa se torne consequência da percepção. Isso é possível quando a criança é colocada para interagir em seu meio, para que antes de se apropriar do abstrato, ela possa conhecer o concreto (ARAÚJO, 2011).

O método da “lição de coisas” caracteriza-se portanto, por oferecer dados sensíveis à observação, indo do particular ao geral, do concreto experienciado ao racional, chegando aos conceitos abstratos. Seguindo esta dinâmica, é atribuída a Pestalozzi a primeira tentativa de estabelecer o ensino de geografia com base na intuição, que até então limitava-se à memorização de cartas, símbolos, regiões. Por meio da relação homem-natureza, partindo do concreto para o abstrato, em excursão à campo, o conhecimento era trabalhado através do contato com o meio, da experiência, da observação, das análises, dispensando mapas, livros e esquemas que, a princípio, eram distantes da realidade dos educandos (ZANATTA, 2005; ELLIOT; DANIELS, 2006).

Figura 16 - Componentes fundamentais do método intuitivo de Pestalozzi para a formação profissional, intelectual e moral.

3.5 A PROPOSTA DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

No documento TA79 (páginas 193-197)