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As Gerações dos Direitos Humanos

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CAPÍTULO 1 A CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

1.4 As Gerações dos Direitos Humanos

A priori, cumpre destacar que a questão das gerações dos direitos humanos é polêmica, vários autores tratam do assunto, sem uma convergência de entendimento. Nesse mesmo sentido, ressalta-se que a mesma divisão é encontrada na tutela constitucional dos direitos humanos.

Outro ponto a esclarecer é quanto à nomenclatura desses direitos humanos, alguns autores usam o termo “dimensões”, outros, “gerações”.

Paulo Bonavides (2006, p. 563) utiliza o termo “gerações” para falar dos direitos fundamentais, alegando que esse termo é usado no sentido em que apresenta a inserção histórica dos direitos fundamentais nas constituições nacionais, posicionamento seguido por vários outros constitucionalistas, razão pela qual o este trabalho adotará o mesmo termo.

Entende-se a primeira geração dos direitos humanos como aqueles relacionados aos direitos civis e políticos e que compreendem as liberdades clássicas, ou seja, realçam o princípio da liberdade.

Esses direitos emergiram ao final do século XVIII e são considerados uma resposta ao Estado absolutista, refletindo os ideais liberais; corresponderam à fase inaugural do constitucionalismo no Ocidente. Sua conquista é advinda das revoluções liberais francesas e norte-americanas, quando a burguesia reivindicava o respeito às liberdades individuais, com a consequente limitação dos poderes absolutos do Estado. Nesse entendimento, pode-se dizer que são direitos de resistência que destacam a separação entre o Estado e a sociedade. É uma dimensão de direitos apresentada, assim, sob um caráter negativo, tendo como titular o indivíduo. A título de esclarecimento, direito “negativo” é considerado aquele em que não há

que se falar em prestação, positiva, e sim abster-se de fazer algo. No caso em tela, deixar de restringir a liberdade dos cidadãos.

Essa geração compreende o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à liberdade de religião, à participação política, etc.

Assim, tem-se que os direitos humanos de primeira geração estão contemplados na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e no Pacto Internacional sobre oss Direitos Civis e Políticos, de 1966, celebrado pelos países capitalistas.

Já os direitos humanos de segunda dimensão são os chamados direitos sociais, culturais e econômicos e surgem com a queda do Estado Liberal e o nascimento do Estado Social. O excesso de liberdade assegurado pelos direitos de primeira geração causou um desequilíbrio social que agora deve ser reparado. Em virtude desse fato, afirmou Norberto Bobbio que esses são os chamados direitos políticos, os quais – concebendo a liberdade não apenas negativamente, como não impedimento, mas positivamente, como autonomia (2004, p. 32).

Aqui, conforme se depreende da leitura do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966, o Estado assume novo papel, no propósito de assegurar e garantir a igualdade entre as pessoas. São direitos relacionados ao princípio da igualdade.

Ao fazer referência aos direitos de terceira geração ou dimensão, Ingo Sarlet ressalta que:

Cuida-se, na verdade, do resultado de novas reivindicações fundamentais do ser

humano, geradas, dentre outros fatores, pelo impacto tecnológico, pelo estado crônico de beligerância, bem como pelo processo de descolonização do segundo pós- guerra e suas contundentes conseqüências, acarretando profundos reflexos na esfera dos direitos fundamentais. (SARLET, 2007, p. 58)

Os direitos de terceira dimensão, desse modo, possuem como seus sujeitos ativos uma titularidade difusa ou coletiva, uma vez que não visualizam o homem como um ser singular, mas toda a coletividade ou o grupo. São direitos relacionados ao princípio da fraternidade.

Interessante constatar que após analisar os três princípios fundamentais das três primeiras dimensões - quais sejam liberdade, igualdade e fraternidade, que foram princípios e valores trazidos pelo pensamento iluminista eclodido ocasião da Revolução Francesa de 1789.

Com efeito, um novo pólo jurídico de alforria do homem se acrescenta historicamente aos da liberdade e da igualdade. Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos da terceira geração tendem a cristalizar-se no fim do século XX enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Tem primeiro por destinatário o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta. (BONAVIDES, 2006, p. 569)

Observe-se que, quanto às demais gerações, os doutrinadores constitucionalistas mão são unânimes. No entanto, no que se refere às três primeiras, são eles unânimes entre si, especialmente Paulo Bonavides e Norberto Bobbio.

Parte deles defende a existência dos direitos de quarta dimensão: “tratam-se dos

direitos relacionados à engenharia genética” (BOBBIO, 2004, p. 6).

Assim, essa dimensão de direitos se relaciona, assim, com a manipulação genética, a biotecnologia e a bioengenharia, pressupondo-se sempre um debate ético. Nessa dimensão, determinam-se os alicerces jurídicos dos avanços tecnológicos e seus limites constitucionais, justamente em decorrência desse debate ético(UNESCO, p. 7).

Nesse sentido, prima-se pela preservação da individualidade humana e da diversidade do genoma, proibindo o seu uso com fins não humanísticos, meramente privatistas, estabelecendo-se, assim, “limites éticos em relação à intervenção acerca do patrimônio genético do ser humano” (OLIVEIRA, p. 22).

Os direitos de quinta geração se referem à paz. Por analogia aos preceitos fundamentais da paz, acredita-se que a democracia também pode ser inserida, sob a ótica de Bonavides, como um direito humano de quinta geração. Bonavides, citado por Honesko, entende ser possível falar em

“quinta dimensão de direitos fundamentais, em face aos acontecimentos (como, por exemplo, o atentado terrorista de “11 de Setembro”, nos EUA), exsurgiria legítimo falar de um direito à paz. Embora em sua doutrina esse direito tenha sido alojado na esfera dos direitos de terceira geração,

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o jurista, frente ao insistente rumor de guerra que assola a humanidade, decidiu dar lugar de destaque à paz no âmbito da proteção

dos direitos fundamentais (Bonavides, Apud, HONESKO, 2008, p. 195-197)”.

Bonavides busca a legitimação teórica da quinta geração de direitos fundamentais, alegando que:

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Canotilho é um dos autores que concebe a paz como direito de terceira geração. Aqui, discorda-se desta caracterização e se concorda com a de Bonavides, uma vez que se analisa sob a ótica da inserção desta quinta geração em consequência de um conflito. No caso, a paz em resposta aos ataques terroristas, por exemplo, e a democracia em resposta aos regimes totalitários de extrema direita, no caso do presente trabalho.

o novo Estado de Direito encontrado nas cinco gerações de direitos fundamentais vem coroar, por conseguinte, aquele espírito de humanismo que, no perímetro da juridicidade, habitar as regiões sociais e perpassa o Direito em todas as suas dimensões. A dignidade jurídica da paz deriva do reconhecimento universal que se lhe deve enquanto pressuposto qualitativo da convivência humana, elemento de conservação da espécie, reio de segurança dos direitos. Tal dignidade unicamente se logra, em termos constitucionais, mediante a elevação autônoma e paradigmática da paz a direito da quinta geração. (BONAVIDES, 2006, p. 583-584)

Paulo Bonavides (2006, p. 583-584) ilustra a importância do direito à paz em uma sociedade globalizada com a frase: “A guerra é um crime e a paz um direito”, demonstrando que muitas ações levaram à construção de uma sociedade internacional contemporânea que converge os direitos humanos para a paz.

Por fim, após estabelecer as considerações históricas e teóricas dos direitos humanos, é possível analisar o período que antecedeu os regimes militares no Brasil, Argentina e Chile e apurar a democracia como direito humano no contexto da redemocratização nesses países, levando-se em consideração os acontecimentos ocorridos antes e durante os regimes de direita instaurados no continente americano.

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