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A epistemologia do uso de Arley Moreno

Inicialmente a teoria de Moreno era denominada de “pragmática filosófica”, mas para se diferenciar de outras pragmáticas filosóficas ou mesmo de teorias da linguística, Moreno tem intitulado ultimamente de epistemologia do uso. No texto de 2012 o autor busca ressaltar essa diferença, no que diz respeito, principalmente ao termo pragmática, tanto em seu desenvolvimento norte-americano - com Peirce, James, Dewey, Quine e Rorty – quanto europeu – com Apel e Habermas, que de acordo com Moreno (2012), seguem a linha dos estudos de Grice. No americano o destaque seria o utilitarismo e no europeu, uma pretensa universalidade dada ao uso linguístico.

Epistemologia é uma palavra de origem grega, onde episteme é conhecimento, e logos é estudo ou teoria. A epistemologia é também conhecida como “teoria do conhecimento”, é a ciência que estuda o conhecimento, ou o conhecimento que estuda a ciência, pois é o que pode ser pensado sobre a natureza, desenvolvimento e reflexos do conhecimento. A epistemologia é um estudo sobre o conhecimento ou sobre como chegamos a conhecer, e nesse sentido, o propósito qualquer de uma epistemologia é a análise de relações entre um sujeito que quer conhecer e um objeto a ser conhecido e a forma como se gera o conhecimento através dessa interação. Já vimos no primeiro capítulo que a epistemologia surge de fato na idade moderna, que é quando se deixa de se questionar sobre realidades, e busca-se pensar sobre o

conhecimento de tal. Com a virada linguística o conhecimento passa a ser entendido como dependente da linguagem, e não mais como uma ação que depende apenas da ação mental do sujeito, ou da ação deste sobre a realidade.

Nesse sentido, as epistemologias, em geral, baseadas em uma tradição essencialista, tem formulado teses que compreendem a existência de algum fundamento que possibilita ou dá forma a essa interação entre o sujeito e o objeto de conhecimento, e assim, tem se formulado teses como as apresentadas no primeiro capítulo, realista, idealista, empirista, entre outras teses, psicológicas, behavioristas, etc.

No Tractatus Wittgenstein afirma que “A epistemologia é a filosofia da psicologia” (TLP, §4.1121). A psicologia a que o filósofo austríaco se referia era a que se interessa pelos atos lógicos, como implicação, negação, inferência, etc. e não aos aspectos psicológicos da mente empírica. Wittgenstein, assim como Husserl e Frege, combate o psicologismo. Moreno (2012, p. 74) entende que tal compreensão de Wittgenstein nos leva a entender que a epistemologia seria então

uma atividade exclusivamente esclarecedora de expressões linguísticas de atos do pensamento envolvidos em processos epistêmicos – duvidar, acreditar, estar certo, opinar, conhecer, etc. – e terapêutica das confusões geradas pela interpretação unilateral da significação dos conceitos relativos a esses atos segundo o modelo referencial.

Dessa forma, a epistemologia não conduziria à construção de teses filosóficas a respeito do conhecimento e nem de atos mentais a ele relacionados. Wittgenstein não busca uma teoria, nem no Tractatus, nem nas Investigações, ele compreende que os problemas filosóficos só existem por incompreensões da linguagem. Em sua primeira fase, no sentido de uma incompreensão da lógica de nossa linguagem, e em sua segunda fase pela incompreensão da gramática de nossa linguagem.

O próprio jeito de fazer filosofia de Wittgenstein é algo diferente. A filosofia para ele não é uma ciência, como são as ciências naturais. Bouveresse (1991) destaca que para Wittgenstein os métodos e objetivos da filosofia são diferentes daqueles das ciências, e assim, o filósofo austríaco foi um defensor da especificidade da filosofia, e não desejava competir com cientistas ou teóricos, mas nem tampouco, facilitar-lhes a vida, por isso, então, concentrava-se em problemas de filosofia da linguagem, jamais querendo propor teorias, como disciplinas propriamente ditas. Compreendemos que Wittgenstein não concordava em buscar a resposta para todas as coisas pela filosofia, e que esta seria uma tarefa improdutiva.

Moreno (2012) explica que ele desenvolve uma teoria, mas Wittgenstein não. De certa forma, compreender a epistemologia como filosofia da psicologia parece ser algo menor diante do amplo leque de possibilidades que a linguagem oferece, desse modo Moreno busca elaborar uma epsitemologai que se aprofunda sobre tais possibilidades. O filósofo brasileiro percebe teses onde Wittgenstein não pretendia. Desse modo, quanto a questão do conhecimento, Moreno, o concebe “como o conjunto de relações internas de sentido e de sua aplicação, sob a forma de regras”. Essa é uma tese construída por Moreno a partir da filosofia de Wittgenstein, mas não realizada por este. Mas por que Wittgenstein não faz teses? Moreno (2012, p. 75), então, responde:

Ora, a razão para não fazê-lo é que, segundo ele, teses limitam nossa percepção para apenas um aspecto dos objetos, aquele colocado por elas: cada tese se torna um sistema de referência a partir do qual passamos a julgar os objetos a serem descritos e, por consequência, a atribuir a eles propriedades que não lhes pertencem, mas que pertencem ao sistema de referência [...] Daí a precaução exclusivamente terapêutica de Wittgenstein, com um fundo ético – para evitar, inclusive, o tão disseminado fascínio pelo modelo lógico da significação que o levara ao dogmatismo tractariano da juventude.

Moreno, então, aponta o desafio, que é fazer teses que não sejam usadas de forma dogmática, pois tem a descrição terapêutica de Wittgenstein como fundamento. É nesse sentido que Moreno se afasta dos que buscaram (e buscam) fazer uma teoria baseado em Wittgenstein, pois Moreno toma a própria descrição gramatical e terapêutica, que é o cerne da filosofia wittgensteiniana como base para fundamentar sua teoria, e não busca nem uma teoria universal como Habermas, nem um relativismo contextual como Rorty.

No Tractatus surge uma epistemologia apresentada como uma lógica transcendental, pois é a lógica que permite realizar uma teoria do conhecimento, que agora se fundamenta na linguagem, saindo da esfera subjetiva. O primeiro Wittgenstein concebe a filosofia como a teoria da forma lógica, e compreende que é esta que pode fornecer todos os fundamentos para a compreensão do mundo. Como já dissemos na tese 3 do Tractatus vemos uma epistemologia, pois temos a relação entre o mundo e o pensamento, onde são colocados limites ao pensamento, ou melhor, limites à linguagem, que é expressão do pensamento. Tal delimitação sempre foi o papel da epistemologia que no primeiro Wittgenstein é compreendida como uma lógica transcendental. A lógica torna-se assim, no Tractatus, a definidora do valor de verdade das proposições elementares, por isso, para Wittgenstein é o fundamento, é a visão além da realidade, isto é, da metafísica. A lógica não é apenas uma abstração formal, torna-se, então, a própria epistemologia, pois ela mesma é uma teoria do conhecimento, é onde podemos definir

os significados das proposições, a partir de sua relação referencial com o mundo. A lógica, então, é uma espécie de passagem entre o conhecimento e a realidade, pois é a partir dela que podemos ter o conhecimento exato da realidade.

Esse tipo de epistemologia tractariana se afasta da epistemologia moderna, que considerava o sujeito como centro, e o conhecimento ficava limitado a este, desconsiderando- se assim a linguagem. “E assim se torna claro porque muitas vezes sentimos como se as ‘verdades lógicas’ fossem postuladas por nós; podemos com efeito postulá-las enquanto podemos postular uma notação satisfatória” (TLP, §6.1223). Dessa forma, Wittgenstein retira o sujeito do centro, e funda a linguagem e o mundo na lógica, que está para além dele. Por isso, o empirismo lógico avançará nesse sentido ao reconsiderar a importância da realidade, mas como dissemos, buscando evitar qualquer aspecto metafísico, mas que com o tempo fazem alguns caírem em psicologismos como vemos com o avanço da filosofia da mente a partir da filosofia analítica.

Nas Investigações Wittgenstein radicaliza sua intenção de não fazer uma teoria. Se no

Tractatus ainda pode se perceber uma teoria - a teoria pictórica da linguagem -, nas

Investigações, tal tarefa é mais complicada. Neste mesmo sentido é também bastante complicado perceber uma epistemologia nas Investigações. Enquanto o primeiro Wittgenstein pretende uma correspondência entre linguagem e mundo, com base na lógica, tal pretensão é abandonada na segunda fase. O segundo Wittgenstein se recusa a buscar uma essência comum por trás da linguagem e o mundo, considerando que agora estamos reféns da vagueza de nossas proposições cotidianas. No Tractatus ainda se vê uma tentativa de definir valor de verdade às proposições elementares por meio da lógica, mas nas Investigações tal está condicionado ao uso ordinário da linguagem. A possibilidade de conhecimento no Tractatus é real por que a proposição é uma figura da realidade. Se a linguagem é uma imagem do mundo, podemos então conhecer o mundo. Nas Investigações Wittgenstein não entende mais assim. No entanto, o conhecimento é possível, por que pelo uso podemos construir significados. É nesse sentido que Moreno começou a entender a possibilidade de realizar uma epistemologia a partir da filosofia wittgensteiniana, uma epistemologia, uma teoria do conhecimento, apoiada no uso de nossa linguagem. Enquanto na primeira fase a lógica é tomada como o cerne da possibilidade de se ter conhecimento, na segunda fase, a gramática ganha esse protagonismo, não considerando mais uma linguagem, mas jogos de linguagem.

Moreno (2012) entende que após o Tractatus com a concepção de contexto linguístico sendo ampliada para a dimensão pragmática, pode-se pensar que uma filosofia da psicologia não mais seria um ramo da epistemologia, mas seria “uma filosofia geral da significação

linguística tendo como uma de suas partes a teoria dos conceitos epistemológicos” (MORENO, 2012, p. 74). Moreno (2012) defende que a descrição terapêutica dos usos das palavras, devido ao processo de variações metodológicas, sugere que há elementos que permitem a exploração do conceito de uso como campo esclarecedor da atividade epistêmica de constituição da significação, por meio do trabalho com a linguagem e elementos do mundo extralinguístico, desse modo, a atividade epistêmica não se limitaria à elaboração de modelos cognitivos, mas precisa ser compreendida como a que permite a significação em geral, tendo os modelos cognitivos, como partes constituintes, dessa construção de significados. Moreno (1996) reflete sobre questões epistemológicas, referentes aos fundamentos do conhecimento, à possibilidade de aplicação dos conceitos à experiência e ao papel desempenhado pelo simbolismo linguístico na organização dos conteúdos da experiência em formas conceituais. Moreno (2012, p. 76) entende que “Conhecer é construir regras de sentido e operar com elas aplicando-lhes aos objetos de pensamento”.

Gottschalk (2015, p. 301) entende que a epistemologia do uso de Moreno tem em vista “a sistematização dos processos de constituição do sentido linguístico e suas relações com o pensamento e o mundo”. Ela indaga, se não seria esta epistemologia, dogmática como as demais, e responde que as afirmações de Moreno, tais como as de Wittgenstein, não são teses, como nos dogmatismos tradicionais, mas observações que passaram pelo crivo da terapia filosófica wittgensteiniana.

Mas o que seria uma tese filosófica não dogmática? De acordo com Silva (2005), a pragmática de Moreno toma dois cuidados a esse respeito: o primeiro é que “cada tese sua descreveria processos simbólicos de natureza pragmática. Ofereceria assim esclarecimentos conceituais e não explicações hipotéticas, a exemplo de fatos linguísticos quaisquer”, e o segundo cuidado é que se sustenta em resultados da terapia e não de proposições

Com isso, o que se afigurava como claro paradoxo mostrar-se-ia uma incomum afirmação de coerência. Tratar-se-ia apenas de ver as regras efetivamente operando, a gramática dos usos das palavras, enquanto que, sobre sua justificação ou suas causas, não caberia formular hipóteses (SILVA, 2005, p. 105).

O autor, então, conclui que a epistemologia do uso de Moreno é “livre de pressupostos dogmáticos” (SILVA, 2005, p. 105). Araújo (2004, p. 36) sem tratar da epistemologia do uso, defende a possibilidade de tal na filosofia de Wittgenstein, quando diz que “a questão epistemológica é algo que nossas formas de vida requerem, não podemos prescindir da possibilidade de validar, de objetivar, de lidar com o mundo e aprender com isso, sempre que

for necessário” e acrescenta que após a virada linguística não tem sentido perguntar mais pela natureza do conhecimento, que não leve em consideração as práticas e atividades e “não fruto da mente pensante ou de formas a priori do entendimento estruturadas por um eu transcendental”.

A epistemologia do uso desenvolvida por Moreno se fundamenta em conceitos wittgensteinianos, mas partindo de uma análise mais geral dentro dos estudos filosóficos, como Kant, Husserl e Granger. Moreno pretende formular uma nova teoria de representação linguística sobre o papel da linguagem na organização de nossas experiências empíricas ou mentais, dentre tantas que já realizadas, como a concepção agostiniana referencial da linguagem. Moreno (1996) explica que ele reflete sobre questões epistemológicas, que são questões referentes aos fundamentos do conhecimento, à possibilidade de aplicação dos conceitos à experiência e ao papel desempenhado pelo simbolismo linguístico na organização dos conteúdos da experiência em formas conceituais. A partir da reflexão destas questões ele busca desenvolver uma concepção que sugere que uma interpretação filosófica da ligação entre o empírico e o simbolismo linguístico deve passar pela aplicação dos conceitos de natureza pragmática. Se tal interpretação não passar por essa aplicação, cairá em um dogmatismo, que pode ser tanto realista, quanto empirista.

Moreno (1996) explica que as raízes de sua então pragmática filosófica26 estão em Kant, Granger e Wittgenstein. Ele toma, inicialmente, como referencial a solução de Kant para a interpretação das necessidades analítica e sintética em nosso conhecimento, que de acordo com o que já apresentamos no capítulo 1, tanto as necessidades analíticas quanto sintéticas são realizadas pelo pensamento, mas as sintéticas são determinadas pela intuição pura, que é a

priori, e ela independe da experiência, como no caso do conhecimento matemático, ou seja, o pensamento seria capaz de produzir tais conhecimentos que independem da experiência, pois é transcendental e a priori. Moreno toma emprestado de Kant o termo “transcendental”, modificando seu escopo, para caracterizar o "gramatical" do segundo Wittgenstein como tendo essa função.

O empirismo lógico, desenvolvido pelo círculo de Viena, tendo como um dos grandes fundamentos, o Tractatus, buscou eliminar a ideia de transcendental, substituindo a interpretação kantiana que colocava o transcendental a partir de um a priori da percepção do sujeito por uma interpretação da ideia de natureza lógica que independe da apreensão do sujeito. Nesse sentido, o lógico substituiria o transcendental. Assim só haveria necessidades analíticas,

26 No texto de 1996, Moreno ainda utilizava o termo pragmática filosófica. A mudança para epistemologia do uso se deu em textos a partir de 2006.

pois, o sujeito não seria capaz de construir conhecimento, que já está estruturado nas operações lógicas. Por esta questão, tal concepção se aproxima, mesmo que tangenciando, de um realismo platônico.

Esse protagonismo da lógica favoreceu um estudo mais profundo sobre a linguagem, mas ainda se buscando uma linguagem ideal, e assim, a origem de como se dá o conhecimento parecia estar mais próxima dos que defendem a linguagem do que os que defendem a percepção sensível. Moreno, porém, parece compreender que o problema seria investigar como se dão estas relações entre o que percebemos e o simbolismo linguístico, e assim, o conhecimento não está em um destes extremos, na linguagem ou na percepção, mas vai sendo constituído ao longo de um trabalho do simbolismo linguístico que envolve elementos do empírico. É a partir disto que Moreno formula uma nova teoria da representação, pois “se os princípios formais do conhecimento não são colocados na percepção, mas, no simbolismo, como será então possível, não apenas representar, mas, principalmente, constituir os conteúdos da experiência sensível enquanto objeto através de formas do simbolismo linguístico?” (MORENO, 1996, p. 10). Gottschalk (2007b, p. 459), abordando a então denominada pragmática filosófica de Moreno, argumenta que:

Entre o transcendental e o empírico, a pragmática filosófica nos dá instrumentos para ver a atividade do ensino como a apresentação de uma determinada visão de mundo, fundamentada em regras de natureza convencional, e que, portanto, não são passíveis de ser descobertas pelo aluno, mas ao mesmo tempo são as condições de sentido para que o aluno, uma vez persuadido pelo professor, possa organizar de uma outra maneira a sua experiência orientada por essas regras.

Então, Moreno (1996) retém alguns pontos do empirismo formal de Granger. Primeiramente, quanto à concepção de transcendental. Parte-se de Kant, para alargar e mudar o foco da função transcendental. Alarga no sentido de agregar a dimensão histórica ao conceito de transcendental de Kant, ou seja, é a priori, mas também é sujeito a transformações internas em diferentes campos do conhecimento, “a vida e as transformações dos conceitos passam, aqui, a indicar a priori os campos provisórios de possibilidade para as operações cognitivas” (MORENO, 1996, p. 11). Muda o foco da função transcendental no sentido que a mesma, diferentemente de Kant, deve ser exercida pela lógica formal, isto é, a linguagem passa a exercer papel preponderante. Tal lógica terá o estatuto de metalinguagem e “fornecerá as regras gerais a que todo simbolismo linguístico deve submeter-se para ser capaz de exprimir os legítimos objetos” (MORENO, 1996, p. 11).

Em seguida, Moreno (1996) retém a concepção de significação. Assim, chega-se ao conceito de estilo de Granger, no sentido de uso do simbolismo. “O estilo é o resultado de um trabalho sistemático sobre o conjunto de elementos que ficam sempre explicitamente excluídos da construção de uma estrutura” (MORENO, 1996, p. 12). Gottschalk (2015) informa que para Granger o estilo seria o aspecto negativo da estrutura, e para Moreno é o contrário, no estilo já haveria necessidade, e o aspecto formal já se encontra no caos do empírico e de nossas ações imersas em uma forma de vida, incorporado e expresso pela linguagem: o estilo é a parte positiva da estrutura. Moreno compreende que a significação corresponde aos usos realizados nas primeiras relações entre o signo e seu objeto de reenvio, ou seja, o significado de uma proposição se desenvolve desde os primeiros usos que ocorrem, quando se relaciona o signo e o objeto (ou fato). Nessa organização da experiência por meio da linguagem constrói-se uma estabilidade, pressupondo um universo já organizado pela própria linguagem. Então, Moreno compreende que se devem explorar as formas mais elementares do simbolismo, que pode ser considerado como uma das lacunas da filosofia de Wittgenstein. O filósofo austríaco parte de proposições, mas Moreno tenta explicar a construção de nível linguístico, ele trata das relações de sentidos proposicionais, das condições mais gerais para a formação do símbolo, que são a base da formação do conhecimento, que assim se dariam no uso da linguagem, ou seja, na pragmática.

Moreno (1996), então, tendo analisado a noção de necessidades analíticas e sintéticas em Kant, se pergunta como interpretar a noção de necessidade nas formas linguísticas pré- lógicas, ou seja, nas formas mais elementares do simbolismo. Para Wittgenstein, quando o pensamento formalizante elimina ações e atitudes – nomear, chamar, esperar, desejar, etc. (o que seria incluído como o “sensível” em Kant) -, não elimina os conteúdos empíricos, pois para o filósofo, estes são considerados atividades linguísticas.

Desse modo, Moreno (1996) formula o que consideramos ser a ideia central de sua epistemologia, ao colocar como formas simbólicas elementares, isto é, como regras para a aplicação de palavras, os dados da percepção sensível, as ações e os estados mentais, quando expressos linguisticamente. São estes que formam o universo pré-lógico, que é a base de origem da metalinguagem lógica e do pensamento formalizante. Ao fazer isso, Moreno continua a acreditar que há uma diferença entre a expressão e seus conteúdos, mas destaca que qualquer elemento fora da linguagem simbólica só pode ser entendido como objeto do pensamento por ser relacionado à linguagem por meio de sua própria expressão. “Ao relatar que alguém ama ou esquece, não estou apenas descrevendo comportamentos, mas, principalmente, aplicando conceitos a determinadas atividades que são, por sua vez, regradas segundo o uso que fazemos

desses mesmos conceitos” (MORENO, 1996, p. 13). Sem a expressão na linguagem não teríamos acesso, não conseguimos compreender algo como um objeto.

Por isso, Moreno (1996) compreende que Wittgenstein busca agregar as formas mais elementares do simbolismo à concepção de significação linguística. Então, mantém-se a ideia de que a verdade analítica perdeu seu antigo caráter lógico extralinguístico, pois agora depende da linguagem. Assim proposições do tipo “todo triângulo é uma figura geométrica de três lados” são expressões conceituais que compreendemos, e é nesse sentido que são analíticas, mas não é uma verdade absoluta, independente da linguagem. É como se mesmo que tal realidade existisse, ela só existe por que pode ser expressa linguisticamente. Como falar de algo sobre o

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