• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3- RESULTADOS

3.4 Revelação do agente

Nesta seção iremos apresentar uma descrição analítica a partir da comparação do parâmetro revelação do agente elaborado para cada professor. Para aplicação do parâmetro da revelação do agente verificamos qual havia sido a ação que o professor

desenvolveu diante dos desafios, estímulos e resultados identificados nas práticas relatadas. Ou seja, o que o professor fez, pensou e sentiu nessas práticas relatadas.

3.4.1 Os professores e os desafios

Alguns desses professores, para realizarem as práticas que saiam da rotina de suas aula tiveram, muitas vezes, que modificar a rotina da escola, alterando a organização do tempo e do espaço da escola. Diante desse desafio, os professores negociaram com os outros colegas para que aderissem a essa alteração. Os professores, ao realizarem práticas desse tipo, muitas vezes, têm de contar com a adesão de colegas, além da dos próprios alunos para a realização. Essa busca de adesão, tanto dos colegas professores como de alunos, pode não ser bem sucedida. Os outros professores podem se sentir incomodados com a alteração da rotina ou mesmo os próprios alunos podem não apresentar o interesse esperado pelo professor. As situações são complexas e o professor tem de iniciar algo novo correndo o risco de dar errado, pois o sucesso depende de um acordo com as pessoas e sua sintonia na atividade.

A necessidade de motivar os alunos para que vejam sentido na escola é um dos desafios apontados pelos professores. Para tentar lidar com isso alguns professores relatam que atendem as demandas dos alunos na medida do possível, buscam atividades que saiam da rotina e que os alunos sejam os protagonistas das atividades. Estimulam e dão oportunidade para a criatividade e autonomia dos alunos.

Outro desafio são os alunos que não aderem de imediato às propostas ou aqueles que se recusam mesmo a participar. Nesses casos, as professoras que relataram esses desafios não desistem do aluno e tentam compreender a não aderência a atividade e buscam formas de inserir o aluno de outra maneira dentro da atividade. As professoras têm a sensibilidade para perceber a situação e negociam com esses alunos.

Para realização das práticas os professores lançam mão do que está disponível na escola como DVD, sala de informática ou mesmo revistas velhas e tesoura. Enfrentam a

falta de recurso ou o temor de não saber lidar com a novidade dos recursos tecnológicos. Percebem a oportunidade do acaso como a presença de nutricionista com uma palestra que tem relação com projeto em desenvolvimento. A relação com os recursos aparece nos relatos de formas diferenciadas. Uma professora utiliza o máximo que pode com os recursos que a escola oferece e acha que para melhorar as aulas deve-se lançar mão do que estiver ao alcance assim como oportunidades do acaso. Outra professora usa materiais simples; com um ovo modifica suas aulas, com coisas simples. Surpreende o aluno com o inesperado:Criatividade do professor, mas que vem dentro de um projeto em conjunto entre os professores. Não se trata de um simples ovo, por trás há o trabalho de uma equipe de professores que foi iniciado pela professora de Biologia.

3.4.2. Os professores e os estímulos

Em relação aos estímulos ou facilitadores para realização dessas práticas, identificamos que a relação que o professor tem com o tema abordado na prática relatada contribuiu para sua realização. Ou seja, quando o professor gostava do assunto facilitava sua realização como a questão da sexualidade para as professoras que relataram atividades voltadas para esse tema. Outro facilitador foi o fato de professoras possuírem uma formação nesses temas, ou seja, elas buscaram o aporte da formação continuada. Isso, somado a relação pessoal que possuíam com o tema, além de o considerarem importante para a vida do aluno, fez com que elas se sentissem à vontade . Outro fator que parece ter sido um facilitador é experiência do professor com certas práticas em outra atividade que exerce ou exerceu profissionalmente. Como no caso do professor que trabalha com a área de saúde e lida, no seu cotidiano, com prática de laboratório para exames clínicos e a professora que exerceu a atividade de farmacêutica. Isso é um facilitador, mas não estimula a ponto de incitar o professor a fazer a atividade. Como no caso do professor que, apesar de ter trabalhado com excursões em uma instituição pública, na escola pública onde atua desistiu das excursões. Depois de ter tentado, obteve um resultado insatisfatório com seus alunos e explica que sentiu falta de uma estrutura que o apoiasse melhor.

Para sair da rotina o facilitador é a capacidade do professor para perceber as necessidades dos alunos nas aulas, como a da professora que percebe, pela agitação da sala, o interesse e a necessidade dos alunos de uma conversa sobre sexualidade, os temas de suas conversa e brincadeiras girando em torno do assunto fizeram-na decidir por uma atividade que tratasse da questão. Dentro do que parece aparente indisciplina, agitação rotineira a professora tem o insight de uma mudança e, nesse momento, tem inicio uma ação. Um tema que aparece repetidamente nas aulas A percepção das demandas dos alunos por meio da observação cotidiana, na convivência com os alunos permitiu aos professores perceber o que poderia interessar aos alunos e como isso se ligaria ao conteúdo da disciplina de Biologia.

A percepção da professora da resposta positiva do aluno a proposta da atividade também estimula a realização da atividade.

3.4.3 Os professores e os resultados

Em relação aos resultados ou efeitos identificados nos relatos dos professores percebe-se a satisfação dos mesmos no envolvimento dos alunos nas atividades. Os professores falam da marca que essas atividades deixam na memória dos alunos como sinal de que valeu a pena. A cobrança de alunos de outras turmas para que a atividade seja feita com eles também é um resultado inesperado que os professores relatam. As repercussões extravasam para pontos inesperados. Como pais que aparecem na escola para conversar com o professor sobre uma aula de doenças sexualmente transmissíveis com a qual seus filhos ficaram incomodados.

Esses momentos permitiram conhecer potenciais desconhecidos dos alunos. Os professores ficam surpresos com os talentos que os alunos revelam nessas oportunidades, o empenho e a criatividade. Entre os resultados está o reconhecimento do esforço do professor dos alunos na realização da atividade. Mas a satisfação maior está presente na duração da prática. Naquele momento os alunos e os professores deixam de lado as atividades da rotina, da repetição do labor. O sentido do fazer está no

fazerem juntos. No final, não há um produto como no trabalho, mas uma ação em que os agentes iniciadores dessa ação se revelam dentro da pluralidade que está presente na sala de aula e, nesse momento, permite a aparição das singularidades.

Documentos relacionados