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CAPÍTULO 1-CONTEXTO DA PESQUISA

2.2 Como realizamos

2.2.2 As entrevistas

Para iniciar a pesquisa de campo aguardou-se a aprovação do protocolo desta pesquisa no Comitê de Ética em Pesquisa que foi obtida em outubro de 2007. No processo desta pesquisa foram seguidos os procedimentos necessários para o respeito às questões éticas que envolvem a pesquisa.

No início do encontro foram explicados e contextualizados os procedimentos éticos da pesquisa. Após a leitura do termo de compromisso livre esclarecido (TCLE), conversou-se sobre a clareza do conteúdo do documento e a concordância do professor em participar da pesquisa. O TCLE antecipava um pouco o conteúdo da conversa e o objetivo da pesquisa o que auxiliou no andamento da entrevista. Esse momento de leitura do termo de compromisso auxiliou na redução da ansiedade tanto do pesquisador como do entrevistado. Os professores não fizeram perguntas sobre o conteúdo do termo de compromisso livre e esclarecido.

Em função do interesse nas práticas, logo de início, solicitamos o relato das práticas pedagógicas extraordinárias com uma breve descrição destas, porém sem nomeá-la pelas razões apresentadas anteriormente. Como esse processo envolvia a memória comentávamos com o professor que ele poderia lembrar-se de práticas no decorrer da conversa. E por isso avisamos ao professor para que não tivesse pressa em responder. Enquanto o professor buscava em sua memória as práticas conversou-se sobre a sua formação e o seu contexto de trabalho.

Assim, os professores, de modo geral, conversaram primeiro de outros assuntos como sua vida pessoal, sobre sua carreira e sobre a escola. Nesse momento, buscamos estabelecer um clima de confiança com o entrevistado.

Antes de responder a solicitação de relato das práticas os professores introduziram o relato de suas práticas de modos diferentes. Quatro professores depois de comentar sua formação e contexto de trabalho iniciaram o relato diretamente. Um professor sentiu necessidade de explicar as condições da escola e organização do espaço e tempo para iniciar seu relato. Uma professora justificou a necessidade dessa variação na rotina com a realização de atividades diferentes para atrair os alunos para escola. Uma professora inicialmente declarou-se “uma professora tradicional” e a isso associou a questão de dar importância ao conteúdo mesmo em atividades como excursões.

No caso daqueles professores indicados por pessoas da nossa rede pessoal de relações, o conforto foi maior para ambos. Tivemos a sensação de que para esses entrevistados a imagem de professora se sobressaía em relação à imagem de pesquisadora. No processo de marcação da entrevista, nossos informantes, que eram professores e que foram nossos intermediários para sondar a possibilidade de entrevista descreveram a pesquisadora como professora que fazia uma pesquisa o que, acreditamos, facilitou a imediata empatia com os entrevistados. Tratava-se de uma colega de profissão que realizava uma pesquisa isso contribuiu para uma maior proximidade.

Porém, com os professores selecionados através de alunos de graduação, a sensação de desconforto dos professores diante de alguém totalmente desconhecido fazendo perguntas sobre seu trabalho demorou um pouco para se desfazer. Nesses casos, a pesquisadora se sobressaía na visão desses professores, não havia um universo em comum. Na tentativa de construir um espaço confortável para conversa recorremos à busca de identificação pela docência fazendo comentários que demonstravam nossa compreensão da situação descrita por estarmos na mesma profissão.

Nossa forma de conduzir era um misto de perguntas pré-elaboradas e outras que surgiram no decorrer da conversa com cada professor. O tempo proposto para duração da entrevista era de cerca de 60 minutos. Um das entrevistas teve uma duração de uma hora e trinta minutos. Três duraram poucos minutos a mais que 60 minutos e três tiveram uma duração 45 minutos a 48 minutos.

Nas entrevistas com duração maior do que 60 minutos os entrevistados estavam no final do turno de trabalho, sem a preocupação de outro compromisso marcado e uma das professoras não lecionava naquele dia e nos recebeu em sua residência. Essa situação permitiu certa tranqüilidade tanto do entrevistado como da pesquisadora.

Nas entrevistas de duração menor que 60 minutos uma professora tinha um compromisso com seu outro trabalho, outro professor nos recebeu no local de sua outra atividade de trabalho, uma clínica, e o terceiro nos recebeu em sua residência, à noite, em suas férias de janeiro. Essas três circunstâncias trouxeram preocupação para a pesquisadora de não estender a conversa para não causar transtorno nas três situações. Nos momentos que julgamos necessário focalizamos nessas entrevistas em alguns tópicos relativos às práticas relatadas, pois havia preocupação de não ultrapassar o tempo informado ao entrevistado.

No decorrer das entrevistas professores se emocionaram em diversos momentos. Diante do dilema da inclusão de alunos e do seu sentimento de angustia de como desenvolver um trabalho que faça diferença para esses alunos, a professora deixou algumas lágrimas virem a tona. Os olhos de outra professora também marejaram quando

relatou do surpreendente envolvimento dos alunos da feira de ciências na escola. E houve uma grande risada de si mesma quando a professora relata o tropeço na visita ao jardim botânico diante dos alunos quando tentava fotografar um fungo.

Nas conversas aparece o tempo semanal dedicado ao trabalho da docência que varia para cada professor e, no caso de dois professores entrevistados, ocorre a dedicação à outra atividade remunerada em outro horário, atualmente, diferente da docência. Uma das professoras também já se dedicou a outra atividade paralelamente a docência, porém atualmente não mais.

Todos os docentes entrevistados em algum momento de sua carreira já trabalharam ou trabalham em pelo menos duas escolas ou pelo menos em dois horários. Além disso, esses professores que lecionam Biologia no ensino médio atualmente, já lecionaram Ciências em outros momentos de sua carreira. E uma professora leciona na modalidade de ensino médio voltado para educação de jovens e adultos (EJA). Todos os professores passaram por concurso e são efetivos em pelo menos uma das escolas públicas que lecionam. Quatro professores estão lecionando na mesma escola desde que iniciaram a carreira.

Ao falar das práticas os professores apresentam como principal razão para realização dessas práticas pedagógicas a preocupação com a aprendizagem do aluno. A mola propulsora é essa relação professor e alunos. Na relação buscam desenvolver a autonomia, a criatividade, responsabilidade, a autoestima e o envolvimento. Para realizar tais práticas buscam recursos próprios, enfrentam obstáculos materiais da escola, buscam formação e buscam cooperação dos colegas professores e dos outros funcionários da escola. Eles se preocupam em ter uma aula interessante para os alunos. Mas os professores também revelam que eles também ficam estimulados com a realização da própria prática. Durante o processo há muita motivação de ambas as partes. Mesmo que essas práticas sejam “repetidas”, de fato, são outras. Pois são outros alunos e a relação com o professor não será mesma a cada vez que é realizada, pois essas práticas têm uma abertura para surpresas, para o novo.

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