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As estatísticas dos percentuais de reforma das decisões de 1.º grau como

CAPÍTULO II –APELAÇÃO CIVIL NO SISTEMA RECURSAL BRASILEIRO

2.4 Efeito suspensivo como regra e a efetividade do processo

2.4.6 As estatísticas dos percentuais de reforma das decisões de 1.º grau como

Em todo decorrer deste trabalho, procuramos demonstrar que um ponto de fundamental importância para o processo civil brasileiro é que ele se mostra extremamente inefetivo, ineficiente, com uma má distribuição do tempo do processo ou mesmo sem nenhuma distribuição do ônus desse tempo, gerando morosidade processual e atentando contra o princípio do acesso à justiça.

Tudo isso se verifica justamente quando a prestação jurisdicional foi efetivamente prestada pelo primeiro grau de jurisdição, ou seja, pelo juiz singular, havendo sido respeitados todos os princípios constitucionais e infraconstitucionais, bem como toda a ritualística

procedimental, fazendo o que se chama de uma cognição exauriente e, mesmo assim, essa decisão, tendo em vista o efeito que possa ser gerado por um possível recurso detenha, está impossibilitada de ser efetivada, ou seja, não se possibilita sua execução provisória.

Desse modo, como mencionamos em vários tópicos desta dissertação, o real motivo dessa inefetividade é a regra geral do duplo efeito da apelação, estabelecida pelo art. 520 do Código de Processo Civil Brasileiro, que determina que a apelação será recebida no seu duplo efeito. Com isso, uma decisão judicial passível de tal recurso, consequentemente, não poderá ser executada desde a sua lavratura, gerando um total desprestígio ao órgão que proferiu a decisão.

Outra consequência dessa decisão é a má distribuição do ônus do tempo do processo. Em todo o andamento processual, o ônus do tempo do processo ficará única e exclusivamente sob a responsabilidade do autor da demanda. Ora, é até natural que isso aconteça, pois o autor inicia uma demanda contra outrem dizendo-se titular de um direito, e esse outrem, que está com o bem da vida almejado pelo autor, insurge-se contra essa pretensão, aguardando-se o final da lide para que o Estado-Juiz declare quem tem realmente razão.

Todavia, esse ônus do tempo do processo, como está posto hoje na tramitação dos recursos de apelação, precisamente nos efeitos que são dados a eles, recai, mais uma vez, sobre o autor. Ou seja, mais uma vez, o autor, que teve seu direito reconhecido na sentença, terá de aguardar toda a tramitação do recurso para poder satisfazer o seu direito, algo que se mostra plenamente injusto devido toda a espera no primeiro grau. Por isso, como o autor já teve reconhecido seu direito, o ônus do tempo do processo tem de ser, até por uma questão de isonomia, distribuído entre autor e réu.

Portanto, com este trabalho, pretendemos demonstrar a necessidade de se alterar essa situação. Para coroborar com todos os argumentos já desenvolvidos, passaremos a demonstrar e a analisar alguns relatórios, mais especificamente dos anos de 2009, 2010 e 2011, do Conselho Nacional de Justiça, denominados de justiça em números, os quais analisaremos individualizadamente.

Esses relatórios fazem um levantamento de todos os Estados da Federação e do Distrito Federal sobre o número de Recursos de Apelação julgados pelos Tribunais Estaduais e de quantos desses recursos foram ou não providos, mesmo que parcialmente. A partir dessas informações, saberemos qual é o grau de reforma das decisões de primeiro grau.

O primeiro relatório é o de 200990. O que constatamos nele é que o grau de modificação nas decisões de primeiro grau de jurisdição, por recurso de apelação, gira em torno de 22,4 % dos recursos protocolados e julgados pelo respectivo Tribunal de Justiça. Isso mostra um número relativamente pequeno que, segundo uma linha de argumentação, é um fundamento para a modificação do art. 520 do Código de Processo Civil, retirando o efeito suspensivo do recurso de apelação.

Já o segundo relatório é de 201091. A partir da análise desse segundo documento, também não vislumbramos um número excessivo. Pelo contrário, o percentual de reforma das sentenças de méritos ficou em torno de 26,4 %, configurando, assim, um número relativamente pequeno.

E o terceiro e último relatório é o de 201192. Neste também não se vislumbra um número excessivo, embora haja um aumento no seu percentual, que ficou em torno de 32,8 % de sentenças que foram reformadas pelo Tribunal de Justiça em grau de apelação, podendo-se dizer que é um número relativamente pequeno.

De todo esse levantamento estatístico, podemos chegar a algumas conclusões. A primeira delas seria no sentido de que, se considerássemos que a quantidade de apelações que foram providas seria um número grande, elevado, poder-se-ia defender que o dispositivo está correto e que não deve ser alterado. Já se considerarmos que o número de recursos de apelação foi baixo, podemos defender que o dispositivo merece ser alterado.

Por outro lado, existem aqueles que defendem a ideia de que esse levantamento estatístico não serviria para justificar tal alteração, pois argumentam que ambas as decisões, em algum caso concreto, podem estar erradas, ou seja, ou a decisão de primeiro grau está correta e a decisão do tribunal que a reformou está errada, ou vice-versa. Assim, o levantamento estatístico não serviria para demonstrar se o sistema processual deveria ou não mudar, pois jamais seria possível constatar qual das duas decisões estaria correta93.

Contudo, não temos dúvida de que esse levantamento é extremamente importante, tendo em vista que ele não deve ser encarado como o fator preponderante para a modificação

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Anexo I - Fonte: Conselho Nacional de Justiça - CNJ – Relatório Justiça em Números. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/images/programas/justica-em-numeros/2009/rel-justica-estadual.pdf. Acesso em 18 de fevereiro de 2013].

91Anexo II - Fonte: Conselho Nacional de Justiça - CNJ – Relatório Justiça em Números. Disponível em:

http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/relat_estadual_jn2010.pdf. Acesso em 18 de fevereiro de 2013].

92Anexo III - Fonte: Conselho Nacional de Justiça - CNJ – Relatório Justiça em Números. Disponível em:

http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/rel_completo_estadual.pdf. Acesso em 18 de fevereiro de 2013.

legislativa defendida por este trabalho, mas deverá ser analisado com o conjunto de argumentos aqui mencionados, principalmente, o princípio da efetividade processual, que busca cada vez mais uma boa prestação jurisdicional e uma igualitária distribuição do ônus do tempo do processo, de modo que esse ônus, no primeiro grau, continue sendo suportado pelo autor, mas que o seja suportado pelo réu na ocasião do recurso.