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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 1- O Docente como Gestor do Currículo Escolar

1.1 A Identidade do Docente

Nos dias de hoje o docente têm um papel importante e de grande responsabilidade, no qual compete contribuir para o desenvolvimento humano nas suas múltiplas dimensões: cognitiva, afetiva, relacional, linguística, comunicacional, psicomotora e ética, e as mudanças ocorridas fruto dessa complexidade que é educar, faz com que o docente restruture a sua identidade enquanto professor (Alarcão & Roldão, 2008; Pardal, Gonçalves, Martins, Neto-Mendes & Pedro, 2011).

Quando pensamos nos professores e na sua identidade, poderíamos considerar esta como “a imagem que têm de si próprios, os significados que atribuem ao seu trabalho e a si próprios e os significados que os outros lhes atribuem” (Day, 2004, p.88). A construção de uma identidade profissional surge como algo complexo, que é influenciado por um conjunto de fatores que refletem o modo como os professores pensam e agem na sua prática, sendo estes: a imagem, valores e crenças que possuem em relação à aprendizagem; as experiências, acontecimentos pessoais e profissionais vivenciados; e por uma aproximação ou distanciamento destes, em relação à atuação de outros

profissionais, quanto ao que consideram ser professor e sobre o tipo de professor que gostariam de ser (Flores, 2003; Pardal et al., 2011).

Segundo Pardal et al. (2011), a identidade do professor é um “processo contínuo, ativo e dinâmico, portanto, nunca acabado nem totalmente definido” (p.70), sendo esta aperfeiçoada em contexto de trabalho e nas relações de interação que ocorrem, entre pessoas que partilham a mesma profissão. Saliento também, que este conhecimento dos professores relativamente a si próprios, à sua profissão, trabalho e desempenho de tarefas, permite-lhes agir com maior eficácia na aprendizagem das crianças, procurando constantemente reformular os seus métodos e a sua intervenção, em função das necessidades e características dos alunos, tornando-se, profissionais mais comprometidos e apaixonados pela sua profissão (Kelchtermans, 2009; Day, 2004; Cadório & Simão, 2013).

Em suma, a maneira como o docente organiza o seu ambiente de aprendizagem está relacionado com aquilo que ele é enquanto pessoa, sendo ele um agente ativo nessa construção de identidade irá transmitir as suas aprendizagens as crianças.

1.1.1 Perfil do Educador de Infância e Professor do 1.ºciclo do Ensino Básico

Quando falamos da profissão do docente, relacionamos o trabalho com um “conjunto articulado de saberes, saberes-fazer e atitudes” (Estrela, 2001, p.120), que dão congruência e significado a todo o processo educativo e pedagógico a desenvolver com as crianças.

Estes saberes e competências profissionais elementares para o exercício da sua profissão, encontram-se estruturados em dois documentos orientadores, sendo estes o Perfil Geral de Desempenho Profissional do Educador de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário e o Perfil Específico de Desempenho Profissional do Educador de Infância e do Professor do 1º Ciclo do Ensino Básico (1º CEB) definidos no DL nº 240/2001 e DL nº 241/2001.

Segundo Campos (2003) quando nos referimos ao perfil do docente, procuramos definir todo um conjunto de qualificações profissionais, áreas de intervenção e níveis de desempenho, que são esperados e que caraterizam aquele indivíduo enquanto professor e educador. Nos dias de hoje é pedido ao professor que seja dinâmico, que apresente aos seus alunos momentos de aprendizagem enriquecedores, dotando-os de competências

diversas, mas também que garanta o seu bem-estar emocional e afetivo. No que diz respeito ao Decreto-lei nº 240/2001 de 30 de agosto, que aprova o perfil geral de competências comuns a todos os docentes no exercício da sua profissão, denota-se que este se encontra organizado por quatro dimensões de intervenção: a dimensão profissional, social e ética; a dimensão de desenvolvimento do ensino e da aprendizagem; a dimensão de participação na escola e de relação com a comunidade; e por fim a dimensão de desenvolvimento profissional ao longo da vida. Após uma análise ao documento verifica-se que o professor “assume-se como um profissional de educação, com a função específica de ensinar, pelo que recorre ao saber próprio da profissão, apoiado na investigação e na reflexão partilhada da pratica educativa (..)” (artigo 4.º).

Assim sendo, deve ser da competência do professor garantir a todos os alunos um conjunto de aprendizagens escolares significativas, onde deve também promover a autonomia dos alunos; valorizar os seus saberes e experiências pessoais; garantir uma construção sustentada do saber, que possibilite a articulação e a continuidade educativa das aprendizagens; e ainda promover um ambiente educativo que favoreça a participação das famílias e da restante comunidade educativa, num ambiente de bem-estar propenso à aprendizagem (DL n.º 241/2001). Relativamente ao desempenho do professor do 1º Ciclo, este deve organizar, desenvolver e avaliar todo o processo de aprendizagem, integrando nestes os conhecimentos científicos das várias áreas curriculares: Português, Matemática, Estudo do Meio e Expressões Artísticas e Físico Motoras (Matriz curricular do 1.º ciclo DL n.º 176/2014, de 12 de dezembro) e ao nível de competências sociais importantes, no âmbito da educação para a cidadania.

Em suma, cabe ao professor a responsabilidade de gerir o currículo, utilizando os seus saberes à especificidade da sua prática e os seus alunos.

1.1.2 Atitude Reflexiva e Investigativa do Docente

A educação está em constante mudança, o que exige ao docente a necessidade de tornar-se um investigador reflexivo da sua prática, para poder oferecer aos seus alunos novas aprendizagens. Assim sendo, cabe ao docente assumir uma atitude crítica e de questionamento, relativamente às suas opções metodológicas para a aprendizagem dos alunos. Segundo Dewey (s.d), citado por Amaral, Moreira & Ribeiro (1996), para que

ocorra uma ação reflexiva é necessário a presença de três atitudes fundamentais no professor, sendo estas: a abertura de espirito; responsabilidade; e empenhamento.

Salienta-se que o autor reforça a importância da necessidade do docente estar recetivo a realizar mudanças e alternativas à sua prática, que proporcionem melhorias no processo de aprendizagem, aqui podemos referir que implica um processo cíclico de planificar, agir, observar e refletir.

Segundo Cadório e Simão (2013), a atitude reflexiva do docente poderá ocorrer na ação e/ou sobre a ação. No que diz respeito a “ocorrer na ação” este exige do professor uma resposta rápida à situação. Já no “ocorrer sobre a ação”, é algo que acontece num momento posterior à ação, e permite ao professor uma melhor compreensão dos factos e possíveis respostas/soluções.

Alarcão (2001) considera que, a investigação deverá ser também ela uma competência cultivada e desenvolvida pelo professor na sua prática, pelo qual este deverá “ser capaz de se organizar para, perante uma situação problemática, se questionar intencional e sistematicamente com vista à sua compreensão e posterior solução” (p.25).

Finalizando o docente é alguém que pensa, reflete sobre a ação e é capaz de gerir a sua ação de maneira flexível.