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Capítulo I Enquadramento teórico

1.2. As expressões artísticas

Arquimedes Santos (1999, p. 116), conhecedor da importância de que as artes desempenham no desenvolvimento global da criança, apresenta algumas razões para a necessidade das expressões artísticas no sistema educativo:

talvez, civilizacionalmente, pela necessidade de preservar a herança humanista; talvez, sociologicamente, pela urgência de refletir, nesta área científico-tecnológica, acerca de um milenar afluente educacional europeu; talvez, pedagógica-educativamente, pela reconhecida importância das “expressões artísticas” no desenvolvimento integral e harmonioso da personalidade da criança; talvez, e ainda, porque, apurando-se a sensibilidade e propiciando o equilíbrio afectivo, se repercute na aprendizagem, combatendo o insucesso escolar, melhorando o aproveitamento das diversas matérias curriculares, além de desenvolver a livre criatividade infantil, pela apropriação de meios técnicos e materiais, para uma melhor expressão pessoal.

Para além do seu inquestionável valor educativo, as atividades educativas expressivas (expressão musical, expressão dramática, expressão plástica), possuem uma função equilibradora ao nível cognitivo e psicológico, permitindo libertar as tensões acumuladas por horas de exigência de concentração e raciocínio (Sousa, 2003a).

44 Para o 1.º Ciclo do ensino básico, a Lei de Bases do Sistema Educativo nº 46/86, com as alterações introduzidas pela Lei nº 49/2005 de 30 de Agosto, aponta para a importância de se promover a educação artística, de modo a sensibilizar para as diversas formas de expressão, reconhecendo nas Artes um fator essencial para o desenvolvimento global dos alunos ao proporcionar experiências que envolvam a criatividade, a sensibilidade estética, a capacidade de raciocínio, a memória, o sentido crítico e moral, e que favorecem a formação individual em harmonia com os valores cívicos e sócioafetivos. O professor “generalista” do primeiro ciclo tem a oportunidade única para promover a interdisciplinaridade, permitindo à criança criar uma rede de saberes em que vai estabelecendo pontes e relações em diferentes áreas, possibilitando um conhecimento mais contextualizado e favorecendo a sua compreensão sobre o mundo. Ao desenvolver as expressões artísticas, os alunos convocam naturalmente outros conteúdos de outras áreas do saber, pelo que esta integração facilita o desenvolvimento do aluno e do trabalho do professor e requer a constante busca de atividades que exijam conhecimentos diversificados (Kowalski, 2000b).

A educação, através das expressões artísticas, deverá ser, portanto, o oposto de um ensino-aprendizagem estático e transmissivo, para se apoiar em metodologias mais dinâmicas e de movimento como jogar, dançar, cantar, tocar música, dramatizar, mimar, correr, saltar, são formas mais profícuas de educação do que assistir, ouvir e memorizar conceitos teóricos (Sousa, 2003a). Este método de ensino permite ainda à criança descobrir os sentimentos de autoria e de realização, assim como aprender a utilizar os seus recursos imaginativos na construção do saber, partilhando significados e esperando daí obter um reconhecimento (Leal, 2000). Trata-se de uma dimensão educativa essencial no 1.º Ciclo, que irá influenciar a forma como a criança interage com o que a rodeia, tornando-a mais participativa, criativa, cooperante e reflexiva (Kowalski, 2003), ao vivenciar “experiências de expressão, criatividade, fruição e reflexão que lhe são inerentes” (p. 2).

Neste processo educativo, as expressões artísticas no ensino são por si só completas e únicas, mas também, partes de um todo que se interlaça, facilitando à criança o acesso à descoberta e à criação, uma vez que “pela pintura chegam à dança e da dança à poesia e da poesia à música e da música à expressão dramática e da expressão dramática ao teatro” (Beltrán, 2000, p. 139). Ao educar de acordo com esta abordagem, poder-se-á

45 começar por dançar, depois escrever sobre isso, depois pintar, em seguida dramatizar, cantar, etc., ou seja, desenvolver uma sequência didática, na qual diferentes expressões artísticas permitem mobilizar saberes, ao utilizar de forma criativa distintas linguagens e domínios, “onde o cognitivo, o emotivo, o físico e o espiritual ganham contexto como partes de um todo em equilíbrio e onde a sensibilidade, o sentimento, a atenção, o respeito por si, pelos outros e pela vida são assumidos.”(ibidem p.142)

De acordo com Bloomfield (2000, p. 1), a abordagem integrada das expressões artísticas nos currículos do 1.º Ciclo, pode e deve ser implementada pois potencia a aprendizagem nas restantes áreas disciplinares:

As a model for the new millennium, the integrated arts mode accords dance, drama, music and visual arts a collective, central and pivotal role in primary education and demonstrates that when children experience the arts from an integrated approach their learning in humanities, sciences, technology, literacy and numeracy is complemented and enriched.

Acreditando que o currículo do primeiro ciclo pode ser interpretado e ensinado de variadas formas, a autora defende que as artes devem ocupar um papel central, pois trespassam e interligam várias áreas do conhecimento curricular:

when primary school children formulate their responses in the performing and visual arts through the use of different forms of expression (sound, movement, voice and art materials), they are also empowered to understand other types of learning within the primary school curriculum. This occurs because diversity and richness are provided by using a number of media forms that address contrasting modes of perception. (ibidem, p.107)

Esclarece-nos ainda que as experiências que as crianças adquirem através da imaginação e da criatividade artística são uma parte valiosa do processo de aprendizagem:

(…) the information and knowledge that children acquire in their studies of other subject areas of curriculum (…) can become the illustrative content of their dances, musical compositions, paintings, sculptures or dramatisations. In so doing, not only can mutual benefit be obtained through sectoral definition and overlap, but children’s learning takes on an holistic dimension that brings unity and order to their lives. It also extends children’s creative insights by combining ideas or encouraging them to interpret information in new ways. Learning in this manner is multifaceted because it draws upon and develops the exciting interrelationships of the various forms of children’s innate intelligence by awakening linguist, mathematical, spatial, kinaesthetic and musical modes. This permits individual children to conceptualize and understand by using their strength areas to compensate or overcome weaknesses in other areas. It also has the impact of motivating children, sustaining their interest and improving their self-esteem. It provides in-depth study and develops all-round skills. (ibidem, pp. 107-108)

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