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As funções cognitivas são formas complexas de atividade mental humana, onde primeiramente as informações do mundo externo são recebidas, analisadas e armazenadas através de três funções básicas: atenção, linguagem e memória. Estas capacidades básicas serão então integradas e usadas na realização de metas e execução de planos, constituindo desta forma a habilidade intelectual humana (Lúria, 1984; Strub & Black, 1993).

Atualmente existem diversas alterações cognitivas descritas na PEA. É comum o autista revelar dificuldades em juntar partes de informações para formar um “todo” provido de significado (Teoria da Coerência Central) (Happé, 1994); no planejamento de estratégias de resolução de problemas para a execução de metas (Teoria da Disfunção Executiva) (Bebko & Ricciutu, 2000) e na capacidade para atribuir estados mentais (crenças, desejos, conhecimento e pensamentos) a outras pessoas e predizer o comportamento das mesmas em função destas atribuições (Teoria da Mente) (Baron Cohen, Leslie & Frith, 1985).

Embora seja fundamental descrever e explorar estas alterações cognitivas, é pertinente recolher outros dados sobre as quais a literatura não se debruça de forma tão exaustiva, nomeadamente nos domínios da atenção e da memória.

A atenção é a “capacidade de filtrar informações relevantes e irrelevantes em função das demandas internas e intenções, sustentar e manipular representações mentais e monitorar/modular respostas aos estímulos” (Strauss et al., 2006, p.16). Segundo Muir (1996), esta encontra-se dividida em atenção seletiva, que concerne aos processos que facilitam a seleção de informações relevantes para o sujeito e seu processamento cognitivo; a Atenção constante ou sustentada, que é a capacidade de manter a atenção por um longo período de tempo e a Atenção dividida, que é a capacidade de atender a duas ou mais fontes de estimulação.

Estudos focados na atenção apontam para a dificuldade da criança autista em selecionar, manter e dividir a atenção (Mc Evoy, 1993).

Pode dizer-se que a função da atenção em pessoas com PEA está suspensa ou apresentando diversas flutuações. Por exemplo, em tarefas consideradas interessantes, a capacidade de atenção mostra-se inabalável e intransponível, sendo difícil fazer com que

38 estes indivíduos percam o seu foco. Já em situações perspetivadas como não interessantes como, por exemplo, exercícios terapêuticos, estes indivíduos apresentam uma grande dificuldade em se concentrarem em determinada tarefa. Indivíduos com autismo distraem-se facilmente sendo, portanto necessário apoios e incentivos constantes para ajudar a manutenção da atenção. Este fato dificulta a coerência e organização de ideias para compreender situações ou realizar julgamentos por parte destas pessoas (Hewitt, 2010).

A atenção é um processo complexo de analisar e avaliar, uma vez que envolve, para além do sistema sensorial, variáveis intrínsecas do sujeito, sendo particularmente complexo em indivíduos com autismo.

A memória “é um processo complexo através do qual um indivíduo codifica, armazena e recupera informações” (Strauss, 2006, p.25).

No geral, os estudos não apontam alterações nas memórias de curto prazo. A repetição das ações podem ser indicativo da memória particularmente da semântica, que está ligado ao significado e ao sentido (Rocca, 2001).

Do ponto de vista social, os autistas manifestam dificuldades na imitação social – os autistas têm dificuldade em imitar os outros. A imitação social é importante para o desenvolvimento da linguagem e para o estabelecimento das relações sociais. Estas dificuldades podem ser notórias na imitação de comportamentos (movimentação do corpo) e de imitar as deslocações dos objetos (Hermelin e O’ Connor, 1970; Hermelin e Frith, 1971).

Por outro lado, as crianças autistas têm repercussões na atenção partilhada, na compreensão dos estados emocionais e evitam o contato ocular (forçar a versão do olhar pode causar ataques de pânico).

Do ponto de vista cognitivo é expectável que o QI esteja abaixo dos 70, uma vez que todos estes aspetos anteriormente citados constroem a cognição. É de notar que estas crianças desenvolvem competências interessantes mas estereotipadas.

A função da memória é um tema pouco estudado por aqueles que estudam as PEA. Apesar de não ser um critério de diagnóstico, observam-se várias dificuldades no campo da memória em indivíduos com este diagnóstico (Crane, Pring, Jukes, & Goddard, 2012). Os portadores de PEA costumam apresentar problemas no que respeita à memória de trabalho e prospetiva. As perturbações na memória prospetiva podem ser explicadas quer por uma rutura entre as informações emocionais provenientes do sistema límbico e as informações objetivas dos sistemas sensoriais, quer por problemas na planificação de ações complexas futuras (Eslinger & Damasio, 1985, cit. in Bosa, 2001).

Relativamente à memória, os autistas apresentam um desenvolvimento muito pobre porque não têm capacidades de linguagem suficientemente desenvolvidas para permitir

39 armazenar a informação, uma vez que a memória assenta essencialmente na linguagem. Assim, os autistas conseguem direcionar a memória para um determinado interesse pessoal, ou uma única área (e.g. decorar números de telefone), tornando-se experts nestas matérias.

As investigações de Ozonoff e Strayer (2001) encontraram evidências sobre a perda de memória de trabalho no autismo. Um estudo levado a cabo por estes autores comparou a memória de trabalho numa amostra autista de alto funcionamento com um grupo diagnosticado com Síndrome de Tourette e um grupo controlo com desenvolvimento típico. Não foram encontradas diferenças entre os três grupos, mas o desempenho foi significativamente correlacionado com a idade e o QI. Assim, os autores concluíram que a memória de trabalho não é uma das funções executivas significativamente prejudicada no autismo. Esta investigação sugere ainda que a forma de administração de tarefas de memória de trabalho pode ser importante para determinar o desempenho das crianças.

Um outro estudo mais recente de McMorris, Brown, e Bebko (2013) vem revelar que a MCD perspetivada como a capacidade de recordar com precisão uma série de itens após uma breve exposição visual, é uma habilidade intacta em crianças com PEA, uma vez que os grupos não revelaram diferenças no número de artigos retirados, na taxa de decomposição de informação ou na velocidade de processamento da informação. Pesquisas anteriores já haviam examinado estas capacidades em crianças com desenvolvimento típico e indivíduos com deficiência intelectual. Este é um resultado que tem implicações para o processamento de informações subsequente.

Outros autores avaliaram os efeitos do treino de múltiplos exemplares, utilizando reforço positivo sobre o desempenho de uma "extensão de dígitos para trás" - um teste de memória que engloba uma resposta relacional e sequencial. Todos os participantes apresentaram melhor desempenho em estímulos diretamente treinados, bem como manutenção e generalização em estímulos não treinados. Os resultados fornecem apoio adicional para a hipótese geral que o desempenho em tarefas de memória de trabalho é passível de melhoria através de intervenção comportamental, mesmo em crianças com PEA (Baltruschat, 2012).