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As entrevistas de grupos focais enquanto estratégia para a coleta de

III- METODOLOGIA

III.2- As entrevistas de grupos focais enquanto estratégia para a coleta de

entrevistas de grupos focais e posteriormente pelos grupos reflexivos com os estudantes de medicina de 1º a 3º anos. Esse período da graduação corresponde ao ciclo básico e, como já apontado em estudo anterior (Colares, 1999), configura-se como um período crítico da formação médica.

A escolha pelas entrevistas de grupos focais deve-se ao fato de que a estratégia vem sendo muito utilizada como complementar aos estudos de base quantitativa, além de contribuir para a apreensão do significado que determinados grupos, inseridos em contextos institucionais educacionais, têm a respeito das situações de conflitos interpessoais, envolvendo um contexto social maior.

Vaughn et al (1996) salientam quatro aspectos importantes que justificam o uso dos grupos focais enquanto estratégia de coleta de dados na pesquisa qualitativa: 1) pode possibilitar a compreensão existente na relação entre um estímulo e um efeito; 2) podem fornecer informações que auxiliem na interpretação de efeitos inesperados; 3) verificam e interpretam dados que poderiam, de outra maneira, serem apenas conjecturas e 4) podem oferecer interpretações alternativas de resultados, que podem não ser obtidos usando métodos tradicionais quantitativos.

Assim, segundo os autores, as entrevistas de grupos focais podem ser complementares a estudos quantitativos já desenvolvidos, além de oferecer uma variedade e versatilidade tanto para o método de pesquisa quantitativa quanto qualitativa.

Desta forma, no presente trabalho os grupos focais têm o objetivo de identificar as representações e crenças dos estudantes de medicina a respeito do ciclo básico, além de proporcionar o levantamento de temas relevantes para o desenvolvimento de grupos reflexivos. Pretende-se com isso, que o estudo venha trazer benefícios no campo das relações interpessoais e no questionamento reflexivo sobre a prática médica, assim como possibilitar o estudo e o aprofundamento de um método científico de investigação como o Sociodrama Educacional.

Historicamente, os grupos focais não são uma estratégia relativamente recente. Bogardu’s (apud Morgan, 1997), descreve que na década de 20 já existia a descrição de um trabalho de entrevistas de grupo, que também eram planejadas para

ampliar as pesquisas sociais de programas durante a 2ª guerra mundial, para examinar a persuasão de programas e dos efeitos dos mesmos no treinamento de material para as tropas e também na investigação de estudos e fatores que afetavam a produtividade em grupos de trabalho. Com o tempo a estratégia passou a ser utilizada em pesquisa de marketing por vários pesquisadores e uma das primeiras intervenções, na década de 90, foi utilizar a técnica para pesquisar a audiência de resposta a um programa de rádio (Morgan, 1997).

Também é destacado por Vaughn et al (1996) a utilização dos grupos focais em pesquisas de negócios e marketing, demonstrando considerável sucesso nessa área, pesquisas de comunicação, quando os pesquisadores estão interessados nos efeitos de mensagens passadas para a mídia; pesquisas em saúde, relacionadas a mudanças de aspectos relacionados à prática médica, a educação em saúde, promovendo o conhecimento de informações sobre essa área.

Para Morgan (1997), a utilização dos grupos focais é freqüente nas pesquisas em ciências sociais, e revelam três princípios básicos para a sua utilização:

♦ São utilizadas como métodos independentes de estudo e servem como principal fonte de dados;

♦ Podem ser utilizadas como pesquisas complementares a outras modalidades de investigação;

♦ São utilizadas em estudos com outras metodologias que combinem dois ou mais meios de reunir dados, nos quais um dos métodos determina o uso de outros

Assim, como definição de grupo focal, Morgan (1997) a considera como uma técnica de coleta de dados através da interação grupal sobre um tópico determinado pelo pesquisador. Na essência é o interesse do pesquisador que proporciona o foco, contudo os dados por si mesmo são trazidos pela interação grupal.

Vaughn et al (1996) apontam quatro razões que justificam o uso de grupos focais em pesquisas na área da Educação e Psicologia:

♦ as entrevistas em grupos focais oferecem variedade e versatilidade para ambos os métodos de pesquisa qualitativa e quantitativa,

♦ As entrevistas de grupos focais são compatíveis com o paradigma da pesquisa qualitativa;

♦ As entrevistas de grupos focais oferecem oportunidades para dirigir o contato com os sujeitos

♦ O grupo formado oferece distintas vantagens para a coleta de dados .

Nos grupos focais, como salienta Letelier (1996), está implícito em sua metodologia: “inicialmente recuperar, a partir de uma linha particular de construção, ou mesmo expressão de um discurso ou comportamento, a compreensão, a intencionalidade e a significação de uma determinada prática social” (Letelier, 1996, p.4).

Nesse sentido, a adequação da técnica se dá porque o sujeito constrói um campo perceptual, sobre um tema de seu interesse, no sentido epistemológico, a respeito de algo, onde sua própria subjetividade está sendo estruturada em termos da compreensão de alguns conteúdos e também de padrões de comportamento que se espera observar dele, a partir desse campo inicial de percepções (Letelier, 1996).

Para que as entrevistas de grupos focais possam seguir critérios mais precisos de investigação, é importante darmos atenção para a seleção dos participantes do estudo, ou seja, estabelecermos critérios para escolha da amostra. Nesse aspecto, salienta-se, conforme sugerem Vaughn et al (1996), que os critérios utilizados para a seleção da amostra dos grupos focais não são randômicos, não existe a preocupação com a representatividade de uma dada população, mas sim que os participantes representem uma amostra de pessoas que detém conhecimento sobre o tema abordado e que sejam elementos críticos na questão.

Por isso, torna-se importante que as características dos participantes do estudo sejam pré-determinadas e, dependendo dos objetivos a serem atingidos, o grupo necessariamente deverá ser homogêneo, principalmente se já existe um conhecimento prévio da população sobre o estudo, quanto mais homogêneo for o grupo, mais profunda será a investigação.

Nesta mesma linha de investigação, Rodriguez e Cerda (2002) descrevem que os grupos focais não geram informações numéricas ou de origem quantitativa e sim promovem uma interação entre os participantes como um meio de gerar informações.

Desta forma é trabalhado o discurso e a conversação dos grupos e o discurso dos sujeitos é o que será interpretado e analisado.

Torna-se necessário portanto um critério prévio e rigoroso para a seleção dos participantes de grupos focais, conforme já salientado. Rodriguez e Cerda (2002) explicam que a amostra para os grupos focais não tem representatividade estatística, ou seja, são selecionados grupos específicos de pessoas, com características determinadas, que são relevantes para o estudo em questão, para que possam falar sobre um tema, ou uma experiência que seja comum entre eles, em suma a amostra tem que ser homogênea.

Assim, seguindo o modelo proposto por Vaughn et al (1996), os seguintes passos devem ser considerados para a seleção dos participantes: a) desenvolver um planejamento para seleção dos participantes; b) estabelecer critérios para a seleção dos participantes (número de pessoas, número de reuniões, homogeneidade ou heterogeneidade da amostra, idade, sexo, etc); c) recrutamento dos participantes, quais as estratégias que serão utilizadas para o convite aos participantes do estudo; d) a preparação dos participantes, ou seja, fornecer todo tipo de informações sobre o estudo, como o mesmo será desenvolvido, tendo como cuidado estabelecer um vínculo positivo entre os participantes e o moderador de grupo, encorajando o máximo a participação no estudo, desde que voluntária.

É importante destacar que os grupos focais, como uma técnica de coleta de dados, inserida no contexto da pesquisa qualitativa, deve manter o mesmo rigor que prevê as pesquisas com enfoque quantitativo, onde se trabalham com amostras grandes e onde os dados geram resultados numéricos percentuais e possíveis de serem generalizados.

A investigação qualitativa, sobretudo na utilização dos grupos focais, preocupa-se com todos os passos necessários para que a estratégia seja desenvolvida, a fim de buscar uma compreensão mais aprofundada a respeito do tema de pesquisa que está sendo investigado.

Em se tratando de um procedimento de coleta de dados, os grupos focais necessitam, portanto, de algumas regras para a sua operacionalização. Existe uma tendência no geral, apontada pela literatura, em que as reuniões de grupos focais devem seguir passos diretivos e sincronizados com os objetivos do estudo, e para

isso descreveremos a seguir, o modelo adotado no presente estudo, que se originou das propostas investigadas na literatura (Vaughn et al, 1996; Morgan, 1997)

O facilitador ou moderador de um grupo focal deve ter claro alguns passos que necessitam ser respeitados, para manter durante a coleta de dados o caráter científico mais fidedigno possível. Assim, listaremos dois pontos importantes sugeridos por Vaughn et al (1996) que foram seguidos no presente estudo:

♦ Estabelecimento dos objetivos gerais: fase essencial e necessária, que será diretamente responsável por todo o planejamento dos grupos focais (nº de reuniões, as questões que serão levantadas e os meios de avaliação que serão utilizados).

♦ Estabelecimento de objetivos específicos: deixar claro o que eu quero investigar e o que eu não quero, ou seja, identificar metas, ou definir o que pretendo conseguir com os grupos focais.

III.3) Os grupos focais e a utilização da técnica em pesquisas de Educação Médica

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