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As estratégias de marketing das empresas que produzem o forró pé de estrada

2 PERCURSOS METODOLÓGICOS: com o pé na estrada

2.4 As estratégias de marketing das empresas que produzem o forró pé de estrada

O mundo do forró pé de estrada, como citado anteriormente, relaciona-se à compreensão de todas as atividades que são necessárias para que o forró pé de estrada possa configurar como uma expressão artístico-cultural para o Ceará e, diante da inserção do estilo nos demais estados brasileiros, para o Brasil. Sua forma de organização e produção não se ancora nas grandes produtoras transnacionais, responsáveis por divulgar, produzir, gravar, agendar shows e gerenciar artistas, como a Sony Music, Som Livre, BMG, entre outras, são empresas locais criadas especificamente para a produção do forró pé de estrada. Sob esta perspectiva é possível afirmar que a organização do forró pé de estrada se enquadra na categoria das produções independentes.

Ao propor um esquema diferente das grandes gravadoras, apoiado fortemente na audição de músicas em rádios e no caráter visual do espetáculo, fazendo dos shows, e não da venda dos discos, a principal fonte de renda das bandas, o forró eletrônico se enquadra na categoria de produção independente. No entanto, ao garantir sua audição pelos esquemas de forte apelo popular, abuso da sensualidade no palco e repetição de uma fórmula semelhante para várias bandas e artistas, o forró eletrônico põe em risco os ideais de autonomia, autoria e criatividade romantizados por críticos e academia (MARQUES, 2011, p. 24).

Entretanto, a autonomia frente às grandes produtoras admirada pela academia choca-se com a ausência de autonomia criativa e artística, (MARQUES, 2011), haja vista, a grande maioria das músicas compostas obedecerem às demandas do mercado e das produtoras, salvo alguns artistas autorais como Dorgival Dantas, Ítalo e Renno, Dedim Gouveia, Rita de Cássia, as músicas cantadas pelas bandas não são associadas aos/às compositores/as, no geral é muito difícil descobrir a autoria das canções. Outro fator também é significativo nesse processo, também comentado por Marques (2011), o apelo sexual e erótico das letras, bem como o abuso da sensualidade exibido nas apresentações nos shows

tendem a reduzir a elogiada autonomia frente às produtoras transnacionais.

As empresas que gerenciam o forró pé de estrada utilizam-se de meios diversos para difusão do trabalho de suas bandas e promoção dos shows, este último principal fonte de lucros das empresas, dentre as estratégias destaco três: a distribuição nos shows e na internet dos CDs Promocionais das bandas, a criação de rádios próprias – além de ainda garantir a divulgação dos trabalhos nas rádios convencionais – e a utilização da rede social como modo de interação com o público, principalmente nas fanpages do Facebook. Apresentarei brevemente cada uma das estratégias de divulgação.

A criação de CDs Promocionais ocorrem nos shows e são prévias do CD oficial a ser lançado pelas bandas, apesar do CD oficial não ser a principal fonte de lucro ele permanece. Em um ano as bandas de forró chegam a gravar três CDs Promocionais, são CDs ao vivo gravados nos shows e contam com lançamento de duas a cinco músicas do novo trabalho das bandas. A ideia dos CDs Promocionais foi uma iniciativa popularizada pela A3 Entretenimento, estratégia copiada por outras produtoras.

Os CDs Promocionais além de distribuídos nos shows, blitz de divulgação dos eventos, também estão disponíveis na internet. O que antes configurava como estratégia da pirataria e alimentava o mercado informal das gravadoras ilegais, hoje absorvido por essas produtoras é oficial, vinculada à marca das empresas, como no caso da Elite CDs:

Site oficial para Download Elite CDs

O site não é específico do forró pé de estrada, é possível encontrar vários estilos musicais como demonstra a imagem. As parcerias podem ser solicitadas no próprio site, apesar de haver uma ferramenta que descreveria as políticas de uso, tal ferramenta não

funciona. Não há informação se as disponibilizações são autorizadas, os arquivos para download variam entre CDs completos e músicas de trabalho dos/as artistas. O funcionamento do site, em relação a lucro, não está claro, as músicas e CDs são gratuitos, contudo há uma proposta para as publicidades divulgadas nos sites, que devem cobrar por período de exibição dos banners divulgados.

Um mercado antes informal, realizado pelos camelôs das cidades, hoje é disponibilizado gratuitamente na internet. Algumas bandas divulgam e permitem o download do CD oficial. Somente os DVDs que são gravados pelas grandes bandas, que já possuem uma carreira de sucesso, estão ligados ao mercado formal. O DVD Aviões do Forró 10 anos encontra-se atualmente na lista dos dez DVDs mais vendidos da Som Livre. Estas iniciativas não põem fim à “pirataria”, apenas apresenta uma absorção legal da prática, CD’s e DVD’s piratas de forró continuam sendo vendidos nas ruas do centro de Fortaleza.

As rádios próprias são outra estratégia de divulgação adotada pelas empresas do forró pé de estrada. A ideia foi lançada pela “Somzoom” ainda na década de 90, com uma distribuição via satélite para rádios de todo o nordeste, intitulada “Somzoom Sat”.

Deve-se mencionar que a Somzoom não é uma emissora de rádio no sentido específico do termo, pois não tem concessão para transmitir o sinal e ocupar uma faixa do espectro radiofônico, sendo exclusivamente uma geradora de conteúdo para suas afiliadas. Assim, o empresário conseguiu articular uma competente estrutura comercial para sua banda e sedimentou o sucesso de sua estação de rádio, que em pouco tempo passou a transmitir seu conteúdo via satélite para dezenas de afiliadas em todo o Nordeste (TROTTA & MONTEIRO, 2008, p.9).

Atualmente, algumas produtoras utilizam dessa estratégia para difundir o trabalho de suas bandas, como é o caso da rádio A3 FM 91,3 MHZ e rádio 100 FM que hoje também pertence à empresa. Entretanto, a criação de rádios próprias não abandona a divulgação em rádios convencionais, rádios populares que possuem em sua programação espaços para o forró são bastante utilizadas por essas empresas para divulgação das bandas.

A divulgação das músicas atende a duas dimensões, na primeira a produtora paga uma taxa à emissora para que a música seja tocada e a segunda ocorre quando as músicas alcançam sucesso e são pedidas pelos/as ouvintes. As estratégias de distribuição dos CDs

promocionais contribuem para a familiarização do público com a música e, por conseguinte à sua maior veiculação nas rádios. As estratégias de divulgação se completam e possibilitam um maior alcance de público. Como muito do que se aprecia requer familiaridade auditiva, tornar comum ao público as músicas é buscar formas de aumentar o número de adeptos ao forró e, por conseguinte, maior participação nas festas de forró. As ações no mundo do forró são pensadas, sempre, para aumentar a lucratividade, o entretenimento é meramente um mercado.

As Fanpages tornaram-se mais usuais a partir de 2012, apesar de algumas já existirem a bastante tempo. A onda de crescimento do acesso à internet no Brasil59

apresentou o ciberespaço, para as empresas de forró, como uma ferramenta de divulgação e potencialização de sua lucratividade, através da publicidade de eventos e das bandas. As Fanpages são curtidas por milhares de internautas, que acompanham e comentam as postagens, a banda Aviões do Forró possui 1,4 milhão de curtidoras/es, já a banda Garota Safada possui 779 mil curtidoras/es, a classificação curtidoras/es representa o número de usuárias/os que acompanham o dia a dia das bandas e shows, este público é muito grande.

A ferramenta possui uma vantagem em relação aos sites, pois não é preciso digitar o endereço virtual na barra de localização ou nos sites de busca, ao se logar na conta pessoal no Facebook a/o internauta já recebe em sua linha do tempo as informações postadas pelas Fanpages. A interação público-empresa é muito mais rápida e direta, para tanto, o diálogo com as/os curtidoras/es das páginas é pessoalizado e demonstra uma relação de intimidade entre artista e público ou mesmo empresa e público.

Os/as artistas realizam votações nas postagens para a escolha da roupa que será usada no show, divulgam fotos pessoais da família e fotos dos shows realizados ou mesmo ainda em realização. Para as/os fãs as Fanpages proporcionam a intimidade tão sonhada entre em público e artista.

Além das Fanpages das bandas, são criadas Fanpages de eventos específicos e casas de shows. A estratégia é boa, mas, também apresenta riscos, não há um controle rígido

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Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o acesso à internet cresceu 143,8% entre a população de 10 anos ou mais no Brasil, apesar do recorte de renda apresentado, a internet tem crescido como ferramenta de informação e entretenimento, principalmente pelas redes sociais. Jornal Folha de São Paulo 16/05/2013: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/05/1279552-acesso-a-internet-no-brasil-cresce-mas-53-da-

para a criação das Fanpages e algumas são criadas por usuárias/os e não são oficiais. Entretanto, se as imagens e postagens publicadas não apresentarem nenhum conteúdo problemático elas permanecem ativas. De fato, as bandas e os/as artistas encaram como mais uma forma de divulgação de seus trabalhos. Em relação a empresas o controle é maior, páginas que não são oficiais são rapidamente tiradas do espaço virtual. Além de possuírem profissionais destinadas/os a acompanharem de perto o que se fala acerca do forró e das empresas nas redes sociais, ferramentas a cada dia mais utilizadas para controlar a ‘liberdade’ do que se diz nas redes sociais.

O ciberespaço60

das fanpages é forma de interação e criação de sinergia entre o público forrozeiro x empresa x artistas. Lévy (1996, p. 116):

O ciberespaço favorece as conexões, as coordenadas, as sinergias entre as inteligências individuais, e sobretudo se um contexto vivo for melhor compartilhado, se os indivíduos e os grupos puderem se situar mutuamente numa paisagem virtual de interesses e competências, e se a diversidade dos módulos cognitivos comuns ou mutuamente compatíveis aumentar.

Apesar da suposta relação de intimidade, o artista ou o moderador da página (no caso das empresas) não conhece as pessoas que acompanham suas páginas, o tratamento é impessoal e de certa forma íntimo, mas, configura-se no campo do virtual, “amigos/as” virtuais. A chance de aproximar-se realmente de um artista ocorre nas promoções e sorteios realizados nas páginas, jantar com artista, encontro com a/o fã e várias outras promoções, que visam atrair mais curtidoras/es e popularizar as Fanpages.

Assim como, os CDs proporcionais potencializam a veiculação das músicas nas rádios, as Fanpages intensificam esse papel e ainda contribuem para a divulgação dos shows. O alcance das postagens não se resume às/aos curtidoras/es, atinge um público ainda maior, pois, grande parte dos shows são compartilhados entre as/os internautas. Algumas postagens chegam a ter mais de cem compartilhamentos um alcance de visualizações que somente o relatório oficial da Fanpage, disponível somente para as/os administradoras/es da página, pode calcular.

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O ciberespaço é fundamentado por Pierre Lévy: …ciberespaço, conexão dos computadores do planeta e dispositivo de comunicação ao mesmo tempo coletivo e interativo, não é uma infraestrutura: é uma forma de usar as infraestruturas existentes e de explorar seus recursos por meio de uma inventividade distribuída e incessante que é indissociavelmente social e técnica.” (1999, p. 198).

Além dessas estratégias, várias outras podem ser elencadas para divulgação dos shows, utilização de publicidade em mídia escrita e falada (rádio e televisão); blitz promocionais com distribuição de brindes nas principais avenidas da cidade; cartazes, pinturas, faixas, outdoors, busdoor, entre outros. Destaco que a política de combate à poluição visual de Fortaleza realizou de 2008 a 2012, por meio da Semam – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano, uma grande campanha contra as divulgações irregulares, com lançamento de cartilha informativa às empresas identificadas como reincidentes neste crime ambiental. Atualmente a nova gestão municipal ainda não deu continuidade ao trabalho. Diante das várias questões levantadas durante este percurso metodológico, a estrada segue em busca de interlocuções teóricas acerca da categoria gênero e violência.

3 GÊNERO E VIOLÊNCIA: UM DEBATE IMPORTANTE À COMPREENSÃO DAS