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AS R EDES, AS PARCERIAS E AS NOVAS FORMAS DE GOVERNANÇA: AS COMBINAÇÕES

IMPORTANTES PARA A CONSTRUÇÃO DO

POLICENTRISMO NA EUROPA

Mapa 6: Classificação das áreas de integração policentrica de acordo com seu peso demográfico

O policentrismo definido por seus aspectos morfológicos e relacionais

O primeiro foco do relatório é o próprio conteúdo do conceito de policentrismo, portanto é preciso reconhecer que ele não tinha conduzido a definições precisas, inclusive no caso do SDEC, e poderia ser objeto de interpretações divergentes. Assim, o segundo capítulo do relatório principal, felizmente, dedica-se por inteiro à clarificação conceitual. O policentrismo é, então, definido a partir de dois aspectos complementares, o primeiro de caráter morfológico e o segundo de tipo relacional. Esta distinção permite certo progresso conceitual quando demonstra que a existência de uma das medidas não garante necessariamente a outra. A

primeira remete à distribuição das massas, quer dizer, das áreas urbanas no território, enquanto a segunda centra-se nas relações entre as aglomerações, a partir das redes de fluxo, mas também de cooperação. A intensidade dessas redes não está ligada, necessariamente, à proximidade ou à massa das áreas urbanas analisadas. Mas uma organização territorial policêntrica das regiões européias insinua a junção destas duas dimensões. O relatório sublinha que as origens desta visão da organização do território europeu têm raízes na teoria dos lugares centrais dos anos 1930, à qual ele se refere explicitamente. Em todo caso, o policentrismo se opõe tanto ao modelo monocêntrico que prevalece em certo número de países europeus, mas também ao da estratificação urbana onde os centros secundários são diluídos num continuum espacial não estruturado.

Simultaneamente, o policentrismo em escala continental é visto como uma resposta ao risco de desequilíbrio crescente da organização territorial do espaço europeu como um todo.

Entretanto, tendo em mente as observações críticas já feitas, deve-se sublinhar que uma das mais importantes contribuições do texto é a de esboçar o estágio em que se encontram algumas das redes e parcerias que existem na Europa, como fatores de apoio potencial ao policentrismo. Na medida em que não é possível estudar todas as formas de integração funcional e cooperação interurbana da Europa, os autores foram forçados a testar somente alguns exemplos de redes especializadas e parcerias institucionais. A proposta consiste em analisar como os fluxos de troca e as redes de cooperação participam da reorganização das estruturas territoriais, mais ou menos, conforme o caso, de acordo com o modelo policêntrico. Foram estudados, sucessivamente, os modelos de integração da malha urbana européia a partir do tráfego aéreo, dos intercâmbios estudantis e dos projetos de cooperação INTERREG III B no Noroeste da Europa e no espaço do Sudeste, danubiano, adriático e centro-europeu. A intenção é mostrar que o tamanho das áreas urbanas não é necessariamente um bom critério de identificação dos nodos potenciais de desenvolvimento policêntrico.

Pretende-se igualmente ressaltar que as cidades de segundo escalão podem vir a se estabilizar e até mesmo a se fortalecer na hierarquia urbana por meio de redes de cooperação, assim contribuindo para a formação de um “policentrismo integrado”. Deste ponto de vista, parece que os resultados desta parte da pesquisa estão um pouco descolados da análise da malha urbana, o que também reflete a diversidade de pontos de vista e a origem nacional dos autores dos diferentes capítulos.

Por outro lado, foram conduzidas duas investigações na zona abrangida pela pesquisa sobre as experiências institucionais de cooperação e parceria, uma na escala intermunicipal e a outra na dimensão inter-regional-transnacional, com vistas a obter uma idéia geral.

As conclusões a que se chegou nestes dois capítulos permanecem parciais e divergentes, mas reforçam a hipótese de que a integração funcional das cidades, o desenvolvimento das trocas “espontâneas” e as cooperações voluntárias são condições complementares da construção de um modelo policêntrico na Europa.

Ademais, elas também permitem sublinhar os limites das formas de cooperação estudadas e pedem novos estudos sobre as formas de governança necessárias.

As recomendações que fecham o documento principal não poderiam ser senão muito gerais, na medida em que concernem a 29 Estados que possuem contextos socioeconômicos, políticos e territoriais muito diversificados. Isto se deve especialmente ao fato de que o capítulo precedente (capítulo 8) evidencia que as políticas nacionais ou regionais de gestão territorial, ao se referirem implícita ou explicitamente ao policentrismo recomendado pelo SDEC, aplicam esse princípio de acordo com interpretações muito divergentes11 entre si, como se disse no início deste artigo.

Mas o que interessa agora nessas recomendações não é tanto o seu conteúdo mas a maneira como são colocadas. O relatório distingue três níveis de implementação do modelo policêntrico: o “micro”, ou seja, das cidades e regiões; o “meso”, isto é, das nações; e o “macro”, o continente europeu como um todo.

No nível micro, as cidades são incitadas a cooperarem entre si para melhorarem a sua classificação na Análises e debates

hierarquia urbana do seu país. É recomendado explicitamente, como já se disse antes, que elas usem a lista dos PIAs como referência para as ações de cooperação intermunicipal. As cidades são incentivadas a livrarem-se das amarras administrativas, definindo novos perímetros de planificação estratégica e ação. Os Estados e a UE são convidados a acompanhar este movimento por meio de financiamentos e “diretrizes”.

No nível meso, a questão principal é a de equilibrar melhor as malhas urbanas nacionais e por conseguinte, nesse sentido, o relatório recomenda aos Estados a implementação de políticas públicas com uma possível contribuição da UE na forma de fundos estruturantes. Uma vez que esta questão do reeqüilíbrio da configuração urbana está longe de ser compartilhada por todos os Estados, o relatório sugere que se harmonizem os paradigmas e métodos usados pelos profissionais do planejamento, em especial as definições e os dados que permitem avaliar e comparar o policentrismo morfológico dos sistemas urbanos.

No nível macro, o objetivo principal é o de estimular o desenvolvimento das ZIEM localizadas fora do

“pentágono”. Uma integração regional maior das cidades periféricas das ZIEMs poderia aumentar o seu peso, mas a estratégia recomendada é a de priorizar o fortalecimento das especializações funcionais. Mais uma vez, propõe-se o uso de fundos estruturantes para viabilizar essa estratégia. Convém, portanto, no nível de Europa, criar novas ferramentas para a disseminação das boas práticas e a melhoria das redes e parcerias nas regiões menos favorecidas do ponto de vista do policentrismo.

Ao findar-se esta exposição sumária, é preciso ressaltar que as recomendações do relatório ORATE 1.1.1. não são na verdade mais do que opções políticas genéricas a serem concretizadas em diferentes escalas territoriais. Um último aspecto que se deseja frisar é o da evidente necessidade de se pensar o policentrismo desejado pelo SDEC numa perspectiva multidimensional. Deste modo, o documento analisado representa

RECOMENDAÇÕES POLÍTICAS