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As investigações realizadas à volta das lideranças escolares são ainda recentes nas literaturas do campo educacional. Como sublinhava Sanches (1998: 49) “O fenómeno da liderança escolar continua a ser mal conhecido”, não devendo esquecer-se que a expressão e os conceitos relacionados “são fenómenos relativamente recentes, tendo sido incorporados no discurso educativo no final da década de oitenta”, segundo Waite e Nelson (2005), citados por Silva (2007: 2).

Porem as novas tendências mundiais apontam para uma mudança de paradigma a nível da organização escolar “porque sobre ela recaem os desafios de preservação das estruturas e das relações sociais do mercado capitalista, será necessário assumir-se a reorganização das instituições educativas à luz das necessidades de uma sociedade cada vez mais global e competitiva’’ (Torres & Palhares, 2009: 79). Por conseguinte, torna-se urgente o reajustamento dos órgãos de gestão, conotados com a valorização do papel das lideranças enquanto “motor dessa construção histórica, social e cultural que chamamos centro educativo, e organização em sentido mais geral”, de acordo com Delgado (2005) citado por Silva (2007: 2). Motor fundamental no desenvolvimento da autonomia das escolas e, ao mesmo tempo, na implementação de inovações nas práticas pedagógicas que conduzem à melhoria do processo ensino e aprendizagem, salvaguardando a tão almejada educação de qualidade para todos. Parece ser pertinente a resolução dos problemas que afetam as escolas na esfera local e global como são: o insucesso escolar, abandono, problemas da indisciplina, bem como a descrença em relação ao papel do professor, a este último cabe reconquistar a sua competência enquanto líder na gestão da sala de aula.

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A escola enquanto organização educacional por excelência tem sofrido alterações ao longo dos tempos, impondo naturalmente mudanças no perfil das lideranças para que se possa acompanhar as inovações, aliadas às exigências de uma sociedade em constante mutação. Portanto as lideranças devem traduzir numa ação reflexiva e democrática, valorizando a comunicação como fator dialógico fundamental para que esta seja ‘’uma realidade construída através de processos interactivos e interpretativos’’ como revela Gonzalez (1993), citado em Castro (2010: 97).

Deste modo as organizações escolares clamam a mudança necessária compatível com as exigências atuais. Como destacam Torres &Palhares (2009: 80)“Das escolas espera-se não só o cumprimento das novas orientações centrais como também a sua responsabilização pela procura das soluções mais eficazes para o seu desempenho’’. Assim, a gestão dos estabelecimentos de ensino deve persistir numa relação linear entre os estilos de liderança, os resultados escolares com impacto no desenvolvimento democrático das nossas escolas. Importa, agora, clarificar o conceito de liderança que, à semelhança de outros do campo científico, é polissémico. De um modo geral, as definições de liderança “reflectem o entendimento de que envolve um processo de influência social por intermédio do qual uma pessoa [ou grupo] influencia intencionalmente outras pessoas [ou grupos] para estruturar as actividades e relações num grupo ou organização” (Silva, 2007:2). A mesma autora aponta que, nas palavras de Yukl, “a liderança é “um processo individual ou colectivo’’, ponto de vista reforçado por Harris (2002) e Leithwood (2001), ambos defensores da liderança partilhada como alternativa aos modelos tradicionais da liderança vertical (top-down)”. A liderança escolar é no dizer Silva (2007) “um processo orientado para a consecução de objectivos desejáveis’’,p.5. O mesmo autor subscreve ainda que:

‘’ Os líderes bem-sucedidos desenvolvem uma visão para as suas escolas baseada nos seus valores pessoais e profissionais. Articulam a sua visão em cada oportunidade e influenciam os seus colaboradores e stakholders para a partilharem. A filosofia, estruturas e actividades da escola são orientadas para a concretização desta visão partilhada.

(Silva 2007, p.5)

Nesta perspectiva, coloca-se a questão sobre que líder para as escolas atuais? Um líder que seja democrático, reflexivo, participativo, inteligente e pensante, que saiba escolher o momento certo. Pessoas capazes de fornecer directrizes e exercer a sua influência para alcançarem os objectivos da escola. No desígnio de Varela (2011)

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‘‘A liderança constitui, pois, um factor determinante do sucesso das organizações na actualidade, não porque o líder é o “faz tudo” ou obriga os outros a “fazer tudo”, mas, fundamentalmente, porque o líder sabe dialogar e interagir com a equipa para, conjuntamente, definirem metas e, também conjuntamente, procurar alcançá-las, avaliando, a final, os resultados e, em função deles, estabelecer novas metas e estratégias de actuação”.

(Varela,2011,p.30)

O líder deve ser capaz de direcionar o barco no rumo certo, pois o capitão “coordena toda a equipe de navegação, cria um clima favorável, motiva as pessoas, colabora para que todos se sintam cómodos em seus postos e exige o cumprimento das obrigações” (Guerra, 2013:248). Portanto, o líder deve ser aquele que orienta para a eficiência, isto é, para uma melhor organização, incentivando um trabalho colaborativo e cooperativo, na premissa de uma comunidade educativa aprendente.

Nóvoa (1999:25) alerta que “o funcionamento de uma organização escolar é fruto de um compromisso entre a estrutura formal e as interacções que se produzem no seu seio… ”. Portanto, a escola deve atuar no desenvolvimento de uma cultura de participação que realize os seus propósitos e se aproxime das finalidades que lhe são deliberadas, igualmente saber partilhar a educação com a família e toda a comunidade envolvente num compromisso de responsabilização mútua. Só assim todos poderão contribuir para o pleno desenvolvimento harmonioso dos sujeitos aprendentes, tornando-os sábios e responsáveis. O director/líder constitui o primeiro responsável pelo caminho que a escola venha a seguir na sua apropriação firme e diária, cujo efeito é determinante na construção de um ambiente educativo credível, funcionando como fator de promoção de estratégias concertadas de atuação em projetos de trabalho colaborativo, baseado em geografias emocionais positivas. A escola onde este estudo foi realizado tem feito um percurso meritório neste contexto, os diversos níveis de liderança têm evidenciado a essência de um trabalho simbiótico com base no desenvolvimento de lideranças pessoais, profissionais e colectivas.