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As duas filosofias da linguagem de Wittgenstein

Wittgenstein nasceu em Viena, na Áustria, em 1889. Depois de estudar engenharia, em 1911 foi para Cambridge, na Inglaterra, estudar filosofia com Bertrand Russell. Iniciou então as reflexões que originaram o Tractatus logico-philosophicus, que foi produzido durante a primeira Guerra mundial, da qual Wittgenstein participou como voluntário, e na qual foi peso na Itália. Em 1921 a obra é publicada, tendo sido a única publicação em vida do filósofo. Depois da guerra, Wittgenstein abandonou a filosofia e buscou uma vida mais simples. Foi quando se tornou professor do primário no interior da Áustria, além de jardineiro de um mosteiro. Mas em 1929 ele retornou à Cambridge, onde doutorou-se usando o Tractatus como tese, e em seguida tornou-se professor, e começou a refletir sobre os erros de sua primeira obra. A princípio buscou refletir para corrigir, mas depois compreende que se deve fazer uma nova obra. Nesse período, chamado de intermediário, Wittgenstein produziu obras postumamente publicadas, como

Observações filosóficas (1929-1930), Gramática filosófica (1931-1934) e Observações sobre

os fundamentos da Matemática (1937-1944). É chamado de período intermediário pois está entre sua primeira grande obra e sua segunda grande obra, que também foi publicada postumamente, as Investigações Filosóficas (1953). Em 1938 ele se naturalizou britânico. Wittgenstein também se voluntariou na segunda guerra mundial. Em 1947 abandonou a vida acadêmica. Foi acometido de câncer e morreu em 1951.

Wittgenstein se interessou por filosofia a partir de seus estudos em matemática nos estudos de engenharia, que o levaram a refletir sobre os fundamentos da mesma e o levou às obras logicistas de Frege e Russell. Ele viveu entre Viena e Cambridge, berços da filosofia analítica. Em Cambridge, a filosofia analítica teve como fundadores, Russel e Moore, e em Viena com o círculo de Viena, que desenvolveu a mesma. Nesse contexto, sob às influências apresentadas, e devido suas próprias inquietações, Wittgenstein escreve o Tractatus, obra que representa o ápice da filosofia analítica na época e que influenciou desenvolvimentos futuros. Anos depois, ao discutir sua obra com participantes do círculo de Viena, com Ramsey, do contato com os escritos de Brouwer, de Heidegger, Wittgenstein dá um giro em seu próprio

pensamento, uma virada pragmática (MORENO, 2009), passando a considerar agora a linguagem cotidiana, formulando as bases da filosofia da linguagem ordinária que aqui chamamos filosofia pragmática.

Há um debate que por vezes é trazida nas discussões sobre Wittgenstein sobre a existência de fato de uma separação entre a primeira e a segunda filosofia deste filósofo. Para alguns autores (MARCONDES, 2004; COSTA, 2015; NIGRO, 2009) a filosofia do segundo Wittgenstein é um desenvolvimento do primeiro, pois mantém a ideia analítica, ou seja, para estes Wittgenstein se mantém analítico, no entanto, o segundo não busca mais analisar para chegar a uma linguagem ideal, mas busca analisar o próprio uso da linguagem. Outros consideram que foi um rompimento completo, pois modificou-se totalmente a visão sobre a linguagem, como Fann (2013), com quem concordamos, que defende que há de fato uma separação, e que Wittgenstein deixa de ser um filósofo analítico.

A primeira fase de Wittgenstein é caracterizada pela única obra publicada em vida: o

Tractatus Logico-Philosophicus (1921) que, como vimos, sofreu influência do logicismo filosófico de Frege e Russell. Glock (1998) nos informa que de Frege, Wittgenstein, adotou a exigência de que o sentido de uma proposição deve ser determinado, e de Russel, o programa atomista da análise das proposições em termo de seus elementos mais simples. No entanto, Wittgenstein foi além de seus mestres, aprofundando o tema e chegando ao ápice da filosofia analítica, de uma maneira bastante original.

O Tractatus é uma leitura densa e diferente, que demanda leituras anteriores, como de Frege e Russel, e uma percepção sobre o contexto histórico/social/filosófico em que se coloca. O Tractatus se estrutura em sete teses principais, correlacionadas em aforismos, determinados por números.

1 O mundo é tudo o que ocorre.

2 O que ocorre, o fato, é o subsistir dos estados de coisas. 3 Pensamento é a figuração lógica dos fatos.

4 O pensamento é a proposição significativa.

5 A proposição é uma função de verdade das proposições elementares. (A proposição elementar é uma função de verdade de si mesma.) 6 A forma geral da função de verdade é

[ p, ξ, N(ξ)]

Esta é a forma geral da proposição. 7 O que não se pode falar, deve-se calar.

Wittgenstein apresenta a tese principal enumerada de 1 a 7, e em cada uma vai tecendo outras sub-teses, também enumeradas de acordo com a tese principal, ou seja, se se refere a tese 1, estará 1.1, 1.2, etc., e se se refere ao 1.1, veremos 1.11, ou 1.12, seguindo assim.

Os algarismos que enumeram as proposições isoladas indicam o peso lógico dessas proposições, a importância que adquirem em minha exposição. As proposições n.1, n.2, n.3, etc. constituem observações, à proposição n.° n; es proposições n.fnl, n.m2, etc., observações à proposição n.° n.m, e assim por diante (TLP, primeira nota de rodapé).

Nas teses 1 e 2 notamos uma ontologia, o mundo e os fatos (estado de coisas), ou seja, o que ocorre nestes. Na tese 3 temos a relação entre o mundo e o pensamento, estando na sua base a figuração lógica. Na tese 4 temos o estudo da linguagem de fato, onde as proposições só têm sentido se são possíveis de serem formuladas no pensamento. As teses 3 e 4 tratam da relação do pensamento com a proposição. As teses 5 e 6 tratam do fundamento dos conceitos de acordo com a natureza lógica deles, isto é, tratam da função de verdade das proposições. Vale dizer que por vezes assuntos classificados aqui em uma tese surgem em outros, como a questão do valor de verdade que aparece na tese 4, mas não passa de uma necessidade para discutir o assunto da tese principal. A tese 7 é uma espécie de constatação diante de tudo que foi apresentado, não tendo nenhuma explicação posterior, sendo o último aforismo. Isso mostra que Wittgenstein compreende que o que pode ser falado em filosofia é o que está falado no

Tractatus, com relação às outras questões, não se pode falar, como ele diz no prefácio:

[Este livro] Trata de problemas filosóficos e mostra, creio eu, que o questionar desses problemas repousa na má compreensão da lógica de nossa linguagem. Poder-se-ia apanhar todo o sentido do livro com estas palavras: em geral o que pode ser dito, o pode ser claramente, mas o que não se pode falar deve-se calar (acréscimo nosso)

Ainda no prefácio, Wittgenstein anuncia seu objetivo com o Tractatus:

[...] estabelecer um limite ao pensar, ou melhor, não ao pensar, mas à expressão do pensamento, porquanto para traçar um limite ao pensar deveríamos poder pensar ambos os lados desse limite (de sorte que deveríamos pensar o que não pode ser pensado).

O limite será, pois, traçado unicamente no interior da língua; tudo o que fica além dele será simplesmente absurdo.

Como vemos, Wittgenstein busca tratar dos limites da linguagem, que são os limites do pensamento, e os limites do mundo. “Os limites de minha linguagem denotam os limites de meu mundo” (TLP, §5.6). Wittgenstein intenta resolver os problemas filosóficos, ou melhor, mostrar que tais surgem de uma má compreensão da lógica da linguagem.

De acordo com Hacker (2000, p. 7), os principais temas desenvolvidos nesta obra são “a natureza geral da representação, os limites do pensamento e da linguagem e a natureza da necessidade lógica e das proposições da lógica”. Wittgenstein busca discutir a natureza da lógica e da filosofia, analisando apenas a linguagem – pois, é a única possibilidade, e não há como ir além disso -, considerando esta em uma relação isomórfica com a realidade, sustentada pela lógica.

Conforme Moreno (2006, p. 14), no Tractatus Wittgenstein compreende que “Os elementos linguísticos possuem algumas propriedades que são comuns a todos eles. [...] uma dessas propriedades comuns consiste em que todos os elementos da linguagem representam algo”. Moreno (2006), ao tratar das propriedades comuns, coloca tais propriedades como possíveis mediante duas condições, que é tanto a existência de diferenças, quanto de semelhanças. Deve haver diferença entre aquilo que representa e aquilo que é representado, para poder se distinguir o que é linguístico do que não é, assim como, deve haver semelhanças entre o representante e o representado, sem o que não seria possível a relação entre realidades diferentes.

A condição de diferença é explicada por Moreno (2006) a partir de dois sentidos. O primeiro é que a linguagem não se caracteriza por um conjunto de elementos materiais, como os símbolos que formam um alfabeto, mas por seus conjuntos de funções, ou seja, elementos materiais podem ser caracterizados como linguagem quando apresentam funções de linguagem, isto é, de representação, devendo haver apenas uma diferença entre o que é o representante e o que é o representado. Por isso que a proposição da linguagem é considerada pelo primeiro Wittgenstein uma figura, uma imagem da realidade, que se une a esta devido a forma lógica. O outro sentido para essa condição de diferença é a atribuição do caráter lógico à representação linguística, que é o critério para a distinção dos elementos em uma relação simbólica, quando a relação de representação é lógica, de quando não o é. Assim, Moreno (2006) define que a linguagem, no Tractatus é um conjunto de funções caracterizadas por sua natureza lógica.

Para Moreno (2006), assim como devemos diferenciar entre o representante e o representado, também é necessário perceber semelhanças, que se relaciona ao que existe (ontológico) e ao que pode ser dito (linguístico). A condição de semelhança se dá por que analisamos o que existe, por que o mundo existe e os fatos existem no mundo, e é isto que os assemelha. Tanto a linguagem quanto a realidade estão existentes no mundo, e esse caráter ontológico, os deixa em uma mesma esfera, e assim, Wittgenstein entende que há uma isomorfia entre a estrutura do mundo e a estrutura da linguagem (SCHMITZ, 2004), que é revelada pela proposição como imagem dos fatos. Ao analisar essa relação ele chega à noção sobre a

composição da proposição, pois, no Tractatus, Wittgenstein busca fazer uma teoria pictórica do significado, ou como Moreno (2006) chama, a teoria da proposição como imagem dos fatos, pois o pensamento do mundo se dá pela projeção figurativa da linguagem, que seria o modelo por excelência que toda linguagem deve ter para ter sentido, onde a proposição substitui um fato da realidade em um isomorfismo correspondente, isto é, a forma substitui o fato real só podendo falar sobre o que é possível - é possível por que pode ser pensável logicamente. Assim a estrutura da linguagem se corresponde à estrutura do mundo devido a lógica, mas Wittgenstein alerta que as proposições elementares são independentes, pois a verdade ou falsidade de uma não interfere em outra. Esse é o ponto de vista linguístico do Tractatus. E aqui temos a relação entre o ponto de vista ontológico e o linguístico, que se complementam, pois, o primeiro, o mundo, fornece a forma dos objetos, que é fixa e estável, e o segundo, a linguagem, fornece a forma de representação, essas são as duas faces da forma lógica, que é o tema central da obra.

De acordo com o Tractatus, não há relação lógica entre as proposições elementares, mas há entre as proposições e os fatos, o que une a linguagem e o mundo. “Não podemos pensar nada ilógico, porquanto, do contrário, deveríamos pensar ilogicamente” (TLP, §3.03). Para Moreno (2006, p. 16), a proposição é “algo que representa de uma maneira particular”. A proposição é a imagem do fato. Ela espelha o fato, em uma forma particular de representação e a linguagem é a totalidade das proposições (TLP, §4.001).

Dessa forma, Wittgenstein intentou dar continuidade ao projeto logicista de Russell, onde ele busca fundamentar a linguagem na lógica, mostrando que há uma forma lógica comum à linguagem e ao mundo representado por ela. Para o primeiro Wittgenstein a linguagem e o mundo têm uma lógica como base comum, e a linguagem é composta por proposições, e estas, são compostas por nomes, que são o elemento mais básico da linguagem. No Tractatus são os nomes que se referem aos objetos simples do mundo e é neste nível que Wittgenstein faz uso referencial da linguagem. Para Wittgenstein os nomes seriam os átomos da formação da linguagem, desenvolvendo assim a noção de atomismo lógico de Russell. Os átomos formam as moléculas, que seriam as proposições. A relação da linguagem com o mundo se dá em uma correspondência biunívoca, cada nome da linguagem se refere a um objeto do mundo, e as proposições formadas pelos nomes se referem aos fatos do mundo. “A proposição elementar é constituída de nomes. É uma conexão, um encadeamento de nomes” (TLP, §4.22). No entanto, Wittgenstein não exemplifica tais nomes e as proposições elementares (FANN, 2013), ele entende que assim se dá a correspondência, mas que não conseguimos enxergar esses elementos mais básicos, ficando para nós apenas as proposições e os fatos. O filósofo parece acreditar que apenas uma linguagem ideal que apresentasse tais elementos mais básicos e a forma lógica que

os fundamenta, explicaria, de fato, mas ele não exemplifica como seria isso (FANN, 2013), dando a entender que se deve apenas aceitar que a lógica está no domínio das relações entre a linguagem e o mundo. Como mostra Schmitz (2004, p. 127), citando Frege em seus escritos póstumos, “se nossa linguagem fosse logicamente mais perfeita, não teríamos mais necessidade da lógica, ou antes, poderíamos apreendê-la diretamente da linguagem”. Assim, não podendo se falar mais nada além do que pode ser dito, pois não tem como alcançarmos essa lógica profunda, podendo apenas se mostrar, por meio, das proposições. “[...] a forma lógica é indizível e pode apenas mostrar-se em um simbolismo adequado” (SCHMITZ, 2004, p. 119).

Wittgenstein na tese 6 passa a tratar de um tipo de proposição mais específica, que são as proposições da lógica, que de acordo com ele são tautologias (TLP, §6.1), que seriam as verdades incontestáveis, ou mesmo, obviedades. Estas não podem figurar a realidade (TLP, §4.462). Então as tautologias nem sequer podem ser consideradas proposições. São, então, pseudoproposições. Proposições, de fato, carregam consigo a característica de poder ser considerada verdadeira ou falsa, e as tautologias são verdades sob qualquer condição, e não precisam da realidade empírica para as confirmar (TLP, §6.1222). Por isso é lógico, pois é verdadeiro.

Assim, Wittgenstein coloca a lógica na base de todas as relações entre proposições elementares, como se vê na tabela em TLP §5.101. Dessa forma, o filósofo se afasta das tentativas logicistas de Frege e Russel de axiomatizar leis lógicas que estariam na base, dando origens a outras leis lógicas e assim consequentemente. Mas compreende que formas lógicas estão presentes, mesmo não podendo exibí-las. Wittgenstein transmite esse princípio de verdade incontestável das proposições lógicas para as linguagens formais do mundo, pois a tautologia revela uma propriedade formal, como a da disjunção (ou), que diz que um estado de coisas possível ou existe ou não existe (SCHMITZ, 2004), como na proposição “Chove ou não chove”. “Ao conhecermos a sintaxe lógica de uma linguagem simbólica qualquer, já estão dadas todas as proposições da lógica” (TLP, §6.124). Considerando a matemática uma linguagem formal, ou uma linguagem simbólica, suas proposições também ganham o estatuto de verdades incontestáveis, ou seja, são tautologias, pseudoproposições, equações, e nada dizem a respeito da realidade. “A matemática é um método lógico” (TLP, §6.2).

6.211 Na vida, não é da proposição matemática que precisamos, usamo-la

apenas para inferir, de proposições que não pertencem à matemática, outras que igualmente não pertencem a ela. (Na filosofia, a questão "para que precisamos efetivamente de tal palavra ou de tal proposição" sempre conduz a valiosas visualizações) (TLP)

Notamos assim, que Wittgenstein compreendia que a matemática não se relacionava com a realidade. Nas Investigações Wittgenstein muda sua filosofia, mas não muda essa concepção, apenas não entenderá mais que as proposições matemáticas sejam proposições lógicas, mas proposições gramaticais, e assim ele mantém o estatuto de verdade da matemática independente de sua confirmação na realidade, como veremos mais adiante.

Para o primeiro Wittgenstein a questão do sentido é vista como dependente da relação da linguagem com o mundo, pois para ele a proposição só tem sentido se descreve um fato do mundo, se não há essa referência, não há sentido. A realidade do mundo deve confirmar ou não as proposições, que deve figurar os fatos. Para tal decisão seria necessária a análise lógica, que é a decomposição da linguagem em partes, que seriam as proposições, e estas em nomes, para decidir se é verdadeiro ou falso, sendo verdadeiro quando o fato existe e falso se o fato não existe, ou seja, a condição de verdade das proposições depende das funções de verdade das proposições elementares. Aqui vemos o significado na linguagem como algo a priori, independente do uso. “Nada é acidental na lógica: se uma coisa puder aparecer num estado de coisas, a possibilidade do estado de coisas já deve estar antecipada nela” (TLP, §2.012). “Há, portanto, em toda linguagem, um a priori ‘lógico’ que só pode se mostrar, mas sobre o qual nada se pode dizer” (SCHMITZ, 2004, p. 133). Dessa forma é a análise da proposição que revela o significado, e este seria o único modelo capaz de dar sentido à linguagem.

4.4 A proposição é a expressão da concordância e da discordância com as possibilidades de verdades proposições elementares.

4.41As possibilidades de verdade das proposições elementares são as condições da verdade e falsidade das proposições.

4.411 É de antemão provável que a introdução de proposições elementares seja fundamental para a compreensão de todos os outros modos de proposição. A compreensão das proposições universais, com efeito, depende palpavelmente da das proposições elementares (TLP).

Esta análise realizada no Tractatus pode levar a entender que Wittgenstein buscava uma linguagem ideal, como parecem ter tentado Frege e Russell, mas Wittgenstein caminha em outro sentido. Ele entende que uma linguagem ideal revelaria todo o desconhecido, mas não traz nenhum exemplo. Ele parece também entender que como o fato é composto por elementos, que são os objetos, na correspondência, a proposição é composta por nomes, estes elementos mais básicos formariam essa linguagem ideal, no entanto Wittgenstein não traz exemplos destes nomes, ou parece que tal não importa para Wittgenstein, pois só se pode analisar os fatos e inferir que há a relação entre os elementos mais básicos do mundo (objetos) e da linguagem (os nomes), fundamentados na lógica. Como nos diz Glock (1998, p. 28), “A lógica baseada em uma teoria das funções não proporciona uma linguagem ideal, mas sim uma notação ideal que

traz à luz a ordem lógica que subjaz a toda representação simbólica”. Assim, o que Wittgenstein faz é uma proposta metodológica, pois ele não está tratando esta linguagem que usamos, mas mostrando como seria em qualquer linguagem, pois qualquer linguagem terá proposições elementares, que dependerá de como tal linguagem teria sido formada convencionalmente, pois tal, deverá ter sido formada baseada em algum significado, que terá a lógica como fundamento. Ele admite no Tractatus outras linguagens, mas entende que qualquer uma, em qualquer mundo, terá como base a forma lógica, pois compreendeu que não há como existir um mundo fora disso. De certa forma, isto já remete para o conceito de jogos de linguagem e principalmente formas de vida, que ele desenvolverá em sua segunda fase, pois demonstra que depende de qual linguagem se está falando em que contexto, mas depois ele resolve lançar tal ideia para a linguagem ordinária e não mais à lógica. Talvez por isso, Wittgenstein depois do

Tractatus não quis mais saber da filosofia, pois acreditou ter encontrado a resposta para tudo, e entendeu que para certas coisas, não há o que se falar, como o que se refere ao místico ou metafísico (FANN, 2013).

De acordo com Wittgenstein, no Tractatus, “A lógica não é uma teoria, mas um reflexo do mundo. A lógica é transcendental” (TLP, §6.13), assim, ele não transforma a lógica em uma linguagem ideal, mas a vê como uma obviedade do que se percebe no mundo, quando se vê para o mesmo e se nota que há uma estrutura que baseia os fatos deste.

O Tractatus traz a linguagem para o centro da discussão, mas ainda em uma visão essencialista, pois busca um pano de fundo comum entre a linguagem e o mundo, que é a lógica. Não se considera então a linguagem ordinária como a base para se explicar o mundo e o conhecimento que se tem deste, por que esta não pode ser analisada, como se pode fazer usando a lógica.

O pensamento é lógico, e seria a lógica que estaria na base do mesmo. A lógica é o fundamento do conhecimento, e o poder que Wittgenstein dá a ela nos faz ver um aspecto essencialista no Tractatus. Ele acredita que há traços essenciais que permitem compreender o sentido de uma proposição.

3.34 A proposição possui traços essenciais e acidentais. Acidentais são os traços que derivam da maneira particular de produzir o signo proposicional; essenciais, aqueles que sózinhos tornam a proposição capaz de exprimir seu sentido.

3.341 É pois essencial na proposição o que é comum a todas as proposições

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