• Nenhum resultado encontrado

O marco inicial das histórias em quadrinhos foi no fim do século XIX, com o Menino Amarelo (Yellow Kid), história criada pelo desenhista norte-americano Richard Outcault e publicada semanalmente no jornal New York World. Ali nascia o primeiro herói dos quadrinhos (MENDONÇA, 2003). No Brasil, a produção de histórias em quadrinhos se limitou à publicação de quadrinhos estrangeiros, principalmente americanos. A primeira revista brasileira dedicada às crianças chamou-se O Tico-Tico e surgiu em 1905, aliando ludismo e intenções pedagógicas (CADEMARTORI, 2003).

A partir de 1960, os quadrinhos nacionais ganharam excelentes artistas, como: Ziraldo e Maurício de Sousa. Ziraldo criou A Turma do Pererê, considerado o grande marco criativo dos quadrinhos brasileiros, ao lado de Maurício de Sousa, que começou a desenhar as histórias em quadrinhos em 1959, quando uma história do Bidu, sua primeira personagem, foi aprovada pelo jornal. Em 1964, cria a principal figura de seu mundo infantil, Mônica, com a qual ganha o prêmio “Yellow Kid”, espécie de Oscar dos quadrinhos, em 1971, no Congresso Internacional de Lucca, na Itália (COELHO, 2006).

Nelly Novaes Coelho afirma que as histórias em quadrinhos de Maurício de Sousa se apresentam como uma “estimulante diversão” para os pequenos, “diversão que facilmente cairia no gratuito, não fosse a essencialidade dos valores que lhe dão suporte” (2006, p. 612). Assim, as histórias em quadrinhos surgiram na periodicidade dos jornais e com o tempo ganharam autonomia, devido ao sucesso de público alcançado, passaram a figurar em publicações especializadas, os gibis (MENDONÇA, 2003).

Um subtipo de histórias em quadrinhos são as tiras, com histórias mais curtas, de caráter sintético, podem ser sequenciais, por capítulos; ou fechadas, um episódio por dia (MENDONÇA, 2003). Moacy Cirne destaca que no jornal, há a tira com dois, três ou quatro planos, em que o artista trabalha sobre esse espaço, “procurando criar – no último quadro o suspense necessário para que o leitor, no dia seguinte, volte à estória (sic)” (1972, p. 36). Segundo Lígia Cademartori (2003), um dos principais trunfos da tira é o humor, através da caricatura de gestos e situações e da resolução rápida da sequência, bem como o dito contrariar radicalmente o mostrado.

Em relação à linguagem, as “histórias em quadrinhos constituem um sistema narrativo composto por dois códigos que atuam em constante interação: o visual e o verbal” (VERGUEIRO, 2007a, p. 31). Tem como elemento básico, a imagem desenhada, que se apresenta com uma sequência de quadros, trazendo uma mensagem ao leitor. Essa sequência interligada de instantes é essencial para a compreensão de uma determinada ação ou acontecimento.

O balão é considerado uma das principais características criativas dos quadrinhos, é a intersecção entre a imagem e a palavra. Waldomiro Vergueiro (2007a) apresenta os tipos de balões, destacando aqueles: com linhas tracejadas, indicando que a personagem está falando em voz muito baixa, de forma a não ser ouvida pelos demais; em formato de nuvem, com rabicho elaborado como bolhas que dele se desprendem, indicando que as palavras contidas são pensadas pela personagem; com traçado em zig-zag, indicando que uma voz procede de um aparelho mecânico ou trata-se do grito de uma personagem; que levam para fora do quadrinho, indicando que a voz está sendo emitida por alguém que não aparece na ilustração. Já a legenda representa a voz onisciente do narrador da história, situando o leitor no tempo e no espaço. É acondicionada em um retângulo colocado na parte superior do quadrinho, pois deve ser lida em primeiro lugar, precedendo a fala das personagens (VERGUEIRO, 2007a).

Há também as onomatopeias, que são signos convencionais que representam ou imitam um som por meio de caracteres alfabéticos. Elas poderão “variar de autor para autor, segundo sua procedência e preferências pessoais” (VERGUEIRO, 2007a, p. 63), com destaque para as mais comuns: Bum! (Explosão); Crack! (Quebra); Pow! (Golpe ou Soco); Smack! (Beijo); Bang! (Tiro), etc. Conforme Cirne, “o ruído, nos quadrinhos, mais do que sonoro, é visual” (1972, p. 30).

Segundo Márcia Mendonça, “apesar de já serem aceitas como objeto de leitura fora das salas de aula, as HQs ainda não foram de fato incorporadas ao elenco de textos com que a escola trabalha” (2003, p. 202). Com base nessa afirmativa, Vergueiro afirma que pais e mestres desconfiavam das aventuras das histórias em quadrinhos, supondo que poderiam afastar crianças e jovens de leituras “mais profundas”. Por isso, a entrada de quadrinhos na sala de aula teve severas restrições, que aos poucos foram sendo atenuadas e extinguidas. O autor salienta que ainda hoje não se pode afirmar que a barreira pedagógica contra as histórias em quadrinhos tenha deixado de existir, pois “há notícias de pais que proíbem seus filhos de lerem quadrinhos sempre que as crianças não se saem bem nos estudos ou apresentam

problemas de comportamento, ligando o distúrbio comportamental à leitura de gibis” (2007b, p. 16).

Por seu turno, Cecília Meireles afirma que, em leituras “mais adiantadas, quando a ilustração não exerça papel puramente decorativo, na ornamentação do texto, talvez se devesse restringir às passagens mais expressivas ou mais difíceis de entender sem o auxílio de imagem” (1984, p. 147), referindo-se, principalmente, às histórias em quadrinhos, as quais considerava um perigo por não permitirem o exercício da imaginação. Em afirmação contrária, Cademartori destaca:

Ocorre na história em quadrinhos um intercurso entre códigos. O verbal remete a unidades que a visão apreende. A imagem sugere o que o verbal não diz. Entre o visual e o verbal são estabelecidas interações mediadas por relações lógicas, e são essas relações que, ao transpor o que é exclusividade de cada código, instituem o plano da narratividade (2003, p. 51).

Conforme Mendonça (2003), a relativa facilidade na leitura das histórias em quadrinhos “pode ser confundida com baixa qualidade textual, levando à falsa premissa de que ler quadrinhos é muito fácil”. Quando na verdade, determinadas histórias necessitam de estratégias sofisticadas de leitura, bem como um alto grau de conhecimento prévio, para que possam ser entendidas.

Nesse sentido, verifica-se que, principalmente, nas últimas décadas do século XX, os meios de comunicação passaram a ser encarados de maneira “menos apocalíptica”, sendo analisados em sua especificidade, como o cinema, o rádio, a televisão, os jornais, etc. Inevitavelmente, as histórias em quadrinhos também passaram a ter um novo status, “recebendo um pouco mais de atenção das elites intelectuais e passando a ser aceitas como um elemento de destaque do sistema global de comunicação e como uma forma de manifestação artística com características próprias” (VERGUEIRO, 2007b, p. 17).

2 A LEITURA E A BIBLIOTECA ESCOLAR

É o leitor que lê o sentido; é o leitor que confere a um objeto, lugar ou acontecimento uma certa legibilidade possível, ou que a reconhece neles; é o leitor que deve atribuir significado a um sistema de signos e depois decifrá-lo. Todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler, quase como respirar, é nossa função essencial.

Alberto Manguel

Este capítulo faz um estudo sobre a sociologia da leitura, verificando as circunstâncias de leitura, o tipo de leitor, bem como a influência que a obra exerce em seu destinatário. Parte, então, para o foco principal desta pesquisa, que é a importância da mediação da leitura na escola e na biblioteca, com destaque para a leitura literária.

A finalidade é apresentar, por meio da mediação da leitura literária na biblioteca escolar e na sala de aula, o papel fundamental do mediador na formação de leitores. Sendo assim, quando for referido o termo “mediador de leitura”, no decorrer da pesquisa, ele abrangerá as seguintes expressões: professor responsável pela biblioteca, bibliotecário, professor titular da sala de aula, contador de histórias, ou seja, todos aqueles que, no âmbito escolar, se propõem a realizar atividades de incentivo à leitura, com o intuito de formar leitores.