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De acordo com Graue & Walsh (1998) o objetivo da investigação é conhecer cada vez mais e melhor o mundo que nos rodeia de modo a transformá-lo num lugar melhor.

Investigar é portanto “um procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico que permite descobrir novos dados e novos fatos, relações ou leis em qualquer campo de conhecimento” (Marconi & Lakatos, 2003, p.155). Pode ainda afirmar-se que investigar é uma atitude e uma prática de procura permanente da realidade e da verdade, um procedimento ou um conjunto de procedimentos que se inicia com um processo de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico para conhecer as realidades ou novos fatos, sendo um processo de construção do conhecimento e ainda uma forma de confirmar ou refutar um conhecimento ou um saber existente (Blaxter, Hughes & Tight, 2005).

O presente estudo enquadra-se num paradigma de inspiração construtivista, no campo da investigação qualitativa e naturalista, e foca-se num estudo de caso de natureza descritiva e intensiva (Afonso, 2005). De acordo com Afonso (2005, p.43), “os estudos naturalistas caraterizam-se pela investigação de situações concretas existentes e identificáveis pelo investigador, sem intervenção, em termos de manipulação, física e deliberada, de quaisquer variáveis.”

De acordo com Almeida & Freire (2000), as amostras são grupos de sujeitos juntos dos quais se vai concretizar a investigação, ou então correspondem ao conjunto de ocorrências ou comportamentos que são registados. A amostragem vai ter um impacto muito importante na qualidade dos resultados devendo ter o máximo de representatividade possível em relação à população.

A significância das inferências que possam vir a ser feitas passa, sem dúvida, pela qualidade das amostras junto das quais os dados foram recolhidos. A significância de uma amostra refere-se ao número de elementos que a constitui, ao passo que a sua representatividade se refere à sua qualidade (Almeida & Freire, 2000).

O método de amostragem utilizado neste estudo de caso é a amostragem por conveniência. Na prática, uma amostra por conveniência significa que os indivíduos utilizados no estudo são selecionados prontamente visto estarem disponíveis, não tendo sido utilizado qualquer método estatístico para essa seleção. A grande vantagem desta amostragem prende-se com a facilidade operacional e o seu baixo custo, no entanto, apresenta uma grande desvantagem de não ser capaz de ser representativa da população em estudo (Ochoa, 2015).

46 A metodologia qualitativa já é reconhecida como sendo um campo de investigação com direito próprio, que é transversal a várias disciplinas. O termo qualitativo implica um destaque nas qualidades das entidades e nos processos e significados e um estudo qualitativo valoriza a qualidade socialmente construída da realidade, tendo em conta um quadro construtivista, a relação mais íntima entre o investigador e o objeto de estudo e os constrangimentos situacionais que dão forma à investigação (Denzin & Lincoln, 2000).

De acordo com Creswell (2010) a metodologia qualitativa é vista como sendo um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social e humano.

Serapioni (2000) refere como principais caraterísticas dos métodos qualitativos a análise do comportamento humano do ponto de vista do ator, a observação naturalista, a subjetividade, a orientação para a descoberta e para o processo, o seu caráter exploratório, descritivo e indutivo e a não generalização de resultados. O mesmo autor identifica os seguintes pressupostos que orientam a investigação tendo como base o paradigma qualitativo: 1. Complexidade: a realidade social, incluindo as suas manifestações culturais, é algo muito complexo e que não pode ser reduzido a um simples conjunto de variáveis;

2. Subjetividade: os investigadores estão sempre situados numa determinada realidade, num determinado contexto, trazendo assim para o estudo as suas crenças e valores. Assim, em vez de ser suprimida, como acontece na metodologia quantitativa, a subjetividade é assumida e negociada;

3. Contextualidade: a realidade é construída tendo em conta vários fatores, o que faz com que a compreensão do fenómeno em causa envolva sempre a compreensão de determinados contextos;

4. Interpretação e Significado: o mesmo fenómeno pode ter diferentes interpretações tendo em conta os diferentes participantes e as relações que estabelecem com o que está a ser estudado, o que faz com que a interpretação e o significado sejam a verdadeira essência da investigação qualitativa;

5. Metas de Investigação: as explicações que envolvem causalidade, controlo e predição são impossíveis. O objetivo é antes a capacidade de compreensão interpretativa que envolve a capacidade de ser empático e de recriar a experiência dos outros em nós próprios;

6. Aplicabilidade: a compreensão aprofundada de um dado contexto facilita a compreensão de outros contextos, não através do princípio da generalização mas sim do princípio da transferência.

Ao usar uma metodologia qualitativa neste estudo espera-se que seja feita uma análise em profundidade relativamente a significados, conhecimentos e atributos de qualidade dos

47 fenómenos em estudo. Assim, o investigador qualitativo vai estudar os fenómenos no seu contexto natural com o intuito de interpretá-los, tendo em conta os diferentes significados atribuídos pelas pessoas. Para tal, é necessário que sejam recolhidos materiais que descrevam certos momentos da vida dos indivíduos que irão ser interpretados na tentativa de aumentar a compreensão sobre o alvo de estudo (Denzin & Lincoln, 2000).

De acordo com Tuckman (2000), as fontes de obtenção de dados que se podem utilizar num estudo de caso, são normalmente de três tipos: entrevistas, documentos e observação. Neste trabalho, a técnica de recolha de informação qualitativa privilegiada foi a entrevista, por ser a técnica que melhor se adapta à natureza do estudo e porque alarga ou retifica o campo de investigação das leituras, tendo como principal objetivo a revelação de determinados aspetos do fenómeno em estudo (Quivy & Campenhoudt, 1992).

A metodologia qualitativa pretende descrever e compreender fenómenos, sendo uma investigação com uma orientação ideográfica. A produção do conhecimento científico baseia- se no método indutivo, surgindo a partir dos dados, visto que a investigação é orientada para a descoberta.

A metodologia qualitativa insere-se no Paradigma fenomenológico/interpretativo em que os princípios orientadores se focam na especificidade interpretativa do ser humano, na não correspondência entre fatos e estados subjetivos, na crença da natureza interpretativa do conhecimento, na interpretação que determina a ação e na compreensão acerca da forma como as pessoas interpretam e dão sentido à sua experiência.

Os métodos qualitativos revelam um interacionismo simbólico, defendendo que as ações não são determinadas pela realidade objetiva, mas pelos significados que atribuímos às experiências, e que não construímos as interpretações no vácuo e sim na interação com os outros.

A Psicologia Clínica faz uso dos estudos de caso desde o séc. XVIII, pois a compreensão da experiência interna e subjetiva do indivíduo é vista como fundamental nas Ciências Sociais e Humanas.

A realidade é o resultado da ação dos indivíduos, constituindo uma atividade reflexiva e interativa em que o indivíduo participa e cria como ser atuante, não agindo em função de comportamentos prescritos. Assim sendo, o conhecimento dos indivíduos é resultante da multiplicidade das suas experiências.

Os métodos qualitativos apresentam como principais benefícios permitirem o acesso às perspetivas dos atores para obter um conhecimento em profundidade, a ligação aos contextos, a orientação para a descoberta e ser um estudo complexo (Flick, 2002).

48 Neste trabalho de investigação, a recolha de dados será realizada fazendo uso de análise documental, entrevistas à encarregada de educação e à professora de educação especial e da aplicação de três provas/tarefas para medir a atenção e a memória. Estas provas são o Trail Making Test (TMT), os subtestes Código, Pesquisa de símbolos e Memória de dígitos da WISC-III e a Figura Complexa de Rey.