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CAPÍTULO 01 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA,

3.3 Panorama Recente das Facções e das Empresas de Confecção

3.3.3 As Empresas de Confecção de Roupas

3.3.3.1 As Empresas de Confecção após 2006

Apesar das propagandas sempre muito otimistas e todo esforço coletivo que se gerou em torno da divulgação do município como “Capital do Vestuário”, principalmente por parte das(os) empresárias(os) atacadistas concentradas(os) na ASAMODA, no final de 2008 e no início de 2009 tornou-se perceptível a queda no volume de sacoleiras(os) que visitam a Rua da Moda.

Para fins da elaboração da tese, visitamos rotineiramente o município desde 2004, em dias alternados da semana. Ao longo desses quatro anos vimos o volume de ônibus de sacoleiras(os) diminuírem progressivamente na Rua da Moda, assim como esvaziarem-se lentamente o volume de pessoas que freqüentam as lojas de atacado nos shoppings.

No início de 2009, contamos 14 lojas fechadas só na parte externa da Rua da Moda. Em março de 2004, quando visitamos a cidade pela primeira vez, essas mesmas lojas estavam não só abertas como com grande movimento. As(os)

compradoras(es) eram munícipes vizinhas(os), sacoleiras(os) de cidades próximas e de outros estados e em menor proporção moradores locais. Permanecem abertas lojas como, por exemplo: a Osmoze, a Eventual, a Megadose a Mackssonn, a Osmary Nicolau, a Be Eight, mas com visíveis quedas na quantidade de freqüentadoras(es).

O maior problema enfrentado pelas(os) empresárias(os) desse APL diz respeito “à inadimplência gerada pelos cheques sustados pelos compradores” (IPARDES, 2006: 14), como mostra sua pesquisa:

De acordo com o relato de fontes locais, muitos empresários cianortenses passam por problemas financeiros, estão endividados em agências de intermediação financeiras locais ou com agiotas, que chegam a cobrar juros em torno de 6% ao mês. Ressalte-se que o número de agentes financeiros formais (factorings) e informais (agiotas) tem crescido vertiginosamente no município, “detendo mais de 80% das operações financeiras realizadas no APL. Agentes locais estimam que deve haver atualmente no APL aproximadamente 15 empresas de intermediação financeira formais e mais ou menos 50 informais, sendo que muitas dessas caracterizam- se pela prática de agiotagem” (IPARDES, 2006: 18).

Mas, desde 2004 também tem sido uma tarefa bastante complicada conseguir informações das(os) moradoras(es), lojistas, atendentes e empresárias(os) locais sobre esse processo de queda das vendas de roupas. Ao longo desses quatro anos os diálogos apenas se desenvolviam de fato quando nos dirigíamos às(aos) sacoleiras(os), que confirmavam nossa hipótese de decréscimo das vendas e também de preço alto das peças vendidas na Rua da Moda.

Venho buscar roupa para uma loja de Santa Catarina desde 2000 aqui em Cianorte. Desse ano para cá mudou muita coisa. Antes não tínhamos onde estacionar o carro de tanta gente que freqüentava esse lugar. Não sei mais se compensa vir. Disseram-me que há cidades aqui próximo que vendem pelo mesmo preço. A vantagem continua sendo que tenho crédito pré-aprovado60 e posso comprar a prazo aqui. Mas veja que

muitas lojas faliram. Um shopping ficou quase abandonado, fechado, por muito tempo também. Dentro dos shoppings há muitas lojas fechadas.

60 As(os) empresários organizadas(os) do setor de Cianorte criaram recentemente um sistema integrado

de vendas no atacado entre os shoppings e a Rua da Moda por meio de um cartão magnético, gerenciado e monitorado pelas centrais Asamoda, Nabhan e Agnus. Ele é entregue às(aos) compradoras(es) cadastradas(os) (previamente avaliados) com crédito pré-aprovado.

Deve ser os problemas no comércio mundial e a instabilidade econômica, que atinge todo mundo, não sei. Outra vantagem é que a loja que me pede as encomendas gosta dos produtos daqui (Relatos de um informante Thiago, 04/02/2009).

Boa parte das(os) moradoras(es) com as(os) quais conversamos nas ruas nega qualquer informação que, segundo eles, “possa soar como especulação para denegrir a imagem de capital estadual do vestuário”, repetindo o que os slogans da EXPOVEST divulgam, como “o aumento de 30% nas vendas na 21ª. Edição da Feira em 2008 e a construção, no mesmo ano, de um novo shopping na Avenida Paraíba com 40 lojas a serem inauguradas” (Relatos de informantes, 04/02/2009).

Em 2009 vemos que as lojas dos shoppings e da Rua da Moda não abrem mais aos sábados e nem depois das 18 horas nos dias úteis. Para a ASAMODA, são apenas negociações realizadas entre as(os) empresárias(os). Para nós é uma das demonstrações de fragilidade pela qual atravessa o cluster: “não têm cliente suficiente que compense mantê-las abertas nesses períodos” (Relatos de informantes, 04/02/2009).

As empresas de porte menor sofrem as conseqüências da dependência dos guias para efetuar suas vendas. Não têm liberdade suficiente para negociarem fora dos acordos exigidos pela ASAMODA;

Uma grande preocupação dos empresários é a diminuição de compradores que vem de outras localidades, isto ocorre por vários fatores, e um dos principais é a mudança de perfil dos clientes e a falta de interesse dos guias em conseguir mais compradores. Os empresários também estão descontentes com a dependência das empresas em relação aos guias (MONTEIRO, 2007: 65).

Para as(os) empresárias(os) de grandes e médios estabelecimentos comerciais e fábricas, as(os) guias ou sacoleiras(os), já não são mais tão necessários;

Alguns empresários [...] seus produtos já são conhecidos em todo o Brasil. Suas vendas ocorrem por representação, fazendo com que os produtos cheguem mais facilmente ao ponto de venda, não necessitando mais que um lojista ou uma sacoleira vá até a cidade para adquiri-los. Dessa forma, percebe-se que as grandes marcas não possuem mais suas lojas na cidade (MONTEIRO, 2007: 97).

A região sempre foi um das principais fornecedoras de jeans para marcas de terceiros, como Ellus, Fórum e Zoomp, mesmo tendo marcas próprias como a Pura Mania, fábrica de jeans que surgiu em Maringá e a Titus Jeans, de Apucarana. Qualquer problema econômico mais representativo ocorrido no início da cadeia produtiva, produz reflexos em cascata, que são sentidos nas facções. Sem contar o monopólio comercial exercido ainda hoje pela antiga família de libaneses que iniciaram o processo de industrialização do jeans no município desde a década de 70. “Hoje os parentes de Nabhan tocam diferentes empresas em Cianorte” (LIMA, 2007: 1). Além de serem proprietários das maiores empresas do setor na região, como indicou Marli Lima, gerenciam a ASAMODA, o Sindicato das Indústrias de Confecção e Vestuário de Cianorte, a Secretaria Municipal da Indústria e Turismo, os maiores shoppings atacadistas, a maior lavanderia, a empresa de software específico para a confecção e quase todas as instâncias de poder e decisão sobre essa cadeia produtiva. Campos (2005), Gonçalves (2005) e Maia (2004) já haviam indicado esse domínio em suas pesquisas.

Se por um lado é opaca a participação do Sindicato dos Trabalhadores e do poder público sobre a dinâmica da indústria confeccionista do município, por outro, como observa Gonçalves, a Associação dos Atacadistas, o sindicato dos empresários locais ligados ao ramo, “bem como alguns atores privilegiados, geralmente os maiores empresários, passaram a comandar, sobretudo, a partir da década de 1990, parte das determinações que vêm influenciando sobre esta dinâmica” (2005: 99).

Por detrás de um processo rigoroso de interação e cooperação entre empresárias(os), que facilita a negociação dos preços das peças, a comercialização e as relações estabelecidas com as(os) compradoras(es) pela ASAMODA, “há uma competição velada. Trata-se do acesso diferenciado aos espaços mais privilegiados para a localização das unidades de distribuição da produção (espaço nos shoppings de atacado)” (GONÇALVES, 2005: 106).

Alimentada por diferentes graus de subordinação, a expansão do setor na região dá-se principamente pela via da subcontratação, muito mais do que pela introdução de processos de modernização tecnológica. As grandes transformações

inovativas atingem algumas raras empresas, especialmente as grandes e as redes de comercialização, visualizadas nos shoppings atacadistas de roupas de Cianorte.

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