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As duas opções estratégicas para a tecnologia: a automatização e a informatização

INSUMOS: Conhecimentos

12. Orientação aos sistemas de compartilhamento de competências Fonte: Adaptado de Carbone et al (2009).

2.7.3 As duas opções estratégicas para a tecnologia: a automatização e a informatização

A importância da tecnologia da informação para o aprimoramento do trabalho na sociedade contemporânea foi evidenciada no tópico anterior. Neste tópico, explorar-se-á a dualidade acerca da implantação da tecnologia da informação nas organizações modernas e as duas possibilidades estratégicas pelas quais uma organização pode optar no momento de implementar uma inovação tecnológica.

Para Zuboff (1994), as tecnologias da informação apresentam uma dualidade quanto a sua utilização nas organizações. Para esta autora, a adoção da TI pode se limitar a automatizar processos e serviços, substituindo atividades realizadas por pessoas por uma tecnologia que permita que os mesmos processos sejam realizados a um custo menor e com maior controle. Ou, pode ir além e representar uma transformação pautada por uma estratégia informatizante a partir da qual a TI passa a proporcionar à organização novos conhecimentos que possibilitam a reflexão das práticas organizacionais.

A automatização está fortemente ligada à redução de custos por meio da introdução de máquinas ou sistemas informatizados, possibilitando a diminuição da mão de obra humana envolvida e

proporcionando uma fragmentação das tarefas (ZUBOFF, 1994). Por ter este caráter de foco na redução de custos e diminuição do tempo de produção, seus resultados são perceptíveis em curto prazo e os custos relativos à sua implantação tornam-se mais facilmente aceitos (ZUBOFF, 1994).

Segundo Mascarenhas e Zambaldi (2009) o processo de automatização tem sido historicamente associado à diminuição da qualificação necessária ao trabalhador para o desempenho de suas funções. Com o advento das máquinas, as tarefas que exigiam mão de obra humana foram reduzidas a poucas ações e o conhecimento amplo e especializado que determinados funcionários detinham tornou-se irrelevante. “A mão de obra remanescente tende a se tornar um acessório ao sistema da máquina, com pouca ou nenhuma compreensão crítica do seu funcionamento” (MASCARENHAS; ZAMBALDI, 2009, p. 19).

Por meio da automatização dos processos, há um aumento da produtividade no curto prazo, em que trabalhos rotineiros são eliminados e a autoridade se torna ainda mais centralizada, fruto do intenso controle proporcionado pela TI. A automatização viabiliza a aprendizagem de circuito simples que, segundo Argyris (1992), baseia- se na detecção de um erro e em sua imediata correção, preservando-se os pressupostos básicos do sistema, sem questioná-los. As etapas de um processo de trabalho são continuamente aperfeiçoadas, aprimorando cada vez mais sua eficiência, todavia sem que as etapas deste processo sejam questionadas.

Já a respeito da informatização, segundo Zuboff (1994), este aspecto se refere ao potencial da tecnologia de não apenas possibilitar a automatização de atividades, mas também de gerar um novo fluxo de informações, permitindo a integração e sincronização de diferentes processos, promovendo reflexões acerca dos métodos atuais e, consequentemente, do próprio sistema e da própria organização. Esta característica da tecnologia proporciona constantes questionamentos a respeito das práticas realizadas no trabalho, culminando, eventualmente, em sua reconfiguração.

Além de possibilitar a diminuição da necessidade de mão de obra envolvida diretamente nos processos da organização, a utilização de todo o potencial informatizante da TI implica, a médio e longo prazo, benefícios estratégicos superiores àqueles da automatização (MASCARENHAS; ZAMBALDI, 2009, p.27).

Isso implica dizer que a informatização não traz resultados facilmente perceptíveis, visto que a assimilação de novas e melhores formas de realizar os processos e tarefas requer tempo e experiência. A informatização proporciona a aprendizagem de circuito duplo, como explica Argyris (1992). O autor afirma que este tipo de aprendizagem envolve um processo de exploração das possibilidades associadas às configurações de trabalho, sendo a base para ideias inovadoras. O indivíduo passa a ter acesso a novas informações, proporcionadas pela TI, que o habilitam a questionar as normas vigentes de funcionamento de um dado processo. Desta forma, há a reflexão crítica acerca das normas que direcionam os processos de trabalho e a proposição de ações corretivas envolvendo a mudança de tais normas (ARGYRIS, 1992; MASCARENHAS; ZAMBALDI, 2009).

O foco das duas abordagens apresentadas por Zuboff (1994) está na perspectiva dada ao papel dos indivíduos na organização. Na primeira, há a automação das atividades, estando o trabalhador submetido ao trabalho mecanizado abarcado pela TI, não sendo possibilitado a ele questionar a razão pela qual operacionaliza determinada tarefa, apenas identificando erros no processo e corrigindo- os (aprendizagem de circuito simples). A segunda abordagem, por sua vez, compreende o indivíduo como protagonista do trabalho, o qual se beneficia de sistemas de informação para gerar novos conhecimentos e aprendizagem de circuito duplo, refletindo sobre o modo como os processos são realizados a fim de construir opções mais efetivas de trabalho e contribuindo de forma legítima para seu desenvolvimento (ARGYRIS, 1992).

A informatização pressupõe um maior envolvimento dos atores envolvidos nos processos organizacionais e isso implica em uma maior responsabilidade no desempenho das tarefas. “O compartilhamento de informações facilita a quebra dos limites tradicionais dos cargos e funções, permitindo que indivíduos pensem de maneira ampla e cooperativa no aperfeiçoamento do desempenho organizacional” (MASCARENHAS; ZAMBALDI, 2009, p.18).

Ao promoverem uma maior complexidade no trabalho das pessoas, as organizações precisam assumir novos conceitos de qualificação e desenvolvimento de competências que transcendam a preparação para o desempenho de atividades fragmentadas e prescritas. “O conceito de competência surge no contexto de intensificação da evolução tecnológica (...), quando as organizações se deparam com

novas lógicas de trabalho, caracterizadas pela baixa previsibilidade e informalidade” (MASCARENHAS e ZAMBALDI, 2009, p.21).

O quadro 11, elaborado por Mascarenhas e Zambaldi (2009), sintetiza as diferenciações entre estas duas vertentes da tecnologia da informação e auxilia a visualizar de forma mais clara os principais componentes que estão relacionados com a automatização e com a informatização.

Como é possível visualizar no quadro 11, a gestão por competências encontra-se entre as temáticas relevantes associadas ao potencial estratégico da informatização, podendo ser subsidiada e apoiada por meio das tecnologias da informação. Este fato corrobora as principais ideias trabalhadas até o momento acerca do desenvolvimento por competências nas organizações e acerca do protagonismo do indivíduo quanto ao seu processo de aprendizagem.

Quadro 11 - Estratégias de implementação de TI e suas implicações ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO DE TI E SUAS

IMPLICAÇÕES ORGANIZACIONAIS