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4.5 OS ATORES E SEUS RELATOS

4.5.2 As entrevistas e os relatos do Coletivo da Cidade

Os relatos com as crianças e os adolescentes do Coletivo da Cidade foram obtidos entre junho e agosto de 2012. No início do trabalho com o grupo focal, procurei deixar as crianças e os adolescentes à vontade para falar e escrever sobre suas vidas em casa, na escola e no Coletivo da Cidade. Alguns deles ainda questionavam porque estavam fazendo parte daquele grupo focal, uma vez que não entendiam o propósito do trabalho.

Iniciamos as seções com o objetivo de trabalhar a questão do letramento como prática social, mais especificamente de habilidades e conhecimentos de leitura e de escrita, estabelecendo entre essas habilidades e esses conhecimentos, os valores e as práticas sociais, uma vez que, após aplicação de um teste diagnóstico pela equipe pedagógica do Projeto, observou-se uma grande dificuldade nessa área pelos atores envolvidos.23 A primeira atividade aplicada teve como tema “Contando um pouco sobre mim”. A partir dessa atividade, que foi escrita, os participantes contavam sobre suas vidas em casa e na escola regular.

Stéfanie tem onze anos e mora com a mãe e o padrasto. Ela relata que tem oito irmãos, mas mora com apenas cinco deles. Está frequentando a 4ª série/5º ano em uma escola pública da

23 De acordo com Kleiman (1995: 18-19), “podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos [...]. As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizado ou não alfabetizado, passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve alguns tipos de habilidades mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita”.

Cidade Estrutural. Apesar de ser muito inquieta, Stéfanie relata que vê a escola com muito carinho e que tem muito respeito pela professora. A adolescente apresenta uma certa resistência às atividades do grupo focal e dificuldades de relacionamento com os outros participantes. Em um dos dias das atividades, a menina se arrastou pela sala onde era realizada uma atividade de leitura e só se levantou quando conseguiu percorrer em volta de todas as mesas.

Diana também tem onze anos e está cursando a 4ª série/5º ano em uma escola pública da Cidade Estrutural. A adolescente revela que mora com a mãe e o padrasto e que tem um irmão. Para ela a escola é “grande, bonita e muito elegante, com parquinho e banheiro, muito chique, com uma água muito boa e bonita”. A mãe de Diana me revelou que a menina ia bem na escola até o dia em que o pai saiu de casa e não a procurou mais. A partir desse dia, a situação na escola começou a apresentar queda no rendimento e comprometimento na aprendizagem.

Nina tem dez anos e é uma criança aparentemente tranquila. Ela revelou que mora com o pai, a mãe e a irmã. Está matriculada em uma escola pública da Cidade Estrutural, cursando a 4ª série/5º ano do ensino fundamental. Ela acha a escola legal e bonita. Começou a frequentar o grupo focal e sempre estava presente e animada para fazer as atividades propostas e participar das entrevistas, mas a partir do mês de agosto mudou-se para o Estado de Goiás.

Luciana tem dez anos e mora com o pai e a madrasta. Tem quatro irmãos. Está matriculada na 4ª série/5º ano de uma escola pública na Cidade Estrutural. De acordo com sua avaliação, a escola é “normal, diretora legal, sala de aula legal, uma professora legal”. Luciana é muito falante e gosta de contar fatos ocorridos tanto em casa como na escola. Em algumas conversa, ela relatou que costuma apanhar do pai.

Cristiane também tem dez anos e frequenta a 4ª série/5º ano de uma escola pública da Cidade Estrutural. Ela mora com o pai, uma tia e um tio. Revela que tem seis irmãos. Para ela, a escola é boa. No início, a menina apresentava muito resistência em participar do grupo focal, mas aos poucos foi se adaptando. Ela apresenta muita dificuldade na escrita e na leitura.

Emanuele é a mais nova das participantes do grupo focal, tem apenas nove anos. Mora com o pai e a mãe e tem um irmão. Ela está matriculada na 3ª série/4º ano em uma escola pública da Cidade Estrutural. Para ela, a escola é “grande, bonita e com uma lanchonete bonita”. Aparentemente é uma criança tranquila, o pai sempre comparece às reuniões, mas apresenta muita dificuldade de aprendizagem.

Júlia tem dez anos, mora com o pai e a mãe e tem uma irmã. Está matriculada em uma escola pública da Cidade Estrutural, na 4ª série/5º ano. Quando perguntada sobre a escola, a menina respondeu: “sem barulho, sem briga, só no recreio tem muito barulho, gosto muito da minha escola”.

Gisele tem dez anos e está matriculada na 4ª série/5º ano do ensino fundamental em uma escola pública da Cidade Estrutural. Mora com a mãe os três irmãos. Ela vê a escola com muita alegria e acha muito legal.

Breno também tem dez anos e está matriculado na 4ª série/5º ano do ensino fundamental em uma escola pública da Cidade Estrutural. Ele mora com o pai, a mãe e uma irmã. O menino relata que possui mais um irmão, mas não revelou onde mora. Para ele a escola é bonita. Breno apresenta muita dificuldade de aprendizagem na escrita e na leitura.

Vinícius foi um dos últimos participantes a se integrar ao grupo focal, pois tem muita dificuldade de relacionamento. Ele tem onze anos e está matriculado na 3ª série/4º ano em uma escola pública da Cidade Estrutural. Mora com a mãe e o pai e possui um irmão. Vinícius é um menino carinhoso e muito sentimental. Muitas vezes teve de sair da sala onde desenvolvíamos o trabalho com o grupo focal, porque se chateava com o comentário feito por algum/a colega. Ele apresenta muita dificuldade de aprendizagem.