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3 AS DINÂMICAS ENCONTRADAS NO CENTRO DE REFERÊNCIA À SOROLOGIA

CENTROS DE REFERÊNCIA EM HIV/AIDS

3 AS DINÂMICAS ENCONTRADAS NO CENTRO DE REFERÊNCIA À SOROLOGIA

Foram realizadas dez entrevistas, buscando contemplar todas as áreas de atuação no serviço. Foram entrevistados técnicos de enfermagem, médico, enfermeiro, recepcionista, redutor de danos, assistente social, psicóloga e serviço geral.

Nesse momento, buscamos saber de cada profi ssional questões referentes ao serviços realizados por eles, questões relacionadas às difi culdades e facilidades encontradas. Questionamos sobre o serviço em equipe e também sobre o preconceito com que o serviço necessita lidar no seu dia a dia por trabalhar com uma doença que ainda causa certo tabu, que é o HIV/AIDS.

Durante as falas sobre o que é o Centro de Referência à Sorologia, a maioria dos sujeitos nos colocou como sendo um serviço de referência ao atendimento de HIV/AIDS e outras DST, sendo este um local onde as pessoas podem conversar sobre sua doença sem sofrer preconceitos. Também consideram o serviço como sendo diferenciado, devido ao respaldo que este recebe da Política de AIDS e da sua ligação com o Ministério da Saúde.

“É um serviço de referência em soropositivo para HIV/AIDS, onde as pessoas que necessitam de tratamento podem conversar, trocar experiências devido ao preconceito...” (F4).

“É um serviço diferenciado por ser respaldado pela Política de AIDS e tem uma direção própria. É diferenciando também porque tem ligação direta com o Ministério da Saúde o que gera mais autonomia para trabalhar” (F8).

Em relação ao aspecto que aborda a atuação de cada profi ssional, o cenário encontrado foi de sujeitos ligados a inúmeras atividades as quais necessitam dar conta. Algumas eram divididas entre os profi ssionais; outras, devido aos diferentes saberes, fi cavam a cargo do profi ssional da respectiva área. Fazendo uma média das atividades listadas por eles, pode-se dizer que cada profi ssional atua em quatro atividades distintas, não sendo raro encontrar profi ssionais deste serviço que extrapolem esse número. Todavia, encontra-se também funcionários que desenvolvem um número menor de tarefas, conforme as falas a baixo:

“Atuo no serviço SAE realizando consulta [...], encaminhamento para exames especializados. No CTA realizo pré e pós-atendimento para coleta de anti HIV, hepatites B e C e sífi lis. Realizo também a parte de coordenação da equipe [...], previsão e provisão de insumos[...]. Faço visitas domiciliares e palestra nas empresas.

Atendimento a grupo de gestantes, participação em reuniões na Secretaria da Saúde, em projetos e planos estratégicos em saúde. Notifi cação de gestante HIV, criança exposta, violência sexual” (F5).

“Capacidade técnica Pré e Pós-Aconselhamento (outros profi ssionais também desempenham esta atividade); Atender a demanda encaminhada ao serviço por outros setores relacionados aos direitos do cidadão vulnerável; Visitas Domiciliares com busca ativa de crianças faltosas ou com difi culdade de adesão e gestantes;

Comunicar ao setor competente sobre os direitos de crianças e adolescentes e os

cuidados dos familiares sobre o HIV e outras DST; Coordenação de grupo de adesão;

Ofi cinas de adesão e geração de renda que deve retornar em janeiro e palestras em setores públicos e privados e escolas” (F8).

Como se pode perceber nas falas, algumas atividades aparecem em vários sujeitos, como a realização de palestras, visitas domiciliares e aconselhamento pré e pós-teste Anti-HIV, Sífi lis e Hepatite B e C, sendo essas atividades compartilhadas pelos profi ssionais da equipe, ocorrendo a divisão destas tarefas conforme o momento de cada sujeito e sua disponibilidade.

Com o objetivo de levantar dados referentes às facilidades e às difi culdades, a maioria dos participantes apontaram como difi culdade do serviço a grande demanda de usuários que o serviço atende para uma equipe relativamente pequena.

“Difi culdade seria o quadro diminuído de pessoal frente ao aumento da demanda” (F5).

Surgiram falas apontando difi culdades de negociação com os gestores municipais e também referentes à burocracia do trabalho.

“...entendimento do gestor a respeito da epidemia, bem como do incentivo fi nanceiro e pouco comprometimento de outros serviços e municípios...”(F9).

A respeito das facilidades, a mais destacada entre todos os entrevistados foi o bom contato, a boa comunicação e o coleguismo que existe neste local de trabalho, proporcionando um ambiente bom de trabalhar e manter um serviço de qualidade.

“Facilidade é o bom acesso entre os colegas, todos conversam, ajudam tanto a chefi a como outros cargos; é bem tranquilo” (F10).

Esta fala demonstra também como são as relações hierárquicas do serviço, demonstram uma fl exibilidade nas relações tanto entre os diferentes conhecimentos, como também entre os cargos de chefi a. Isso está presente na fala do funcionário 8, o qual expõe tal fl exibilidade como “gestão democrática”:

“...uma gestão democrática e uma equipe coesa...” (F8)

Outro elemento de facilidade que pudemos observar diz respeito às verbas e ao respaldo que o serviço tem da Política de AIDS e do Ministério da Saúde:

“destaco trabalhar na Política de AIDS, bom acesso a bens materiais e instrumentos para trabalho. Ter verba do Ministério da Saúde para a realização das ações, ao contrário acredito que seria mais difícil...” (F8).

No que tange ao trabalho em equipe, o que as respostas demonstraram é que há uma boa vinculação entre todos os que trabalham no serviço. Tanto os sujeitos que se encontram há mais tempo no serviço, como os mais novos que trazem em seu discurso a questão do coleguismo e do bom relacionamento:

“Dentro da equipe aponto como facilidade a boa comunicação entre todos...”

(F2)

“Bom, porque as pessoas se tratam com igualdade, estão sempre prontos a ajudar, posso chegar na coordenação e pedir ajuda não há distanciamento. Isto eu acho que outros serviços não teriam...” (F6)

Todavia problemas foram apontados. Dentre eles, questões relacionadas à organização, em controvérsia às falas anteriores também surgiram problemas em relação à comunicação, conforme os seguintes discursos:

“Sinto que a equipe necessita aprofundar melhor a organização do trabalho e melhorar a comunicação dos profi ssionais, elaborar protocolos de atendimento para melhor funcionamento do serviço” (F5).

Outro ponto importante destacado é a fala de um dos funcionários que diz respeito ao serviço em rede:

“...saúde publica é isto, rede, e se tem contato com outras redes. Há um bom relacionamento e todos os saberes são importantes...” (F7).

Conforme outras falas já demonstraram, esses profi ssionais têm sentido o acúmulo de atividades de trabalho e a necessidade de aumentar a equipe, tanto com outros saberes, como também com mais profi ssional do mesmo saber. Além disso, eles referem-se à necessidade de um profi ssional concursado para a recepção, devido ao sigilo que o serviço necessita e também em relação à alta rotatividade de estagiários CIEE.

“Aumento da equipe, ter alguém que possa dar maior atenção ao sujeito recém-descoberto HIV positivo, pois, mesmo com um pós-atendimento (momento que revela o resultado), depois que a pessoa sai do serviço surge outras dúvidas e não há mais momentos para que estas dúvidas sejam sanadas, só as consultas médicas mas que sabemos que isto não ocorre por causa da grande demanda que eles atendem” (F6)

Outro ponto apontado para mudança no serviço diz respeito a questões ligadas à rotina, como coloca o funcionário 5:

“Há resistência a rotinas escritas, trabalham bem, mas segmentado. Criaria as operações padrões para guiar melhor o serviço de todos.”

Por último foi questionado a eles sobre como lidavam com a questão do preconceito da equipe para com os pacientes do serviço, já que ali frequentavam pessoas que tinham uma doença que possui grande preconceito em sua raiz histórica que é a AIDS, pessoas de diversas classes sociais e diversas orientações sexuais.

Nessa questão, pode-se perceber uma ambiguidade nas respostas, onde parte dos entrevistados negou existir tal preconceito por parte da equipe e outros afi rmaram que isso existe ainda, dentro do trabalho em menos grau, mas existe.

“Supertranquilo, nunca notei pelo menos até hoje, porque pessoas assim não se adaptariam aqui dentro.” (F1)

“A pessoa preconceituosa não trabalha neste local, não é o perfi l. Sempre que ocorreu isto na história do local, esta pessoa foi desligada...” (F3).

“Em geral não existe preconceito por parte da equipe [...], vejo maior difi culdade neste sentido no que diz respeito à rede pública de serviços em saúde” (F8).

4 CENTRO DE REFERÊNCIA À SOROLOGIA VERSUS TRABALHO EM EQUIPE NO

ATENDIMENTO DO HIV/AIDS: DISCUTINDO OS DADOS A PARTIR DE UM OLHAR