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Os grupos focais e a utilização da técnica em pesquisas de Educação

III- METODOLOGIA

III.3- Os grupos focais e a utilização da técnica em pesquisas de Educação

coleta de dados através de grupos focais tem ocupado espaço na literatura nacional e internacional, sendo avaliada como uma estratégia que conduz a um resultado rápido e utilizada sobretudo em situações nas quais se pretende avaliar o impacto de um determinado programa educacional, ou até mesmo a eficácia de um método utilizado como estratégia em processos educacionais.

Perez et al (1995), na Universidade do Texas, relatam sua experiência na utilização da técnica com estudantes de medicina. O estudo objetivou a avaliação de alguns cursos da escola médica, tendo encontrado que os estudantes revelavam insatisfação por não poderem “opinar” sobre o processo avaliativo, nesta etapa, o estudo se baseava apenas em dados quantitativos. Os grupos focais surgiram como uma estratégia alternativa para que as sugestões dos estudantes pudessem ser atendidas mais prontamente.

Neste estudo, um grupo específico conduzia a avaliação com os estudantes em grupos focais três vezes por período: antes do 1o exame, entre o 1o e o 2o exames e entre o 2o exame e o final. Os estudantes eram selecionados ao acaso e incentivados a considerar aspectos positivos e negativos do curso.

Nesse sentido, as entrevistas de grupos focais adquiriram eficiência para complementarem informações já obtidas de natureza quantitativa e, assim, eram encaminhadas aos coordenadores dos cursos. A estratégia foi utilizada no ciclo básico.

Nesta mesma direção, Kvasnicka et al (1995) também se valeram de entrevistas em grupos focais para a avaliação de um curso de medicina clínica, uma vez que as avaliações formais mostravam-se insuficientes. Neste estudo, foi avaliado o início de um curso clínico, que durava nove meses e os grupos focais eram realizados uma vez ao mês, com representantes das categorias docente e discente.

A avaliação das entrevistas em grupos focais, enquanto estratégia de coleta de dados, foi identificada nesse estudo como positiva, sobretudo por ser capaz de identificar problemas em estágios mais primários, principalmente quando se considera que os estudantes são os “consumidores” e os “produtos” da educação médica.

Em 1990, cinco escolas médicas desenvolveram um projeto em conjunto, junto à população de Ontário, para especificar o que as pessoas esperavam de uma escola médica, dos médicos, e como os programas dessas escolas poderiam ser modificados (Neufeld et al, 1998). Desta forma, através de entrevistas de grupos focais com usuários de serviços de saúde, foi possível investigar as representações e crenças no que dizia respeito ao papel dos médicos, às tendências futuras que afetavam esses papéis, mudanças nos papéis que a população gostaria de ver e sugestões de mudanças na educação médica. Uma vez identificados os “tipos de papéis” mais esperados para o perfil de um bom médico (“expert”, comunicador, colaborador, defensor da saúde, etc), foi possível considerar estratégias educacionais de ajuda para ensinar os médicos a assumirem esses papéis, que acabaram sendo incorporados nas cinco escolas médicas.

O estudo mostrou que a estratégia possibilitou apreender o que a sociedade espera de seus médicos e integrar esse conhecimento no processo de reforma curricular, implementando mudanças.

A grande utilização da estratégia de grupos focais também é destacada na Educação Médica em relação ao método de ensino Aprendizagem Baseada em Problemas. Neste sentido, a técnica busca avaliar o impacto desse programa no estilo

de aprendizagem do aluno (Maudsley, 1999; Davis et al, 1994); a utilização da estratégia com estudantes de medicina em relação à escolha profissional (Murtha, 1997) ou ainda comparar as percepções de estudantes de medicina mais novos e mais velhos, em relação à escola médica (Feil et al, 1998).

Nas ciências sociais contemporâneas e nas pesquisas relacionadas à saúde, os grupos focais são freqüentemente utilizados em combinação com outros métodos, como um meio de explorar temas substanciais nas pesquisas e ainda permitir a análise mais aprofundada das diferenças entre indivíduos e grupos (Crossley, 2002)

No geral, os estudos apontam a pertinência da estratégia enquanto método que permite o levantamento de crenças, percepções em contextos educacionais, levantando temas centrais, que pode promover mais rapidamente do que outros métodos meios de identificar estratégias para combater as dificuldades de uma determinada realidade educacional.

Como já salientado, a presente investigação originou-se de um estudo anterior (Colares, 1999) que pretendeu através da construção de um instrumento para medida de atitudes, avaliar as tendências de atitudes de grupos de alunos de medicina frente às fontes de tensão no curso médico. O estudo permitiu a identificação dessas tendências, averiguando o quanto os alunos de medicina, no início de sua formação, encontram-se confusos, com problemas de adaptação ao curso e se mantendo no mesmo a um alto custo emocional, pois as atitudes frente a escolha profissional são predominantemente positivas, no entanto, os escores relacionados às fontes de tensão indicam atitudes conflituosas frente a esse respectivo período da formação médica.

Desta maneira, como uma continuidade à linha de investigação iniciada, pretendeu-se aprofundar mais as questões já obtidas, valendo-se de um referencial que permitisse um olhar para os aspectos institucionais, culturais e históricos que perpassam toda a graduação, no curso médico. Além disso, identificar as representações sociais dos estudantes frente a essas dificuldades iniciais poderia trazer contribuições para o estabelecimento de um possível diagnóstico institucional e da possibilidade de uma estratégia de intervenção.

Além das vantagens obtidas pela técnica dos grupos focais como estratégia para a coleta de dados qualitativos, consideramos oportuno a utilização da técnica na apreensão das representações sociais desse determinado grupo, pois como salientam

Oliveira e Werba (1999), uma das possíveis maneiras de se interpretar as representações sociais é através dos grupos focais. Segundo os autores:

“O ponto chave desses grupos é o uso explícito dessa interação para produzir dados e insights que seriam difíceis de conseguir fora dessa situação. Isso se constitui numa grande vantagem desses grupos, a oportunidade que eles oferecem de se estabelecer uma intensa troca de idéias sobre determinado tópico, num período limitado de tempo, onde os dados são discutidos e aprofundados em conjunto”.(Oliveira e Werba, 1999,

p.112)

Assim, descreveremos a seguir as etapas do estudo bem como todos os procedimentos desenvolvidos na presente investigação.

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