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CAPÍTULO III: RELIGIÃO E POLÍTICA NO MOVIMENTO SONHO REAL

3.1 A cidade e o Movimento

3.1.6. As igrejas no movimento

Seguindo à tendência nacional, o movimento evangélico em Goiânia apresenta um rápido crescimento no número de fiéis, sendo o segundo maior crescimento da região Centro- Oeste, conforme mostra a tabela:

Tabela 4: Proporção da População Residente por religião na Região Centro Oeste

Estados da Região Centro Oeste Católicos Evangélicos Sem Religião

1980 1991 2000 1980 1991 2000 1980 1991 2000

Mato Grosso do Sul 86 81 69,5 9,0 10,8 18,2 1,7 4,6 8,0

Mato Grosso 87 82,9 73,4 8,6 11,1 16,7 1,6 3,9 7,0

Goiás 86,6 79,3 68,1 7,6 11,7 20,0 2,0 5,2 7,9

Distrito Federal 84,3 77,7 66,2 7,6 10,1 19,5 2,8 6,3 8,6

Fonte: IBGE, disponível no sítio www.ibge.gov.br

Esse crescimento fica evidenciado quando se considera o movimento Sonho Real, não só porque os evangélicos teriam um bom número de fiéis entre eles, mas porque eram muitos os grupos que lá se reuniam. No início da ocupação, pelas condições precárias do acampamento, segundo os entrevistados, não haviam templos construídos no Parque Oeste, entretanto, com o passar dos dias, conforme os moradores iam se conhecendo, iam também se reconhecendo por suas identificações religiosas, de forma que antes do primeiro mês os evangélicos já se reuniam informalmente em seus barracos. Entretanto, mesmo os evangélicos, não formavam um grupo coeso, mas se distribuíam conforme as denominações religiosas que freqüentavam antes dali. Quanto à congregação católica do acampamento, segundo Alzira da Silva (ENTREVISTA, 29/09/07), recebia visitas não periódicas mas freqüentes de Frei Marcos, principal representante da igreja católica que acompanha o movimento até hoje. Já quanto às outras reuniões religiosas que aconteciam no movimento não tive fontes de informação.

Como Américo Novaes, que diz ter sido enviado ao acampamento para iniciar lá um trabalho religioso, existem outros líderes religiosos, entretanto, dos entrevistados todos disseram que o motivo principal que os levou ao Parque Oeste teria sido a falta de moradia. Não construíram templos no acampamento no Parque Oeste e à medida que o movimento foi se organizando e a participação das pessoas aumentando cresciam também os cultos

ecumênicos, celebrados por Américo e Frei Marcos, tratando, sobretudo, das questões do movimento, das dificuldades que estavam enfrentando, sendo este o principal motivo de súplicas a Deus, como disse o pastor Paulo Roberto Chagas (ENTREVISTA 14/12/07).

Depois que foram transferidos para o acampamento no Grajaú, já com a promessa de receberem suas casas, diminuíram as reuniões ecumênicas, e, mesmo em barracos de lona, as diferentes denominações construíram lugares separados de reunião e culto. Apesar disso, usavam em comum a rádio comunitária que, segundo Américo, servia a todos.

Já no condomínio Real Conquista em uma volta rápida se contam meia dúzia de estabelecimentos religiosos. Dentre estes entrevistei os líderes das maiores congregações em número de membros, a saber, a igreja Assembléia de Deus Ministério Nações Para Cristo, Assembléia de Deus Ministério Nova Conquista, Assembléia de Deus Caminhando para Cristo, Assembléia de Deus Jardim Curitiba, Igreja “Jesus é Deus” e Igreja Luz da Vida (igreja em que Américo é pastor), ou seja, todas igrejas de origem pentecostal, se considerarmos sua origem, ou neopentecostal, se considerarmos seu caráter independente.

No projeto de construção do condomínio nenhuma aérea estava destinada à construção de igrejas, de forma que todos os templos que existem no condomínio estão construídos dentro do terreno das casas dos líderes da congregação ou de algum de seus membros, exceto em dois casos, o da igreja católica, que ainda aguarda a destinação do local para a construção de seu templo, e a igreja “Luz da Vida”, igreja pastoreada por Américo, que tem um templo construído em terreno separado na região central do bairro.

Quando chegou ao Parque Oeste, Américo diz ter sido enviado como um missionário da igreja “Luz para os Povos”, congregação pentecostal que se separou da igreja Cristã Evangélica, igreja de tradição histórica e descendência presbiteriana, em 1973, mas, desde que chegou ao movimento desempenha as duas atividades ao mesmo tempo: pastor e coordenador do movimento. Entretanto, depois que mudou-se para o condomínio Real

Conquista a igreja “Luz para os Povos” do bairro mudou de nome para igreja “Luz da Vida”, segundo Américo porque parou de receber apoio da igreja “Luz para os Povos”, “paramos de receber estrutura, só tínhamos cobertura espiritual e nada de estrutura” (ENTREVISTA 14/12/07), fazendo entender que o apoio de estrutura seria um apoio em forma de recursos materiais. A igreja “Luz da Vida” faz suas reuniões em um galpão que fica na região central do condomínio e que tem o nome de “Fundação Luz da Vida”, onde, em parceria com a AGEHAB e o Sebrai, são realizados trabalhos sociais, como os cursos de capacitação profissional da associação, mas não só isso, já que os cultos da igreja pastoreada por Américo também são realizados lá.

A situação tem causado uma insatisfação entre a comunidade católica do bairro. Segundo Alzira da Silva (ENTREVISTA, 29/09/07), a igreja de Américo foi privilegiada em detrimento das demais. Américo alega que o galpão está à disposição para qualquer organização que quiser usá-la, desde que siga a agenda de ocupação do lugar, Alzira responde dizendo que nunca tem espaço disponível e o verdadeiro motivo é porque eles não aceitam que os católicos pratiquem seus rituais litúrgicos dentro do espaço que usam para fazer seus cultos.

Entendida assim a história do movimento e o contexto político em que se insere o que se denomina evangélico, objeto da presente pesquisa, pode-se partir para a tentativa de entender melhor como se deu a interação entre religião e espaço público neste movimento.