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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 2 Intencionalidade Educativa na Prática Pedagógica

2.5 As Expressões: um percursor de aprendizagens

As crianças aprendem com grande facilidade, e quanto maior for o estímulo a que são sujeitas, maior será o potencial de desenvolvimento nas várias competências.

Cada vez mais cedo, as crianças são colocadas no contexto escolar e, como tal, precisam de estar em contato com atividades expressivas que promovam o seu desenvolvimento global.

Nesta linha de pensamento, segundo Vayer e Trudelle (1999):

Se a criança necessita de aprender, necessita ainda mais de viver para si mesmo. É o que faz quando brinca sozinha com os seus objetos ou com o que inventa, é o que faz igualmente quando constrói ou imagina com os seus companheiros (p.100).

Nas áreas das Expressões, os momentos de produção e criação, que são transversais às quatro áreas, permitem uma passagem do concreto para o abstrato, salienta-se que as crianças são os principais protagonistas. Estas, durante as atividades estão a comunicar com o mundo exteriorizando os seus pensamentos e desenvolvendo as suas competências sociais.

Assim sendo, as Expressões surgem no contexto escolar com o objetivo de implementar uma oferta formativa variada, indo ao encontro das necessidades das crianças desenvolvendo a sua capacidade artística.

Relativamente a Expressão Dramática, esta é um meio de descoberta, onde a criança, através do seu corpo, encontra uma forma de comunicar através da expressão corporal e do jogo dramático. Segundo Slade (1978), “O Jogo Dramático é uma forma de arte por direito; não uma atividade inventada por alguém, mas sim o comportamento real dos seres humanos” (p.17), ou seja, a Expressão Dramática surge como uma atividade importante na infância.

Segundo Mégrier (2005), “expressão dramática no pré-escolar é, também, situar o corpo no espaço, distinguir-se do mundo envolvente de que a criança tem ainda uma percepção sincrética, situar-se, organizar-se, evoluir em terrenos limitados” (p.7), assim sendo, podemos considerar que o jogo dramático, possibilita que a criança se exprima, se consciencialize com o seu corpo, descubra as capacidades de se expressar, movimentar, e até criar situações de comunicação verbal e não verbal.

Podemos ainda referir que a Expressão Dramática é uma área importante para o desenvolvimento e aprendizagem da criança, tendo como mediador o professor que deve auxiliar e dispor de várias estratégias que fomentem essas aprendizagens. Como refere o Ministério da Educação (2004), as propostas indicadas pelo professor devem possibilitar às crianças vivenciar diferentes papéis que permitirão que estas conheçam melhor o outro e a si mesma.

Relativamente à Expressão Plástica, esta é uma área que possibilita à criança interagir com a sociedade e com o mundo que a rodeia. Através desta forma de expressão, a criança encontra vários meios para expressar o que sente, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e reflexivos.

Segundo Oliveira (2007), a Expressão Plástica refere-se “ao agir plástico e ao fazer expressivo, traduz-se num meio de comunicação que serve de manipulação de um conjunto de técnicas, materiais e suportes capazes de concretizar trabalhos plásticos.” (p.68). Para que isto seja possível, a criança deve ter acesso a um conjunto variável de

materiais, para explorar livremente, ou então utilizá-los com a indicação do professor cabendo a este apenas orientar e explicar a sua utilização. Assim sendo, o professor deve ter a consciência da importância da Expressão Plástica no desenvolvimento e aprendizagem da criança, para que desta forma a arte esteja sempre presente no quotidiano da sala de aula.

Nesta área um dos pontos mais importantes é a pintura, pois a criança desenvolve o gosto artístico, capacidade crítica incutindo-lhe confiança em si própria. Figueiredo (2003), diz-nos que a pintura “Desenvolve a coordenação e a habilidade motoras, aumentando a capacidade de organizar o espaço.” (p.37).

É importante que os professores criem situações dentro e fora da sala de aula, para as crianças desenvolverem estas habilidades e tenham oportunidades de sentir e criar. Segundo Lameira, Cardoso e Pereira (2012), “com visualidade e inteligência, os seus sentimentos para os materiais; catalisar a criatividade e a transversalidade das ideias; alargar experiências e conhecimentos sobre o património artístico e cultural; favorecer o alfabetismo visual e a literacia artística” (p.51).

No que concerne a Expressão Físico-Motora podemos referir que a criança desde muito cedo vai tomando consciência do seu corpo, sendo um processo de desenvolvimento e aprendizagem. Esta área é fundamental para o desenvolvimento global das crianças, tanto a nível de motricidade fina como a motricidade grossa.

As crianças, ao entrarem no pré-escolar já têm algumas aquisições motoras básicas e cabe ao educador criar situações, tendo em atenção ao ambiente e espaço, para desenvolver progressivamente essas aquisições.

As OCEPE (2004) referem que as instituições têm a responsabilidade de proporcionar contextos de aprendizagem onde as crianças possam conhecer melhor o seu corpo, ou seja, através de diversas atividades que movimentem as diferentes partes do corpo, onde a criança irá perceber quais são as suas limitações e potencialidades, fazendo com que haja uma interiorização do seu esquema corporal. Neste sentido, a criança irá conhecer o seu corpo, tendo consciência do seu corpo no espaço e do seu corpo em relação ao outro.

A Expressão Físico-Motora é também uma área que podemos interligar com a Expressão Musical, uma vez que podem ser proporcionadas atividades com ritmo, dança, sons e jogos de movimento promovendo o desenvolvimento da criança.

A partir da interligação de várias expressões a criança tem oportunidade de experimentar, explorar e utilizar o seu corpo desenvolvendo assim a sua autoconfiança.

É importante referir que na Educação Pré-Escolar existe a possibilidade de interligar todas as áreas de conteúdo, fazendo uma articulação com as expressões, permitindo à criança, de uma forma natural e lúdica, desenvolver novas aprendizagens através da exploração, manipulação de diversos materiais apresentados às crianças.

É importante referir que a Educação Pré-Escolar é a base para todas as aprendizagens que serão feitas posteriormente, sendo que as aprendizagens psicomotoras fundamentais acontecem até ao final do 1.º Ciclo do Ensino Básico, neste sentido, quanto melhor for o processo de aprendizagem e as suas experiências, melhor será a sua evolução global a nível motor.

Segundo o Ministério de Educação (2004), o professor deve ponderar as capacidades dos seus alunos, bem como os interesses e características intrínsecas a toda a dinâmica do grupo. Neste sentido, o professor tem apoio das OCP para o 1.º Ciclo a fim de orientar e planificar as suas aulas. Neste programa a Expressão Físico-Motora está dividida em vários blocos, sendo que todos têm objetivos gerais em comum, tais como:

Elevar o nível funcional das capacidades condicionais e coordenativas; cooperar com os companheiros nos jogos e exercícios, compreendendo e aplicando as regras combinadas com a turma (…); participar, com empenho, no aperfeiçoamento da sua habilidade nos diferentes tipos de atividades, etc.”. (Ministério da Educação, 2004, p. 39).

Importa salientar que “(…) o desenvolvimento físico da criança atinge estádios qualitativos que precedem o desenvolvimento cognitivo e social” (Ministério da Educação, 2004, p.35), nesta linha de pensamento, a escola deve proporcionar aos seus alunos momentos de aprendizagem significativas e concretas, de maneira a que estes possam desfrutar da prática física desenvolvendo as suas competências psicomotoras.

Relativamente a Expressão Musical, segundo Ferrão e Rodrigues (2008), “(…) a criança não tem linhas de fronteiras limitadoras das possibilidades de ser e agir. A música também não terá fronteira para as crianças se as suas linhas começarem a ser tecidas nos lençóis do berço (…), (p.65)”, neste sentido todas as crianças, desde muito cedo, devem ter presente na sua vida a música e o educador deve realizar atividades estimulantes para seu desenvolvimento. Nesta etapa, a Educação Musical desenvolve-se em cinco pontos: escutar, cantar, dançar, tocar e criar. Porém, a Expressão Musical também ocupa um lugar predominante no Currículo do 1.º Ciclo. pois sendo este grau de ensino obrigatório, as

Orientações Curriculares conduzem-nos a uma literacia musical, uma vez que a “música é um elemento importante na construção de outros olhares e sentidos, em relação ao saber e às competências, sempre individuais e transitórias” (Ministério da Educação, 2001, p.165).

A Expressão Musical está presente, direta ou indiretamente, em todas as áreas, pois representa um meio pedagógico facilitador no desenvolvimento da criatividade e imaginação das crianças.

Segundo Schaller citado por Correia (2010), “a música é muito mais do que um simples conjunto de sons que se unem em uma melodia” (p.135), logo “a música, como toda a arte, deve nascer e crescer segundo as leis da vida” (Willems, 1970, p.16).

Nos primeiros anos de vida, a criança estimula os vários sentidos, através de brincadeira com o corpo, de canções mimadas e “só pelos três ou quatro anos de idade é que o professor pode empreender um trabalho musical e contínuo” (Willems, 1970, p. 18). Posteriormente, entre os três e seis anos já conseguimos produzir boas práticas musicais através da imitação do adulto.

Como referido anteriormente, devemos incutir às crianças a música desde muito cedo, pois “algumas crianças são mesmo capazes de cantar inúmeras canções antes da idade dos dois anos, por vezes mesmo antes de saber fala” (Williens,1970, p.18), mas infelizmente existem crianças que o contato com a Expressão Musical é feito muito tarde, normalmente quando entram no 1.º Ciclo.

Segundo Edgar Gordon (2000) a música deve ser trabalhada desde muito cedo, não só dando enfase à parte lúdica, mas sim pelo seu potencial de estímulo à aprendizagem e desenvolvimento de várias competências. No Jardim de Infância, as crianças trabalham a Expressão Musical de uma forma mais lúdica e despreocupada, mas progressivamente amadurecem os seus conhecimentos tendo consciência da voz, do seu corpo, dos instrumentos apresentados e dos diversos sons que os rodeiam.

Através da linguagem musical e criatividade, em todas as faixas etárias, a criança desenvolve várias competências, pela prática de atividades significativas. Neste sentido a canção alcança um peculiar destaque no contexto escolar, uma vez que é um notável auxiliar nas rotinas da sala, como por exemplo: o fazer o comboio, arrumar a sala, ida para as refeições e nos momentos de higiene. No que concerne o 1.Ciclo, a canção também é importante, pois acaba por ser um instrumento de introdução, consolidação ou revisão de vários temas, tais como: ditongos, tabuadas, animais, valores, sistemas e aparelhos do corpo humano, entre outros.

Neste sentido o educador/professor deve tirar partido das canções para a sua prática, segundo Ferrão (2002), para estes a canção assume duas dimensões, a de um ato educativo e artístico. Assim sendo, o docente deve selecionar um reportório de qualidade para desenvolver as suas atividades, pois “o cantar é um espaço de prazer, arte e educação.” (Ferrão, 2002, p.16).

A canção é “um dos melhores meios para o estabelecimento de um clima de comunicação e de uma relação afetiva (base de toda a pedagogia válida) tanto entre o professor e os alunos como entre os vários elementos de um grupo” (Ferrão e Pessoa, 1988, p.9).

Concluindo, para que tudo isto seja relevante na educação da criança, é preciso proporcionar momentos de aprendizagens significativas que envolvam as várias expressões, sendo que a escola é um local primordial, onde devem existir momentos para estimular a criatividade, expressividade e originalidade. Só assim teremos educadores e professores que estão a promover o desenvolvimento integral das suas crianças contribuindo para a formação de cidadãos críticos e reflexivos.