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As implicações da teoria walloniana na educação

2.3 O CONCEITO DE AFETIVIDADE EM WALLON E VYGOTSKY

2.3.1 Henri Wallon

2.3.1.2 As implicações da teoria walloniana na educação

Wallon em momento algum elaborou uma teoria pedagógica, mas acreditava que pedagogia e psicologia estabelecem entre si uma relação de reciprocidade. Segundo as concepções wallonianas, a pedagogia oferece à psicologia campo de observação e investigação enquanto que a psicologia em relação à pedagogia oferece subsídios para aprimorar a prática pedagógica à medida que trata do desenvolvimento infantil (GALVÃO, 1995).

Mesmo que as publicações de Wallon não estejam diretamente relacionadas à educação, é possível, a partir de suas obras identificar, dois tipos de pedagogia:

1. Pedagogia explícita: textos que apresentam análises da Educação Nova e tratam da Educação em geral; Projeto Langevin-Wallon; 2. Pedagogia implícita: inferências a partir de sua psicogenética e da atuação de Wallon como professor. (ALMEIDA, 2010, p. 71).

No que tange à Escola Nova o papel de Wallon se vinculava à crítica do sistema tradicional de ensino, o qual pregava uma dicotomia entre indivíduo e sociedade. Wallon acreditava que essas duas vertentes deveriam se integrar (ALMEIDA, 2010). Em relação ao projeto Langevin-Wallon, essa foi uma proposta de reformar o ensino francês após a segunda Guerra Mundial (ALMEIDA, 2010). Nessa ocasião, Wallon pôde colocar em prática suas concepções de integração entre homem e sociedade, pois segundo sua perspectiva “[...] é na interação e no confronto com o outro que se forma o indivíduo.” (GALVÃO, 1995, p. 91).

Esse projeto propunha, baseando-se em quatro princípios, “[...] uma educação mais justa para uma sociedade mais justa.” (ALMEIDA, 2010, p. 75). Esses princípios eram: justiça; dignidade igual de todas as ocupações; orientação e cultura geral O princípio de justiça pregava que todas as crianças e jovens independentemente de sua classe social ou etnia deveriam ter direito ao desenvolvimento; dignidade igual de todas as ocupações postulava que indiferentemente das origens das crianças elas teriam acesso a exercícios manuais e intelectuais; orientação diz respeito à necessidade de antes de atividades profissionais deve haver as orientações escolares, e cultura geral corresponde à ideia de que a cultura é imprescindível à especialização profissional (ALMEIDA, 2010).

A pedagogia implícita de Wallon diz respeito à necessidade do educador e da escola em propiciar à criança um meio favorável que atenda às demandas de cada fase do desenvolvimento. Wallon subtendia em suas obras a importância da escola, como meio social, contribuir para o desenvolvimento humano. Para isso destacou que o papel da escola não se limita a instruir os estudantes, mas formá-los em sua integridade, considerando os aspectos cognitivo, afetivo e motor (ALMEIDA, 2010). Para Wallon é um equívoco supervalorizar os elementos intelectuais, pois a inteligência representa o “[...] meio para a meta maior do desenvolvimento da pessoa, afinal, [...] tem status de parte no todo constituído pela pessoa.” (GALVÃO, 1995, p. 98).

Nesse sentido, Wallon ressalta o papel das escolas de educação infantil, afirmando que entre três e cinco anos as instituições de ensino não devem impor o mesmo nível de exigência das escolas primárias. Segundo o autor (WALLON, 1975a, p. 212):

Para que a criança se sinta feliz, é necessário que exista ainda relações de ordem pessoal, direta, quase de natureza maternal com as educadoras. É a razão por que prefiro a denominação de escola maternal à de jardim infantil. Esta denominação mostra bem de que gênero de cuidados precisa ainda a criança.

Desse modo, os estudos de Wallon trazem à pedagogia implicações importantes. É por meio do conhecimento das características de cada fase do desenvolvimento que se torna possível compreender as atitudes que a criança assume em sala de aula e definir estratégias para solucionar os conflitos. Além disso, torna-se pertinente que o professor e a escola reflitam e aperfeiçoem o método de ensino atendendo às demandas afetiva, cognitiva e motora da criança (GALVÃO, 1995).

Em relaçãoà solução de conflitos, a teoria walloniana destaca que “[...] a emoção nutre-se do efeito que causa no outro [...].” (GALVÃO, 1995, p. 64). Por este motivo, em situações de sala de aula, em que as emoções estão se manifestando intensamente, é necessário que o professor “[...] ao invés de se deixar contagiar pelo descontrole emocional das crianças, deve procurar contagiá-las com sua racionalidade.” (GALVÃO, 1995, p. 105).

Nesse sentido, Wallon estabeleceu que:

A emoção necessita suscitar reações similares ou recíprocas em outrem e, inversamente, possui sobre o outro um grande poder de contágio. Torna-se difícil permanecer indiferente às suas manifestações, e não se associar a esse contágio através de arrebatamentos do mesmo sentido, complementares ou antagônicos. (WALLON, 1971, p. 91).

Ainda no que concerne à posse de conhecimento dos fatores que caracterizam cada estágio do desenvolvimento, ocasiões em que o estudante expressa comportamentos de oposição ao outro podem ser facilmente superadas. Na medida em que o professor tem compreensão da função que as crises de oposição têm na formação da personalidade da criança, ele não irá “[...] tomá-las como afronta pessoal. Afinal é provável que as oposições não sejam contra sua pessoa, mas contra o papel de elemento diferenciado que ele ocupa.” (GALVÃO, 1995, p. 107).

Diante disso, se percebe ser incoerente a escola exigir que os estudantes permaneçam sentados e imóveis por um longo período no intuito de favorecer sua aprendizagem. Conforme os estudos de Wallon, a criança é capaz de estar atenta a algo ou alguém mesmo que esteja se movimentando. Por outro lado, ela pode estar com os olhos fixados para um lugar e não estar prestando atenção no que acontece ao seu redor (GALVÃO, 1995).

Além disso, essa exigência de que a criança permaneça imóvel depende da consolidação das disciplinas mentais, ou seja, antes dos seis anos de idade, aproximadamente, a criança ainda não é capaz de controlar seus movimentos. Portanto, é inútil a escola exigir algo que organicamente ela ainda não consegue fazer (GALVÃO, 1995).

Convém lembrar, também, que quando diante de tarefas difíceis, “[...] mudar de posição, levantar da cadeira ou andar um pouco são recursos que podem ajudar. Propiciam a superação do estado de estagnação e paralisia em que a mente parece entrar, é como se as variações tônicas desobstruíssem o fluxo mental.” (GALVÃO, 1995, p. 71-72). Isso se deve ao fato das funções tônicas estarem relacionadas às atividades cognitivas (GALVÃO, 1995).

Além do mais, a teoria walloniana dá importância ao meio para o desenvolvimento infantil. Meio, para Wallon:

[...] não é outra coisa se não o conjunto mais ou menos duradouro das circunstâncias onde se desenrolam existências individuais. Ele comporta evidentemente condições físicas e naturais, mas que são transformadas pela técnica e pelos costumes do grupo humano correspondente. [...] O que importa então, sobretudo, é a semelhança dos interesses, das obrigações, dos costumes. (WALLON, 1975a, p. 165-166).

Desse modo, Wallon, destaca a possibilidade de em um mesmo lugar haver pessoas de diferentes meios e, também, de diferentes meios coexistirem no mesmo indivíduo (WALLON, 1975a). Nesse sentido, constam outras reflexões à prática pedagógica, como por exemplo, a organização do espaço físico, como por exemplo, a disposição das classes e dos móveis. A escola também deve se preocupar com as interações sociais no ambiente de ensino, pois à medida que elas são diferentes das relações familiares contribuem para a formação da personalidade da criança (GALVÃO, 1995). “Os meios onde a criança vive e os que ambiciona são o molde que dá o cunho à sua pessoa.” (WALLON, 1975a, p. 167). Portanto: “A orientação do ensino torna-se psicológica a partir do momento em que pretende adaptar-se ao espírito e à natureza da criança.” (WALLON, 1975a, p. 356). Isto é, a partir da configuração do meio sustentam-se as necessidades do desenvolvimento humano.

Por fim, a teoria psicogenética de Henri Wallon é um subsídio ao professor para compreender as possibilidades de seu aluno e criar um ambiente favorável aos processos de ensino e aprendizagem, tornando-o mais produtivo (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). Conforme a teoria walloniana, não acolher as demandas afetivas, cognitivas e motoras prejudica estudantes e professores, à medida que dificulta o progresso nos processos de ensinar e aprender (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). “Assim, ao lado dos conhecimentos teóricos, assumem relevância a sensibilidade, a curiosidade, a atenção, o questionamento e a habilidade de observação do professor sobre o que se passa no processo ensino-aprendizagem.” (MAHONEY; ALMEIDA, 2005, p.15). Portanto, como aponta Wallon (1975a, p. 366): “A formação

psicológica dos professores não pode ficar limitada aos livros. Deve ser uma referência perpétua nas experiências pedagógicas que eles próprios podem pessoalmente realizar.”.