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AS FÓRMULAS QUANTICAS DA SEXUAÇÃO

6. AS FÓRMULAS QUÂNTICAS DA SEXUAÇÃO

6.3 AS FÓRMULAS QUANTICAS DA SEXUAÇÃO

O trabalho de Lacan de escrever a sexuação em fórmulas teve início no Seminário de 1971 De um discurso que não fosse semblante (2009), ocuparia lugar de destaque no Seminário do ano seguinte...ou pior (2012) e teria sua conclusão no Seminário mais, ainda (1985).

No Seminário Livro 19: ... ou pior, Lacan (2012) colocaria uma primeira versão das fórmulas da sexuação:

Figura 1: As fórmulas quânticas da sexuação.

Primeiramente, Lacan adverte: nessas fórmulas, o um não se opõe ao outro sexo como uma negação. A mulher não é o negativo do masculino. No lado do masculino há um x que se sustenta num além da função fálica e a mulher se inscreve no não toda – que sustenta a função feminina.

Nas fórmulas, dois termos se enfrentam: um é o existe e o outro é não existe. Do lado esquerdo, o x representa o homem, colocando-o como existe. Na fórmula da esquerda, acima, podemos ler a inscrição de que existe ao menos um que não está submetido à lei da castração - . Como visto, esse um é o pai mítico que teria a possibilidade do gozo com todas as mulheres.

Assim, a primeira fórmula da esquerda representa que do lado do homem existe ao menos um homem que não é castrado - trata-se do pai mítico, o aumenosum - e é com esse homem imaginário que os demais homens deverão identificar-se. Lacan salienta que é ele quem possibilita que os demais homens se identifiquem com uma imagem – mesmo que na fantasia, de um homem pleno.

Na parte inferior da esquerda, temos que todo homem está sujeito à castração. Em algum lugar, portanto, há um todo x que se torna o toda vez que um ser encarna a sexualidade no lado do homem, ou seja, ao inscrever-se desse lado, o sujeito sentirá os efeitos da castração e terá como imagem identificatória esse pai pleno.

Quanto à mulher, Lacan já a escreve como não toda e simbolizada por . Assim, não é em relação ao homem que a mulher se inscreve, sendo que o lado da mulher é completamente diverso do lado do homem. Enquanto do lado do homem existe ao menos um, o pai mítico, para qual a função fálica não lhe inscreve – e é fonte de identificação – para a mulher, essa função não existe e a mulher

é não toda - e é isso que significa a primeira fórmula da direita, acima. Já a fórmula abaixo, representaria a ideia de que nenhuma mulher possui o falo e, com isso, Lacan não estaria dizendo que elas são castradas, mas que pela sua constituição subjetiva, ela se inscreve como não tendo o falo. Dessa forma, Lacan esclarece que existe o homem, em torno do qual todos os demais homens se relacionam e, em contra partida, a mulher não existe.

Se quisermos pensar seja o que for das relações que chamamos de humanas, não se sabe por quê, na experiência que se instaura a partir do discurso analítico, é absolutamente necessário afirmar que existe um para quem a castração não se sustenta. Castração quer dizer o quê? Quer dizer que tudo deixa a desejar, não quer dizer outra coisa. Para pensar isso, ou seja, pensá-lo a partir da mulher, é absolutamente necessário que haja um para quem nada deixe a desejar. Esta é a história do mito de Totem e Tabu. Se vocês perderem isso, não vejo absolutamente o que lhe permita se situarem de alguma forma. (LACAN, 2012 [1971-1972], p.200)

No capítulo intitulado Letra de uma Carta de Almor, do seminário Livro 20: mais,ainda (1985), Lacan apresenta um complemento às fórmulas quânticas da sexuação e as escreve na sua versão definitiva, conforme abaixo:

Primeiramente, Lacan mantém sem alterações a parte superior das suas fórmulas e acrescenta a segunda parte. Na parte superior, as duas fórmulas acima representam que quem quer que seja ser falante se inscreve de um lado ou de outro.

Já na parte inferior, Lacan (1985) coloca um $ e o ɸ o que significa que o homem também se encontra barrado com relação ao falo. Esse $ só tem a ver, enquanto parceiro, com o objeto (a) – o objeto causa do desejo – que se encontra do outro lado da barra. Dessa forma, o homem só atinge o seu parceiro sexual – que é o Outro – por intermédio disto, desse sujeito ser a causa do seu desejo, ou seja, por meio da fantasia (Ibid, p.108).

“O que se viu, mas apenas do lado do homem, foi que aquilo com que ele tem a ver é com o objeto (a), e que toda a sua realização quanto à relação sexual termina em fantasia. Viu-se isto muito bem a propósito dos neuróticos” (Ibid., p.117).

Do lado direito da barra, representando a mulher, temos o (Ⱥ) que significa que ela só poderá inscrever-se como não toda. Na sua relação com o outro, vemos que sua relação enquanto não toda (Ⱥ), não se dá com o homem, mas com o Outro – que Lacan (1985) representa como S (Ⱥ). Entretanto, à mulher também é possível relacionar-se com o falo ɸ, o que a colocaria numa posição dupla (p.108-109). Dito de outro modo, Ⱥ mulher é aquela que tem a possibilidade de inscrever-se com relação ao significante, mas também com relação ao falo. (LACAN, 2012 [1971-1972]). Assim, na mulher há um gozo que é o gozo do corpo que vai para além do falo, mas desse gozo ela nada nos diz. Referindo-se à Santa Tereza de Bernini, Lacan (1985 [1972-1973], p.103) dirá :

(...) basta que vocês vão olhar em Roma a estátua de Bernini para compreenderem logo que ela está gozando, não há dúvida. E do que é que ela goza? É claro que o testemunho essencial dos místicos é justamente o de dizer que eles o experimentam, mas não sabem nada dele.

Por outro lado, o que se percebe é que a mulher coloca-se frente ao homem como objeto (a)- objeto causa do desejo – que Lacan representa como o $ do lado do homem, rumo ao (a) do lado da mulher.

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