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As doenças cardiovasculares e as principais cirurgias cardíacas nos idosos

2.1. Os Padrões de Conhecimento do Enfermeiro no envelhecimento e nas doenças cardiovasculares

2.1.3. As doenças cardiovasculares e as principais cirurgias cardíacas nos idosos

A visão de que o coração é um órgão central ou dominante do corpo faz com que qualquer distúrbio em sua função seja interpretado como uma “metáfora para a mortalidade súbita” (MORAES et al., 1999, p.08). Este pensamento é ainda mais complexo quando o idoso necessita de alguma intervenção neste órgão tão mitificado.

Como publicado em 1993 pelo Ministério da Saúde por meio de dados estatísticos, relativos às capitais brasileiras, revelou-se uma redução no coeficiente de mortalidade de aproximadamente dez vezes em razão de doenças infecto-contagiosas no período de 1950 a 1980. Já a mortalidade por neoplasias e por doenças cardiovasculares (DCV) manteve-se inalterada, isto é, estas continuam sendo a principal causa de morte (LIBERMAN, et al 2005).

Pelo contrário do que era esperado nos anos de 1980 a 1988, ou seja, em nove anos, ocorreu um aumento no coeficiente de mortalidade por DCV de 30% para 34%; isso corresponde a um aumento de 13,3% no risco de morrer por DCV (LIBERMAN, et al 2005). Através dos dados epidemiológicos fornecidos pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde relativos ao ano de 2000, evidencia-se que a mortalidade por DCV aumenta com o avanço da idade (BRASIL, 2008).

As doenças cardiovasculares têm-se apresentado, nas últimas décadas, em proporções estatisticamente expressivas dentre as maiores causas de morbimortalidade, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. No Brasil, é a principal causa de

morte, vitimando cerca de 300.000 brasileiros por ano (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS - ABTO, 2008).

Barreto, et al. (2003, p. 550) afirmam que:

Além de importante causa de mortalidade, as doenças cardiovasculares também representam relevante indicador em termos de morbidade e lideram a lista de causas ordenadas pelo indicador de anos de vida vividos com incapacidade. Estima-se que, em 2020, três quartos dos óbitos, em países em desenvolvimento, serão devido às doenças crônicas, em especial, às doenças do aparelho circulatório.

Dessa forma, é importante alertar quanto ao processo de aterosclerose3 no idoso, assim como todos os fatores responsáveis pela degeneração crônico-destrutiva do aparelho cardiovascular no idoso, levando os sujeitos a terem indicação cirúrgica.

Para Knobloch (1990), o ser humano que necessita de uma cirurgia cardíaca vivencia uma situação de crise desde a descoberta do problema e tenta defender-se da ansiedade advinda dessa situação. Complementando, Lamosa (1990) afirma que, antes de decidir-se pela cirurgia que restaurará o órgão mitificado, o ser passa por inúmeras consultas, tendo de encarar o ato cirúrgico por ser seu último recurso.

A cirurgia cardíaca é realizada quando a probabilidade de uma vida útil é maior com o tratamento cirúrgico do que com o tratamento clínico e, segundo Galdeano e Rossi (2006), a cirurgia cardíaca pode ser classificada em: corretora - como nos casos de fechamento do canal arterial, de defeito do septo atrial e ventricular; reconstrutora- para revascularização do miocárdio, plastia de valva aórtica, mitral ou tricúspide; e substitutiva- para trocas valvares e os transplantes.

Tendo em vista o aumento da expectativa de vida e sua relação com as doenças cardiovasculares, que acometem consideravelmente os idosos, levando-os a um maior risco de serem submetidos à cirurgia cardíaca, considera-se importante a assistência de enfermagem pré-operatória, devido às complicações advindas do período perioperatório, período este que constitui a experiência cirúrgica em sua totalidade, incluindo as fases pré-operatórias, a intraoperatória ou transoperatória e o período pós-operatório.

Quanto à fase pré-operatória, esta representa o período desde a decisão da intervenção cirúrgica até o paciente ser transferido para a mesa na sala de operação; já o período intraoperatório ou transoperatório, o qual se refere ao momento desde a transferência do paciente para a mesa da sala de cirurgia até ser admitido na unidade de recuperação pós- anestésica (SMELTZER e BARE, 2005). Por fim, o período pós-operatório, de acordo com

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É um processo patológico extremamente complexo, estando identificados inúmeros fatores de risco para seu desenvolvimento. É reversível (ainda que difícil) em que se observa alteração da estrutura da camada íntima das grandes artérias decorrente da presença de gorduras (LIBERMAN, 2005).

Bogossian (1995) e Moraes e Peniche (2003), caracteriza-se no momento em que o paciente sai da sala de cirurgia e perdura até o seu retorno às atividades normais. A duração deste período é variável, pois depende do tipo de intervenção cirúrgica e das condições do paciente. Os autores acima referidos dividem este período em três etapas especiais: pós- operatório imediato - que compreende as primeiras 12 a 24 horas após a cirurgia, enfatiza-se que não há uma definição exata da duração dessa fase, pois depende do porte ou gravidade da cirurgia e das condições em que se encontra o paciente ao seu término; período pós-operatório mediato - inicia-se após as primeiras 24 horas e nas cirurgias de menor porte é geralmente curta, durando cerca de dois a quatro dias; e o período pós-operatório tardio - que se estende por um período de um a dois meses, até a completa cicatrização das lesões ou a fase de ganho ponderal.

Ressalta-se que, para Moraes e Peniche (2003), nas grandes cirurgias, o pós-operatório mediato pode prolongar-se para um período de sete a dez dias. Sabe-se, também, da relação direta entre pré-operatório e pós-operatório, geralmente, quando há um bom pós-operatório é devido a um pré-operatório bem realizado.

Na internação cirúrgica, todo o processo perioperatório é relevante, todavia, o período pré-operatório de cirurgia cardíaca evidenciou-se como muito significativo para os idosos e seus familiares, devido à fragilidade em diversos aspectos que os envolve nessa circunstância. Isso leva a refletir sobre o papel do enfermeiro no período pré-operatório, no sentido de direcionar sua assistência não somente para ações instrumentais ou técnicas, mas também para as ações expressivas, isto é, relacionadas à subjetividade (LABRONICI, 2002), com o propósito de amenizar esses sentimentos.

Desse modo, entende-se que a visita pré-operatória de enfermagem pode contribuir para a diminuição do estresse do corpo enfermo, quando o enfermeiro dispõe-se a ouvi-lo intencionalmente, pois o relacionamento interpessoal é indispensável para a identificação dos significados que ele dá à doença, à internação e ao tratamento cirúrgico (ZAGO e CASAGRANDE, 1996).

De acordo com Cavalcanti (2002, p.7):

O enfermeiro precisa encorajar a verbalização do cliente, ouvi-lo, ser compreensivo e proporcionar-lhe informações que o ajudem a aliviar suas preocupações. Os temores são expressos sob diversas formas, cabendo ao profissional identificar seus significados e utilizar-se de artifícios para minimizá-los. O medo do desconhecido, freqüentemente, é o pior de todos. Sendo assim, quanto mais o cliente tiver conhecimento sobre suas possibilidades futuras, melhor será sua adaptação à internação e, conseqüentemente, sua recuperação. O medo da anestesia também existe, mas é secundário ao medo da morte. Um bom relacionamento entre o enfermeiro e o cliente pode fazer com que este compreenda que seus temores talvez sejam exagerados.

Vislumbra-se dessa forma uma realidade preocupante e o idoso submeter-se-á a um momento difícil e complicado de sua vida, necessitando de todo um aporte técnico-científico e, além disso, da atenção e da compreensão por parte de toda a equipe multidisciplinar que irá promover a assistência. Além disso, a família também necessita de apoio da equipe de saúde neste período.

Assim, é importante que o enfermeiro faça sempre um contra ponto entre o corpo físico deste idoso que necessita de uma intervenção cirúrgica para promover sua sobrevida, com a mente, a fim de dar valor as suas singularidades, dando voz a esse sujeito, permitindo- lhe que exponha seus medos, angustias, ansiedades e outras necessidades.

Corrobora-se com Beauvoir (1990) de que o fenômeno do envelhecimento é uma questão existencialista, isto é, tem que se observar às questões culturais, sociais e psicológicas desse idoso. O enfermeiro deve saber que: “a velhice é um destino vivido de maneira variável segundo o contexto social” (BEAUVOIR, 1990, p. 16). Dessa maneira deve se entender o idoso a partir de suas individualidades e de seu contexto existencial.